Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 6
VI




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 Justin's POV

 Eu não podia negar, eu estava mesmo interessado na história de vida daquela garota. Não sei se era porque ela cuidava dos meus irmãos da mesma maneira – se não melhor – que Erin; ou talvez porque seus olhos pareciam dois grandes abismos e expressavam um conhecimento e experiência muito maiores que os meus, que já viajei pelo mundo inteiro. Talvez porque eu via nela algo que via em mim quando me olhava pro espelho: maturidade, ou uma espécie de responsabilidade maior pelos outros, como se fosse um dever dar uma protetor. No meu caso, eu estava sempre sendo protegido, mas aquela garota não. Havia um brilho forte em seus olhos, como se ela não precisasse de proteção, não precisasse de alguém. E isso não era algo que se via todos os dias.

 - Você pode começar me contando sobre a sua família – sugeri, começando pelo básico.

 Ela fez uma careta antes de franzir a testa. Opa, parecia que eu já havia começado com o pé errado.

 - Hã, é uma longa história – disse, tentando desviar do assunto.

 Os lanches haviam chegado naquele mesmo momento, então ela teve algum tempo para pensar no assunto e escolher as palavras que ia usar. Acho que era isso mesmo que ela estava fazendo, porque parecia muito concentrada em colocar ketchup no seu hambúrguer, coisa que é extremamente fácil. Ela estava desenhando algo com ele no lanche.

 - Faça uma versão curta – pedi, depois de dar uma mordida no meu lanche e engolir.

 - Ok – ela respirou fundo e ficou encarando o lanche – Nasci no Texas, meu pai nos abandonou e eu nunca o conheci. Minha mãe e eu nos mudamos pro Kansas e pro Wyoming e depois pra Oregon, foi onde ela casou pela terceira vez e teve Louie, mas se separou novamente, então ela quis se mudar pro Canadá. E aqui estou eu, em Winnipeg.

 Ela havia falado tudo muito rápido, então eu ainda estava tentando processar aquele discurso na minha cabeça. Infelizmente, minha cara não era uma das melhores ao fazer essa tarefa. Ela riu de mim.

 - Satisfeito? – perguntou, com uma sobrancelha arqueada.

 - Não sei, acho que meu cérebro ainda não processou – respondi, dando outra mordida no hambúrguer.

 Ela riu e se virou para as crianças, provavelmente empolgada em tentar escapar desse assunto. Quando viu que eles estavam, os três, comendo cheeseburgers, sua expressão mudou. Sendo sincero, ela estava espumando. Até Jaxon comia o sanduíche, e com vontade. Comecei a rir dos esforços deles, crianças de quase dois e três anos, em comer fast food. Acho que eu os havia levado para o mau caminho.

 - Eu não acredito nisso! Justin, eu passei dias tentando reajustar a alimentação deles, para que fossem mais saudáveis e você aparece, estragando tudo com fast food! Não acredito nisso – ela olhou brava para Kenny e depois voltou a olhar pra mim – Se Kenny não estivesse aqui, eu te daria uma surra.

 Pra melhorar minha situação, o grandalhão ainda disse:

 - Oh, baby, finja que eu não estou aqui. Vou fingir que essa é minha noite de folga.

 Eu lhe mandei um olhar demoníaco e voltei para encará-la com meu melhor olhar de cachorrinho perdido, aquele pelo qual todas as garotas desmaiam. Ela arqueou a sobrancelha, coisa que não era muito normal de acontecer.

 - Não me venha com esses seus olhinhos de cachorro perdido. Isso não funciona comigo!

 Caraca, até parecia minha mãe falando. Até hoje, ela era a única mulher viva na terra a sobreviver à minha carinha de cachorro de perdido. O que aquela menina tinha eu não sabia, mas devia ser poderoso.

 - Ah, Liv, qual é. Deixa eles se divertirem um pouco. Você quer ser lembrada pra sempre como a chata tia Liv ou quer ser que nem o tio Bieber, o tio lindo e legal? – sorri para ela, com todo o meu charme ativado.

 Ela deu risada. Qualquer método falhava com aquela garota e aquilo já estava me assustando; eu ia começar a ficar preocupado logo.

 - Ah, claro. Aham – comentou ela, ironicamente, ainda rindo – Vou deixar hoje porque você está aqui. Mas só dessa vez!

 Gritei de felicidade e estendi a mão para as três crianças, fazendo com que elas tocassem na minha. Todos começaram a rir e voltamos ao clima leve que estava no carro. A confusão com o cabelo da garota – que eu por acaso deveria ter perguntado o nome e o Twitter, já que ela não era um alien como Liv – havia ficado para trás e Jaxon estava feliz novamente. Decidimos começar a jogar boliche naquela hora e fizemos três duplas, cada adulto com uma criança – já que elas ainda eram muito novas pra terem força e jogarem sozinhas.

 Louie ficou com o tio Bieber, é claro, porque eu era o Rei dos Baixinhos; Jazzy ficou com Kenny, que a subornou com um milkshake e Jaxon ficou com Liv, porque ela tinha mais jeito com as crianças do que nós dois e ele era o menorzinho. A sequência ficou Kenny e Jazzy, eu e Louie, Liv e Jaxon.

 Kenny deu uma bela mordida que quase acabou com um de seus sanduíches antes de escolher uma bola para jogar. Pegou uma na cor verde e jogou-a com muita força. Acertou seis pinos na primeira jogada e deixou Jazzy jogar na segunda, mas ela não agüentou a bola muito bem e jogou-a de qualquer jeito. A bola saiu pelas laterais sem atingir nenhum pino.

 Foi a minha vez de jogar. Levantei e arrumei o colarinho da jaqueta de couro que estava usando. Fui de mãos dadas com Louie para escolher uma bola e continuei de mãos dadas ao tacar. Atingi oito pinos, porque minha mão estava um pouquinho dolorida. Louie escolheu outra bola e deixei-a jogar na segunda chance. Ela conseguiu derrubar um pino, então ficamos com nove pinos derrubados. Levantei-a em meus braços e fizemos a dança da vitória, que era uma mistura muito estranha que me bateu ali na hora. Enquanto eu caminhava em direção ao sofá, Liv ria da nossa dança. Ela devia estar é com inveja.

 No momento em que sentei no sofá, minha própria voz encheu os alto-falantes. Eu nem percebia que havia música tocando porque devia estar muito baixo, mas acho que alguém havia aumentado o som, e de propósito.

 Kenny começou a rir da minha cara e eu senti meu rosto um pouquinho mais quente. Olhei pra Liv meio constrangido, mas ela parecia perdida. Quando os primeiros versos da música foram ouvidos, ela me encarou de olhos arregalados.

 - Você é o garoto de Baby? – perguntou, totalmente incrédula.

 Dei risada e me levantei, caminhando em sua direção.

 - Are we an item? Girl quit playing. We’re just friends? What are you saying?  - comecei a cantar junto com a música, fazendo a dança dos shows.

 Quando o refrão chegou, Louie, Jaxon e Jazzy já estavam lá cantando e dançando comigo. O boliche inteiro havia parado pra olhar e, bem, quem quer que tivesse feito aquilo como algo pra me envergonhar, acabou me trazendo mais diversão ainda. Era uma ironia, porque o clipe havia sido gravado num boliche. E isso só me fez rir mais.

 Assim que o primeiro refrão acabou, Liv se levantou e se juntou à nossa cantoria. Até Kenny se levantou e dançou com a gente. Tentei ensinar alguns passos pra ele – de novo – mas ele desistiu. Liv conseguiu pegar um pouco, mas ainda precisava de prática. Quando foi tentar fazer um deles, escorregou e quase caiu no chão.

 Ela me surpreendeu, na verdade, ao cantar a música junto comigo. Pelo que eu percebi, ela sabia cantar tudo, até a parte do Ludacris. Pelo menos por um momento naquela noite parecia que ela me conhecia, que sabia quem eu era. Eu não havia ficado tão feliz com isso. Havia pouca gente que não me conhecia – não estou querendo me gabar, só estou comentando – e ela parecia não saber nada sobre mim. Como se não fosse uma belieber, mas também não fosse uma hater. Ela era até diferente das pessoas normais, porque os outros sabiam mais ou menos algumas coisas sobre mim. Mas para ela, era como se eu fosse apenas outra pessoa comum. Ela me via como alguém comum. Isso era raro e extremamente bom. Era como se eu pudesse ser o Justin de Stratford com outra pessoa além da minha família e dos meus amigos mais velhos. Por incrível que pareça, aquele velho Justin ainda estava ali, desacordado, e ela pareceu trazê-lo de volta.

 - Você sabe a música inteira? – perguntei, falando mais alto para que ela escutasse.

 - Claro! Sempre tocava na rádio, cheguei a decorar e a me cansar dela. Não sabia que era você que cantava – ela comentou, sincera – Sua voz mudou bastante.

 - É, as pessoas dizem que sim – respondi, dando de ombros.

 - Você ta me zoando? Parece que você sugou gás hélio pra gravar essa música – tive que rir dessa piada, foi boa – Sua voz mudou muito! Quer dizer, você mudou muito. Da última vez que te vi na TV, você tinha um cabelo muito diferente.

 Dei risada e aproveitei para zoar com a cara dela dessa vez.

 - Há quantos séculos você não vê TV? Existem canais a cores hoje em dia, sabia? E TV a cabo, que é uma coisa maravilhosa.

 Ela deu risada e bateu de leve no meu braço.

 - Engraçadinho! Eu posso ser um pouquinho desinformada...

 Não a deixei terminar e a interrompi.

 - Um pouquinho? Você foi para as cavernas nos últimos cinco anos!

 - Mas é que eu não tenho tempo! – continuou ela, ignorando meu comentário anterior – Você estava divulgando um filme, acho.

 - Never Say Never? – perguntei, controlando o riso.

 - É, alguma coisa desse tipo! – exclamou, sorrindo.

 Não respondi naquele mesmo momento, tinha que aproveitar a situação. Dei risada por uns dois minutos – até deixá-la bem brava – para finalmente voltar a ficar sério.

 - Garota, você precisa se informar. Isso foi na Idade da Pedra – e ri de novo.

 Ela me bateu mais vezes, mas de leve. Eu dava mais risada a cada tapa. Era engraçado brincar com ela, porque ela realmente não sabia nada de mim. E isso era esplêndido. Era a primeira garota que eu conversava que não me conhecia e não sabia nada sobre mim. Isso fez com que eu a olhasse com outros olhos. Eu a olhava como alguém da família já, talvez porque ela se comportava dessa maneira, toda desimpedida e sem timidez, ou talvez porque ela cuidava dos meus irmãos. Só sei que ela passou de babá a uma prima distante, já que não me conhecia direito, mas me tratava como um garoto normal.

 A música já havia acabado há vários minutos, mas nós éramos os únicos de pé. Sentei e esperei que ela jogasse. Ela levou Jaxon no colo, pediu que ele escolhesse uma bola – uma azul, por sinal – e antes de jogá-la, pediu que ele beijasse a bola para dar sorte. Ele deu uma risadinha e beijou a bola rapidamente. Liv então a jogou, ainda segurando Jaxon no braço esquerdo.

 Eu já estava rindo com a trajetória da bola, ela não ia acertar nenhum pino e eu ia ganhar aquele jogo na maior facilidade. Meu plano estava perfeito - eu até já planejava outra dança da vitória - mas ela fez alguma magia negra, porque a bola fez outra trajetória e acabou acertando os pinos. Vários pinos. Todos eles, na verdade.

 - OH YEAH! – gritou ela, pulando com Jaxon nos braços.

 Fechei a cara. Isso não estava certo. Uma garota ir melhor que eu no boliche? Qual é, eu jogava aquilo desde... sempre. Era impossível. Minha mão devia estar com problema, eu provavelmente devia ter trincado o pulso ou alguma coisa assim.

 - Ainda se sentindo, Baby-boy? – perguntou ela ao se sentar perto de mim.

 Soltei um sorrisinho amarelo, mas ela percebeu meu olhar de morte. Ao invés de ficar com medo, ela riu. Depois se esparramou no sofá e colocou os pés num tipo de mesinha de centro que ficava entre os dois sofás da pista. Roubou uma das minhas batatas fritas na maior cara de pau e mastigou-as olhando pra mim. Foi por pouco que não a derrubei no chão. De brincadeira, lógico. Mas eu estava perdendo meu cavalheirismo.

 O jogo inteiro ficou sendo disputado entre eu e Liv. Kenny já havia parado de tentar nos alcançar, então deixava Jazzy jogar todas as bolas. Ela estava começando a ficar boa no jogo, ou tão boa quanto uma garotinha de três anos pode ficar. Em certo momento, enquanto eu ia jogar, Teach Me How To Dougie começou a tocar. Aquela é minha música, trazia à tona todo o meu swag, então eu fiz um strike.

 Liv ficou encarando minha dançinha muito sexy e tentava conter uma risada. Foi sua vez de jogar e ela também fez um strike. Ela até tentou imitar minha dançinha, mas não conseguiu. Foi uma boa tentativa, na verdade, mas ela precisava de mais swag. Levantei e me dediquei a ensiná-la. Ela foi uma boa aluna, se bem que usava demais os quadris.

 - Ai, meu Deus – ela disse, rindo – Eu não consigo!

 - Claro que consegue – respondi – Você só precisa parar de rebolar.

 - Não estou rebolando – Liv ficou séria de repente.

 - Todas as garotas rebolam, é normal.

 - Sério? – perguntou, confusa.

 Ela parou completamente de se mexer. Eu tive que rir. A música continuou e eu continuei a dançar para mostrar como era. Quando ela foi tentar de novo, estava melhor, mas seus quadris ainda se mexiam.

 - Argh, não consigo – ela desistiu, rindo novamente.

 Coloquei minhas mãos em seu quadril e segurei-o. Ela fez o passinho novamente e conseguiu. O movimento dos quadris era suave demais, então garotas normalmente não sabiam fazer, porque não conseguiam controlar direito essa parte. Ela deu risada quando percebeu que conseguiu e ergueu os braços, em sinal de vitória.

 - Finalmente! – gritou, feliz.

 Também ri com ela. Não era todo dia que uma garota aprendia a dançar Teach Me How To Dougie da maneira certa e não da maneira vulgar.

 - Hum, Justin, assim que você puder tirar as mãos do meu quadril, eu ficaria feliz – ela comentou, baixinho.

 Foi quando percebi que ainda a segurava. Soltei uma risada envergonhada e fiquei vermelho. Pedi desculpas várias vezes, mas ela estava rindo. Disse que estava tudo bem e que não havia por que eu ficar envergonhado. Ela voltou a se sentar enquanto eu jogava pela última vez.

 Acho que ainda estava meio ruim da mão, porque não consegui um strike. Quando ela jogou pela última, conseguiu. E, no fim das contas, por alguns – lê-se vários - pontos a mais, ela me venceu no jogo. Jaxon dançou com ela uma versão estranha de We Are The Champions entoada pela própria Liv, e Jazzy e Louie entraram na brincadeira, porque eram muito inocentes para perceber que aquilo era um jogo. Quando me vi, pulava junto com eles, despreocupado. Meu orgulho ainda doía, mas fazer o que; eu teria que esperar por uma revanche e torcer para meu pulso melhorar.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam do POV do Justin? *-*