Trevas.Dor.Poeira.Confusão.

Estas quatro palavrinhas simples eram capazes de resumir o estado atual de Natsu.

O Dragon Slayer fazia movimentos intensos e agitados, os punhos e as pernas arremetendo contra qualquer coisa que pudessem atingir.A boa notícia: nenhuma destas coisas era um de seus nakamas.A má notícia: nenhuma dessas coisas era um de seus nakamas.

A escuridão era imperativa, e ele estava completamente esgotado por causa de sua luta contra o loiro, não conseguindo nem mesmo acender uma mísera chama que o ajudasse a enxergam meio milímetro à frente do nariz.Ele sentou-se mais uma vez no chão, um pouco preocupado, retrocedendo os últimos 5 minutos mentalmente.

Ele estava no meio de uma luta.Confere.

Alguém estava chamando mas ele preferiu ignorar.Confere.

Tremores de terra o desequilibraram poucos minutos antes que ele fosse nocauteado por um soco bem no rosto.Confere. (Mas esse detalhe iria pra cova com ele.)

Ele acordou completamente soterrado, no breu e sem ouvir ou sentir o cheiro de nenhum de seus nakamas.Irritantemente conferido.

-Kuso...

Um corte recente na testa latejava e o perturbava, por causa do sangue que escorria pela bochecha direita e percorria um caminho até escorrer pela ponta do queixo.Engraçado como em momentos tão críticos como aquele o que mais o incomodava era o detalhe mais insignificante.Suas duas costelas quebradas podiam ser facilmente esquecidas, mas não aquele maldito cortezinho irritante.

-Happy!Wendy!Gajeel!

Era inútil, não havia resposta.Ele começava a se sentir mal e preocupado, eles podiam estar precisando de ajuda.Podiam estar feridos, ou até mesmo...

Não, isso nunca!

-Droga!Gajeel, seu inútil, é bom estar protegendo eles direito! - Ele socou a parede, furioso, sentindo o seu peito reclamando de dor.

-Natsu?

Uma voz rouca e fraca, distante.Mas facilmente detectável pelos aguçados ouvidos do mago.

-Lily?Lily, cadê você?

-E-eu não faço idéia, mas é bem apertado aqui!Se pudesse me dar uma mão eu agradeceria!

-Continue falando, vou seguir a sua voz!

Lily continuou seu diálogo parco com ele, lutando pra não transparecer a fraqueza que sentia.Tudo o que ele mais queria naquele momento era dormir, mas estava com medo de fechar os olhos.

Natsu continuava a sua procura cega.

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-Precisamos voltar lá de novo!

-Como?Você nem consegue ficar de pé!

-Miina, por favor, precisamos ficar calmos!

-Eu só vou ficar calmo quando o Lily estiver aqui comigo!

O clima não estava nada agradável entre os quatro.Enquanto Gajeel queria a todo custo ir procurar o seu gato (nem que pra isso ele precisasse revirar cada maldita pedra daquele lugar!), Happy e Charlie achavam que era melhor ficar por ali mesmo.Afinal, eles não estavam na melhor das condições, e um certo mago do ferro precisava urgentemente de um descanso.

-Vou tentar tirar uma parte da terra com a minha magia do ar! – Comentou Wendy, já se preparando para inspirar e dar vazão a um poderoso “Tenryuu no Houkon”.

-Não, Wendy, se eles estiverem a salvo em um bolsão de ar você pode soterrá-los de vez! – Charlie comentou, meio em pânico.

-Então, o que fazemos? – A suz vozinha estava chorosa, e seus olhos brilhavam com as lágrimas prontas para serem liberadas.

-Já chega!Eu dou um jeito nisso!

Gajeel transformou uma de suas mãos em uma pá, e a outra me picareta, com a óbvia intenção de revirar aquela pilha colossal de terra, rocha e blocos de minério.Porém, a sua péssima condição física impediam que ele se movesse adequadamente, obrigando-o a manter o seu corpo na vertical.

-Maldição... – Resmungou, trazendo os braços de volta ao normal.

-Gajeel-kun, deixe eu te curar... - Wendy tentou timidamente querendo ser ao menos um pouco útil naquela crise.

-Wendy, você enlouqueceu?Está quase sem poder mágico, vai acabar desmaiando se fizer mais esforço do que o necessário!

-Ela tem razão nanica, pode deixar, eu estou bem! - O teimoso escondeu qualquer traço da dor que sentia, mais por orgulho do que qualquer outro motivo.

-E o veneno, ainda está machucando, não está?

Aquela preocupação desnecessária dela, somado com aqueles olhos castanhos lânguidos e penosos, o faziam lembrar irritantemente de uma outra maga de cabelos azulados em quem ele não pensava já fazia um certo tempo.Gajeel desviou o olhar, a empurrando gentilmente.

-Dispenso a sua magia, posso me virar sozinho.

Ela pareceu levemente chateada, mas deixou pra lá.

-O que vamos fazer agora: - Happy perguntou, ansioso. – Precisamos achar o Natsu! -  Colocou as patinhas em concha na frente do focinho na intenção de ampliar a acústica. - Natsu...você tá bem?

-Não se preocupe, o Salamander é duro na queda, deve estar melhor do que a gente agora!

Tudo bem, as habilidades de consolo do Dragon Slayer do ferro não eram as melhores, mas ele tentou, não tentou?

-Vocês ainda não perceberam mais um detalhe.

Charlie estava com os braços cruzados e a testa franzida, e os outros três a olharam com curiosidade.

-Zeref também desapareceu, que nem aquele dragão.Ele pode muito bem ter sido o responsável pelo que aconteceu.

Eles se entreolharam; ninguém atentara àquele detalhe.

-E-ele não faria isso com a gente Charlie, ele disse que ia nos ajudar, que queria luta com a gente!

-Deixe de ser ingênua Wendy, isso ainda vai acabar te matando!Ele é o mago das trevas, o mais poderoso e perigoso que já caminhou na face da terra!QUEM garante que ele não estava nos usando pra conseguir o que queria?

-Charlie... – Happy murmurou, tristonho.Não sabia o que dizer.

Gajeel fez um esforço e ficou de pé, a testa franzida de dor.Começou a caminhar na direção oposta ao lugar na qual seus companheiros supostamente estavam soterrados.

-Gajeel, onde vai?

-Gajeel-kun!

-Beber água, sinto cheiro de umidade vindo dali.Além do mais, a única coisa que vamos conseguir se continuamos brigando assim é nos destruirmos.Ninguém sabe o que aconteceu com eles, mas isso é o de menos agora.

Ele se apoiou na árvore e cruzou os braços, tentando parecer o mais sério possível.

-Prestem atenção!

Os Exceeds o observavam meio surpresos.Wendy reuniu a coragem que lhe restara; ela ficava muito mais forte e otimista quando tinha um plano a seguir ou ordens a obedecer.

-Eu não vou conseguir lutar com ninguém sem descansar um tempinho, e nem a baixinha dos céus.Os dois gatos são inúteis, - Charlie rosnou resignada e Happy ficou meio ofendido, mas ele ignorou – então ou damos um tempo ou vai dar tudo errado!

Eram palavras duras, oriundas de um mago ainda mais áspero, mas não expressavam nada além da verdade. De nada adiantaria tomar atitudes imediatas, porém impulsivas, e que só trariam maus resultados.

Happy não se deu por convencido:

-M-mas e o Natsu...a essa altura já devíamos ter visto algum sinal dele, um barulho, um grito, um gato de fogo, qualquer coisa!

-Ele provavelmente está bem, nem ele nem o Lily se deixariam abater por um ridículo monte de pedras!Eles vão voltar pra gente,com certeza!

-Nós sabemos que estamos na pior quando o Gajeel é o cara mais sensato do grupo...

A gatinha murmurou sarcástica nos braços da dona,mas na verdade ela estava bastante preocupada.Finalmente entendera a sensação ruim que tivera há alguns minutos atrás:

“Minha visão...o Lily comentou naquele momento que ela estava se realizando, mas eu senti que havia alguma coisa errada...agora eu sei o que é.É o dragão...aquele não era o dragão que nós vimos!”

O dom de prever o futuro pode se mostrar uma arma das mais cruéis; ela mais uma vez se encontrava em dúvidas sobre como lidar com informações às quais apenas ela tinha acesso, e cujos significados não lhe eram totalmente conhecidos.Ela estava com medo, muito medo. 

Sua atenção foi interrompida pelo som de um corpo pesado desabando dentro d’água, e por gotas geladas respingando em seu rosto.

-O que é que voc...ahhh, vista-se, despudorado! – Charlie berrou, tapando os seus olhos e os da dona com as patinhas.

A testa elevou-se alguns centímetros.O moreno,que mergulhara no trecho de córrego que acabara de encontrar, não entendia a razão de tamanho escândalo.

-Eu só tirei a camisa.Se estiver incomodada basta você não me olhar, hmpf!

Wendy também ficara levemente constrangida; apesar de já fazer um tempinho que estava naquela guilda, ela ainda não se acostumara completamente a certas,hã...demonstrações públicas de exibição corporal (o Gray a apavorava constantemente).

“Maldição...o veneno daquele otário ainda está queimando nas minhas veias...eu nunca senti nada como aquilo!Que tipo de magia será aquela?”

Happy sentiu o estômago gritando de fome, e procurou abafar o ruído com as patinhas.Não deu muito certo.

-Precisamos de comida.Vocês podem cuidar disso? – Ele apontou pros dois gatinhos.

-Aye!Vamos pescar uns peixes comigo, Charlie?

Os olhinhos dele brilhavam de expectativa, o medo temporariamente substituído pela possibilidade de ficar a sós com a amada.Charlie, por sua vez, suspirou profundamente e respondeu:

-Tudo bem...mas só pela situação, não pense que eu gosto de ficar sozinha com você!

-Acho que podemos encontrar peixes mais pra cima... – Ele caminhava de forma empolgada, e ela o seguia com uma expressão de professora do primário que precisa lidar com uma criança hiperativa sem matá-la.

-Eu também vou ajudá-los! – Wendy se prontificou, mas ele a segurou pelo pulso.

-Você fica.Precisamos discutir algumas coisas.

Ela sentiu um arrepio percorrendo a coluna, mas assentiu.Sua gata é que não gostou muito disso:

-Se você fizer alguma coisa à Wendy enquanto estivermos fora, eu vou te matar, está me ouvindo???

-Do modo como ela grita, até Magnólia deve ter nos ouvido... – Ele resmungou com um rosnado.

Wendy esperou pacientemente (e de costas) que ele concluísse o seu “banho” para que pudessem conversar em paz.

Gajeel sabia que aquela tarefa não era muito útil, e que a magia de cura de Wendy o ajudaria perfeitamente a se livrar de todos aqueles machucados de forma rápida e funcional, mas ela também se machucara.Não era justo que ele ficasse bem enquanto ela sentia dor.Então, fez o que podia para evitar maiores complicações lavando cada corte e examinando cada centímetro de seu copo em busca de quaisquer danos que fossem capazes de atrapalhá-lo mais tarde.

-Ghnnn! – Foi impossível reprimir um resmungo de dor quando ele tocou uma área do abdome particularmente roxa; aquilo iria piorar um bocado nas próximas horas.

-T-tem certeza de que não quer que eu...

-Tenho. – Ele cortou a conversa antes que ela terminasse.

A pequena sentia o cérebro fervilhando com as emoções e as reviravoltas das últimas 24 horas; agora, seus amigos estavam separados e dois deles desapareceram.Pela primeira vez desde que haviam voado de dentro da montanha, ela sentia seu coração se comprimindo pelo medo da perda, pelo vazio de não saber onde e como eles estavam.Aquilo era sufocante, estava roubando o ar de seus pulmões, o que era no mínimo irônico em se tratando da maga do firmamento.

-Porque essa cara de preocupada?

Gotículas geladas escorriam por sua nuca, fazendo com que ela saltasse involuntariamente debaixo da risada característica do mago.

-Awww, tá gelado, Gajeel-kun!

-Aprenda a jamais baixar a sua guarda de novo.

Ela notou que as gotas escorriam de um dos cantis de água; sentiu-se um pouco confusa.

-Pensei que tivéssemos deixado os cantis lá dentro.

-Sou um cara prevenido, nunca se sabe quando uma bobagem sem importância pode salvar a sua vida!

Fazia bastante sentido.Já vestido, ele ofereceu a água, que ela aceitou de bom grado; até aquele segundo, não notara que a garganta estava em chamas.Os dois sentara lado a lado, de frente ao córrego parado.O frio começava a incomodá-los, e os olhos de Wendy se ofuscaram com os raios de sol que a cada segundo ficavam mais escuros.

-Está anoitecendo.

Ele permaneceu quieto.

-Estou preocupada com eles.

Ele ainda estava calado.Na verdade, não prestava muita atenção ao seu redor; mergulhara em seu próprio mundo, como ele sempre fazia quando tinha um problema sério em que pensar ou quando não queria falar com ninguém  -  o que, basicamente, era quase todo o tempo em que ele ele estava calado.Mas nem mesmo ele conseguiu ficar indiferente quando sentiu a pequena mão que puxava a parte de trás da sua camisa.Ele olhou de escanteio, dividido entre o choque e o sarcasmo:

-O quê?

-G-gomene, eu só...me sinto sozinha, estou com medo!

Ela estava quase em seu próprio limite, rompendo os limites emocionais que ela fortalerera ao amadurecer durante os longos meses de viagem.Gajeel suspirou, entediado;naõ era muito divertido vê-la chorando, ele sabia porque já passara por essa situação algumas vezes.

Passou a mão rudemente em sua cabecinha, causando um pouco de dor e fazendo-na gemer "Itaiii!" por acidente.Começou a falar enquanto ainda olhava para frente:

-Melhor tirar essa tristeza da cara, ou aquela sua gatinha ranzinva vai me encher os ouvidos!

Ela fungou um pouco, mas estalou os dedos, lembrando-se de uma coisa:

-O que queria falar comigo, Gajeel-kun?

Ele ficou com o olhar vazio pro alguns segundos.Respirou fundo antes de falar:

-Eu não sei o que devemos fazer, nanica.

Ela ficou curiosa, mas não peruntou.Esperou que ele prosseguisse.

-Depois de reencontrarmos o Salamander e o Lily, acho melhor a gente cair fora.

-D-do que está falando? - Ela temia  que ele tinha a dizer.

-Eu não sei de vocês, mas eu não vou mais continuar com esse joguinho com o Zeref, se é que ele é mesmo quem diz ser.Já perdemos dois dos nossos, podíamos ter morrido, e a gente nem sabe contra o quê exatamente tá lutando!Não vou continuar com isso, tô fora!

-M-mas, nós não podemos, temos que encontrar Grandine, Metalicana e Igneel!

-Tem outros médotos que não envolvam ser soterrados por uma montanha! - Ele elevou a voz em um tom.

-Se não está preparado pra arriscar tudo, então não acho que esteja pronto pra encontrar com o seu dragão!

A voz dela se elevara bem mais do que pretendia, ativando o alerta de desefa dele automaticamente.Wendy nem mesmo notara em que momento se pusera de pé, vermelha de raiva.

-Essa é a sua escolha? - Ele ainda estava sentado, apesar de ter se alterado um pouco.

-Essa é a única escolha!

Ela se afastou batendo o pé, deixando que um pequeno sorriso surgisse nos lágios do mago."Ela cresceu bastante!", ele pensou.Mas este sentimento logo desapareceu; a sua resolução não se baseara em nenhum imulso ou idéia impensada.Já havia um bom tempo que ele discordava do rumo que eles estavam tomando.

E, agora, ele preciaria decidir.Iria partir ou ir embora?

"Lily, cadê você numa hora dessas?"

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-Estou quase!

Natsu já estava há uns bons minutos escavando um trecho específico onde ele sentira o cheiro do Exceed.Liluy se mantinha calmo, apenas um pouco esgotado.

-Consegui!

Ele o agarrou pela pata e conseguiu puxá-lo, causando uma onda de alívio nos dois.Lily tossiu um pouco devido ao excesso de poeira, mas logo passou.

-Onde estão os outros?

-Foram na frente, devem ter conseguido escapar.

-E nós dois, como vamos sair daqui?

O gatinho tentou pensar um pouco, mas se sentia fraco.Natsu também estava sem forças.

-Não sei, Natsu, eu realmente não sei...