Terminei de arrumar as crianças e descemos as escadas juntos. Eu estava levando duas jaquetas extras para cada um, só para prevenir. Eu e Louie tínhamos agasalhos no meu carro, então eu não teria que passar em casa para pegar. Justin e Louie não estavam na sala nem na cozinha, então eu e a crianças nos sentamos no sofá e brincamos de mímica. Só deu tempo para Jazzy fazer uma imitação da Dora, a aventureira e Jaxon fez dos Super Fofos. Caraca, eles andavam mesmo assistindo muito Nick Jr.

 Justin desceu alguns minutos depois, carregando Louie no colo. Ele já estava pronto, com a mesma calça jeans, um par de Supras roxos, que por sinal eram tênis muito esquisitos e eu não sabia por que tinham virado moda, uma camiseta branca e um suéter fino de malha roxo por cima. Ele havia puxado as mangas do suéter e aberto os poucos botões. Carregava também a mesma jaqueta de couro da noite anterior.

 - Você foi se trocar com a minha irmã no quarto? – perguntei, encarando-o de boca aberta.

 - Qual é o problema? – ele perguntou, inocente.

 - Ela é uma criança! – respondi, me levantando.

 Ele começou a rir e passou a mão na minha cabeça, desarrumando meu cabelo. Fechei os olhos para não cuspir fogo na cara dele. A mamãe dragão aqui já estava começando a ficar brava. Meu cabelo já era uma bosta e eu não precisava de ninguém pra estraga-lo mais um pouco. Arrumei o cabelo antes de abrir os olhos. Ele ainda estava rindo.

 Nós saímos de casa com Kenny na Land Rover preta de novo, mas havia outra Land Rover nos seguindo. Pude imaginar que fossem seguranças, mas não quis perguntar. Nós chegamos ao Zoológico Assiniboine de Winnipeg pouco tempo depois. O estacionamento estava vazio, mas provavelmente era por causa da hora. Eram quase dez horas da manhã, o zoológico provavelmente devia ter acabado de abrir.

 Kenny se juntou ao nosso passeio, mas ficou um pouco mais pra trás dessa vez, como se só estivesse nos escoltando. O zoológico era grande mesmo. Eu só havia estado ali uma vez com Louie e nós não havíamos ficado muito tempo. Hoje a gente ia ter o dia inteiro para aproveitar.

 Primeiro nós visitamos as aves. Quando vi uma calopsita branca, fiz questão de zoar Justin e lhe dizer que era igualzinho a ela. Ele riu, mas bagunçou meu cabelo de novo. Nós colocamos as crianças no chão depois de um tempo e ficamos andando de mãos dadas, os cinco juntos, como uma grande corrente. Quando fomos para a sessão dos répteis e aracnídeos, Justin ficou tirando foto de tudo. Eu morria de medo de qualquer um daqueles animais, mas fiquei bem impressionada com a linda pele de uma cobra venenosa. É claro que as aranhas me davam aquela coceira na pele, como se alguma delas estivesse no meu pescoço ou no meu braço.

 - Eu tenho uma cobra, sabia? - Justin comentou – Chama Johnson. Tenho uma tarântula também.

 - Credo, Justin – comentei, rindo.

 - Por que todo mundo diz isso? – ele replicou, indignado – Eles são bons animais!

 - São ótimos, claro – concordei – Longe de mim.

 Ele riu e nós continuamos com o passeio. Passamos por uma sala cheia de insetos, mas eu meio que corri por ela, porque não gostava muito de insetos. Tive um acidente uma vez quando era criança com gafanhotos e grilos e não podia mais ver um deles sem ter que reprimir um grito e me obrigar a não sair correndo. Justin perguntou pra um dos funcionários do zoológico se podia pegar um dos insetos na mão. Depois esse demônio desse garoto foi me perseguir com um grande grilo verde que não parava de fazer aquele barulhinho irritante. Corri pela sala inteira sem parar, até me esquecendo das crianças. Eu tinha pânico desses animais, eles me encaravam com seus olhos feios e pareciam sentir o cheiro do meu medo, por mais que talvez eles não tivessem nariz.

 Juro que depois de correr todo aquele tempo, parei e me escondi num canto daquela ala, quase chorando. Eu era muito patética; me encolhi o máximo que pude naquele canto e fiquei, como se o Super Homem pudesse vir me resgatar dessa grande ameaça. Quando Justin apareceu, eu escondi o rosto para não ver o grilo e não sair correndo de novo.

 - Vai embora! – gritei, numa voz de choro muito ridícula.

 - Ei, você está chorando? – ele perguntou, se aproximando.

 - Sai daqui com esse grilo. – eu gritei de novo, mas tirei as mãos do rosto e fiquei olhando para o chão – Idiota!

 Justin riu e me puxou para um abraço. Eu ainda estava muito brava com ele, então não retribuí e fiquei apenas lá, sem me mexer enquanto ele alisava minhas costas.

 - Eu sou um idiota mesmo, tá? – disse e beijou o topo da minha cabeça.

 - Que bom que você sabe – respondi na mesma voz manhosa.

 Justin riu novamente e me soltou, mas ficou segurando minha mão. Quando nós voltamos para onde as crianças estavam, os três estavam rindo de uma aranha particularmente engraçada. Kenny estava perto deles, então eu relaxei. O funcionário do zoológico estava colocando o grilo de volta na onde estava antes e nos dirigiu o olhar, sorrindo.

 - É uma pena que você não goste de insetos – ele começou, olhando para mim, mas depois olhou para nossas mãos entrelaçadas – Mas vocês fazem um lindo casal.

 Soltei a mão de Justin na hora e pulei para o lado, desconfortável.

 - Não somos um casal – eu disse, seca.

 Justin riu e concordou. Quem aquele cara era e onde ele estava nos últimos meses? Ele devia saber que o Justin Bieber namorava a Selena Gomez. Quero dizer, antes eu não sabia, mas ele era uma pessoa normal e provavelmente devia saber.

 Paramos para almoçar. Mais fast-food, por sinal. As crianças iam ficar desacostumadas daquele jeito, mas não reclamei. Depois nós seguimos em direção aos animais maiores e mais selvagens. Justin não guardou o celular naquela hora e tirou foto de quase tudo. Da girafa, do leão, dos tigres, – que eram a minha paixão, tanto os brancos quanto os pardos – das zebras, dos ursos, dos cangurus e dos camelos. Até parecia que aquele garoto queria ter um zoológico inteiro só pra ele.

 Antes de passarmos para outra ala do zoológico, Justin pediu pra Kenny tirar uma foto de nós cinco porque ia postar no Twitpic. Nós nos agachamos para ficarmos na mesma altura das crianças e para que a girafa atrás de nós ficasse bem evidente – coisa que não seria tão difícil. Logo depois de tirarmos a foto, eu olhei em volta.

 Desde que havíamos chegado, o zoológico inteiro estava numa paz e ele não era assim. Na única vez em que havia vindo aqui esse lugar estava apinhado de gente. Onde estava todo mundo? Até parecia que a população inteira de Winnipeg tinha decidido não sair de casa num domingo ensolarado, coisa que era muito improvável.

 - O zoo está meio vazio – comentei em voz alta.

 - Ah, - Justin respondeu, começando a corar – é porque a gente fechou o zoo.

 Encarei-o de boca aberta e quase engasguei.

 - Você o quê? – perguntei, meio gritando de novo.

 - A gente fechou o zoo. E o parque também – ele explicou, dando de ombros, mas ainda um pouco corado – Era necessário, Liv. A gente não ia ter nenhuma privacidade.

 Eu fiquei muito puta com aquilo. Quero dizer, e o monte de famílias que devia ter chegado ao zoológico querendo passar um dia agradável aqui dentro e foram proibidas de entrar porque Justin Bieber fechou o zoológico? Isso não era legal. Justin me surpreendia com algumas coisas boas, mas às vezes pisava feio na bola. É claro que eu entendia o lado dele, mas que mal iria fazer algumas fãs aqui e ali?

 - E é assim que você ainda quer ser tratado como um garoto normal? – perguntei.

 Ele não respondeu, só abaixou a cabeça. Então seguimos para o aquário sem conversar. Peguei Louie no colo, mesmo ela protestando, e dei a mão para Jaxon. Justin ficou cabisbaixo o percurso inteiro e só ficou animado quando viu um tubarão enorme. Nessa hora eu já não estava tão brava com ele, então até coloquei Louie no chão e tirei uma foto dele de frente para o aquário do tubarão. Ri quando ele fez uma careta engraçada e bati mais uma foto. Ele me agradeceu e fez com que a barreira de antes sumisse, me fazendo rir de novo com alguma outra piadinha.

 Depois de passarmos pelo aquário, chegamos aos ambientes mais gelados, que guardavam os pinguins e os ursos polares. Eu era apaixonada por esses dois animais, então foi minha vez de tirar fotos. Tinha um filhote de urso polar muito fofo dando cambalhotas e que nos fez rir. Depois disso só tinha a lojinha de presentes do zoológico. Eu até fiquei de olho num moletom muito lindo com um tigre estampado, mas estava muito caro, então não comprei.

 Quando saímos definitivamente do zoológico eram cinco horas da tarde. Meu bom humor havia voltado e eu estava pronta para encarar uma rodada de parque de diversão. Kenny pegou o carro enquanto esperávamos com mais três seguranças na saída. E, por incrível que pareça, havia paparazzi e fãs esperando lá fora. Fiquei cega com os flashes, mas fingi não me importar, mesmo que aquilo me apertasse o coração e me sufocasse. Quando o carro chegou, nós pulamos dentro dele. Algumas meninas gritaram o nome de Justin, então ele abaixou o vidro, sorrindo.

 - Eu amo vocês – gritou, fazendo um coração com as mãos.

 A pequena multidão de garotas pareceu passar mal. Eu tive que rir daquela cena. Elas eram muito loucas por ele, chegavam a ser histéricas. Ele fechou o vidro e só depois Kenny saiu com o carro.

 - O que você tem para elas te amarem tanto assim? – perguntei, rindo.

 - Você sabe como é, Liv – ele começou, dando de ombros, mas sem conter um sorriso – Foi o mel que mamãe passou.