Através Das Eras escrita por Rodneysao, Tronos, Malucoxp


Capítulo 3
Despertar


Notas iniciais do capítulo

Muitos leitores estavam questionando o momento em que os personagens de Fairy Tail iriam aparecer na fic, bem, tudo o que eu posso dizer é que voces vão se surpreender XD
Capítulo escrito por mim, reescrito pelo tronos e betado pelo malucoxp, espero que gostem ^^



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 -Capitão, estamos perto? – perguntou um homem entrando na cabine onde um marinheiro examinava mapas de navegação e resmungava alguns números, calculando mentalmente a rota do navio.

  -Sim Sr. Halke, creio que se estiver certo – ele sorriu de canto modestamente, dando de ombros – E eu sempre estou, poderemos ver Terra daqui a algumas horas, no mais tardar.

  O arqueólogo assentiu e saiu da cabine, estava tão ansioso que mal conseguia parar de tremer, nem mesmo notou quando duas mãos alvas lhe tapando os olhos.

  -Adivinha quem é!

  Ele riu e se virou, abraçando sua esposa pela cintura. Ur o encarava profundamente, bem no fundo dos olhos, a mesma camisa branca, o casaco e o chapéu, ele saia da universidade e jogava o terno de lado, sempre disse que odiava ternos, embora gostasse muito de chapéus. A barba estava por fazer, mas isso o deixava ainda mais atraente na opinião da maga, e os olhos, eles tinham o mesmo brilho quase infantil de quando ela o conhecera, a mais de dez anos atrás.

  Samuel não esperou que ela dissesse nada e a beijou, envolvendo seus braços na cintura fina e modelada, puxando o corpo delgado dela mais pra junto de si. A pele mais fria que o normal lhe provocou um arrepio de prazer, a língua dela era gelada, e parecia queimar na dele, enquanto exploravam a boca um do outro, intensificando ainda mais as sensações, deixando o gosto doce dela ainda mais saboroso.

  Não demorou muito pro beijo carinhoso ficar mais entusiasmado, Ur envolveu os braços no pescoço dela e as mãos dele estavam travando um caminho perigoso, descendo pelas costas até quase chegar a bunda dela, quando...

  -Mamãe!!

  Ur deu dois passos pra trás assustada e Samuel mal teve tempo de ver quem o tinha atingido. Quando se deu conta uma garotinha pequena com seus oito aninhos estava abraçada a ele, e Ur dava trela de tanto rir, embora ainda estivesse meio coradinha pelo beijo.

  -Filhinha... – Samuel gemeu desolado – Já falei pra não incomodar a mamãe e o papai quando estivermos sozinhos...

  -Mas parecia que você ia engolir ela!– a pequena agitou as mãozinhas no ar, pra dar ênfase ao que falava, depois fez uma careta – Foi nojento...

  Ur corou profundamente, mas Samuel apenas riu da filha, que tentava explicar em gestos o que os dois estavam fazendo, sem nem prestar a atenção a reação dos pais, aos oito anos e ela já falava pelos cotovelos...

  -Certo pentelha – Ur afagou os cabelos dela – ta na hora do seu banho não?

  -NÃO!!

  A mera menção da palavra banho a pequena se jogou de novo nos braços do pai, como se tentasse se proteger da mar que bufou irritada, tentando explicar um por um os muitos motivos pra ela ir tomar logo um banho.

  -Filha, você quer ficar suja pra sempre?

  -Não é tão mal assim – Samuel disse pensativo, sem conseguir segurar uma risada ao ver a expressão estarrecida com que sua mulher o encarou – Assim ela nunca vai se engraçar com garoto nenhum, não vai ter nenhum namorado...

  -Eca... – a menininha comentou em concordância com o pai, que sorriu e lhe fez cafuné.

  -São muitas as vantagens! – Samuel completou, sorrindo bastante pra segurar uma risada da cara séria que Ur estava fazendo, depois suspirou derrotado – Certo princesinha, se tomar banho direitinho com a mamãe te ensino a ler os mapas de navegação.

  Urtear olhou pra ele com os olhinhos enormes brilhando, como se fosse natal e Samuel fosse o próprio papai Noel. Ela correu até a mãe que assistia a cena achando graça e a puxou pela mão, tentando levá-la o mais rápido possível para o banheiro.

  -Vamos mamãe!

  -Só você mesmo, Sam, pra fazer essa pulguinha cooperar...

  -Não sou pulguinha! – a garota disse emburrada, fazendo biquinho.

  -Certo, certo querida, não é pulguinha – Ur deu um beijo em Samuel, dizendo algo no ouvido dele que fez ambos rirem, e depois pegou a filha no colo, andando em direção ao banheiro na cabine deles – Vamos tomar banho pulguinha...

  O arqueólogo ficou observando sorrindo as duas seguirem discutindo, como sempre faziam, até que desceram para as cabines no casco, o deixando sozinho no deck. O navio cortava as correntes marítimas, seguindo do continente em direção a uma ilha no extremo leste de Fiore, próxima as terras escuras que ficavam além do reino da magia, criaturas estranhas viviam lá, um povo estranho, que falava outra língua e não se misturavam. Samuel observou o oceano por um longo tempo, tamborilando os dedos na murada do navio.

                Samuel olhou novamente para o mar enquanto se debruçava na murada, ele estava longe de casa, bem mais longe do que se sentia confortável, já era a segunda semana viajando para o leste sem parar, ele olhou para o navio e para os tripulantes, ele podia ver insegurança e medo em seus rostos, eles tinham razão, essa parte do mar era desconhecida e nunca se sabe o que pode ser encontrado. Samuel olhou para o cesto no alto do mastro principal, seu amigo, Menphys Rock, um mago muito inteligente e muito habilidoso com química olhava em volta com um grande sorriso, Samuel não podia deixar de sorrir, Menphys era um explorador nato, qualquer viagem era um premio para ele, e ainda agora, com uma viagem para o desconhecido ele parecia com uma criança que descobriu pra que serve o natal.

                Samuel sorriu mais largamente ainda quando se lembrou de como eles se meteram nessa viagem.

                Flashback

                Samuel estava sentado na sala dos professores da escola de Magnolia preparando as aulas para o dia seguinte quando foi interrompido pela inspetora de alunos.

                - Professor Samuel, o senhor tem um minuto?

                - Sim, diga.

                - Há alguém aqui querendo vê-lo

                - Quem é?

                - Seu nome é Menphys.

                - Muito obrigado, mande-o entrar.

                Menphys entrou na sala com um grande sorriso, Samuel conhecia aquele sorriso, era o sorriso de alguém pronto para aprontar. Menphys fechou a porta ainda sorrindo e retirou da mochila um grosso pergaminho, muito velho.

                - Samuel! Olha o que meu amigo Erick encontrou nas minas de mitrilo perto Hargeon.

                Samuel pegou o pergaminho e desenrolou em cima da mesa, o pergaminho era antigo, muito antigo, era escrito na língua da ultima era e era extenso. Os olhos se Samuel se arregalaram quando ele percebeu a importância de tal achado.

                - Menphys!! Meu deus! Isso é incrível! Vou até a biblioteca pegar os livros sobre a linguagem da ultima era pra decifrar isso!

                Menphys sorriu mais ainda, ele sabia que poderia contar com o amigo para isso, ele se sentou em uma cadeira e enquanto esperava ficava imaginando que tipo de aventuras isso levaria. Dois minutos depois Samuel voltou com oito livros enormes e começou a abri-los sobre a mesa.

                - Menphys vou querer ajuda aqui.

                - Droga...

                Os dois passaram os próximos dois meses para traduzir o pergaminho. Pelo que foi possível traduzir o pergaminho falava sobre poderosas criaturas que viviam no mundo à cinco mil anos, elas eram chamadas de Bijus, existiam nove e cada uma tinha um poder diferente, era simplesmente fascinante como a civilização antiga lidava com tais criaturas poderosíssimas.

                Samuel ficou intrigado com a informação, se tais criaturas fossem mesmo tão poderosas elas deveriam emitir algum tipo ou freqüência de energia, assim como um mago emite energia. Se isso era verdade então era possível rastrear a energia. Samuel se comunicou com seus amigos acadêmicos na universidade de Siver Lake, ele pediu para que os físicos captassem e separassem todo tipo de freqüência de energia que passava pelo ar. Depois de seis anos de pesquisa e desenvolvimento de equipamentos o experimento foi feito e os resultados eram impressionantes, de todas as freqüências de energia que viajavam ao redor do mundo duas eram muito mais poderosas, mas não influenciavam em nada as outras, essas duas eram a mesma freqüência mas vindo de direções diferentes. Samuel rastreou primeiro a fonte onde a freqüência era mais forte, ou seja, a fonte mais próxima, ele descobriu que a fonte era a pirâmide conhecida como Leito da Dama de Cristal que ficava no centro da selva perto de Magnolia, ele estudou a pirâmide por alguns dias tentando decifrar o que estava escrito mas os caracteres eram muitos e a maioria não tinha um significado conhecido, depois de seis dias ele resolveu procurar a segunda fonte. Foram vários meses de rastreio até chegar à praia do oeste onde o mar era desconhecido, pelo aparelho ele percebeu que a energia vinha através do mar. Ele trabalhou por duas semanas fazendo cálculos e medindo distancias em um mapa até descobrir mais ou menos a localização aproximada da fonte.

                Sabendo que seria uma grande aventura Menphys decidiu ir com Samuel em direção à fonte, Ur e Urtear não quiseram ficar para trás então seguiram junto, agora eles estava viajando em direção ao desconhecido procurando algo que poderia ser a maior fonte de conhecimento da ultima era já encontrada.

                Quando estavam chegando à ilha eles avistaram um barco pertencente à Dark Guild Fire Horse, claramente eles estavam atacando, Ur e Menphys agiram rápido jogando um bote na água e pularam para tentar ajudar quem morava na ilha, Samuel seguiu logo atrás com Urtear. Na ilha Ur viu varias pessoas fugindo para dentro de uma fenda na lateral da montanha, ela agiu rápido e atacou os magos enquanto Menphys criava uma barreira ao redor do povo, eles conseguiram ser bem-sucedidos por um tempo mas um mago bem mais poderoso quebrou a barreira e inutilizou todos os ataques de gelo, sem mais opções, Ur, Menphys, Urtear e Samuel recuaram para dentro da fenda.

    Os alarmes da vila soaram, alertando sobre a presença de inimigos. Nos campos, vários homens largaram suas ferramentas como estavam e correram, das cozinhas as mulheres tiraram os aventais e correram. Das escolas os professores jogaram os gizes no chão e também correram. Apesar do tumulto, nada estava bagunçado. Como shinobis, eles eram organizados. Várias pessoas nas ruas, a maioria jovem demais pra lutar, ajudavam distribuindo equipamentos, facas longas que se assemelhavam a kunais, e coletes negros. Na cabeça uma faixa negra com um símbolo cravado a baixo relevo no metal, o desenho de um redemoinho, e das extremidades, nove caudas, que se contornavam e formavam a imagem de um sol. O símbolo da vila, dos shinobis. Todos, já prontos, correram.

    A velocidade deles era grande, maior do que se esperaria de simples donas de casas, agricultores e professores. Eles inclinaram o corpo e partiram um pouco mais rápido. Estavam assustados, com medo de morrer. Mas nenhum olhou pra trás. O momento em que eles eram crianças lhes voltou a mente, quando tiveram que escolher entre ver ou não a raposa. Agora sentiam a mesma tremedeira no corpo e o medo que os impelia a parar, voltar atrás. Sentiram que estavam sendo testados novamente, e dentro todos os quase mil shinobis, nenhum olhou pra trás. A lembrança daqueles sentimentos, daquela tristeza.

    Era um fardo pesado demais pra só uma pessoa carregar, mesmo que fosse um Deus. Havia chegado a hora deles aliviarem um pouco aquele fardo...

    Dentro da caverna, o velho monge ainda tentava proteger as crianças. Várias das que não tinham entrado na caverna, inclusive o garotinho que desafiou o monge agora estavam lá dentro. Ele parecia bem assustado, mas se colocou a frente das outras, era seu dever, ele era filho de um soldado, e como tal tinha que proteger aquelas pessoas. O monge sorriu pra ele, que mesmo tremendo assustado, sorriu de volta. Algumas pessoas passam por testes diferentes, afinal, havia muitos tipos de coragem, a dele era diferente da dos outros, mas não deixava de ser a coragem de um shinobi.

    Sem esperar mais nada, o monge girou o cajado e partiu pra cima do mago atacante, que riu como se achasse graça da tentativa tola daquele velho de lhe deter. Ele era um mago poderoso e ele apenas um homem velho que de tão caduco, havia esquecido de morrer. O que poderia fazer contra ele?!

    Dessa forma, enquanto o cajado vinha em sua direção, ele apenas levantou a mão, certo que ia conseguir agarrar a arma rústica do velhote e detê-lo. Antes que sequer terminasse esse pensamento, de um jeito que nenhum mago esperaria, o monge girou e passou uma rasteira no mago. A força que ele tinha o fez arquejar, parecia que tinha sido acertado por um bloco de concreto.

    Enquanto caía, o monge girou com uma velocidade incrível e lhe acertou um soco nas costas, seguido de mais três, até que apoiou as mãos no chão, e girou rapidamente, mandando os dois pés de encontro ao pescoço do mago. Indefeso, ele capotou com a força do golpe, e foi arrastado até junto dos outros, que olhavam para o velho com uma sobrancelha erguida.

    Algumas crianças aplaudiram, gritando entusiasmadas, mas se calaram a um olhar do velho. Ele arfava e estava com os ombros curvados, apesar de forte, era velho, e o que antes seria fácil pra ele, agora se tornava cansativo. A vinte ou trinta anos atrás, acabar com aquele grupo de tolos seria fácil, ainda mais se os pegasse de surpresa. Mas agora... Temia pelas crianças, sabia que aquele momento o alarme da vila já tinha soado, mas daria tempo?! Quanto tempo ele agüentaria?! E quanto tempo até eles chegarem lá?!

    Ele tinha que atrasá-los o máximo possível...

    -Ora ora... - um outro mago respondeu, olhando do monge para o companheiro inconsciente - parece que subestimamos o povo dessa vila, mesmo um velho com o pé na cova consegue enfrentar um mago se estiver determinado o bastante, não é?!

    -Não só um, pode ter certeza - o monge respondeu, firmando o cajado em mãos.

    -É... mas por quanto tempo?!

    Hoshi cerrou os punhos, ele tinha razão. Na sua idade, ele não conseguiria... "Baka! - ele pensou - O que estou pensando?! Eu preciso fazer isso! É meu dever". Sem esperar resposta ele correu, armando o bastão pra mais um golpe. Sabia que o movimento anterior não funcionaria de novo, então teria que improvisar. Tinha que se lembrar, lembrar do que se mestre havia lhe ensinado...

    O mago estava vestido de negro, e as suas costas tinha a imagem de um cavalo de fogo. Ele tinha cabelos avermelhados e um cavanhaque que aumentava ainda mais a rapidez dos seus olhos, o fazia parecer uma pantera prestes a dar o bote. O tempo todo ele sorriu, um riso frio e desprovido de sentimento, estava com as mãos nas costas e os ombros relaxados. Confiança emanava de cada poro seu como se fosse magia, aquilo assustou o monge, ele não entendia como alguém poderia fazer aquilo. Esse único pensamento estilhaçou sua determinação, e mesmo com um segundo, ele não conseguiu avançar mais, o peso da idade caiu de uma vez sobre suas costas, ele tocou e tropeçou.

    Antes que caísse, um jato roxo o acertou no rosto, era um fogo imaterial que o deixou a beira da inconsciência, o rosto estava quente e parecia mergulhado nas brasas. O monge temeu estar queimando vivo, mas quando abriu os olhos, se deu conta do que havia acontecido, era apenas uma ilusão. Aoi estava ao seu lado, com duas mãos espalmadas tocando o lado do seu corpo. Ele sentia algo quente passando por ali.

    "Pra cancelar um genjutso, basta bombear um pouco de magia no corpo da vítima, pra que sua corrente mágica estabilize"...

    O monge se lembrou de quando ensinou aquilo pra aquela garotinha, mesmo de quando ensinou aquilo pra mãe dela e pra mãe da mãe dela. Viu o rosto crispado com uma determinação que superava a dele, e se sentiu envergonhado. Sentiu que tinha falho em seu papel, mas nem isso o fez fraquejar. Ver aquela garota de pé, confiante ao seu lado o fez se lembrar do seu filho, ela tinha o mesmo olhar que ele, o jeito que crispava as sobrancelhas, o modo como sua magia se agitava e passava a pulsar... Exatamente como Makarov...

    -Obrigado Aoi-chan - ele disse com carinho na voz - Se lembrou bem dos meus ensinamentos, e os usou com maestria. Agora volte pra junto dos outros, junto do cristal. Nada vai lhes acontecer enquanto tocarem no cristal.

    Ela encarou o monge por um longo momento, Samuel também olhava pra eles, enquanto Ur e Menphis estavam ocupados combatendo mais dois magos cada um. Por final, assentiu e correu pro cristal, pegando Urtear no caminho e a puxando com ela. Foi difícil por que a garotinha gritava por seu pai, e tentava correr até ele.

    -Não! - ele disse, sacudindo a garota pelos ombros, ambas derramavam lágrimas - Você não pode ajudar! Tem que ficar em segurança! Eles não podem lutar se se preocuparem com você!

    Urtear ainda estava chorosa, mas obedeceu e correu junto com Aoi. Do lado de fora vários magos enfrentavam o estranho encapuzado, feitiços e jatos de fogo amarelo varriam a pastagem, numa luta que parecia equilibrada, mas quem olhasse com atenção veria que os movimentos do garoto já estavam mais lentos, suor brotava de sua testa e ele parecia exausto. Só por pura e bruta determinação que continuava se movendo.

    Samuel e o monge ficaram lado a lado, cajado e katana emparelhadas. Ao mesmo tempo eles correram em direção ao mago de cavanhaque, que ainda sorria gentilmente como se estivesse num almoço agradável. Um segundo antes da katana do arqueólogo e do cajado do monge pudessem acertá-lo, ele desapareceu no ar, aparecendo em seguida as costas dele, acertando uma cotovelada na nuca de cada um, que caíram pra frente, impulsionados pela própria velocidade e pela força do golpe.

    -Vocês podem com esses idiotas - ele disse, apontando alguns outros magos que estavam caídos no chão, respirando com dificuldade ou inconscientes - Mas não pensem que podem o mesmo comigo....

    Um grito cortou o ar, e Samuel olhou apavorado pra onde sua mulher estava, do estomago dela saíam duas hastes metálicas. Menphis foi preso numa chave de braço quando tentou ajudar a amiga, e ambos estavam incapazes de lutar. O monge num momento de distração perdeu o cajado e agora estava caído no chão, segurando o peito entre as mãos. Mais e mais magos entravam a todo instante na caverna, dois deles arrastavam pelas pernas o corpo do garoto encapuzado. As crianças junto ao cristal estavam apavoradas, muitas fecharam os olhos e outras rezavam em voz baixa. Urtear vendo a mãe sangrando se desprendeu dos braços de Aoi e correu até lá, antes que chegasse na metade do caminho um outro mago a puxou pelos cabelos, a levantando na altura dos olhos. A garotinha gritou e Ur gritou pra solta-la, cuspindo um pouco de sangue. Aoi tropeçou pra fora da proteção do cristal, numa tentativa inútil de salvar a outra, mas ante que pudesse fazer isso, outro mago a pegou e torceu seus braços.

    O monge olhava tudo estarrecido, sem forças pra se por de pé. Várias outras crianças já estavam sendo pegas por magos, que ameaçavam matar seus amigos se elas não saíssem. A diversão no rosto deles enquanto faziam isso fez algo brotar do coração dele, algo negro que ele nunca tinha sentido. Ódio.

    O monge se levantou, suas mãos tremiam de vontade de matar cada uma daquelas pessoas. Sua vista estava embaçada, e ele parecia ver através de uma lente de sangue, como se seus olhos... fossem vermelhos...

    Cansado, ele apoiou a cabeça nas mãos, lembrou do seu mestre e do seu filho, mas tudo parecia muito distante agora. Ali na sua frente estava acontecendo uma coisa terrível que ele nunca imaginaria, e ele estava sem forças pra evitar. Por um momento, ele quase culpou a raposa por isso, mas o pensamento morreu antes que tomasse forma, ele tinha culpa de tudo...

    -Então, velhote - o mago de cavanhaque disse - Ainda quer lutar pra proteger esse monstro?! Ou vai dá-lo pra nós de bom grado em troca da vida do seu povo.

    Essa pergunta não tinha resposta. As crianças olharam apavoradas pra ele, algumas tentavam negar, dizer pra ele não contar nada, mas por algum motivo essas palavras não lhe vinham a mente...

   -Não diga nada!!! Velhote!!!

   O monge olhou para o garoto que gritou isso, ele estava de joelhos e com os braços torcidos pra trás. "Eriçando os pelos e miando grosso, tentando parecer um gatinho crescido..." Era o garoto que se negou a entrar na caverna, filho de soldados, filho de shinobis...

   -Calado garoto!

   O mago que o segurava o acertou com força no rosto, o fazendo cuspir sangue. Todos aguardavam a resposta do mago, exceto o choro de algumas crianças, o lugar estava num silêncio sepulcral. Mesmo Samuel o observava curioso, mesmo o garoto encapuzado olhava pra ele, esperando uma resposta. Ele não disse nada, estava olhando o garotinho, que agora levantava a cabeça, sorrindo.

   Sorrindo como uma raposa...

   -Muito bem... acho que precisa de mais incentivo.

   O mago de cavanhaque tirou uma adaga curva de uma bainha na bota, e andou até onde Aoi estava presa. O mago que a segurava a levantou mais alto, a adaga do líder pairando ameaçadoramente sobre o pescoço dela.

   -Diga, velho, ou eu a mato. Mato um a um até todos estarem mortos, e só restar você...

   O monge olhou horrorizado pra aquilo, sua mente ia a mil pra encontrar uma forma de superar aquela situação, mas nada lhe vinha a mente. Ele se sentia novamente uma criança, presa num dos jogos que seu mestre fazia...

   -Vamos Tom... O que você faria?!

   O garotinho olhou embasbacado pra ele, não sabia o que responder...

   -Como assim, mestre?

   -Ora... Shouji é um jogo antigo, da última era. Foi baseado em batalhas reais e era usado pra testar os maiores generais. O próprio general da Kyuubi no nichi era um mestre nesse jogo, poucos além dele descobriram a resposta pra essa pergunta. Pra se tornar o protetor, e o guia do guardião, você tem que descobrir também...

   -Mas... isso é só um jogo, não é como ter que sacrificar pessoas reais...

   -Sim, é verdade. Mas se você estivesse nessa situação, em que o rei estava ameaçado por uma peça do inimigo, você sacrificaria seus peões?!

   -Eu... não sei mestre.

   O monge olhou bem para o garoto, antes de pegar o seu próprio reie jogar na cabeça dele, fazendo-o reclamar de dor.

   -Pense, Tom. Quem é o rei?!

   -O rei é a Kyuubi, obviamente...

   -Tem certeza?!

   O garotinho olhou bem pra ele, tentando ver alguma sombra de brincadeira no rosto do seu mestre, ele as vezes era muito difícil de se lidar, mas não havia nada. Ele o encarava seriamente, até que suspirou cansado, depois de um tempo.

   -Eu já estou velho, Tom. Minha hora vai chegar muito em breve, e então vou descasar. É você que deve tomar meu lugar, não confiaria a ninguém esse dever, que não você.

   -Mas, mestre, eu...

  -Algum dia, você vai descobrir a resposta. Quando se encontrar comigo, depois de morrer, me conte quem é realmente o rei, e quem são os peões.

 

   Lembrando daquilo, olhando pro que estava acontecendo. O monge riu.

   -O que foi?! - o mago de cavanhaque levantou uma sobrancelha - Caducou de vez velho?!

   Ele não respondeu, se levantou com dificuldade, e foi até o cristal, as crianças se afastaram pra ele poder passar. Por um momento, pelo que estava prestes a fazer, temeu que a barreira que protegia a raposa o impedisse de continuar, mas ele passou através dela como sempre. As crianças, os magos e alguns moradores o observavam, enquanto ele se ajoelhava e tocava o cristal.

   O mundo desapareceu pra ele, não havia mais dor, nem morte, nem nada. Só escuridão, até que uma luz brilhou.

   "Muito bem Tom..."

   Por um momento ele pensou que fosse seu mestre que tinha lhe falado, mas a voz era diferente. Abriu os olhos e encarou o cristal novamente, dois pontos azuis de luz brilharam em meio o cristal, a raposa do sol estava de olhos abertos.

   -Todos só somos apenas peões... - ele murmurou - O rei... São as futuras gerações que virão a nascer.

   Nesse momento o cansaço tomou conta dele, mas antes de ficar inconsciente, ele pode ouvir uma voz cálida e poderosa sussurrando.

   -Sim... somos todos peões minha criança...

   Era de manhã, quando vários magos ainda chegava na guilda. Luxus estava correndo entre as mesas, arrumando briga com os magos mais velhos, e o mestre estava tomando uma xícara de café, quando tudo, de repente, ficou escuro.

   Makarov sentiu o corpo todo queimar com uma sensação estranha, não era nada doloroso, muito pelo contrário. Era uma sensação antiga, que há tempos ele não sentia...

   "A raposa - ele pensou - despertou"

   Todos os moradores sentiram aquilo, algumas outras pessoas espalhadas no mundo também, todos que já tinham tocado aquele cristal alguma vez na vida. Todas sentiram o mesmo arrepio na espinha e todas ficaram sem fôlego. Uma magia tão grande e poderosa como o próprio sol parecia estar despertando. As nuvens da ilha toda pareciam convergir entre um ponto comum, se amontoando e se afunilando no céu, apontando em direção aquela caverna. As crianças que estavam na câmara estavam sem fôlego, elas tremiam, o coração de cada uma delas estava disparado, os sentidos alertas com a descarga de adrenalina. Dois pontos azuis brilharam e a árvore de cristal trincou, de baixo pra cima, fazendo um estalo alto percorrer aquela caverna, ecoando na parede e nos próprios cristais que brilhavam ali. Era como se eles gritassem. 

  Então, um a um, os sete sóis foram caindo no chão, o selo da própria Deusa da criação estava se fragmentando e se quebrando com o poder daquela raposa. A cada batida de coração um pulso de pura magia percorria aquele lugar, que parecia prestes a desmoronar, nenhum lugar na face da Terra estava pronto pra presenciar um acontecimento daqueles, fogo envolveu todos os galhos da árvore, que continuaram se partindo e se quebrando, era um fogo azul esmeralda, que brilhava e cintilava como magia pura. Aoi olhava pra aquilo tudo sem acreditar, Samuel amparava sua esposa nos braços, olhando estático pra aquilo, ele não era um mago, mas mesmo ele conseguia sentir a magnitude daquela energia, era assustadoramente grande, e mesmo assim, tão... doce...

   Com um som alto como o de um trovão, o cristal se partiu, e antes que tocassem o chão cada fragmento foi consumido pelo fogo azulado da raposa, fazendo uma chuva de pó de diamante cair sobre o local. Os pulsos de energia ainda varriam a caverna, ficando cada vez mais regulares: "Tum"... "Tum"... "Tum"... A cada pulso uma onda de chamas desprendia do centro de onde era a árvore de diamante, agora invisível por trás de uma nuvem brilhante prateada. Em vez de queimarem, a cada sopro de chama a grama parecia ficar mais verde, as flores desabrochando e suas pétalas ficando mais vermelhas e mais saudáveis. As crianças perto estavam hipnotizadas, as labaredas lambiam sua pele, curando-os imediatamente de qualquer desconforto, ferimento, dor e qualquer coisa ruim, permeando seus músculos com uma força que elas não tinham. Uma sensação agradável tomou todos ali, quase como se estivessem mergulhados numa banheira de água quente.

  Aos poucos, o fogo foi tomando forma, se envolvendo em algo que lembrou orelhas, um corpo pequeno e nove caudas, se adaptando e se unindo ao corpo pequeno da raposinha dourada. Quando esta finalmente se levantou, as nove caudas se abriram e todos os cristais da caverna trincaram, os nove selos que a prendiam inutilizados no chão. 


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews senão o Naruto nunca mais volta a estrelar nossas fics D:
brinks XD ele me disse que está muito feliz pelos reviews e agradece todos de coração... mas como reviews são sempre bons, nunca é demais ter mais um ^^