Harry Potter E O Toque Da Morte escrita por RTafuri


Capítulo 35
FALHA NO TREINAMENTO


Notas iniciais do capítulo

Sempre achei sem graça expor personagens secundários ao perigo extremo.



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Rony e Hermione tiveram o bom senso de  não mencionar a partida com Harry. Viram que o amigo tivera uma excelente noite de Sábado e não quiseram estragar as lembranças dele com os acontecimentos da tarde do mesmo dia.

Mas Draco Malfoy e os seus amiguinhos não foram tão piedosos quanto Rony e Hermione. A primeira oportunidade que eles tiveram, que foi no café da manhã de Domingo, foi muito bem aproveitada.

— Potter! Cuidado! Krum vem atrás de você — disse Malfoy.

— Potter! Longbottom vai pegar o pomo antes de você — disse Pansy Parkinson rindo abertamente. Emily chegou por detrás da garota e encostou a varinha no pescoço dela.

— Se você não quiser que a sua bochecha fique mais caída do que já é — disse a garota com muita raiva na voz —, é bom tomar cuidado. Não aturo tanto quanto eles. E não vou aturar muito.

— Digo o mesmo, Marian — disse Malfoy com uma voz arrastada e ameaçadora ao mesmo tempo. — Você não vai querer — ele apanhou a varinha —, nunca mais segurar uma Goles.

No próximo instante era a vez de Malfoy estar com uma varinha no pescoço. Mas não era uma varinha. Eram três. As de Harry, Rony e Hermione.

— Pelo menos eu seguro a Goles, Malfoy — disse Emily em alto deboche. — No seu dicionário não tem agarrar o pomo! Para um apanhador, você é excelente! Bom dia pra vocês

Emily se sentou ao lado de Harry. E lhe deu um beijo.

— Bom dia! Dormiu bem?

— Acho que não.

— Como não?

— Não ganhei um beijo de boa noite — respondeu Emily rindo.

“Eu preciso te contar uma coisa.”

— O quê foi? Você não…?

— Não! — Emily pareceu espantada. — Existem métodos mágicos, assim como trouxas, para… Mas, eu nunca antes…

— Não?

— Não.

— Então eu preciso te confessar uma coisa.

— O quê?

— Eu também.

Emily riu e deu um beijo em Harry.

— Vai fazer o quê hoje? — Perguntou ela.

— Preciso falar com o time. Sabe, pedir desculpas.

— Não estamos chateados com você!

— Eu sei, mas, mesmo assim, quero falar com o time. Todo mundo.

E assim foi. Em pouco mais de uma hora, todos os catorze jogadores reunidos estavam no Saguão Central. Harry falava sério e deprimido consigo mesmo.

— Eu chamei vocês para que eu pudesse pedir desculpas. Perdemos por minha culpa.

— Não. A culpa foi nossa — disseram juntos Fred e Jorge Weasley. — Deveríamos ter quebrado o nariz do Krum muito antes daquilo.

— Sério, Fred. Jorge. Sei que a culpa foi minha. Fiquei tão preocupado no desempenho de vocês que esqueci do meu. Perdi por isso.

“Mas tenho uma boa notícia. Devido ao calendário dos jogos, Beauxbatons e Durmstrang ganharam o direito de treinos diários. O que significa que só treinaremos novamente no dia quatro de abril. A primeira segunda-feira após a partida.

Agora, algo com o que nos preocupar. Estamos com seiscentos e cinquenta pontos. Beauxbatons está com quinhentos e cinquenta e Durmstrang, na liderança, com seiscentos e sessenta pontos.

Tudo depende da partida entre eles, dia trinta e um de março. Mas ainda temos chances de disputar a final.

Mas agora, CHEGA DE COPA! Vocês têm um mês para esquecer que o Quadribol existe. Aproveitem.”

Os jogadores foram saindo aos poucos. Até que só sobraram Emily e Harry ali.

— E aí? Vou perguntar de novo. Vai fazer o quê?

— Literalmente nada — respondeu Harry encolhendo nos ombros e carregando um olhar que guardava só para Emily, disse: — A não ser que você tenha algum plano para hoje.

*        *        *

Estava muito melhor agora de encarar a vida com Emily ao lado de Harry. Ele tinha uma preocupação a menos e muitas diversões a mais.

Março levou embora o inverno e deixou os jardins de Beauxbatons bastante úmidos. Março também levou embora a vontade de Harry de assistir às aulas. Estas continuavam difíceis. Principalmente as do Curso de Formação de Aurores, onde Lupin e o Prof. Moody resolveram agora ensinar um pouco de prática.

Na verdade a idéia foi de Moody, enquanto Lupin estava por demais ocupado com as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. A sala deles agora virara um tipo de labirinto. Eles (Harry e Rony) tinham que atravessá-lo em no máximo cinco aulas. Quando a sineta tocava, eles iam embora e recomeçavam do mesmo ponto na próxima aula.

Harry conseguiu achar a saída no início da quarta aula. Rony saiu uns cinco minutos antes da saída da mesma aula. Ele estava com toda a perna esquerda das vestes queimadas (um ponto acima da cintura ainda pegava fogo), perdera o sobretudo e a gravata e a sua camisa já não tinha mangas e a parte da barriga. Rony também perdera o chapéu de bruxo.

— Foi difícil — disse Rony, os olhos virados. Falava num tom que beirava o delírio. — Mas eu ganhei.

E desmaiou.

— Rony! Rony! RONY! — Exclamou Harry dando tapas de leve no rosto do amigo. — Ah, isso é inútil! ENERVATE!

Rony abrira os olhos e se sentara.

— O que aconteceu? — Perguntou Harry.

— A terceira armadura do quinto duelo — respondeu Rony num tom abobalhado e exausto. — Eu arranquei a cabeça dela. Conforme o correto. Então ela veio correndo atrás de mim. E depois, quando eu me virei para atacá-la, ele me acertou.

— Com a foice?

— Não. Não sei de onde, mas ela arrumou uma varinha e fez um círculo de fogo à minha volta, e quanto mais eu usava o Feitiço para Congelar Chamas, mais fortes elas ficavam. Então resolvi passar correndo. As chamas se transformaram em serpentes gigantes. Dei um nó em todas elas com um grande Feitiço Enrolador, mas a armadura não queria me deixar sair antes de um duelo de azarações. Como eu não tinha padrinho, ela dispensou o dela. Recuperou a cabeça e…

Desmaiou outra vez.

Foi um verdadeiro trabalho reanimar Rony sem que ele desmaiasse novamente. Sempre que ele contava para Moody, que estava fazendo relatórios, como foram os duelos com armaduras e pessoas que estavam dentro do labirinto, o garoto desmaiava. Harry tinha curiosidade de saber o que realmente ocorrera, não que ele duvidasse de Rony, mas queria mais detalhes. Mas com medo de que o amigo desmaiasse de novo, Harry preferiu não tocar no assunto novamente. Nem Hermione, que vira os efeitos de tantos feitiços para animar que Harry era forçado a lançar em Rony cada vez que o garoto desmaiava, resolveu tocar no assunto diretamente com Rony.

— Não era tão difícil assim — disse Harry quando ele e Hermione saíam da porta número três. Rony estava na Ala Hospitalar, tomando uma Poção para Equilibrar Nervos. — Eu passei pelo labirinto. Tudo bem que os duelos eram um pouco puxados, é verdade, mas já era de se esperar. Foi criado pelo Moody.

Hermione concordou com a cabeça pensativa.

— Mas será que as armaduras, depois de já terem sido derrotadas, não ficavam mais fortes contra o segundo? — Harry podia jurar que Hermione queria arrumar alguma explicação para o que aconteceu com Rony, por isso respondeu:

— Não sei. Mas o que sei é que temos que ir para a aula de Feitiços.

— É — disse a garota. Um pouco relutante em sair do lugar. — Mas e o Rony?

— Ele vai ficar bom — garantiu Harry sabendo que não tinha condições de garantir uma coisa dessas. — Vamos? Estamos atrasados.

Harry nunca na vida imaginara que ele teria que arrastar Hermione para alguma aula. Mas, ao ver a expressão de Hermione, ele se sentiu traindo a amizade de Rony. Tinha certeza de que se estivesse no lugar dele, o amigo não pensaria em aulas. Por isso, concordou com a cabeça e sem dizer uma palavra, os dois foram para a Ala Hospitalar atrás do garoto. Encontraram a porta aberta e viram que Madame Pomfrey não estava. Devia estar na sua sala, pensou Harry. Olharam mais para o fundo da Ala e viram Rony sentado. Os dois correram até ele.

Harry viu que ele abandonara o olhar excessivamente abobado, mas ainda conservava os olhos roxos.

— Como você está? — Hermione e Harry perguntaram juntos.

— Muito bem. Obrigado pela visita — disse Rony abrindo um sorriso para os amigos. — Mas, não deveriam estar na aula do Prof. Flitwick?

— Ah… bem… é que…

— Obrigado — disse Rony. — De verdade.

— E então. Quando você sai daí? Hoje ainda?

Harry se sentara aos pés da cama de Rony.

— Espero que sim — disse Rony um pouco chateado. — Tenho quase certeza que não. Também não posso ir à Astronomia hoje e acho que devo perder o primeiro tempo de Herbologia. Mas estou certo de que estarei melhor para o segundo. Só ainda não sei se isso é bom ou ruim.

Os três riram.

— Mas a única coisa que eu não gostei muito foi que o Moody me trouxe — disse Rony se esticando um pouco.

— O que tem ele? Sabemos que é o verdadeiro — disse Hermione um pouco intrigada.

— Eu sei — respondeu Rony um pouco pensativo. — Sei que ele é do nosso lado, membro da Ordem da Fênix e coisa e tal, mas… acho-o um pouco esquisito.

Harry riu. Rony não deixava de ter razão. Harry mesmo admirava Moody pelo auror que era, mas não chegava muito perto dele se pudesse evitar.

Harry e Hermione resolveram ficar com Rony no fim de tarde. Madame Pomfrey não impedira, uma vez que Rony estava ali para se animar. Na hora do jantar, Harry procurou Dobby e pediu ao elfo jantar para três na Ala Hospitalar.

Eram quinze para a meia-noite e Harry sabia que deveria estar se retirando para a aula de Astronomia. Mas não tinha a menor vontade de assistir aula agora. Estava sentado no chão, encostado no criado-mudo ao lado da cama de Rony. Hermione estava em frente ao garoto e sentada com as costas no pé da cama. Hermione consultou o relógio. Esperando que ela se espantasse com o horário e mandasse Harry levantar e ir para aula, Harry se surpreendeu que a garota tivesse se espreguiçado, no chão mesmo, levantado e sentando na cabeceira da cama em frente à Rony. Harry aproveitou a idéia e se sentou na cama ao lado. Puxou a varinha do bolso interno das vestes, apontou para si e disse: — Trocar Roupas! — E, no mesmo instante, ele estava usando o seu pijama. Hermione aproveitara e fizera o mesmo.

*        *        *

Os três acordaram na manhã seguinte com os raios solares fortes em seus rostos. Harry olhou para os lados, pegou os seus óculos no criado-mudo e conseguiu enxergar que Rony e Hermione estavam acordando. Rony parecia um pouco estranho. Conseguia expressar ao mesmo tempo, pânico, relaxamento, tristeza e alegria, embora falasse normalmente.

Madame Pomfrey chegava da sua sala.

— Bom dia — disse ela para os três, que responderam. Então ela se virou para Rony e amarrou a cara quando viu sua expressão. — Como está?

— Bem — respondeu Rony sem entender a cara amarrada da enfermeira. — Muito bem.

— Não tanto quanto acha — respondeu Madame Pomfrey. E então se virou para Harry e Hermione. — Vocês dois podem ir. Têm aula agora. Ele fica mais um pouco. Se quiserem voltar na hora do almoço e à noite, tudo bem. Mas ele não sai daqui hoje. Foram Feitiços para Animar demais, e desmaios demais. Nunca combinaram, estes dois. Eu sei que você não fez de propósito — disse ele olhando para Harry, que abrira a boca para se explicar. Fora ele que aplicara em Rony tantos Feitiços para Animar assim. Em parte, era culpa dele o estado do garoto. — Foi uma atitude muito boa a sua. Mas precisamos consertar algumas coisas. Agora vão para a aula.

Harry e Hermione se despediram de Rony prometendo que voltariam no almoço e passariam mais esta noite com ele. Então se dirigiram para a aula de Herbologia.

Harry explicou à professora Sprout que Rony estava na Ala Hospitalar e não apareceria para as aulas de hoje.

Felizmente, pensava Harry quando chegou a uma mesa com mudas de Mimbulus Mimbletonia que eles ainda estavam trabalhando, eles só tinham aula de Flitwick, Moody e McGonagall. Era um alívio pensar em não ter que conversar com Snape sobre a ausência de um aluno da Grifinória.

Não foi uma aula muito agradável, a de Herbologia. As mudas não pareciam ter vontade de serem mudadas de vaso. Sempre que um aluno chegava perto, ela soltava a escrofulária. Quando a sineta tocou indicando o fim da aula, todos os alunos tiveram que ir para os dormitórios tomar um banho e tirar a escrofulária. Esta pingava pelo chão do cabelo de Harry. Ele tivera que limpar as lentes dos óculos para poder enxergar.

Ele e Hermione chegaram com trinta minutos de atraso à aula do Prof. Flitwick. Até que chegaram cedo. Neville, que fora o último, chegou vinte minutos depois, faltando apenas dez para o fim da aula.

Harry achou que o professor nem dera pela falta de Rony, considerando o atraso dos outros alunos da Grifinória.

Por culpa disso, Flitwick nem tivera tempo de dar aula. Logo a sineta tocou e Harry e Hermione foram o mais rápido que puderam para a Ala Hospitalar. Rony estava lá, a mesma expressão que carregava pela manhã. Estava com uma bandeja com almoço na sua frente. Mas ainda não havia tocado na comida.

— Comida de hospital? — perguntou Harry.

— Até que não — respondeu Rony. — Foi o Dobby que trouxe, está com uma cara ótima,… mas eu não estou com fome. Nenhuma. Se vocês quiserem — disse ele pegando a bandeja e colocando no seu criado-mudo.

— Como está? — Perguntou Hermione preocupada.

— Bem — respondeu Rony com cara de que não estava nada bem. — Dormi a manhã inteira, logo depois que vocês saíram, mas mesmo assim ainda estou com sono.

Os três estavam conversando há uns vinte minutos, quando uma voz chamou:

— Potter! Granger! Uma palavrinha, por favor.

Era Madame Pomfrey. Ela estava parada à porta da sua sala. Harry e Hermione foram até ela.

— Gostaria de pedir que não tentassem magia para animar o Sr. Weasley. Ele aparenta estar bem, mas não está. Se até hoje à noite ele não melhorar, a sua cura irá fugir às minhas mãos e ele terá de ser levado para o Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos.

“Sei que pode não parecer nada, mas esses efeitos, se não tratados, podem se tornar permanentes.

Peço também que passem a noite com ele. O efeito dos acontecimentos foi do extremo triste. Duas reações podem acontecer quando se misturam desmaios e Feitiços para Animar: ou a pessoa fica feliz demais e precisa ser tratada ou fica vivendo constantemente o motivo dos desmaios. Isso também precisa ser tratado.

Mas agora vocês precisam ir para a aula. Está na hora. E, por favor, quando acabar, voltem para cá.”

Hermione e Harry concordaram com a cabeça e foram embora. Deixando mais uma vez Rony com a promessa de que voltariam depois das aulas.

A aula dupla com Moody não foi muito agradável. Aproveitando que o garoto estava sozinho, Moody preparou uma arena com vários objetos que se transformavam em bruxos cada vez mais poderosos cada vez que Harry derrotava o anterior. O último deles acertou Harry em cheio no peito do garoto com a Maldição Avada Kedavra, mas, devido à proteção do garoto, ele virou um tipo de espelho, aniquilando-o de uma vez. Harry abriu o sobretudo e a camisa para olhar o lugar onde o feitiço o atingira. Felizmente, ele não ganhara uma nova cicatriz.

— É apenas uma simulação — riu-se Moody. — Esta não vai te fazer nada. Esta. Se você encontrar um bruxo com tal poder e sobreviver novamente, devo dizer que uma nova cicatriz se formará.

Harry saiu de lá exausto e fraco. Duelara com treze bruxos diferentes. Pelo menos, tendo em vista o fato de Rony não estar presente, o Prof. Moody decidiu que faria tudo isso com ele assim que voltasse. E, nestas aulas, Harry estaria livre.

Harry arriscou uma corrida até às cozinhas para ver se conseguia alguma coisa para colocá-lo para cima. Dobby providenciara para ele uma enorme barra de chocolate. Harry agradeceu e foi comendo para a aula de Transfigurações.

Por um momento extremamente delirante, Harry achou que Transfigurações não poderia ser pior do que o Curso de Formação.

Mas hoje, a professora McGonagall estava começando a ensinar Transfiguração Humana. Já haviam terminado Transfigurações de Corpos de Grande Porte em Outro de Grande Porte. E começavam Transfiguração Humana em Corpos de Pequeno Porte. E como dissera a professora, até o fim do trimestre de verão, eles terminariam a Transfiguração Humana em Corpos de Grande Porte. O que, de acordo com Hermione, era algo avançadíssimo. Mas era algo que ela ansiava desde que Harry passou pela Primeira Tarefa do Torneio Tribruxo.

— Gostaria de informá-los — disse a Professora Minerva antes de eles começarem a estudar a teoria. — Que sendo hoje a última aula do trimestre, os N.I.E.M.s simulados acontecerão na primeira semana de aulas do trimestre de verão.

“Serei gentil com vocês. Não cobrarei isso nos próximos exames. Que, por sinal, vocês devem saber, será o segundo simulado escrito de vocês na minha matéria. E embora os resultados não tenham sido maus, espero melhoras. Da parte de todos. E para aqueles que tiraram Excepcional: mantenham suas notas.”

Harry sentiu que a professora olhava diretamente para ele. Mas preferia não olhar de volta. Sentia o peso da responsabilidade de tirar mais um Excepcional em Transfigurações.

Harry saiu da aula de Transfigurações como se sua mente estivesse fumegando. Depois de ficar quase meia hora copiando matéria e fazendo gráficos e tabelas, eles ainda tiveram que começar a ver um pouco de prática.

Hermione fora a única que conseguira transformar um humano que ela conjurara num alfinete. Mas até a garota fracassou quando tentou transformar outro humano em um palito de fósforo. Isso a deixou num péssimo humor pelo resto da noite.

— Isso é realmente difícil — disse ela quando eles atravessavam o Saguão Central para deixar as mochilas no dormitório e irem para a Ala Hospitalar.

— Agora escuta — disse Harry quando eles chegaram à porta da Ala. — Nós precisamos animar o Rony. Então, esqueça que você não conseguiu fazer o feitiço até segunda-feira, O.K.?

Hermione, um pouco desapontada e um pouco preocupada, concordou com a cabeça e os dois entraram.

Rony estava ficando pálido. Harry perguntou se ele comera alguma coisa, mas a resposta foi um fraco “não estou com fome”. Harry teve uma idéia. Apanhou a varinha, amarrou a cara e apontou o objeto para o peito de Rony.

— Cansei — disse ele ríspido. Hermione até saiu de perto. — Cansei de fingir que não estou vendo nada. Você está horrível. Ou come agora, ou empurro a comida pela sua garganta da mesma maneira que o Prof. Moody empurraria um aranha. Lembra? Da aula de Maldições Imperdoáveis? Posso fazer a mesma coisa. Agora mesmo.

— Você não tentaria — Harry podia ver que Rony estava morrendo de medo. Hermione olhava receosa de Harry para Rony. Não sabia o que fazer. Era clara a expressão da garota. — Tentaria?

— Posso chamar o Prof. Moody neste instante. Acho que ele aproveitaria a oportunidade para ensiná-lo que um Auror nada teme. Então. Vai comer? — Harry percebeu que segurava a varinha com tanta força que faíscas vermelhas e douradas saíam dela.

Rony, tremendo de medo de que Harry fizesse alguma coisa (o garoto conseguia passar verdadeira fúria pelos olhos), concordou com a cabeça e puxou o prato do jantar e começou a comer. Harry não abaixou a varinha até que o prato estivesse limpo. Quando Rony colocou o prato no criado-mudo, Harry sorriu e disse:

— Querem jogar Snap Explosivo?

Hermione começou a rir. Rony a gemer e dizer:

— Isso não teve graça, Harry. Não teve a mínima graça.

— Teve sim — responderam Harry e Hermione juntos.

— Pelo menos você comeu alguma coisa — disse Harry conjurando um baralho e dividindo as cartas em três grupos. — A primeira coisa o dia inteiro.

— Ei, Harry — Rony disse. — Quanto tempo temos de aulas até as férias de páscoa?

— Nenhum — respondeu Harry. — Hoje foi o último dia.

— Então estamos de férias? — perguntou Rony com um tom de quem ansiava mais estas férias do que qualquer outra.

— Nem tanto — respondeu Harry se afundando na cama ao lado de Rony. — Temos N.I.E.M.s simulados a partir do dia cinco.

— Não importa — disse Rony a cada segundo mais ansioso. — E alguém sabe quando eu saio daqui?

— Não — Hermione e Harry se apressaram em omitir esta informação. Não era uma mentira. Afinal, Harry não achava que Rony havia melhorado nem um pouco.

— E então? Como estamos? — perguntou uma voz que Harry daria tudo para que demorasse a chegar. Era Madame Pomfrey.

— Estou bem — respondeu Rony. — E ansioso para sair.

— Ai, ai, ai — Harry não gostou de ouvir isso. — Sinto muito, meu jovem, mas o seu tratamento não mais compete a mim.

— O que a senhora quer dizer com isso? — Rony parecia com medo. Madame Pomfrey se dirigiu até a porta da sua sala e apertou um botão que mais fazia lembrar um alarme de incêndio, mas nenhum som foi emitido.

— É só aguardar — Harry sabia muito bem do que Madame Pomfrey falava. Olhou para Hermione. A garota tinha a mesma compreensão que ele. Harry não gostava disso, mas sabia que era necessário, e nada disse. Harry se via sem ações. Mas aceitou, realmente era uma necessidade.

— Aguardar o quê? — Rony estava com um misto de medo e curiosidade.

Mas não precisaram esperar muito. Logo três pessoas vestidas de verde claro entraram pela enfermaria e se aproximaram de Rony. Eles eram curandeiros do Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos.

— O quê? É tão grave assim? Mas não pode ser. Sinto-me bem. Estou de férias.

— E vai continuar quando voltar — disse Madame Pomfrey. Rony já havia sido posto numa maca e estava sendo levado para fora do trem, onde uma Ambulância Aparatável aguardava.

Harry ficou de mau humor a noite toda, chegou a atropelar Fred e Jorge que estavam voltando do trem e se preparavam para perguntar o que acontecera.

— Harry — disse Hermione entrando no quarto dois minutos depois do garoto. Ele estava deitado de bruços, ainda de óculos, agarrado ao travesseiro. — Não foi sua culpa.

— É claro que foi — respondeu Harry agarrando o travesseiro com mais raiva ainda. — Se quando ele tivesse desmaiado pela primeira vez, eu o tivesse levado para Madame Pomfrey, ela daria um jeito na hora. E ele agora não estaria internado.

— Tá bom, Harry! FOI VOCÊ! Tá bom agora? Eu tentei te animar. Mas você não quer. Quer dizer que foi você? DIGA! Cansei. Se a sua atitude não fosse certa, não se esqueça de que o Prof. Moody não teria deixado.

Harry bufou. Pensando bem, Hermione tinha razão.

— Tudo bem. Desculpe. Mas você sabe quando ele vai voltar?

— Corri até a ambulância e me disseram que ele volta até a páscoa. Só espero que ele tenha tempo de estudar.

Harry se levantou, foi até o armário e apanhou a sua Firebolt Segunda Geração. Agora que olhava para a vassoura, se lembrou.

Ele largou a vassoura sobre a cama, apanhou pergaminho e pena e escreveu uma solicitação da nova edição do Qual Vassoura? Para a Floreios e Borrões.

— Vou levar isso para o corujal e dar uma volta — disse ele para Hermione. — Quer ir comigo?

— Não, Harry. Acho que não. Vou ficar por aqui e estudar.

Harry saiu do quarto e foi até o corujal mandar Edwiges. Saiu do trem logo pela primeira porta e decolou.

Tentou ir o mais alto que pôde. Chegou um ponto em que não conseguia mais respirar, tal era rarefeito o ar. Olhou para baixo. Só via nuvens. Nenhuma visão do Palace Beauxbatons. Seus pulmões protestavam. Harry decidiu mergulhar.

Seus cabelos voavam freneticamente. Seus olhos ardiam com força total. O barulho do vento parecia que ia deixá-lo surdo. A cada segundo ele perdia ainda mais altura.

Recuperou-se do mergulho a ponto de suas vestes rasparem no chão.

Sentia-se bem mais calmo agora. Ficara voando pela propriedade.

Beauxbatons podia ter um bonito palácio, mas nem de longe se comparava ao castelo de Hogwarts. Uma vez reconfortante e agradabilíssima, a lembrança do lugar a que ele realmente pertencia o atormentou momentaneamente. Tudo o que o garoto queria era que Hogwarts fosse novamente segura. Que ele pudesse passear pelos jardins outra vez e se sentar à margem do lago e se divertir jogando torradas nele e vendo a lula gigante apanhando. Quanto mais Harry voava, olhando todo o território pertencente a Beauxbatons, mas ele gostaria de estar no seu dormitório, dentro da Torre da Grifinória. Sendo hoje a última aula do trimestre, ele estaria se preparando para uma visita a Hogsmeade, que acontecia sempre naquela época. Nem a Avenida da Magia tinha a beleza de Hogsmeade. Queria tomar amanhã uma Cerveja Amanteigada com Rony e Hermione no Três Vassouras, mas não, estava trancado a milhares de quilômetros de Hogwarts. Não tinha permissão para sair daquele lugar. Não tinha Rony ao lado dele. Não via a hora de o ano letivo acabar. Até se lembrar dos Dursley foi algo reconfortante, pelo menos estaria em casa. Seguro. Livre por alguns instantes. Continuou a voar, mas não olhava por onde ia, tudo o que via era a cabana de Hagrid na orla da Floresta Proibida, perto do Salgueiro Lutador. Harry chegou a rir com a lembrança dele e Rony apanhando da árvore no início da segunda série. Voou até que bateu em algo. Ou alguém.

Harry voltou à realidade e viu Emily em sua vassoura em frente ao garoto. O céu estava azul veludo, estrelas como diamantes cravejados. Sentiu-se bem em ver Emily. Fora a única coisa boa de vir para Beauxbatons. Ele conhecia Emily das reuniões da AD, mas em nada se comparava. Nem falar direito com ela o garoto falava.

— Fiquei preocupada — disse ela num tom verdadeiro. — Não te vejo desde antes de ontem.

— Tive problemas com o Rony — respondeu Harry deprimido.

— A Hermione me contou — disse Emily num tom que dispensava maiores explicações. Harry se sentiu grato por isso. — Estou cansada. Não quero mais voar. Voei isso tudo te procurando. Não quer descer?

— Me desculpa — disse Harry. — Mas não quero descer. Espera aí, tive uma idéia. Sobe na minha vassoura.

— Mas e a minha?

Harry teve uma idéia. Apanhou a sua varinha, mirou a janela central do trem, que estava visível e executou com perfeição um Feitiço Expulsório. A vassoura de Emily voou sozinha até local e Harry, que já tinha Emily abraçada às suas costas disse:

— Quer sentir o verdadeiro poder de uma Firebolt dessas?

— Hum… acho que não… acho que… só vou… hum… esperar… esperar para… um outro momento.

— Tá com medo? Não confia em mim?

Ao ouvir estas palavras, Emily disse:

— Você ainda me mata! Anda logo. Vamos.

Harry deu impulso no próprio ar e voou mais rápido do que ele já conseguira em toda a sua vida. Ouviu atrás dele um grito histérico:

— EU VOU ENJOAAAAAAR!

Por um momento Harry se divertiu e voou ainda mais rápido. Não sabia como, mas tinha certeza de que Emily gostava daquilo.

Os dois não conseguiam mais ver nenhuma forma. Voavam tão rápido que tudo virara meros borrões. Harry se sentia melhor. Resolveu não mais acelerar e esperar a vassoura parar, o que só aconteceu depois de três minutos.

Harry desceu e viu que Emily estava com os cabelos muito despenteados. Realmente estava enjoada. Harry resolveu continuar o passeio a pé. Mas algo os impediria.

Quando se dirigiam ao dormitório de Harry para guardar a vassoura, eles encontraram Hermione de camisola no corredor.

— Rápido, aqui! — Harry e Emily foram até Hermione que segurava algo que parecia com um grande lençol dobrado. Mas aquela seda era estranhamente familiar. A um exame mais atento, Harry viu que era a sua própria Capa da Invisibilidade. Vê-la não trouxe um sentimento bom a Harry. O garoto sabia que estariam com problemas.

Rapidamente os três entraram na capa e se dirigiram para o quarto de Emily. Harry achou ter visto o reflexo de uma lanterna, mas pensou ser somente a lua.

Mas quando Emily tirou a sua mão da capa para abrir a porta de seu quarto, outra a segurou.

Harry olhou para o lado e viu a última pessoa que gostaria. Argo Filch, o zelador. Ele realmente segurava uma lanterna.

Achando que Filch seria burro o bastante para puxar Emily e achar que a garota estava sozinha, Harry se enganara redondamente. O zelador levou a sua mão para cima da cabeça de Hermione e agarrara a capa e a puxara, revelando Harry, Hermione e Emily.

Filch parecia que acabara de descobrir que era natal.

— Hum, Potter. Finalmente o apanhei. Fazendo um passeio romântico. Skeeter realmente tinha razão. Vocês agora vão comigo ver o diretor. Vamos ver se não estão com problemas. COM PROBLEMAS!

Indo atrás do zelador, Harry olhou para Hermione que carregava um olhar de pura fúria nos olhos. O garoto sabia que o fato de ter sido apanhada e talvez receber uma detenção era o de menos, isso já acontecera antes e ela não ficara assim. Filch citara o artigo de Rita Skeeter sobre Hermione. Acreditara no que ela dissera mesmo depois de tudo o que já aprontara. Mas não é para menos, pensou Harry, Filch achava que Umbridge fora de longe a melhor coisa que já acontecera a Hogwarts.

— Argo — disse Dumbledore quando os quatro chegaram ao escritório do diretor. Dumbledore olhara para os três garotos e ao ver que Harry e Emily usavam as vestes de Hogwarts e que Hermione estava de camisola, entendera toda a situação. Harry ouviu novamente a voz do diretor que disse “Não se preocupe”. Aparentemente, Hermione também ouvira, pois a garota abrira um largo sorriso. — Devo perguntar o que faz aqui tão tarde. Pelo que bem me lembro, mandei-lhe dormir.

— Eu sei senhor — Filch se apressou em responder. — Mas estava andando pelo corredor e vi uma mão que avançava para a maçaneta da porta do goleiro titular. Impedi, naturalmente, e puxei uma capa e descobri estes outros dois aqui. E veja senhor — Filch levantou a mão que ainda segurava a capa de Harry. — Potter tem uma Capa da Invisibilidade. Este é o item de número duzentos e setenta e três na lista de artefatos proibidos na escola, que creio que também valem para este lugar.

— É claro que valem Filch — disse Dumbledore ligeiramente impaciente. — Agora, se me permite, tomarei conta deste caso.

— Mas, senhor, como Inspetor dos Corredores da Escola, tenho a obrigação de fazer uma ficha de ocorrência para estes três.

— E eu, como Diretor da Escola, digo que vou tomar conta deste caso.

— Certo — Filch não concordara em nada, mas nunca ousaria discordar de Dumbledore. Mas estava determinado a ter uma atitude. — Mas levo a capa. Será apreendida conforme o regulamento.

— É um pertence do Sr. Harry Potter, Filch. Você não vai levá-lo a lugar algum.

— Mas, senhor…

— Creio já ter dito Argo. Eu tomarei conta deste caso agora.

Quando Filch se virou e saiu, muito revoltado, Dumbledore se virou para os três.

— Deixem-me juntar um pensamento a outro: Harry voava na companhia de Emily, enquanto pensava que não mais aguentava ficar aqui e queria voltar para Hogwarts. Já haviam ultrapassado em muito da hora de dormir, por isso a Srta. Granger tentou avisá-los e protegê-los. Porém, Argo os apanhou na metade do caminho.

Os três concordaram com a cabeça. Harry percebeu que Emily estava extremamente surpresa que Dumbledore soubesse tudo aquilo. Dumbledore, rindo levemente, continuou:

— Então, Harry, apanhe a sua capa e vá dormir. Srta. Hermione e Srta. Emily, também podem ir dormir. Acordem bem tarde e aproveitem bem as últimas férias deste ano. Principalmente você, Srta. Emily, que está no último ano.

Os três, sentindo-se muito aliviados, saíram do escritório de Dumbledore e seguiram pelo corredor. Harry chegou mais perto de Emily.

— E então. Como vai ser?

— Como vai ser o quê?

— Você está no sétimo ano. Vai acabar agora.

— Disso eu sei desde setembro.

— Eu sei. Mas em setembro nós não estávamos juntos.

— Bom, sinto lhe informar, mas eu não sou a professora Trelawney.

Harry não sabia se deveria se sentir aliviado ou não com esta resposta.

— Eu realmente não queria ter que me separar de você. Sei que vamos ficar longe um do outro quando eu estiver aqui no próximo ano, mas poderíamos nos ver nas férias.

— Poderíamos.

Harry se sentiu melhor. E deu um beijo de boa noite em Emily, entrou no seu quarto e em vinte minutos dormiu.


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