Através Das Eras escrita por Rodneysao, Tronos, Malucoxp


Capítulo 2
Cinco mil anos se passam e a terra se transforma..


Notas iniciais do capítulo

Aki estamos novamente com o segundo capítulo dessa fic XD
confessando seriamente agora, nosso sistema de trabalho é bem assim, eu (Rodneysao) forneço a ideia principal, Malucoxp da o ar épico e algumas ideias muito (muito mesmo) interessantes e por fim o tronos trabalha sobre tudo isso como um grande joalheiro lapidando uma pedra bruta e a transformando em um belissimo diamante. todos nós estamos muito felizes com todos os reviews, muito obrigado e aproveitem a leitura.



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 É incrível o quão as coisas mudam em pouco tempo, mas é assustador o quão tudo fica diferente depois de muito tempo.

  -Rápido Lwan! – gritou um garoto pequeno, acenando para o irmão mais velho – Vamos chegar atrasados!

  -Já vou! Já vou!

  -Lwan, Aang, andem rápido filhos, senão não vai dar tempo – uma mulher gritou da cozinha, enquanto arrumava a louça numa prateleira – Hoshi-sama esta esperando.

  -Já vamos mamãe! – as duas disseram juntas, correndo pra fora de casa. Antes de saírem cada uma deu um abraço na mãe, que ficou observando ambos seus filhos correndo, até se juntar com outras crianças, todas andando na mesma direção.

  Ela esperou um pouco antes de voltar as seus afazeres, se preocupava com a segurança dos filhos naquele caminho, mas era necessário pra eles se tornarem homens da aldeia, cidadãos. Ela se lembrava quando um dia o mesmo monge a guiou pelo caminho serpenteado de pedras, beirando e subindo a montanha, pra ver o guardião da vila.

  Isso era uma coisa que ela nunca se esqueceria, era a iniciação de todas as pessoas no vilarejo, o dia em que elas tocavam o cristal, que sentiam a energia bruta percorrer seus corpos, os mudando pra sempre. O dia em que viam a Raposa do sol...

  Apesar de ser velho, o monge seguia pela trilha de terra batia entre as moitas e a vegetação com confiança, como se já tivesse passado por ali milhares de vezes, o que não estava longe da verdade. As crianças, mesmo as mais fortes já arfavam profundamente, algumas das mais fracas estavam febris, mas nenhuma desistia do caminho, se desistissem seriam desonradas pelo resto da vida, nunca seriam encaradas como verdadeiros “Shinobis”.

  A palavra era estranha, o significado dela já estava perdido no tempo, e só era guardado pelo povo daquela vila. Todas as crianças cruzavam aquele mesmo caminho quando tinham doze anos, passavam pelo teste do cristal e então eram reconhecidos como verdadeiros Shinobis, guardiões e protetores do Deus que dormia ali dentro.

  De repente o velho monge parou, levantou o cajado e o bateu com força no chão, fazendo um som seco e profundo percorrer a montanha. A maioria das crianças se curvou sobre os próprios joelhos, arfando profundamente, depois das horas de caminhada.

  -H...Hoshi-sama – uma criança tomou a palavra, um pouco nervosa e com a voz falhando devido a falta de fôlego – Por que paramos? A trilha...

  -A trilha criança – o velho disse sorrindo – Acaba aqui, aquela é só pra confundir intrusos...

  Ele tomou um rumo diferente, escondido entre as vegetações de uma maneira que qualquer um que não soubesse exatamente onde estava nunca a encontraria. As crianças abafaram um gemido e continuaram seguindo por ali, a trilha por entre as árvores ficava ainda mais difícil, eles começaram a descer, um barranco íngreme que eles tinham que tomar cuidado pra não escorregar, os pés descalços todos sujos de lama. 

  Nenhuma das crianças perguntou o quanto faltava pra acabar o caminho, embora todas estivessem curiosas, aquele ponto do caminho não existia mais trilha, o sol nascente subia acima do contorno da montanha, iluminando as folhagens das árvores. A frente deles, um morro idêntico aos outros, invisível entre as folhagens e o tronco das árvores coberto de musgo, deixando todo chão escondido embaixo de uma camada verde, com cheiro de orvalho. Num determinado momento, o monge fez sinal pras crianças pararem, estendendo o cajado a frente e levantando um braço por baixo do manto escuro que vestia, amarrado pela cintura com uma corda.

  -Prestem atenção crianças – ele disse, e riu baixinho vendo o rosto delas, que nem piscavam de tão imersas que estavam em suas palavras, embora algumas arfassem bastante – Por que esse momento será único na vida de vocês...

  Ele apontou o cajado pra uma parede coberta de folhas de samambaia e musgo que cobria completamente a pedra, não dava pra ver nada ali. As crianças estranharam o gesto e olharam umas pras outras, sem entender o que ele queria dizer, mas antes sequer que pudessem começar a cochichar o barulho profundo do cajado cortou novamente o ar.

  -Atentos... não percam a concentração.

  Ele afastou as cordas de cipó e folhas e uma passagem apareceu, não era mais do que uma fina fresta entre a rocha da montanha, tão pequena que um adulto comum não conseguiria passar.

  -Entendem agora – ele falou com saudosismo – Por que só uma vez na vida seus pais vieram aqui?! E antes deles seus avós, e antes deles seus bisavós?! Só um corpo pequeno pode cruzar essa fenda, e esse não é o único requerimento...

  O monge recolheu o cajado junto a si e afagou a parede de pedra, olhando pra lá com tanta tristeza que se podia dizer que um grande amigo seu estivesse preso lá, tão perto e mesmo assim tão longe dele, já que mesmo sendo velho, o corpo do monge era grande e forte, e ele nunca conseguiria passar naquela fina fresta da montanha.

  -Muito bem crianças... – ele disse, se apoiando no cajado e sorrindo ternamente, como se fosse avô de cada uma daquelas meninas e meninos – Somente um pode entrar de cada vez, fiquem atentos aos perigos da caverna, mas sobretudo, aos perigos da sua consciência. Mantenham o foco, qualquer lapso, qualquer escorregão na sua determinação estará sendo testada...

  As crianças engoliram em seco e olharam umas pras outras, fazendo o velho monge rir de novo:

  -Não fiquem tão apreensivas, vocês são crianças, todos, mesmo eu não passo de uma criança aos olhos dos Deuses, apenas ajam com sinceridade, e não haverá sombras no seu coração. Vãos meus filhos – ele apontou o cajado para a fresta – Entrem como crianças, voltem como verdadeiros shinobis, deixem seus medos e inseguranças no interior dessa caverna, por que quando voltar, já não será mais uma criança...

  Todos ficaram um momento em silêncio, até que um garoto deu um passo a frente, com uma expressão obstinada. O monge apontou o cajado na fresta pra que ele entrasse, e ele o fez, enquanto todos os outros esperavam, e esperavam...

  -Outro... – O monge disse muito sério, sem olhar pra ninguém em especial – Agora pode ir mais um...

  -Mas Hoshi-sama – uma garotinha disse, um pouco assustada – Ele ainda não...

  -Não se preocupe – o monge disse, fazendo um gesto de descaso com as mãos – Pode ir você agora, minha querida...

  A garotinha engoliu em seco, e continuou avançando, sob o olhar atento do monge. Os olhos verdes quase amarelos e o nariz pontudo lhe davam o aspecto de uma águia, e assustada como aquela pequena estava agora, quase dava pra imaginar ele voando em rasante, um silvo agudo cortando o ar...

  De novo, após vários minutos de espera, nada aconteceu, ninguém voltou. Os garotos já começaram a ficarem assustados, e a expressão do monge não ajudava, não estava tranqüilizadora e serena como sempre, estava neutra. Os olhos dele mais escuros e os lábios crispados numa fina linha, quase oculta pela barba branca.

  -Outro!

  -Mas, Hoshi-sama... – uma garotinha iria protestar, mas se calou com o olhar do monge, que estava quase ameaçador.

  -Não ouviram?! Outro...

  -Como vamos saber se isso não é uma armadilha?! – um garoto se destacou da multidão, dando alguns passos pra frente e encarando o monge com ferocidade – O que vai acontecer dentro dessa caverna?!

  -Entre e descubra – disse o velho apoiado no cajado, sem se abalar nem mesmo minimamente, era quase como se esperasse que aquilo acontecesse.

  As conversas aumentara, e dessa vez ele não fez nada pra impedir. Depois disso o mesmo garoto, junto com outros três e mais uma garoto se separaram da multidão, o garoto de antes tomou novamente a palavra.

  -Não vamos entrar dentro dessa coisa, não temos garantia nenhuma de que voltaremos vivos – O monge segurou um riso da postura altiva do garoto, era quase como um gatinho pequeno eriçando os pelos, miando grosso, tentando parecer um homem.

  -Façam como quizerem – o monge disse com descaso, o que pareceu irritar profundamente o garoto – Mas fiquem quietos naquele canto e não me perturbem mais.

  -Não fico mais um segundo com você! – o garoto cuspiu as palavras, um pouco corado pelo descaso com que era tratado. Seu pai já fora soldado e disse que falar alto era uma estratégia eficaz pra abalar as pessoas, seja o que for não estava funcionando com aquele velho.

  O garoto saiu com os seus acompanhantes de volta pela trilha. Mais algumas crianças se desprenderam da multidão e o seguiram, outras se sentaram a base a colina, esperando o monge para leva-las de volta, imaginando o que diriam para seus pais sobre não terem entrado pra ver o espíto...

  -Mais algum desgarrado? – o monge perguntou, ainda com neutralidade – Ótimo, pode ir você agora, Aang.

  O garoto, antes animado, engoliu em seco, mas caminhou, mesmo que hesitantemente, até a fresta na parede e passou com facilidade, por que era muito magro e baixo. O tempo foi passando e mesmo ele não voltou.

  -Mais um... – o monge olhou entre a multidão e apontou pra uma garotinha – Pode ir agora, Aoi-chan.

  A menininha corou até a raiz dos cabelos com a atenção. Na sua mente passaram inúmeras possibilidades, que ela julgava serem possibilidades, sobre o que poderia ter acontecido dentro daquele lugar. As crianças poderiam ter caído numa armadilha, ou devoradas, ou assassinadas, ou seqüestradas, poderiam estar feridas e precisando de ajuda, e o fato de Hoshi-sama se mostar tão distante e neutro naquele momento não ajudava em muita coisa, ela não tinha certeza do que fazer. Seu corpo e todo seu lado racional gritavam pra ela dar o fora dali o mais rápido possível.

  Mas então por que ela permaneceu quieta?! Mais que isso, por que começou a caminhar em direção a caverna?! Estava hipnotizada, como um pequenino camundongo sob o olhar de uma cobra.

  A cada passo as pulsações do seu coração ficavam mais e mais lentas, os músculos antes tensos ficando relaxados, o nervosismo ia diminuindo até que ela chegou até a fresta na rocha, era grande o suficiente pra ela passar.

  Quando tocou na rocha sentiu um arrepio percorrer sua espinha, aquilo não era uma rocha comum. Mesmo depois de uma noite chuvosa, coberta por orvalho e por vegetação a rocha estava levemente aquecida, não chegava a estar morta, mas estava quase como se fosse viva. A garotinha decidiu entrar de uma vez, antes que a coragem acabasse. O que viu do outro lado superava qualquer fantasia que ela já tivesse vivenciado com aquele momento, das histórias que sua mãe lhe contava, das vezes que imaginara estar ali dentro...

  Por trás de alguns metros de fenda, a montanha tinha quase como uma ante-sala oca, o teto era tão alto que estava jogado nas sombras, e de todo o canto das paredes de pedra haviam cristais, de todas as cores, formas e tamanhos, que reluziam com a pureza do mais precioso diamante, bem no eixo central da caverna, próximo ao teto, haviam sete esferas amarelas, como se fossem mini-sóis, pairando no ar, iluminando e refletindo a luz dentro daquela sala. Não uma luz forte, como uma lâmpada mágica ou mesmo como o sol, era uma luz morna e cálida, que dava quase mais sono que o escuro.

  Mas nada disso se comparava com o que havia no centro da sala...

  Um imenso cristal crescia do chão como se fosse uma árvore, se dividindo do tronco grosso para o que se pareciam galhos, lisos e tão brilhantes que pareciam terem sido polidos, se erguendo majestosamente em direção ao teto, uma fabulosa árvore feita de diamante. O cristal ao ser banhado pela luz dos sete sóis iluminava e refletia aquela luz, mas ao mesmo tempo também a absorvia, irradiando e atraindo luz, criando um efeito incrível, era sem dúvida a coisa mais linda que ela já tinha visto na vida.

  Ela por um momento pensou nos outros garotos, mas um brilho amarelo chamou sua atenção, no centro do tronco, a parte mais grossa da árvore do cristal, tinha alguma coisa, alguém. Aoi se aproximou, e sem notar o que estava fazendo, tocou no cristal.

  Ao simples contato, toda a caverna desapareceu, ela sentiu o corpo se aquecer ligeiramente, parecia estar boiando dentro de um rio onde a água passava através dela, era pra ser assustador, mas era uma sensação maravilhosa, ela se sentiu simplesmente livre, quase como se estivesse caindo sem controle, mas sem o medo de se machucar no chão, quase como um passarinho dando seu primeiro salto de cima da árvore, ela sentiu emoções que não eram dela, viu coisas que não se lembrava, pessoas que não conheciam, lugares onde nunca esteve, sentiu uma magia tão profunda, antiga e poderosa que simplesmente não podia ser humana, e no entanto era tão cálida, morna, suave, paternal.

  Ela não percebeu, mas sentiu lágrimas banhando seu rosto, ela olhou através do cristal de novo, e não viu apenas um brilho amarelado, ela viu o contorno do corpo pequeno da raposa do sol, as nove caudas enroladas no seu corpo, a cabeça pousada placidamente sobre ela, quase como se estivesse descansando. Aoi soube no mesmo instante que aquela magia pertencia a ela, que as memórias eram dela, e jurou silenciosamente, por tudo o que mais prezava, que daria sua vida para protegê-la, não sabia exatamente o motivo, mas pode sentir toda a tristeza que estava enraizada naquele cristal, era um sentimento palpável, que parecia entorpecer seu corpo. Toda aquela tristeza não podia ficar junta num só lugar, era quase como ter de segurar o céu, ela se sentiu horrível por viver tranquilamente naquele mundo sem poder aliviar o fardo, sem poder diminuir a tristeza que aquela raposa sentia, não era justo...

  Aoi não percebeu quanto tempo ficou encarando os olhos fechados da raposa amarela, e só desviou os olhos quando ouviu suspiros ao seu lado. Tiana estava ali, olhando pra raposa com os olhos brilhando e a face corada. Vários outros garotos e meninas do vilarejo também encaravam o cristal, mas não era nem metade do número total de crianças que tinham vindo. Atrás de todas elas o velho monge vinha caminhando, admirando a beleza do cristal, mas não com o fascínio que todos, inclusive Aoi, demonstravam. Ele olhava como se se lembrasse de épocas passadas, era um olhar saudoso e muito antigo, quase dava pra acreditar que aquele velho monge já tinha conversado com a raposa do sol.

  -Hoshi-sama! – Aoi disse, um pouco surpresa. Algumas crianças acompanharam seu olhar, surpresas também, mas a maioria ainda estava observando o cristal, alheias a tudo a sua volta – O que...

  -Calma, Aoi-chan – ele respondeu tranquilamente, rindo baixinho – Não perca seu tempo falando com esse velho inútil, apenas observe, sinta...

  Aoi voltou os olhos pra raposa, ela estava imóvel no meio do cristal, mas a garotinha podia jurar que ela estava respirando, mesmo no meio de rocha sólida. Palavras que sua mãe dissera vieram a mente da garota, de que essa era a única vez que ela poderia ver o guardião, esse pensamento quase a fez derramar lágrimas, por algum motivo não queria ter de deixá-lo, ao tocar o cristal e sentir o que ele já havia sentido, ela queria ficar mais e mais próximo dele.

  -Não se preocupe pequena – o monge disse, afagando os cabelos dela – Você vai vê-lo de novo, sempre que quiser...

  Aoi monge encarou o no fundo dos olhos, não percebera mas todas as outras crianças estavam atentas as suas palavras, sentadas na grama que cercava a árvore de diamante, algumas recostadas sobre o cristal e vagando calmamente entre o sonho e a realidade.

  -Mas e a fenda? E quando nós crescermos e...

  O monge sorriu a pergunta e apontou pra si mesmo, por mais incrível que parecesse só naquele instante Aoi – e todos os outros – notaram a presença do monge no interior da caverna, a fenda era pequena demais pra ele ter passado, não era possível.

  -Mas como... – um garoto ia perguntar, mas se calou quando Hoshi-sama fez um gesto pra que ele se acalmasse, ele sempre fazia aquilo quando ia explicar alguma coisa. Como todas as crianças estavam sentadas, a maioria sem nem mesmo perceber isso, ele também se sentou, deitando o cajado no colo e sorrindo tranquilamente, na primeira vez que visitara aquele lugar, a muito tempo, também ficara meio desorientado, afinal, era apenas um ser humano experimentando as lembranças de um Deus, não tinha como ser a mesma pessoa após passar por aquilo...

  -A fenda, crianças, é apenas mais um teste, talvez o principal deles. É preciso coragem pra encontrar as coisas que procuramos, é preciso estar disposto a correr riscos pra conseguir nossos objetivos, isso ilustra perfeitamente a história que vou lhes contar, cujo personagem principal é a própria raposa do sol.

  “A muitos e muitos anos, milênios na verdade, o mundo vivia numa Era anterior a essa, as pessoas eram diferentes, os costumes e a língua também, e não existia magia. Os guerreiros daquela época lutavam com uma energia estranha, Fiore estava dividido entre cinco grandes continentes, e foi nesses continentes que um garoto nasceu...

  Ele era filho de um herói, e também nasceu como herói, mas infelizmente nunca foi visto como um. Seu pai era uma lenda entre o povo que vivia, mas esse mesmo povo, ignorantes e manipulados pelo ódio cego contra uma mera criança, culpou o bebezinho inocente por todo o desastre que havia acontecido. Esse desastre crianças, foi quando a lendária raposa de nove caudas atacou a vila em que essa criança nasceu”

  Os garotos prenderam a respiração, várias mãos se levantaram no ar mas o monge as ignorou, continuando com a história.

  “Essa criança cresceu no meio de um inferno, todos os moradores a repudiavam e a culpavam por algo que ela não tinha culpa. Ela era vista como um demônio, pelo que carregava dentro dele. Pra salvar aquelas pessoas ignorantes, aquela pequena criança carregava dentro dela um fardo tão pesado que colocaria até os mais sábios anciões e os guerreiros mais fortes de joelhos, era estava condenada a viver marcada pelo ódio, por que dentro do seu corpo, presa no interior da sua alma, estava a própria raposa de nove caudas”

  As crianças soltaram exclamações indignadas, sobre como o próprio pai poderia ter feito aquilo com ele. Elas estavam tão furiosas que demorou um minuto inteiro pro monge conseguir fazer com que ficassem em silêncio, Aoi observava tudo atentamente, prestando atenção a história do monge e observando a raposa, que parecia dormir no meio da árvore de diamante.

  “Sim, é injusto meus pequenos, mas foi o que aconteceu. Aquela criança cresceu sozinha, sem família e no meio de todo aquele ódio todo, encarava todos os dias olhares assustadoramente frios, era tratada como um lixo por onde passava, o mais fraco e menos inteligente entre todos os guerreiros da sua vila, mas uma coisa ele tinha de muito diferente deles, o coração.

  Mesmo com todo o sofrimento que passou, ele nunca odiou nenhuma daquelas pessoas, ao contrario, seu maior desejo era se tornar poderoso pra poder protegê-las, ele sempre esteve disposto a isso, era seu sonho, e por isso ele derramou seu sangue dezenas de vezes, sem nunca desistir, sem nunca se abalar nem sequer olhar pra trás.

  Naquele tempo o mundo vivia um período pós guerra, como uma calmaria após uma tempestade, mas que antecedia uma tempestade ainda maior, uma tempestade que varreria completamente aquele mundo, o terror do homem de olhos vermelhos.

  O homem de olhos vermelhos era um guerreiro poderoso e cruel, ele queria criar um mundo a sua vontade e por isso sacrificou muitas vidas, partiu atrás das nove criaturas mais poderosas da terra, e conseguiu reunir quase todas, mas faltava uma.

  A raposa de nove caudas ainda vivia dentro do garoto. Após muitos anos, ele se tornou forte, conseguiu forma laços fortes com muitas pessoas, mas as duas que mais importavam pra ele o traíram, e isso quase o matou. Seus dois melhores amigos se iraram contra ele, o culpando por toda a guerra, o culpando pelo que o homem de olhos vermelhos estava tentando fazer, e o levaram pra uma armadilha.

  Nessa armadilha, a própria raposa interveio, salvando a criança. A cor dos seus pelos tinha mudada, o seu olhar tinha mudado, a determinação daquela criança mudou até mesmo o maior dos demônios do mundo, de vermelho como sangue, a Kyuubi no Youko ficou alva como o luar que iluminava aquela campina. Várias pessoas estavam lutando, e no centro, quando não agüentava mais parar de pé, cansada e sem forças, a criança se levantou.

  A kyuubi alva pulou pra dentro do seu peito, os cabelos amarelados da criança cresceram, até cobrir todo seu corpo e o calor do sol irradiou do centro da terra, quando a raposa do sol finalmente se levantou, nascida daquele garoto e do antigo demônio, ela lutou por dias contra o monstro de olhos rubros, até que ele finalmente caiu perante o seu poder, e nada mais restava daquele antigo mundo, só morte e destruição.

  A raposa do sol chorou, e das suas lagrimas surgiu um oceano profundo, que separou o continente, formando as ilhas mais remotas e dando o formato ao qual o mundo se encontra hoje, depois de zelar por aqueles que lhe eram caros, ele correu, correu por dias, meses ou anos, sem se importar pra onde corria, até que se viu de frente a portões dourados imponentes, e percebeu que não estava mais no mundo dos homens.

  Trombetas soaram e os portões abriam. A raposa do sol adentrou aquele lugar, caminhando entre as próprias nuvens, por onde passava os anjos e demônios se ajoelhavam, lhe prestando homenagens, até que do alto do seu trono, a própria deusa da criação surgiu na frente dele, e emocionada, o abraçou.

  A Deusa ofereceu-lhe uma escolha, ele podia ficar pra sempre entre eles, desfrutando a paz que tinha como recompensa, vivendo eternamente em companhia dos Deuses, ou poderia ficar na Terra, onde ainda existia o ódio, a dor e a escuridão. A raposa escolheu ficar, ela abdicou de sua própria paz pra poder viver mergulhada no ódio, pagando pelos pecados dos mortais, protegendo e guiando a humanidade, iluminando as trevas, como um sol cálido que expulsava a noite pra longe.

  Todas as crianças estavam chorando silenciosamente, Aoi afagava o cristal, sentindo pena ao mesmo tempo em que admiração por ele, pensou se teria coragem pra suportar aquele fardo, se conseguiria viver no escuro como ele estava vivendo.

  -Hoshi-sama – perguntou um garoto, tentando manter a voz firme – Como ele veio para aqui?

  -A Deusa, mesmo concordando com sua escolha, a achou injusta, ele já sofrera demais e não era certo que sofresse mais. Por isso ela deu-lhe uma taça de vinho sagrado, fazendo a raposa cair em sono profundo e o carregou no colo até aqui, construiu esse santuário com sua magia, onde o deixou protegido e descansando.

  -Ele vai acordar algum dia?

  -Talvez, quando o mundo precisar dele de novo, quando o ódio mais uma vez deitar sobre essas terras, a raposa do sol vai acordar e banir a escuridão pra longe, foi esse o caminho que ele escolheu, ser uma luz brilhante e pulsante, mas sempre jogada nas trevas...


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Notas finais do capítulo

obs.: Sobre a história do monge há certos fatos errados, mas isso foi proposital, toda essa história foi o que ele interpretou das memórias da raposa, por isso alguns fatos foram diferentes.
espero que tenham curtido. deixem reviews ^^