A mesa já estava pronta quando entramos e quase todo mundo já havia tomado seu lugar. Havia tanta gente que eu até me perguntei se todos caberiam na mesa de jantar, mas coube direitinho. Acho que a família grande já era esperada. Justin se sentou sem cerimônia e Selena se sentou ao lado dele. Ryan e Chaz também se sentaram, mas eu fiquei lá, parada Não seria falta de educação ou sei lá? Afinal, ninguém havia me convidado pra sentar.

 Chaz acenou pra mim e apontou a cadeira ao seu lado. Aquilo devia ser um convite. Caminhei até lá e puxei a cadeira para me sentar. Antes de completar a ação, a campainha tocou. Olhei para a direção da porta e fiz menção de ir atender.

 - Não, Liv – disse Pattie, sorrindo e levantando – Pode deixar que eu vou. Deve ser a pizza.

 Assenti e sorri.

 - A Liv está aqui? – perguntou uma voz vinda de um dos cantos da sala.

 Olhei para o lado e Kenny me recebeu com um sorriso.

 - Kenny! – eu disse, feliz.

 Ele se aproximou e me deu um abraço de urso que quase me esmagou, mas eu dei risada quando ele me soltou.

 - Você nem se despediu de mim quando a gente foi embora de Winnipeg – ele falou, fazendo biquinho.

 - Ah, desculpa, Ken-ken – ele riu ao escutar o apelido que Jazzy dera pra ele.

 - Tudo bem, eu te perdoo. Mas tem uma pessoinha pra você conhecer.

 Kenny então se abaixou e puxou um garotinho, que estava escondido atrás de suas pernas. Eu fiquei maravilhada e estendi os braços, pronta para pegá-lo no colo. O garotinho não quis no começo, mas eu o abracei e ele acabou deixando.

 - Ah, meu Deus – eu disse, olhando pra ele – Você é tão lindo. Esse grandão aqui que é seu pai?

 Kenny riu e assentiu com a cabeça.

 - Oi – eu disse, sorrindo e passando a mão em sua cabeça – Que garoto lindo que você é. Você está com fome?

 O garotinho colocou o dedo da boca e assentiu, confuso. Eu devia ser uma estranha pra ele, coitado. Mas logo ele iria se acostumar comigo. Sentei na cadeira e coloquei-o no meu colo.

 - Kenny, você se importa se ele jantar comigo hoje? – perguntei, olhando pra cima.

 - Se eu me importo? Lógico que não! – e então ele apontou o garotinho - Se você fizer ele comer, eu te dou 10 dólares!

 - Desafio aceito – eu disse, rindo.

 Paramos de conversar assim que a pizza chegou. Pattie colocou as quatro caixas de pizza na mesa. Tinha de mussarela, calabresa, frango e atum. Eu mostrei e deixei o filho do Kenny escolher o sabor que ele queria, e ele escolheu calabresa. Assim que coloquei o pedaço no meu prato e fui cortando em pedaços menores, o garotinho foi pegando os pedaços com a mão e foi comendo. Kenny me encarou, abismado, e fez até menção de tirar a carteira do bolso.

 - Imagina, Kenny. Você sabe que eu amo crianças. Não vou deixar você me pagar.

 Kenny sorriu e voltou a comer. Eu tive que pegar outro pedaço, porque o menininho já tinha comido o antigo inteiro. Peguei de frango e fui cortando os pedaços. Comi alguns, mas a maioria ele roubou do prato.

 - Não liga, não, Kenny – disse Justin, depois de um longo momento em que só se ouviam talheres batendo nos pratos – A Liv não aceita nada dos outros. Ela é muito cabeça-dura.

 - Não sou cabeça-dura – reclamei, indignada, olhando pra ele.

 Minha expressão deve ter sido engraçada, porque ele riu.

 - É sim. Você é teimosa demais.

 - Hum, até parece que você é o senhor flexível, Justin – disse Pattie.

 Dei risada e pisquei pra ela, que piscou de volta pra mim. Pattie estava certa. Justin também era muito teimoso.

 - Amor, me ajuda – ele pediu, olhando pra Selena – Minha própria mãe tá contra mim.

 Selena ergueu as mãos espalmadas e deu de ombros.

 - Não me envolva nisso, bebê – ela respondeu.

 Eu dei outra risada.

 - Justin, desiste. Meu time é mais forte que o seu. Eu tenho a Pattie – comentei, apontando a mãe dele.

 - Isso é tão injusto – ele reclamou, fazendo beicinho.

 Todos demos risada, mas então, pra felicidade de Justin, Selena deve ter achado aquilo fofo, porque puxou o rosto dele e o beijou. Eu senti que todo mundo de repente desviou o olhar, como se fosse feio ficar olhando, mas surgiu um clima tenso do nada. Como é feio ficar reparando nessas coisas, fixei meu olhar no meu prato, já vazio de novo.

 Ao todo, coloquei quatro pedaços de pizza no meu prato, mas somando todos os pedacinhos que comi, não devo ter comido nem dois pedaços inteiros. Assim que o garotinho ficou feliz e decidiu que não queria comer mais, coloquei-o no chão para que pudesse brincar com Jazzy e Jaxon, que estavam sentados no sofá há tempos.

 Levantei da mesa e comecei a recolher os pratos sujos. Levei-os até a cozinha e voltei para pegar as caixas vazias das pizzas. Peguei os copos e levei-os à cozinha também. Quando eu já estava me preparando para lavar a louça, Justin me chamou.

 - Liv, vem cá – ele gritou, mas não parecia estar muito longe da cozinha.

 Virei para trás na exata hora que ele apareceu.

 - Que isso, você não precisa lavar a louça! – ele disse, rindo, e me puxando pelo braço.

 - Imagina, eu faço questão – e puxei meu braço de volta.

 Justin me encarou, sério.

 - De verdade. Você não precisa lavar a louça hoje. É seu dia de folga.

 - E você é meu chefe desde quando? – cruzei os braços, encarando-o.

 - Não sou seu chefe, mas...

 - Exatamente, foi o que eu pensei. Agora, por favor, me deixe lavar a louça.

 Eu me virei para a pia novamente e peguei a esponja, colocando detergente nela. Fui interrompida novamente, mas não por Justin. Por Erin.

 - Liv, o que você está fazendo?

 Virei para trás. Justin continuava parado atrás de mim, agora de braços cruzados. Erin estava perto da porta e me olhava, abismada.

 - Lavando a louça – e sacudi a esponja, como se fosse óbvio.

 Erin se aproximou e tirou a esponja da minha mão, me empurrando para longe da pia.

 - Hoje é seu dia de folga, você não precisa lavar a louça.

 Justin me encarou, triunfante.

 - Eu disse isso a ela, mas ela não quis me ouvir – ele deu de ombros.

 - Ah, Liv. Você trabalha demais, querida – disse Erin, me olhando com piedade – Você é muito nova pra isso. Justin, tire-a daqui ou ela vai querer fazer alguma coisa pra ajudar.

 - Sim, senhora – disse ele, rindo, e puxou meu braço de novo – Vem, a gente vai dar uma saída.

 - Saída? – perguntei, confusa.

 Para onde eles queriam ir? Eram nove horas da noite e estávamos numa pacata cidade do interior de Ontário. Não havia nada para fazer.

 - É. Tem uma pracinha aqui perto – ele sorriu, como se fosse o melhor programa que já tivesse feito com seus amigos – Vamos.

 E então me puxou de novo. O grupinho formado por Chaz, Ryan e Selena já nos esperava perto da porta. Justin soltou meu braço no momento em que viu Selena e me deixou ir na sua frente. Acho que ele também não queria que ela pensasse que nossa relação fosse mais do que apenas uma relação de irmãos. Assim que ele chegou perto dela, puxou-a pela cintura e eles ficaram abraçados.

 - Vocês são estranhos – eu disse, quando Ryan abriu a porta para que pudéssemos sair.

 - Já sabemos disso – disse Chaz ao meu lado e me mandou uma piscadela – É motivo de muito orgulho, sabia?

 Dei risada. Ele se aproximou um pouco mais, sorrindo, até que nossos braços se encostaram. De repente, todo mundo ficou nos olhando. Eu me abracei e dei um passo para o lado. Justin e Ryan tiveram que conter uma risadinha, mas Selena sorria para mim e mandou uma piscadela. Eu quase consegui ouvir sua voz na minha mente, dizendo: vai fundo, garota. Balancei a cabeça, ignorando meus pensamentos.

 Saímos para a tranquila noite de Stratford e caminhamos sem que eu tivesse a menor ideia do lugar para onde estávamos indo.