Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 38
XXXVIII




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Justin's POV


Por incrível que pareça e contra todas as possibilidades, eu e Liv não ficamos nos estranhando. Acho que aquilo já havia acontecido tantas vezes que nós não nos incomodávamos mais em discutir o que significava e já fingíamos que nada havia acontecido. Era melhor daquele jeito. Por mais que naquele show eu não tenha parado de olhar pra Liv e ela tenha continuado na minha cabeça pelas horas seguintes.

Caímos na estrada depois de Atlanta. Os dias se passavam e as cidades iam junto. Fizemos show em Dallas, Phoenix, Los Angeles, San Francisco e Portland. Eu, Liv e as crianças estávamos passando cada vez mais tempo juntos, porque as cidades ficavam a quilômetros uma da outra e nós tínhamos que ficar presos no ônibus sem muita coisa pra fazer. No fim, Liv zerou meu Call of Duty, o que me deixou muito bravo e eu tive que comprar o Just Dance 3 em Dallas para que Jazzy e Jaxon também pudessem jogar. No Just Dance eu era melhor que Liv. Mas Jazzy também tinha muito swag.

As entrevistas aumentaram por a turnê estar chegando ao final. Agora, antes da passagem de som eu tinha que dar, pelo menos, umas cinco entrevistas por dia para revistas, rádios ou programas de TV. Fiz Liv e meus irmãos assistirem a todas as entrevistas e depois comecei a chamar os três para fazerem parte delas também. Todo mundo sempre dizia que Jazzy e Jaxon eram lindos, que Liv era muito nova pra ser babá – como se ela fosse algum prodígio ou sei lá – e que nós dois parecíamos muito amigos. Algumas pessoas até perguntavam se eu ainda estava namorando Selena, como se Liv fosse mais que apenas minha amiga. Eu tinha que dar uma bronca quando eles faziam essa pergunta. Minha resposta era sempre algo do tipo:

– Claro que ainda estou namorando!

Liv ficava meio desconfortável quando começavam a desconfiar da gente. Ela até queria sair de perto, mas eu a fazia ficar. Minha confusão em relação a ela não devia ser entendida como interesse. Eu gostava dela? É claro. Ela era minha amiga. Isso significava que ia começar a sair com ela? É claro que não. Selena teria um ataque. Eu ainda ligava para ela todo dia, comentando sobre meu dia. Todo dia eu tinha que confirmar que ainda a amava, como se ela precisasse de confirmação. Selena era ciumenta, mas eu podia lidar com aquilo. Eu a amava.

No caminho para Seattle, depois do show de Portland, não parei de pensar no quanto estava perto do fim da turnê. Liv estava sentada na minha cama com Jaxon no colo e Jazzy do lado. Jazzy desenhava numa folha de papel e Jaxon falava sem parar. Não conseguia acreditar que eu ia perder aquilo. Aqueles três iriam pra longe de mim. Só Deus sabia quando eu ia vê-los de novo.

Tudo bem, muito drama. Eu poderia ver Jazzy e Jaxon sempre que quisesse. Mas e Liv? E se ela deixasse de cuidar dos meus irmãos? Não queria perder a amizade dela. Mesmo sendo amigos por tão pouco tempo, nós tínhamos uma conexão tão forte. Ela virara minha amiga da noite para o dia. Literalmente. Agora que nossa amizade estava no auge e estávamos muito mais próximos, seria difícil me acostumar a ficar sem ela.

Por acaso, Liv percebeu meu olhar fixo. Ela levantou os olhos e sorriu para mim. Alguma coisa dentro de mim se acelerou. Acho que era meu coração.

– No que está pensando?

– No que eu vou fazer quando a turnê acabar e eu me separar de você – cocei o queixo, num momento de reflexão – Dou uma festa ou comemoro sozinho? Não sei.

– Idiota – ela jogou um travesseiro em mim, mas riu – Eu é que vou festejar. Vou me ver livre de você!

– Ah, Liv. Para de mentir. Você vai chorar toda noite e vai me ligar todo dia.

– Cala a boca, Bieber.

Dei risada. Joguei o travesseiro de volta nela, que atingiu Jaxon sem querer. Ele quase chorou, mas aí eu o peguei no colo e brinquei de aviãozinho com ele. Eu o levantava no ar e o jogava pra cima, mas aí o pegava antes de ele cair, é claro. Liv nunca gostava que eu brincasse de aviãozinho com ele, porque achava que eu ia derrubá-lo. Ela não sabia que eu já havia o derrubado. Resolvi não contar. Ela ia me matar.

Mais tarde naquele dia, ela os colocou para dormir e saiu para sua própria cama. Eu ia arriscar e pedir pra ela dormir na minha cama de novo, mas ela ia dizer que não. Além do mais, minha mãe ia nos comer vivos se nos visse na mesma cama de novo.

Antes que eu pudesse pegar no sono, Jaxon acordou chorando. Pensei em chamar Liv, mas fiquei com dó. Eu o tirei do beliche e o trouxe para minha cama. Como ele não parou de chorar, Jazzy também acordou. Eu também a levei pra minha cama. Para acalmá-los, cantei Silent Night. Jaxon ficou quietinho e dormiu no mesmo instante. Jazzy foi mais insistente e eu tive que cantar a música umas três vezes para ela pegar no sono. Mas fiquei feliz com o resultado. Eu não ia dormir sozinho aquela noite.

Peguei no sono depois disso.

Acordei e levantei a cabeça porque ouvi um barulho. Jazzy e Jaxon não estavam mais na minha cama. Também não estavam no beliche. Olhei para o lado, mas o sol ainda não se esgueirava pela cortina. Olhei para a porta. Liv estava entrando no meu quarto, mas ela estava diferente. Não usava seu pijama de sempre. Agora ela apenas usava uma camiseta grande demais e calcinha. Enquanto caminhava na minha direção, eu me sentei na cama, confuso.

– Liv, o que está fazendo aqui? – perguntei.

Minha voz estava estranha. Liv sorriu e colocou o dedo indicador nos lábios, como se me pedisse para ficar em silêncio. Ela se aproximou, sentando-se na minha frente. Meu coração batia forte. Ela se aproximou ainda mais, sentando-se no meu colo. Agora estava tudo muito embaralhado na minha cabeça. Meu coração não se acalmava, muito menos minha respiração. Ela envolveu meu pescoço com os braços.

– O que você está fazendo?

Ela não respondeu e me calou, colando seus lábios nos meus. Não a afastei de mim, não evitei que me beijasse. Na verdade, permiti e encorajei que sua língua abrisse caminho por minha boca. Enquanto eu tentava superar a surpresa, Liv não perdeu tempo. Ela colou o corpo no meu. Parei de tentar seguir minha cabeça e segui meus instintos. Minhas mãos entraram pela camiseta dela e subiram. Quando percebi que ela não estava usando sutiã, o Jerry lá embaixo reagiu.

– Justin – ela sussurrava, fazendo com que meu corpo inteiro ficasse arrepiado – Justin.

Acordei de verdade com alguém jogando água na minha cara. Quando abri os olhos, tive muita dificuldade em perceber que aquilo era apenas um sonho. Mas era um sonho tão bom. Mais água no meu rosto e eu me sentei na cama.

– Já acordei, já acordei! – eu disse.

– Que bom – disse Liv e sua voz me fez dar um espasmo involuntário. Não consegui olhar pra ela – Estou indo tomar banho, ok?

– Ok, ok.

Evitei encará-la. Não podia acreditar que eu tinha acabado de sonhar que estava ficando com a Liv. Mas que maldição. Já era difícil ter que lidar com os quase-beijos, imagine ter que ficar me lembrando de como ela havia entrado no meu quarto no sonho. Meu Deus, eu devia estar ficando louco. Eu só podia estar ficando louco.

Saí do quarto e bebi um pouco de água. Minha mãe estava com Jazzy e Jaxon. Fui lhes dar bom dia e fiquei brincando por um tempo com eles. Eu devia ter percebido que era um sonho. Jazzy e Jaxon não estavam lá. É claro que não era verdade. Além do mais, nunca poderia ser verdade porque eu e Liv nunca iríamos ficar. Nunca.

Resolvi ir ao banheiro. Eu não gostava de tomar banho no ônibus, mas talvez aquele fosse o momento certo para fazê-lo. Precisava de um tempo só pra mim, precisava tirar aquilo da minha cabeça. Não podia ficar remoendo aquilo, não podia ficar pensando só no meu sonho quando visse Liv. Que maneira horrível de acabar com a nossa amizade.

Entrei no banheiro de cabeça baixa. Escutei minha mãe gritar alguma coisa, mas não entendi o que era. Quando ergui os olhos, minha visão não melhorou em nada minha tentativa de esquecer meu sonho. Eu havia esquecido que o banheiro já estava ocupado.

Liv estava de costas. Já havia terminado de tomar banho, mas ainda não havia se trocado. Na verdade, não havia nem começado. Parecia ter acabado de desligar o chuveiro, porque ainda não havia pegado a toalha. Eu devia ter virado o rosto, devia ter abaixado a cabeça, mas não consegui. Vamos combinar, eu ainda sou homem e Liv não é feia. Muito pelo contrário. Ela não devia ser tão bonita.

Quando ela percebeu que eu estava ali, soltou um grito enorme. Ela puxou a toalha antes que eu pudesse olhar mais para sua bunda. Fiquei vermelho. Fiquei mais vermelho ainda porque ela sabia que eu olhei e porque eu queria que ela tivesse se virado para eu vê-la de frente. Minha mãe, por acaso, também chegou no banheiro naquela hora. Saí de lá de dentro correndo e fiquei no meu quarto.

A imagem de Liv entrando no meu quarto no sonho foi substituída pela imagem dela nua e de costas da vida real. Se eu já sabia que ela era gostosa, agora eu tinha certeza. Tive até que colocar um travesseiro em cima do Jerry quando ela veio falar comigo. Eu me desculpei, falei que devia estar com a cabeça em outro mundo pra ter esquecido que ela estava tomando banho. Mas ela disse que estava tudo bem. Não acreditei nela.

Quando chegamos a Seattle, nós paramos para almoçar em um restaurante. Depois seguimos para a casa de shows, sem nos hospedarmos em um hotel. Liv ficou no camarim enquanto eu fui dar as entrevistas de sempre. Dessa vez ninguém me perguntou sobre Liv, mas perguntaram sobre meus irmãos. E sobre Selena.

Fui para a passagem de som. Eu havia deixado umas duzentas beliebers entrarem para verem a passagem de som. Vê-las já me deixou melhor e tirou da minha cabeça as coisas que havia me preocupado o dia inteiro. Quando voltei ao camarim para me arrumar, só minha mãe estava lá. Não perguntei onde estava todo mundo e fui direto para o banho. Depois só me concentrei em me arrumar e aquecer minha voz com Mama Jan. Não queria realmente ver Liv até a hora do show, mas queria ver meus irmãos.

O show começou e acabou. Foi tão automático que nem vi passar. Voltei ao camarim só pra trocar de roupa e colocar uma coisa mais confortável. Liv conversava e ria com minha mãe e Kenny, mas parecia que a graça havia ido embora quando cheguei perto dela. Nós caminhamos para o ônibus. Eu me sentia como o cara mais idiota do mundo. Graças ao meu sonho idiota e à minha falta de atenção, Liv queria ficar longe de mim. Tudo que eu queria, naquele ponto da turnê, era ficar mais perto dela. Se a turnê acabasse e nós continuássemos naquele clima estranho, eu não ia me perdoar. E se a gente nunca mais conseguisse conversar direito?

Fiquei no quarto de novo. Tentei jogar alguma coisa, mas não estava realmente no clima. Tentei entrar no Twitter, mas também não fiquei muito. Não queria fazer nada. Não me sentia animado pra nada. Liv e meus irmãos estavam lá fora, provavelmente dando risada ou assistindo algum desenho. Eu queria tanto me juntar a eles, só que eu sabia no que aquilo ia resultar e não queria mais causar problemas com Liv.

Uma melodia começou a surgir na minha cabeça e eu a preenchi com letras.

I never meant to hurt you / Eu nunca quis te machucar

I never meant to push you away / Eu nunca quis te afastar

Resolvi começar a anotar essa letra. Talvez eu pudesse usar aquela música em Believe. Afinal, a inspiração podia vir de inúmeros lugares. Continuei a pensar na melodia e numa continuação da letra.

Our friendship was way stronger / Nossa amizade era mais forte

When I didn’t have to call it a break / Quando eu não tinha que dar um tempo a ela

I know what I have done and / Eu sei o que fiz e

I know I’ve made some mistakes / Sei que cometi alguns erros

And if you could forgive me / E se você pudesse me perdoar

We could start all over again / Nós poderíamos começar tudo de novo

Aqueles versos faziam a primeira estrofe. Agora eu só tinha que me empenhar em montar o refrão. As palavras fluíram pela minha cabeça, atrapalhando a melodia e juntando-se rapidamente para formar rimas.

Cause I don’t wanna lose you / Porque eu não quero te perder

I don’t wanna lose what we have / Não quero perder o que temos

I don’t think I could forget you / Não acho que eu poderia esquecer você

You’re one of the best friends I ever had / Você é uma das melhores amigas que eu já tive

So let’s not think about it / Então não vamos pensar nisso

Forget about it / Esqueça isso

Let’s just make this moment last / Apenas vamos fazer esse momento durar

Let’s just make this moment last / Apenas vamos fazer esse momento durar

Liv entrou no quarto naquele momento com as crianças. Ela me escutou cantando e estava vermelha por ter me interrompido. Também fiquei vermelho. Ela colocou as crianças na cama e cantou Silent Night. Eu me levantei e cantei junto com ela. Quando acabamos e as crianças já estavam dormindo, ela sorriu para mim.

– Jazzy disse que você tinha cantado para ela dormir e me fez prometer que eu ia fazer o mesmo hoje. Tudo bem que a minha voz não chega nem perto da sua...

– Liv, - eu a interrompi – sua voz é linda.

– Obrigada – ela corou.

Silêncio mortal. Liv apontou o caderno em que eu estava escrevendo a música.

– Ouvi você cantando. Música nova?

– É – coloquei as mãos nos bolsos.

– Posso ouvir?

Confesso que não estava esperando aquilo, mas assenti. Sentei na cama. Um frio me subiu pela espinha quando ela se sentou também, mas eu balancei a cabeça para tirar a imagem do sonho. Cantei, sem violão nem nada, os versos que eu já tinha. Liv prestou atenção na música o tempo todo. Quando acabei de cantar, ela puxou o caderno da minha mão e leu a letra mais uma vez.

– Eu não tenho que te perdoar, sabe – ela disse – Está tudo bem.

– Eu me sinto culpado. Sei o quanto as coisas podem ficar estranhas entre a gente, mas eu realmente não queria te perder por causa disso.

– Você não vai me perder, Bieber. Com isso você não precisa se preocupar.

Eu sorri. Estendi a mão. Eu teria aberto os braços para que ela pudesse me abraçar, mas achei que era melhor se a gente começasse com pouco.

– Amigos de novo?

– Amigos – disse Liv, apertando minha mão.

Ela deu risada enquanto eu chacoalhava seu braço inteiro. Soltei sua mão depois de um tempo. Ela se levantou. Antes de sair, ela se virou e me deu seu costumeiro boa noite.

– Boa noite pra você também, Liv.

Ela sorriu enquanto passava pela porta. Chamei-a novamente.

– E, Liv? – ela me olhou – Agora posso dizer com certeza: você é linda.

Liv ficou igual a um pimentão. Em meio às bochechas vermelhas, seu sorriso brilhou.

– Obrigada.

Ela fechou a porta atrás de si. Tirei a roupa e pulei para debaixo das cobertas só de cueca. Quando fechei os olhos, me peguei pensando no porquê diabos fui dizer aquilo. Agora a imagem de Liv nua no banheiro não me saía da mente.

Lá vamos nós de novo.


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Notas finais do capítulo

Então, só pra avisar, a música que o Justin "escreveu" é minha. Tive que colocar a tradução na frente (que, por acaso, ficou beeem ruim, porque quando eu penso em inglês, nunca penso numa tradução ao mesmo tempo), porque não sei se todo mundo aqui sabe inglês.
Eeeentão, espero que tenham gostado *-*