O dia seguinte foi super cheio. Não pra mim, obviamente, mas para Justin. Ele teve que acordar cedo, porque Pattie já havia deixado claro que nós teríamos que estudar de manhã. Portanto, às nove horas nós nos encontramos em seu quarto. Um professor – que eu não lembro do nome, porque ele falou rápido demais e eu não consegui entender – começou nossa aula com Química. Não era minha matéria preferida, mas eu também não odiava. Já Justin não podia dizer o mesmo. Ele não era muito fã de Química não.

 O professor nos explicou a matéria e nos deixou fazendo exercícios por vinte minutos. Logo depois já passamos pra Matemática – ou, mais especificamente, uma das frentes da matemática, Álgebra – e as coisas só pioraram para Justin. Terminamos Álgebra e fomos para Literatura. Poderíamos escolher o próximo livro do qual faríamos trabalho e, no fim, ficamos com Romeu e Julieta. Era uma peça antiga e tudo o mais, só que a história era linda. Não faria mal algum lê-la de novo.

 Justin tirou o iPhone do bolso uma certa hora e levou-o para cima, tirando uma foto nossa enquanto eu estava com a cara nos livros. Só escutei o barulhinho da câmera e então olhei pra ele. O professor com o nome esquisito havia saído para beber água – se bem que eu achasse que ele tivesse saído pra fumar – e nós estávamos sozinhos, tentando resolver alguns exercícios.

 - O que você está fazendo? – perguntei aos sussurros.

 - Documentando nossa primeira aula juntos – ele respondeu, sussurrando também.

 Ele ia postar a foto no Instagram. Fiquei olhando de lado para ver o que ele iria colocar na legenda, até que ele finalmente digitou:

Pelo menos um de nós está prestando atenção #schooltime.

 Dei-lhe um tapa no braço enquanto o upload não concluía.

 - Eu saí feia naquela foto! – reclamei.

 - Não saiu, não. Relaxa aí.

 Neguei com a cabeça e lhe dei outro tapa no braço, ficando brava. Justin bufou e então ergueu o celular de novo. Dessa vez eu olhei pra câmera e sorri. Ele acabou fazendo a mesma coisa e a foto ficou até fofa. Ele postou no Instagram também.

Ou não. Acho que hoje não é um dia bom pra Álgebra, afinal de contas.

 Dei risada e assenti. Realmente, não era mesmo. Ouvimos a porta sendo aberta e voltamos ás posições iniciais, como se estivéssemos tentando resolver os exercícios ainda. Eu estava tentando realmente, mas Justin só estava rabiscando o caderno. Voltamos à aula.

 Assim que acabamos as três horas de estudo, já era meio dia. Pattie, que estava no quarto das crianças, não tinha me avisado que eles haviam acordado, portanto eu achei que eles ainda estavam dormindo. Quando entrei no quarto, Pattie, Jazzy e Jaxon assistiam ao Pica Pau na televisão.

 - Pattie, por que não me avisou que eles haviam acordado? – eu perguntei, enquanto me sentava na cama.

 Jazzy foi a primeira a pular em cima de mim, envolvendo meu pescoço e se sentando em meu colo. Jaxon se aproximou, sorrindo, e me deu um beijo na bochecha.

 - Bom dia, meus amores – e beijei a testa de cada um.

 - Eu não queria atrapalhar seus estudos – Pattie deu de ombros e se levantou da cama – O Justin já está pronto?

 Eu neguei com a cabeça, mandando-lhe um olhar significativo. Acho que ela havia compreendido. Era lógico que ele não estava pronto.

 - Entrou no banho agora – eu expliquei, apontando o quarto ao lado.

 Pattie bufou e então saiu, balançando a cabeça. Parecia meio brava. Mas, ainda assim, eu resolvi que não me meteria naquele assunto. Assim que ela apareceu na porta novamente, eu me levantei.

 - Coloque um casaco nas crianças. Nós estamos saindo.

 Eu encarei-a, abismada, e então corri para a mala deles, que havia sido transferida temporariamente do ônibus para o hotel. Peguei uma jaqueta para cada um, corri até a minha mala e peguei a jaqueta de couro de Justin. Desde que ele havia me dado de presente, era a minha peça preferida. Parecia se encaixar tão bem em mim.

 Desci os dois da cama, desliguei a TV, fechei as janelas e as cortinas, peguei Jaxon no colo e Jazzy pela mão. Saímos do quarto e ficamos presos no corredor cheio de gente. Alguns riam de cá, outros corriam pra lá, mas todos parecia estar fazendo alguma coisa. Até me senti sufocada. Caminhei com as crianças até o elevador e fiquei esperando até que algum conhecido aparecesse. Para minha sorte, Pattie e Kenny apareceram.

 - Oi – eu disse, afobada.

 - Vocês se vestem rápido – disse Pattie, impressionada.

 Dei risada e lhe mandei meu maior sorriso de agradecimento. Eu não queria ser um estorvo naquela nova família disfuncional, então sempre agiria o mais rápido possível quando alguém me pedisse alguma coisa. Ok, talvez não seria tão rápida assim se Justin me pedisse algo, porque eu queria zoá-lo ao máximo todos os dias.

 Ele apareceu, falando nisso. Mas eu consegui sentir o cheiro do seu perfume antes que pudesse realmente vê-lo na multidão. Ele caminhou por todo mundo e apertou o botão do elevador.

 - Justin, Justin! – disse Jazzy.

 Era a primeira vez que ela o chamava assim e até ele ficou surpreso. Ele pegou-a no colo e lhe deu um beijo na testa.

 - Você me chamou de Justin, Jazzy? – ele perguntou, todo bobo – O que você quer, hein lindinha?

 - Tô com fome – ela disse, fazendo uma carinha fofa.

 Foi quando eu me toquei que não havia alimentado as crianças desde que elas haviam acordado. E o pior, eu não sabia que horas elas haviam acordado. Fiquei vermelha naquele exato momento. Eu era a babá, devia saber dessas coisas.

 - Ah, é, meu amor? A gente vai almoçar aqui no hotel, está bem?

 Ele beijou-a na testa novamente enquanto ela inclinava sua cabecinha no ombro de Justin. Ele então se inclinou lentamente e bagunçou os cabelos de Jaxon, sorrindo pra ele. Jaxon deu uma risadinha e tentou pegar a mão de Justin.

 - E aí, irmãozão. Tudo certinho? Tá com fome também?

 Jaxon assentiu. Eu fiquei mais vermelha ainda. Eu senti o olhar de Justin no meu rosto, mas não ousei levantar a cabeça. Continuei encarando o tênis de Jaxon e fingi que não era comigo. Eu era uma péssima babá, credo. Como eles haviam me contratado?

 Finalmente o elevador chegou. Todos nós entramos e descemos para mezanino, que era onde o restaurante do hotel ficava. Nos sentamos numa ótima mesa e fomos servidos muito bem. Eu até havia esquecido como tudo era quando eu era pobre. Não que eu fosse realmente pobre, mas comparada a Justin Bieber, eu era uma mendiga.

 Depois de almoçarmos – e de quase acontecer uma guerra de comida entre Justin, Jazzy e Jaxon, na qual eu e Pattie tivemos que intervir e usar nossas melhores vozes de mãe. No meu caso, babá – nós saímos e fomos ao elevador de novo. Justin e eu havíamos trocado, portanto agora ele carregava Jaxon e eu carregava Jazzy no colo. Assim que o elevador chegou no subsolo e deu um solavanco, – que era coisa rara e só parecia acontecer quando Justin estava lá dentro – ele fincou as unhas no meu braço. Dei risada enquanto ele me soltava, sem antes me pedir desculpas. Eu disse que estava tudo bem. Aquilo acontecia mesmo. Afinal, todo mundo tinha medo de alguma coisa.

 Entramos no carro – dois, por sinal. Kenny com Pattie e Justin em um. Eu e as crianças com um segurança em outro carro – e saímos da garagem. Era incrível a quantidade de fotógrafos e fãs reunidos lá fora. Lógico que não havia sido uma grande comoção, mas o suficiente para causar algum tumulto. Conseguimos sair ilesos – não depois de alguns flashes e o meu inacabável desconforto – e logo estávamos longe do hotel.

 Andamos por cerca de uma meia hora até chegarmos a mais um lugar com um monte de fãs. Fotógrafos, nem tanto. Entramos por um portão imenso que foi fechado assim que o carro em que nós estávamos passou. Só então foi seguro sair.

 O segurança me ajudou a descer da Land Rover – que Justin parecia ter coleção – e eu peguei as crianças. Justin pegou Jazzy dessa vez e eu voltei a pegar Jaxon. Entramos por uma pequena porta em uma espécie de pequeno galpão, mas não era um galpão. E nem era pequeno. Era a casa de shows que o Justin se apresentaria naquela noite.

 Agora eu havia entendido melhor o mecanismo do processo. Havíamos entrado pela saída de emergência da pista VIP e já dávamos de cara com as grades e os lugares demarcados lá em cima. Eu não sabia o nome do lugar, mas percebi que era grande. Caberia 10 mil pessoas facilmente. Talvez até mais.

 Havia três andares de espectadores. O primeiro se dividia em pista VIP e pista comum. O segundo era somente uma plateia superior, o público também tinha que ficar de pé. Já no terceiro era o camarote, na onde havia mesinhas e alguns sofás espalhados, mas eu duvidava que alguém fosse sentar no meio do show dele.

 - Ei, Liv – gritou Justin de cima do palco – Aqui é a minha zona de conforto!

 Ele abriu os braços e sorriu. Jazzy estava agarrada aos seus pés. Dei risada e me dirigi à discreta escadinha na lateral do palco. Eu entendia exatamente do que ele estava falando. Aquilo era incrível. Saber que todas aquelas pessoas estavam lá pra te ver e que cada uma delas teve que batalhar por aquilo só devia fazer com que Justin se sentisse mais importante e talentoso. Mas ele não era nem um pouco metido.

 - Gostou? – ele apontou a arena vazia.

 - Muito – eu assenti, com os olhos brilhando.