Frostbite Por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 11
Capítulo 11




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Tasha acenou para Rose. Sua expressão era muita compreensão.

“Eu sabia... eu sabia no que Lucas e Moira tinham se transformado. Mas ainda sim, não estava preparada. Mentalmente, fisicamente ou emocionalmente. Eu acho que se eu tivesse que reviver isso, eu ainda não estaria pronta. Mas, depois daquela noite, eu olhei para mim mesma – figurativamente falando – e percebi o quão incapaz eu era. Eu passei a minha vida inteira esperando que os guardiões me protegessem e cuidassem de mim. E isso não quer dizer que eles não devam fazer isso. Como eu disse, você provavelmente poderia me aniquilar em uma luta. Mas eles – Lucas e Moira – derrubaram dois guardiões antes que nós pudéssemos dar conta do que tinha acontecido. Eu os impedi de levar Christian, mas foi por pouco. Se os outros não tivessem chegado, eu estaria morta e ele – eu decidi que não queria morrer daquele jeito, não sem lutar e proteger aqueles que eu amo. Então, aprendi todo tipo de defesa pessoal. E depois de um tempo, eu não, hum, me encaixei muito bem na alta sociedade. Então, me mudei para Minneapolis e fiz a vida  ensinando os outros.”

Um grande silêncio tomou conta da cabana. Rose olhava para baixo, provavelmente tentando entender tudo aquilo. Um Moroi que aprende a lutar para se defender de Strigois é algo que soa estranho para qualquer um. Tasha olhava para um ponto distante, provavelmente revivendo mentalmente aqueles acontecimentos narrados. Eu conhecia bem aqueles fatos. Já tinha ouvido inúmeras vezes. Era uma triste história, mas com uma grande lição nela. E era essa lição que eu queria que Rose aprendesse. Lisa e Christian olhavam um para o outro, parecendo conversar apenas com o olhar. Percebendo a tristeza tomando conta do ambiente, rapidamente Tasha puxou outro assunto que nos fez praticamente esquecer a conversa sobre Strigoi. Eu e ela tínhamos muitos conhecidos comuns. Morois, dhampirs, pessoas da realeza, guardiões. Aparentemente, ela sabia da vida de todo mundo e me atualizou sobre quase todos. Embora fossem pessoas e assuntos que Rose não partilhasse, ela nos assistia com atenção, sempre se inserindo, quando podia. Eu realmente não tinha percebido o quão isolado das pessoas eu estava nestes últimos tempo.

Depois de um certo tempo, Tasha bocejou mais uma vez, olhando para o relógio, indicando que já estava tarde e que a nossa visita já tinha se estendido demais.

“Onde é o melhor lugar para uma garota fazer compras por aqui?” Ela perguntou casualmente.

“Missoula!” Rose e Lissa responderam em coro. Tasha suspirou desanimada.

“Isso fica há algumas horas daqui. Mas se eu sair logo, posso chegar antes das lojas fecharem. Eu estou muito atrasada para as compras de natal.”

“Eu mataria para ir às compras.” Rose falou baixo.

“Eu também.” Lissa concordou.

“Talvez nós possamos ir junto...” Rose falou, me olhando, cheia de esperanças que eu dissesse sim.

“Não.” Falei taxativamente. Rose suspirou, vencida. Ela devia me conhecer melhor. Eu jamais permitiria que ela saísse, sem autorização dos superiores da Academia, para um passeio tão distante em um dia de semana, principalmente tendo aula no dia seguinte.

“Eu vou ter que tomar um café para não dormir pelo caminho.” Tasha falou em meio a outro bocejo. Era dia para humanos, mas para o resto de nós já era tarde da noite.

“Um dos guardiões não pode dirigir para você?” Rose perguntou.

“Eu não tenho nenhum.” Tasha disse negando com a cabeça.

“Não tem nenhum...” Rose franziu as sobrancelhas, parecendo não entender o que Tasha estava dizendo. “Você não tem nenhum guardião?”

“Não.”

“Mas isso não é possível. Você é da realeza. Você deveria ter pelo menos um. Dois, na verdade.” Rose explodiu em indignação. Eu mantive minha expressão serena, mas não pude deixar de lembrar que Tasha havia me requisitado ao Conselho dos Guardiões. Senti um incômodo começar tomar conta de mim e tive vontade de ir embora dali. Aquela visita já tinha cumprido seu propósito.

“Os Ozera não são exatamente os primeiros da fila, na hora das designações.” Christian falou amargamente. “Desde que... meus pais morreram... houve meio que uma carência de guardiões.” Apesar do tom melancólico dele, eu sabia que não era algo tão radical assim. Eles não tinham prioridade na hora das designações, mas uma proteção jamais poderia ser negada a um Moroi, ainda mais da realeza. Os Ozeras teriam seus guardiões, desde que brigassem por isso. A prova de tudo era que eu poderia me tornar guardião de Tasha a qualquer momento.

“Mas isso não é justo! Eles não podem punir vocês pelo que seus pais fizeram!” Rose praticamente gritava. Ela era realmente impulsiva, mas aquele senso de proteção que ela tinha sempre me deixava impressionado.

“Não é uma punição, Rose.” Tasha respondeu calmamente. “É apenas... uma reorganização de prioridades.”

“Eles deixaram você sem proteção! Não pode ir sozinha!”

“Eu não sou indefesa, Rose. Eu disse isso para você. Se eu quisesse mesmo um guardião, eu poderia requisitar um, mas é muita briga. Eu estou bem por enquanto.”

Eu não pude deixar de olhar para ela. Ela já tinha requisitado um guardião e aquele assunto estava vindo toda hora diante de mim.

“Você quer que eu vá com você?” perguntei pensando que seria um bom momento de esclarecer logo esse assunto. Somente por isso, queria ir, eu não gostava de evitar assuntos desconfortáveis. Sempre achava melhor resolver tudo logo. Era um certo exagero de Rose, afinal era dia, o sol brilhava forte no céu, as chances de um ataque Strigoi eram mínimas. Além do mais, Tasha já vivia sozinha, sem guardiões, há muito tempo. Ela não precisaria de um justo agora.

“E manter você acordado a noite inteira? Eu não faria isso, Dimka.”

“Ele não se importa.” Rose disse, antes que eu pudesse falar qualquer coisa. Eu não gostava muito quando alguém falava por mim, mas naquela hora, achei engraçado ela tomar a minha frente.

“Eu realmente não me importo.” Eu era acostumado a emendar turnos de guarda e passar dias sem dormir, isso não me afetaria.

“Está bem.” Tasha concordou, depois de hesitar um pouco. “Mas nós deveríamos ir logo.”

Nós combinamos de nos encontrarmos no estacionamento da Academia em meia hora. Eu não podia sair sem comunicar isso a Alberta. Não era minha folga e tecnicamente estava em serviço. Também precisava levar Rose ao dormitório. Já tinha passado do horário do toque de recolher e ela teria problemas se fosse pega sozinha, vagando pelo campus.

“Então, o quê você achou dela?” Perguntei a Rose, quando ficamos sozinhos e caminhávamos de volta. Eu tinha visto que ela tinha gostado de Tasha, mas a opinião direta de Rose era sempre interessante.

“Eu gosto dela. Ela é legal.” Ela falou simplesmente e ficou calada por alguns minutos, então acrescentou “eu entendi o quê você quis dizer sobre as marcas.”

“Hum?”

Ela acenou, olhando para baixo. “Ela não fez o que fez para sua glória. Ela fez porque precisou. Assim como... assim como a minha mãe. As marcas não importam. Molnijas ou cicatrizes.”

“Você aprende rápido.” Eu senti meu coração apertar no peito. Era difícil não gostar dela, principalmente quando ela se mostra assim, tão próxima de mim, compartilhando o mesmo ponto de vista.

“Porque ela chama você de Dimka?” Aquela era uma pergunta que eu realmente não esperava. Eu pensei que ela fosse continuar no assunto dos Strigois e não que mudasse para algo tão casual. Então sorri com aquilo.

“É um apelido para Dimitri.” Expliquei.

“Isso não faz sentido. Não soa nada como Dimitri. Você deveria ser chamado, eu não sei, de Dimi, ou algo assim.”

“Não é assim que funciona em russo.”

“Russo é estranho.”

“Inglês também é.” Retruquei. Ela parou de olhar para os pés e me olhou de lado.

“Se você me ensinar a xingar em russo, talvez eu possa ter uma nova apreciação sobre isso.”

“Você já xinga muito.”

“Eu só quero me expressar.”

Parecia uma conversa boba, mas eram esses momentos que eu passava com ela que me faziam querer poder parar o tempo. Faziam com que eu me sentisse leve e em paz. Era quando eu não conseguia me impedir de deixar todo aquele amor me tomar.

“Oh, Roza. Você se expressa mais do que qualquer um que eu conheça.”

Ela sorriu um pouco e ficou pensativa.

“Sabe, tem algo estranho com aquela cicatriz de Tasha.”

Foi quando percebi que, momentaneamente, eu tinha esquecido de Tasha e toda aquela história sobre ser seu guardião.

“E o que é?”

“A cicatriz... ela estragou o seu rosto.” Rose falou devagar e com cautela. “Eu quero dizer, é obvio que ela era muito bonita. Mas agora, com a cicatriz... eu não sei. Ela é bonita de um jeito diferente... é como... é como se fosse parte dela. É como se a completasse.”

Eu já a observava, quando ela me olhou de lado e nossos olhos se encontraram. Senti aquela velha atração crescer entre nós, mas havia algo mais ali. Rose era mesmo uma garota única. Inteligente e perspicaz. Bonita e doce. Senti um grande orgulho por ela.

“Você aprende rápido, Roza.”


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Notas finais do capítulo

Eu não me conformo como Rose coloca a raposa para tomar conta do galinheiro desse jeito!!! é impressionante como ela não sente um pingo de ciúme aí nessa parte... se fosse eu tinha dito: "Dimitri, já pra cama, vá dormir agora!" kkkk
Mas sério, mal sabiam eles que Tasha não tem nada de bonito nela. O interior dela é tão feio qto a cicatriz...