Assim que chegamos ao primeiro andar, Justin e eu apostamos uma corrida besta até a porta. Lógico que eu ganhei, porque eu era melhor que ele. E também porque eu havia o empurrado na escada e gritei de última hora que a corrida estava valendo. Mas foi engraçado, de qualquer jeito. Eu abri a porta, ofegante, mesmo com a pequena distância, e saí para a noite. Justin estava logo atrás de mim e fechou a porta depois de passar.

 - Isso foi injusto, você sabia? – ele disse, também ofegante.

 - Não sei do que você está falando – comentei, jogando o cabelo pra trás de novo e tentando respirar direito.

 Justin riu, negando veemente com a cabeça, mas não discuti mais com ele, porque sua atenção não estava mais em mim. Vi dois garotos ao longe andando na rua e eles acenaram. Justin acenou de volta e voltou a sorrir, parecendo extremamente feliz.

 - Aqueles são os seus amigos? – perguntei, apontando-os.

 - Sim. Os amigos de verdade mais antigos que eu tenho – ele riu.

 - Nossa, preciso perguntar como que eles te suportaram todo esse tempo – e então cruzei os braços.

 Justin me encarou, indignado, e veio pra cima de mim. Eu me afastei, fingindo estar com medo.

 - Você vai pagar por isso, senhorita! – disse ele.

 Eu encostei no carro de Jeremy, estacionado na frente da casa e Justin se aproximou muito. Continuei a encará-lo, mas contendo uma risada. Ele então começou a fazer cócegas em mim. Diabo, será que ele pensava que eu era a irmãzinha dele de três anos? De qualquer jeito, eu ri pra caramba. Não consegui parar de rir e sempre que tentava puxar as mãos dele, ele voltava a fazer cócegas em mim.

 - Para, seu peste! – gritei, rindo.

 Ouvi duas risadas distintas, bem perto da onde estávamos. Justin parou de fazer cócegas em mim e olhou para o lado, sorrindo. Olhei para o lado também. Os dois amigos dele estavam lá. Um era loiro e o outro era moreno. O moreno era mais alto que os três. Justin cumprimentou-os – daquele jeito que os garotos sempre fazem, mas que nós, garotas, nunca fazemos – e então se virou para me olhar.

 - Pessoal, essa é a Liv. Ela é babá dos meus irmãos – ele disse, me apontando e sorrindo.

 - Obrigado por nos apresenta-la, peste – disse o moreno.

 Tive que dar risada com aquilo. O Justin era uma peste mesmo. Os amigos dele também deviam ser.

 - Cala boca, Chaz – ele disse, revirando os olhos e rindo – Liv, estes são Ryan e Chaz.

 Ele apontou primeiro o loiro, o Ryan, e depois o moreno engraçado, o Chaz. Eu sorri para os dois, mas não me aproximei para cumprimenta-los de outra maneira. A razão era porque eles eram garotos. E também porque eram amigos de Justin. Então, ia ser meio estranho.

 - Oi – eu disse, acenando pros dois.

 - Então, Liv, por que você não pergunta pra eles o que a gente estava falando agora? – ele encostou no carro ao meu lado.

 - Falando? Eu estava rindo e você estava sendo a peste de sempre – comentei, irônica – Pelo menos, foi isso o que aconteceu uns vinte segundos atrás.

 Justin me encarou e revirou os olhos, depois me deu um tapa na cabeça - que doeu, eu admito - e então se virou para seus amigos.

 - Ela queria saber como vocês haviam me aguentado todo esse tempo – ele deu de ombros, como se soubesse que era loucura perguntar isso.

 Foi a minha vez de revirar os olhos.

 - Não, não foi isso que eu disse – eu olhei pra ele, brava, e continuei – Eu perguntei como eles haviam te suportado todos esses anos. É um jogo de palavras diferente.

 Ryan e Chaz deram risada, enquanto Justin me olhava, bravo. Eu comecei a rir e passei o braço por seu pescoço, puxando-o pra mim.

 - É brincadeira, irmãozinho – eu disse, beijando a bochecha dele.

 Justin corou e deu risada. Eu o soltei e ele me encarou, já normal.

 - É bom mesmo, hein!

 Todos demos risada dessa vez. Eles deviam ser um grupinho animado.

 - Mas, falando sério – Chaz começou – É difícil te suportar mesmo, Justin.

 Todo mundo ficou sério, aí Chaz puxou o pescoço de Justin e tentou lhe dar um beijinho na bochecha.

 - É brincadeirinha, irmãozinho – disse ele.

 Eu tive que rir. E ri muito. Daquelas risadas de que, quando você para, lembra do que aconteceu e começa a rir de novo. Aqueles três deviam se divertir muito. E devia ser um amor só aquela relação.

 - Isso não foi engraçado, Charles Somers! – disse Justin, fingindo estar bravo.

 Eu e Ryan não conseguimos parar de rir. Chaz tentava esconder uma risada e Justin continuava brigando com ele, sério. Minhas costelas já doíam e eu não conseguia respirar. Quando finalmente parei de rir, Justin me encarava, bravo.

 - Qual é, foi engraçado, sim! – comentei, desarrumando o cabelo dele.

 - Meu. Deus. – exclamou Ryan – Você acabou de bagunçar o cabelo dele. Prepare-se para ser aniquilada.

 Tive que conter minha vontade de rir e baguncei de novo o cabelo de Justin. Ele me encarava, boquiaberto, como se não acreditasse que eu estivesse fazendo aquilo com o precioso cabelo dele. Dei risada enquanto puxava os fios e os desarrumava completamente. Assim que parei de mexer em seu cabelo, este parecia um ninho de passarinho de tão bagunçado. Dei risada.

 - Muito melhor agora – comentei, batendo uma mão na outra e cruzando os braços.

 - É melhor você correr – ele sussurrou e me encarou, bravo.

 Eu dei um passo pra trás. Olhei pra Chaz e pra Ryan e os dois tinham a mesma expressão de piedade, como se eu fosse mesmo ser aniquilada. Mas aquela situação inteira estava sendo muito engraçada, eu queria voltar a rir. Infelizmente, não pude, porque Justin deu o primeiro passo para a frente e me encarou diabolicamente. Resolvi que era de correr.

 Saí correndo e gritando pela calçada, mas ele estava logo atrás de mim. Comecei a rir e voltei a correr. Eu olhava pra trás a cada dois segundos e ele tinha um sorrisinho debochado no rosto, como se fosse me fazer pagar por ter estragado um penteado que ele levou horas fazendo. Só aquela ideia me fez rir mais ainda e eu saí da calçada pra correr na rua. Justin chegou perto demais e puxou a manga da minha blusa, mas não conseguiu me segurar tão forte. Continuou correndo atrás de mim em círculos pela rua e finalmente conseguiu agarrar minha cintura. Naquela mesma hora, um carro apareceu do nada bem na nossa frente.

 Meu coração deu um salto e eu fechei os olhos, achando que íamos colidir. Justin me abraçou como se também soubesse que seríamos atropelados e quisesse me proteger. Demoraram uns cinco segundos pra gente perceber que não havia acontecido nada, que o carro havia freado antes que seu para-choque encontrasse nossos corpos.

 - Ah, meu Deus. Vocês estão bem? – disse uma voz feminina de dentro de do carro.

 A garota abriu a porta e saiu, mas continuou a uma certa distância. Justin me soltou naquela mesma hora e encarou-a com outro olhar. Olhei melhor para ela também. A garota devia ter a nossa idade, tinha cabelos escuros na altura dos ombros. Dava para ver que o motorista do seu carro enorme era um segurança, então ela também devia ser famosa. Diabo, aquela só podia ser a tal da Selena Gomez.

 - Bebê – disse Justin, correndo até ela.

 Pelo visto ele já havia esquecido que a namorada dele quase o atropelou, mas eu não. Minhas pernas ainda pareciam gelatina, meu coração ainda batia no ritmo de uma escola de samba e a adrenalina enchia minhas veias. Antes de virar de costas para os dois, vi Justin levantando Selena pela cintura e beijando-a assim que ela chegou ao chão. Caminhei até Chaz e Ryan, porque eu não estava muito a fim de ver aquela cena de amor e precisava me sentar urgentemente.

 - Você está bem? – perguntou Chaz, se aproximando de mim.

 - De boa – eu disse, com um sorriso amarelo – Acho que eu só preciso sentar um pouquinho.

 Chaz deu uma risada e Ryan me olhou preocupado. Eu fiz um gesto banal com a mão como se dissesse que não havia com o que se preocupar. Sentei-me na calçada enquanto esperava que meu coração parasse de retumbar nos meus ouvidos. Chaz foi prestativo e sentou-se ao meu lado. Ele até tentou passar o braço pelo meu ombro, mas eu dei uma risadinha sem graça e me movi um pouco para longe dele. Esse tanto de proximidade com um garoto me deixava meio desconfortável.

 Depois que Justin e Selena tiraram o atraso, os dois caminharam para perto de nós três. Justin sorria como se nada no mundo o fizesse mais feliz que ela e Selena também parecia feliz. Eles, na verdade, pareciam um casal muito fofo. Olhei para o outro lado. Todo esse amor estava me dando enjoos.

 - Ei, você está bem, Liv? – perguntou Justin, o sorriso sumindo do seu rosto quando percebeu que eu não parecia tão feliz.

 - Só estou... – pausei e voltei a olhar pra eles – tentando me recuperar do susto.

 Selena deu uma risadinha e sorriu para mim.

 - Desculpa por isso.

 Fiz outro gesto banal como se dissesse que estava tudo bem. Ela não era a culpada.

 - Além do mais, vocês não estão meio velhos para ficarem brincando na rua? – ela perguntou, olhando para Justin.

 Ele deu risada e negou com a cabeça.

 - Desculpa, senhorita Idosa, mas eu acho que não. Eu estava tentando punir essa impostora! – ele apontou pra mim e me encarou, sério, mas havia aquele sorriso no olhar.

 Eu fingi ficar surpresa.

 - O que ela fez? – perguntou Selena, entrando na brincadeira.

 - Desarrumou meu cabelo. Olha isso aqui! – ele apontou a cabeça.

 Selena soltou outra risada e deu um beijo na testa do namorado. Argh, aquilo era fofo demais pro meu gosto.

 - Ah, enfim, acho que vocês não foram apresentadas, né? – Justin sorriu e então apontou Selena – Esta é Selena, minha namorada.

 - Oi, eu sou a Liv – eu disse, estendendo a mão.

 - Prazer te conhecer – Selena sorriu, apertando minha mão – Soube que você é uma ótima babá.

 Dei uma risada. Justin me mandou uma piscadela. Realmente, ele havia falado de mim para todo mundo que ele conhecia.

 - Obrigada. Eu tento.

 Selena sorriu de novo. Ela parecia ser muito doce, mas havia algo no fundo de seus olhos que me dizia pra tomar cuidado. Afinal, aquele era o namorado dela. Eu imaginei o que ela devia ter sentido ao ver Justin abraçar uma completa estranha e pressenti que ela queria que eu desse um tempo, que me afastasse dele por enquanto. Na verdade, tudo que eu havia visto em seus olhos era que ela estava com medo de perdê-lo.

 Enquanto eu me levantava, para que pudéssemos entrar na casa dos avós de Justin de novo, me decidi que era melhor tomar uma distância segura de Justin. Tudo que eu menos queria era tirar aquele sorriso enorme do rosto dele que só Selena sabia trazer.