Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 56
LVI




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  – ACORDEM, CRIANÇAS! Tio Bieber veio brincar com vocês.

 Acordei com dificuldade, abrindo um olho de cada vez. Meu rosto ainda devia estar inchado de tanto chorar, já que parecia que eu só havia dormido por uns cinco minutos. As crianças se levantaram, já despertas, e pularam na cama. Justin estava de braços abertos, perto da porta. Louie se jogou nos braços dele e ele a pegou. Eu me levantei, observando-o. A luz do quarto estava acesa. Justin dava risada e jogava minha irmã para o alto e a pegava antes que ela caísse.

 A vermelhidão em suas bochechas, o jeito como sua voz havia saído arrastada e seus movimentos me fizeram ter certeza que Justin estava bêbado. De novo.

 – Você bebeu – eu me aproximei dele – Você me prometeu que não faria mais isso.

 Justin colocou Louie de volta na cama de casal. Ele me encarou e revirou os olhos, dando risada de mim. Balançou a cabeça em negação e se desequilibrou para o lado.

 – Você mesma me chamou de mentiroso – ele disse, a voz arrastada – E está certo. Se eu fosse você, não confiaria em mim.

 Justin caminhou cambaleante até a cama e puxou Jazzy para seu colo. Ele mal conseguia carregá-la e ainda queria jogá-la para cima.

 – Justin, solte Jazzy. Você vai se arrepender disso de manhã.

 – Não vou me arrepender de nada – ele disse, mas soltou Jazzy em cima da cama – Na verdade, a única coisa que eu vou me arrepender é de não ter dormido com você. No sentido mais figurativo da palavra, você sabe.

 Ele soltou uma risada sem humor e se aproximou de mim. Recuei vários passos para trás, porque não queria ficar mais nem um segundo perto do Justin bêbado. Ele era um idiota quando ficava bêbado. Da última vez, havia me chamado de Selena. E agora, ele faria algo muito pior. Porque eu o havia machucado, então ele estava pronto pra me machucar também. Eu me afastei ainda mais dele, só que ele sempre se aproximava.

 – Eu queria, queria muito mesmo, ter comido você – ele disse, me puxando para si pela cintura – Era só isso que eu queria, afinal de contas.

 Senti meus olhos arderem com as lágrimas, mas me segurei. Eu não ia chorar. Não depois de ter chorado por duas horas. Mesmo que agora Justin estivesse me dizendo toda a verdade: que ele só me queria por aquilo. Que ele só queria o meu corpo.

 – Você é nojento – eu o empurrei para trás.

 Justin deu risada.

 – Qual é, Liv. Você também não pode dizer nada, porque você foi muito fácil. A maioria das garotas seria decente ao ponto de não deitar comigo, mas você... Mais um dia, só mais um dia, e você abriria as pernas pra mim de livre e espontânea vontade.

 Aquelas palavras ricochetearam em mim como um tapa na cara. Justin havia acabado de me chamar de fácil e de vadia. Mesmo depois de eu tudo que eu lhe disse e de tudo que eu lhe falei, ao invés de me sentir melhor, eu me sentia pior. Não sentia como se a mentira dele tivesse sido apagada. E agora ele me chamava de vadia e piorava toda a situação. Ao invés de querer consertar o erro, Justin estava errando ainda mais.

 – Ah, você vai chorar agora? – Justin disse, rindo.

 Nem percebi que estava chorando até ele tentar secar uma das minhas lágrimas. Dei um tapa em sua mão e empurrei-o para longe de mim de novo.

 – Não toque em mim – sibilei.

 – Por que não? Você adora quando toco em você – ele sorriu de um jeito malicioso e pervertido.

 Aquilo só podia ser um pesadelo. Justin bêbado, pervertido e bravo. Não tinha como ficar pior. Ele ia jogar na minha cara todos os meus erros.

 – Justin, vá embora. Por favor – eu lhe pedi.

 – Olha só, a vadia tem boas maneiras.

 – Não me chame assim!

 – Por que não? Você sabe que é verdade.

 Levantei a mão para lhe dar um tapa na cara, mas Justin segurou minha mão antes que eu tivesse a chance. Ele apertou meu pulso e abaixou meu braço com dificuldade. Eu lutava contra seu aperto, mas ele era bem mais forte do que eu. Por que ele tinha que se embebedar? Ele não podia ter ficado quieto em seu quarto enquanto eu chorava com as crianças. E por falar em crianças, elas observavam nossa cena abismadas.

 – Vamos sair desse quarto – eu lhe pedi de novo – Vou conversar com você, vou fazer o que você quiser. Mas vamos sair de frente das crianças.

 Justin soltou outro sorriso malicioso e assentiu com a cabeça.

 – Você vai fazer o que eu quiser?

 Eu o puxei para fora do quarto das crianças e fui para o quarto dele. Fechei a porta de conexão e torci para que as crianças dormissem, mesmo com a luz acesa. Ou então elas poderiam ligar a televisão, sabiam fazer aquilo sozinhas. Justin me puxou pelo braço para perto de si e me apertou contra seu corpo.

 – Se você vai fazer tudo o que eu quiser, já pode começar a ficar de joelhos – ele sorriu de novo.

 Empurrei-o e soltei mais lágrimas de raiva. Meu Deus, ele era um idiota. Como eu pude pensar que ele era perfeito? Como eu pude pensar que ele realmente me amava? Justin não sentia nada por mim. Não de verdade.

 – Você é patético – repeti – Eu nunca faria nada com você.

 – Isso é mentira. Você estava muito ansiosa para abrir as pernas pra mim.

 – Pare de falar desse jeito!

 Continuei a chorar, soluçando feito um bebê. Eu chorava de raiva, de frustração, de tristeza, de desapontamento. Justin não era quem eu pensava ser. Ele era sem coração, sem princípios e sem vergonha. Não tinha respeito por mim nem por qualquer outra garota. Como eu fui me enganar tanto com uma pessoa que achava que conhecia tão bem? Nós havíamos convivido por um mês. Achei que ele fosse meu melhor amigo.

 – Você me chamou de mentiroso lá no corredor. É verdade, eu sou mentiroso. A única coisa sobre a qual eu não menti pra você foi quando disse que realmente queria te comer. Menti quando disse que te amava e menti quando disse que esperaria até você estar pronta. Eu te trouxe pra Orlando pra te foder, sim. Longe dos olhos dos curiosos. Gosto de privacidade quando é assunto é sexo, sabe.

 Eu o encarei, com nojo e descrença.

 – Então toda aquela porcaria de ficar esperando na minha porta, tudo aquilo, foi mentira? Foi mais um dos seus joguinhos? – perguntei.

 As lágrimas caíam feito uma cascata pelas minhas bochechas. Eu havia parado de tentar me fazer de forte. Havia desistido de tentar argumentar com Justin. Ele havia mentido todo aquele tempo pra mim. Pode até ser que, no começo, houvesse uma amizade genuína. Mas a falta de escrúpulos dele deve ter consumido todas as coisas boas do nosso relacionamento. E agora ele estava me dizendo a verdade. Uma verdade fria, cruel e de quebrar o coração. Meu coração já estava quebrado há algum tempo.

 – Chame de joguinho, se quiser. Eu chamo de conquista. Eu queria você e fiz tudo pra te ter. Só não pensei que você fosse ser mais uma daquelas vadias que se cansam dos caras. Acho que eu estava errado – ele afirmou, dando de ombros.

 – Você não devia ter tentado me conquistar – completei.

 – Por que não? Você é gostosa e eu queria te foder. Ainda quero, na verdade.

 Justin se aproximou de mim de novo, mas eu o empurrei para trás. Ele olhou para a porta de conexão com o quarto das crianças e sabia que não havia nada que pudesse me deixar mais brava do que envolver nossos irmãos naquela briga. Mas ele, é claro, resolveu fazer exatamente isso. Ele abriu a porta e foi para o quarto dos irmãos. Eu o segui imediatamente. Ele puxou Jazzy para seu colo e começou a falar com ela.

 – Jazzy, diz pra tia Liv que você não quer mais ela como sua babá! – ele pediu.

 – Mas eu quero a tia Liv – ela respondeu, olhando com sobrancelhas franzidas para o irmão mais velho.

 – Não quer, não!

 Justin riu e jogou-a para cima. Jazzy deu risada e parou de pensar na conversa de antes e não argumentou mais nada. Justin continuou jogando-a para cima e pegando-a em cheio. Aquilo estava me deixando nervosa. Ele estava bêbado. E se a derrubasse?

 – Justin, solte Jazzy agora – eu o puxei pelo ombro.

 – Me obrigue.

 – SOLTE-A AGORA! – gritei, exigindo.

 – Cala a boca, garota. Você não tem moral nenhuma pra me dizer o que fazer. Jazzy é minha irmã. Você nem faz parte dessa família.

 Suas últimas palavras me cortaram como mil navalhas e eu me senti tonta. Por toda a minha vida, a única coisa que eu sempre quis foi ter uma família diferente. Uma família que me amava e me respeitava. Eu havia conseguido essa família, com Justin. Mas agora ele deixava bem claro que eu não significava nada. Que eu não era nada pra ele. Que aquele não era realmente o meu lugar.

 Meu choro de raiva passou a ser de tristeza e eu cobri a boca com as mãos, me afastando de Justin. Ele percebeu que havia atingido meu ponto fraco, que havia achado meu calcanhar de Aquiles. E eu me sentia fraca, impotente, sem reação. Porque ele estava certo. Eu não era parte daquela família.

 – Por todo esse tempo, eu tentei te ajudar. Eu pensava “ah, a coitada foi rejeitada pelo pai e é rejeitada pela mãe”. Mas aí você me rejeitou. Você tem ideia do quanto é estúpida? Você rejeitou a única coisa boa que já aconteceu na sua vida. Eu nunca precisei de você e você sabe disso. Pra mim tanto faz o que você quer fazer da sua vida, eu não me importo. Você vai voltar pra sua vidinha de rejeitada quando for embora daqui e eu vou voltar pra minha vida. Eu tenho dinheiro, tenho fama, tenho uma namorada que sabe como abrir as pernas pra mim. Não preciso de uma vadiazinha que só soube brincar comigo esse tempo todo. Não preciso de uma vadia que nem você!

 Antes que eu pudesse me controlar ou que Justin pudesse me segurar, meti a mão na sua capa. O tapa foi rápido. Minha mão ardia e a bochecha de Justin ficou vermelha. Ele soltou Jazzy na cama e se virou pra mim, os olhos queimando.

 – Você é patético. Você não passar de lixo, Justin Bieber.

 Justin levantou a mão para me bater. Eu não o impedi, não fiz nada. Só o encarei. As crianças estavam olhando para saber o que ele ia fazer em seguida. Ele teria mesmo coragem de me bater na frente de três crianças que não entendiam nada do que estava acontecendo? Ele teria coragem de me bater, de qualquer jeito?

 Justin abaixou a mão. Seus olhos estavam marejados de raiva e eu sabia que era hora de ir embora. Ele se afastou de mim e foi para o seu quarto. Eu não sabia como reagir àquilo. Sentia como se meu peito tivesse ficado apertado demais e meu coração não coubesse nele. Pensar que, vinte e quatro horas antes, Justin e eu estávamos dormindo no maior sossego. Aquilo me fez chorar ainda mais.

 – Vamos crianças. Temos que ir embora – eu disse, secando as lágrimas.

 Elas reclamaram, mas eu não estava em posição de argumentar. Troquei-as e guardei seus pijamas nas malas respectivas. Terminei de arrumar todas as malas e fui para o quarto de Justin pegar a minha mala. Ele não estava lá e a portava estava aberta.

 Arrumei minha mala rapidamente e liguei para a recepção, para eles mandarem um funcionário com um carrinho de bagagens e para chamarem um táxi pra mim. O funcionário, quando chegou, me ajudou a colocar as malas no carrinho. Nós descemos e eu não me despedi de ninguém. O táxi já nos esperava na frente do hotel.

 Entramos no táxi e saímos direto para o aeroporto. Eu não sabia que horas o próximo avião para Winnipeg ia sair, mas eu só queria sair daquele hotel. Não queria ver Justin nunca mais. Além de ter mentido e me enganado, ele quase me bateu. Era inaceitável.

 Um dos carregadores do aeroporto me ajudou a colocar as malas em outro carrinho de bagagens. Segui com as crianças para comprar uma passagem para Winnipeg. Tive que pagar as quatro passagens com o cartão de crédito da minha mãe, porque eu não tinha mais dinheiro. E tudo ficou num total de 460 dólares. Muito dinheiro pro meu pequeno bolso. Eu ganhava só 300 por mês.

 O voo saía duas horas depois. Nós tivemos que ficar esperando na sala de embarque por um tempão. Deixei as crianças tirarem uma soneca, mas fiquei acordada. Chorando. Todo mundo que passava por mim, ficava me encarando. Eu parecia uma mãe solteira abandonada pelo marido. A ideia me dava vontade de rir. Eu provavelmente nunca teria filhos. Não sabia quem seria doido o suficiente pra querer se casar comigo.

 Nosso voo foi chamado e eu acordei as crianças. Dormimos mais um pouco no avião. Antes, tínhamos ficado na primeira classe. Agora estávamos na classe econômica mesmo. Era mais barato, mas o atendimento era precário. Eu não me importava com luxo nem com o atendimento. Só queria chegar logo em casa.

 Liguei para Erin quando chegamos em Winnipeg. Ela estranhou minha ligação, porque só devíamos chegar dois dias depois, mas foi nos buscar no aeroporto. Ela me deixou primeiro em casa e eu tirei as malas do seu porta-malas. Antes de ir embora, eu me inclinei na altura do vidro da janela para falar com ela.

 – Erin, eu me demito – eu disse, na lata.

 – O que? – ela me encarou de olhos arregalados.

 – Não posso mais continuar cuidando dos seus filhos. Eles são ótimos e eu os amo, mas não dá mais. Por enquanto, quero me afastar da sua família.

 Erin continuou me encarando, abismada e perplexa.

 – O que Justin fez? – ela perguntou.

 – Ele só me fez perceber que eu não sou parte dessa família. Não faz sentido continuar mentindo pra mim mesma e agindo como se isso fosse verdade.

 – Mas você é parte da família! – ela argumentou.

 – Não sou – suspirei – Espero que você encontre outra babá. Foi muito bom trabalhar pra você. Jazzy e Jaxon são crianças incríveis.

 Comecei a caminhar para longe do carro de Erin. Eu sentia seus olhos em mim, mas não me virei. Nem quando ela gritou meu nome. Eu sabia que ela ia desistir e ia embora assim que visse que aquela era minha decisão definitiva.

 Entrei no elevador carregando as duas malas e coloquei-as no chão. Louie estava do meu lado; parecia sonolenta e triste. Apertei o botão até o nosso andar e puxei-a para um abraço longo. Quase voltei a chorar, mas fiquei forte. Não queria chorar mais. Eu estava cansada de ser tão fraca o tempo todo.

 Saímos do elevador. Ela foi na frente, porque eu tive que pegar as malas. Quando cheguei na porta do apartamento, deixei as malas caírem no chão. Comecei a procurar a chave de casa na minha bolsa. Um homem, que estava esperando no final do corredor, se aproximou de nós duas. Eu o encarei. Ele parecia familiar.

 – Você mora aqui? – ele perguntou, numa voz calma.

 – Sim, moro. Por que? – perguntei.

 Só me faltava minha mãe ter se esquecido de pagar o aluguel de novo. Revirei os olhos e achei minha chave na bolsa. Coloquei-a na fechadura e abri a porta. Chutei as malas para dentro e Louie entrou em casa correndo.

 – Essa é a casa da Lucy Mayes? – ele perguntou.

 – Sim. Sou a filha dela, Liv – respondi.

 O homem assentiu e me analisou. Suas sobrancelhas franziram e ele não parecia estar acreditando no que via. Como se eu fosse um fantasma ou algo do tipo. Ele era estranho. Mas não estranho do tipo completo estranho, ele me parecia familiar. Ele só estava sendo estranho em seus gestos e ações. Era quase como se me conhecesse, mas não soubesse exatamente como.

 – Você é algum amigo da minha mãe? – perguntei.

 Ele me olhou nos olhos e eu soube a resposta imediatamente. Meu queixo caiu antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. Eu não estava acreditando naquilo.

 – Na verdade, acho que eu sou seu pai.


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Notas finais do capítulo

VISH VISH VISH. TENSO. A PORRA FICOU MT SÉRIA AGORA!
Vou fazer um capítulo de agradecimentos e já posto tudo o que estou acostumada a postar aqui. NÃO ME MATEM!