Através Das Eras escrita por Rodneysao, Tronos, Malucoxp


Capítulo 1
O Inicio do Fim


Notas iniciais do capítulo

Bem, essa fic foi idealizada por mim mas meu grande amigo Tronos deu uma reformulada, ficou simplesmente magnífica em minha opinião, espero que gostem ^^



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"Finalmente... Acabou."

  A cena ao meu redor não era nada, além do cenario de uma completa destruição, o caos de uma batalha que havia terminado. O alivio que eu senti por um segundo quando vi o corpo de Madara, estirado sem vida no chão, durou até que o cheiro de sangue invadiu as minhas narinas. Era tanto sangue, sangue que inundava a terra, contaminava as águas e espalhava o cheiro da guerra pra longe daquela campina.

 "Desolação..."

  Fui contornando o corpo de todos os shinobis mortos naquela batalha, cada um com uma história de vida, sonhos próprios, amores e ódios, filhos, pais e mães. Quando era apenas um gennin, quando era odiado pela vila em que morava eu tentei manter minha sanidade sonhando com aqueles momentos, eu me imaginava num campo de batalha como aquele, uma campina ao por do sol, me imaginava levantando glorioso, após derrotar os inimigos, os cabelos ondulando aos quatro ventos, bem como diriam os bardos que contariam as minhas histórias. As Crônicas de um ninja corajoso, Uzumaki Naruto...

 "Tolice..."

  Pensamentos infantis, eu agora caminhava entre os corpos desmembrados, manchados de sangue e pólvora, shurikens e kunais estavam às milhares caídas naquele chão. Onde estava a honra naquilo?! Onde estava a honra em matar, em ceifar vidas, em interromper histórias, e impedir que outras sejam contadas?! Não existe glória numa batalha, não existe glória em morrer lutando, não existe glória em ser um Shinobi. Nada... Só existe morte, dor e guerra.

  E no meio de tudo isso eu agora caminhava.

  O cheiro de sangue era insuportável, seria insuportável pra qualquer pessoa normal, mas pro meu olfato apurado era quase uma tortura. Concentrei uma quantidade monstruosa de chakra natural no meu corpo, de tudo a minha volta, e liberei de uma vez, uma onda de vento varreu aquela pastagem vermelha, e em poucos minutos uma chuva fina começou a cair, logo se transformando numa garoa, que pouco a pouco foi lavando o sangue e o cheiro de morte daquele lugar.

  Não sei se foram minutos, ou horas que eu fiquei contornando os corpos que haviam ali, aquele lugar em breve seria tomado pelo cheiro pútrido da morte, milhares e milhares de cadáveres entrando em decomposição. E no meio disso apenas eu, todos os outros shinobis estavam mortos, só restava eu. Estava sozinho de novo.

  No meio da chuva, abaixei as orelhas, a água lavava todo o vermelho que impregnava meu corpo, deixando a mostra o brilho dourado dos pelos da Kyuubi no nichi, a raposa de nove caudas do sol, como eu era chamado a algum tempo atrás. A antiga Kyuubi já não fazia mais parte desse mundo, lembro que há alguns anos nós tínhamos nos entendido, e eu até a fazia rir às vezes, mas o único momento em que senti felicidade verdadeira partindo dela foi quando sua alma foi liberada pela Deusa da criação, foi um único murmúrio de prazer que veio dela, a serenidade de alguém que estava indo pra cama depois de um dia exaustivamente longo.

  E agora eu era a nova raposa de nove caudas. A raposa dourada do sol, não conseguia deixar de ver uma triste ironia nisso.

  Todo o conhecimento, toda a experiência da existência milenar da Kyuubi não serviam de nada agora, eu sabia todos os jutsus que já foram criados, meu controle de chakra era tão preciso que envergonharia o mais hábil ninja médico, o que de certa forma era desnecessário, por que meu chakra em união com o da raposa era tão gigantesco que beirava o infinito, eu conhecia o segredo do sharingan, tão bem que poderia reproduzir com facilidade um nos meus olhos se quisesse, e mesmo com todo esse poder, mesmo com todas as possibilidades, não havia nada que me ajudasse a diminuir a dor.

  Durante todo aquele tempo procurei sobreviventes, mas não havia ninguém, não havia nem mesmo o mais fraco toque de chakra em meio aos cadáveres dos shinobis, de ambos os lados. A água da chuva se misturava às minhas lágrimas, eu pensava que valeria a pena, imaginei que no fim o motivo de lutar ficaria claro, mas não havia nada. Nagato, no fim, tinha razão. Guerra era apenas dor, morte e destruição, um círculo vicioso de ódio que consumia ambos os lados, impedindo que a carnificina terminasse.

  Estava a ponto de me deitar e adormecer, não tinha mais vontade de fazer mais nada, tudo o que eu conhecia, tudo o que eu tinha estava morto, quando senti um toque doce e suave, que fez um arrepio percorrer minha coluna, levando meus sentidos ao máximo, procurando a fonte daquele traço quase imperceptível de chakra, tão fraco que nem o mais talentoso sensor nem sequer notaria. Era o chakra dela... Ela estava viva...

  Levantei e corri, corri como nunca tinha corrido pra chegar o mais rápido possível em direção aquela pessoa, meu coração martelava bombardeando sangue e algo mais nas minhas veias. Esperança... De repente, todo o mar de corpos não importava nada, se ela estivesse viva, nada mais importaria, era só o que eu queria, só o que eu pedia, nenhuma recompensa seria mais gratificante que isso.

  Cortei a campina como um furacão, apenas um traço amarelo no ar, de tão rápido que eu ia. Mesmo assim tomei cuidado pra não pisar em nenhum corpo, eu os pulava e desviava, até que cheguei até ela.

  Tenten...

  Toda minha esperança se esvaiu quando a vi, ela estava viva, mas não poderia estar mais evidente de que iria morrer. Nem mesmo o meu chakra natural conseguiria reparar os seus ferimentos, nem mesmo as técnicas médicas avançadas que Tsunade-oba-chan tinha me ensinado me permitiria salva-la. Ela ia morrer, e o pior é que pelo sorriso que deu, estava perfeitamente consciente disso.   

  Ela não pareceu assustada ao ver o focinho dourado da Kyuubi tocando o seu rosto com delicadeza, também não demonstrou dor nenhuma quando minhas lágrimas escorreram abundantes, pingando no seu rosto e escorregando pelo seu pescoço alvo, os cabelos castanhos livres dos coques caíam como uma cascata atrás dela, mesmo sujos de sangue estavam lindos, Tenten tinha cabelos lindos.

  Apesar da dor, apesar do sofrimento, tudo o que ela fez foi sorrir quando me viu, seus olhos brilharam como nunca tinham brilhado enquanto ela estava viva, era como se ela visse algo além de mim, havia uma paz tão profunda e melancólica ali que por um minuto, eu esqueci a minha dor, eu queria mergulhar naqueles olhos e ficar imerso naquele sentimento, pra sempre...

  -Naruto... Oi...

  Ela riu baixinho da própria piada, a um tempo eu não entendia a graça que as pessoas viam da vida, quando estavam prestes a morrer. Mais numa guerra, vendo tantas vidas terminarem de uma hora pra outra, vendo as memórias da Kyuubi, eu entendi. Não importam quais sejam seus pensamentos, ou sua maneira de ver o mundo, tudo isso muda na hora da morte, você simplesmente se da conta de quem você é, vê todos os erros e todas as oportunidades perdidas, e ri. Por que foram essas oportunidades que te levaram a compreender o mundo como você compreende, instantes antes de morrer.

  -Oi amor - eu disse suavemente, tentando sorrir pra ela.

  -Não queria que me visse assim... - ela disse, com um pouco de esforço, mas com um sorriso doce nos lábios - Você esta sempre tão bonito amor... E eu...

  -Você é linda Tenten... - eu disse, tentando passar no meu olhar e na minha voz todo o amor que eu sentia por ela - Foi o que eu te disse aquele dia, lembra? Nós ainda éramos gennins...

  -Sim... - ela parecia feliz por eu ter me lembrado - Você disse que meus cabelos eram lindos, mas deviam ficar soltos... E então...

  -Eu peguei os seus elásticos de surpresa, e sai correndo...

  -Eu quase morri de vergonha naquele dia, nunca sai de casa sem meus coques...

  Deitei ao seu lado, afagando seu rosto com o pelo amarelo molhado no meu rosto. Senti o seu rosto frio, pela chuva e pela vida que se esvaia, senti seus lábios tremerem ao contado com a minha pele, e isso me arrepiou.

  -Naruto... Eu...

  -Não diga... - eu disse, as lagrimas vieram de uma vez e eu me engasguei nelas, soluçando e tremendo um pouco mais forte - Não diga amor, por favor...

  -Desculpe querido - ela respondeu, beijando o meu rosto e fazendo um arrepio percorrer minha espinha - Eu vou ter que te deixar sozinho... De novo...

  As lágrimas vieram com mais força ainda, eu queria correr, queria chorar e gritar até extravasar a dor no meu coração, mas não deixaria a minha Tenten sozinha.

  -Naruto... Você tem que ser forte... Encontre... Encontre outras pessoas importantes pra você...

  Pude sentir o pouco calor que vinha do seu rosto ir cessando, por maldição aconteceu devagar, eu podia contar os centésimos de segundo enquanto via a luz dos olhos de Tenten se apagar, seus lábios se entreabrirem com um último sussurro entrecortado, não era um lamento, era mais como um suspiro de prazer, como Kyuubi, agora ela iria dormir, pra sempre descansar...

  A chuva parou de cair quando o uivo de lamento da raposa do sol cortou a noite na campina, era como se toda a natureza chorasse comigo, a terra tremeu fracamente, as árvores farfalharam e o vento soprou mais forte, mais cálido do que de costume. Até mesmo as estrelas brilharam com mais intensidade, tudo era tristeza, era só isso o que havia.

  Tudo o que eu queria era chorar, chorar até que minhas lágrimas secassem e a dor que apertava meu peito e me afogava parasse, mas eu tinha coisas a fazer. Me sentei mais ereto, as nove caudas balançaram, deixando traços dourados no ar, a chuva caiu mais forte, simplesmente por que eu assim ordenei. O vento parou de soprar e a terra abaixo dos meus pés endureceu, se curvando e se comprimindo até se tornar rocha pura.

  Não fiz distinção de inimigos e amigos, todos eles mereciam um pouco de tristeza, não sentia ódio por nenhum deles. Não odiava Zetsu, nem Kabuto, nem Madara, nem qualquer outro Akatsuki, eu apenas sentia tristeza por eles, havia muitos que poderiam ser meus amigos, se eu houvesse conhecido antes, havia muitos tão mergulhados no próprio ódio, que tudo ao redor deixava de fazer o sentido, eram apenas crianças, a guerra era o resultado do erro dessas crianças, tão frágeis e indefesas de si mesmas, tão infantis e imaturas...

  A Terra se retorceu, e os corpos foram tragados por ela, uma sepultura eterna, que nem mesmo o tempo poderia deformar, essa era a sentença da Raposa do sol, e assim seria...

  Todos os corpos foram tragados, a terra se retorceu, se modelou ao meu comando, e uma imensa pirâmide negra apareceu no meio daquela campina isolada, a rocha era tão dura quanto aço, tão lisa quanto se tivesse sido polida, e no topo, o corpo de Tenten foi envolvido pela terra e pelo granito. Comprimi o meu chakra e modelei a base da terra, o que era negro brilhou num tom prateado, e no topo daquela pirâmide negra de rocha, o corpo de Tenten estava imortalizado, dentro de uma cripta de diamante puro.

  Com as pontas das minhas caudas, escrevi na rocha sólida, contando toda a história daquela guerra e de seus guerreiros nas quatro faces da pirâmide, cuidei pra que nem o tempo, nem o homem e nem as maiores bestas que pudessem vir a nascer naquele lugar sequer arranhassem aquele monumento, ele permaneceria intacto, um marco pra evitar que aquela carnificina acontecesse novamente.

  Satisfeito com o meu trabalho, dei meia volta e corri. Corri na esperança de que a dor passasse, mas quanto mais rápido eu corria mais forte ela ficava, a memória de Tenten, de cada beijo que ela me deu, cada noite que passamos juntos, cada sorriso e cada risada dela ainda eram dolorosos demais, eu queria poder dormir, dormir pra sempre e nunca mais acordar...

  Me refugiei num vulcão, não ligava se era adormecido ou se poderia entrar em erupção, sabia que mesmo a lava sequer derreteria os pelos das minhas caldas, o que de certa forma era um lamento, selei a entrada firmemente, mas não pra sempre, estava num lugar pequeno e escuro, perfeito. Me deitei no chão de pedra do vulcão, e me enrolei em torno das minhas caudas, e cai num sono profundo, sem me importar em quanto tempo iria dormir.

 Sonho...

  Olhei ao redor, sem entender de prontidão onde estava. Senti o tecido pesar nos meus ombros e percebi que estava na minha forma humana, usando minhas roupas costumeiras e a capa dos Deuses Eremitas. Eu estava sentado numa cadeira de balanço, na varanda de uma casa confortável, daquelas que cheira a pinho, flores e mel, muito familiar e reconfortante.

  A minha frente se estendia o oceano, o sol nascente no horizonte pintava as águas de vermelho e o céu de amarelo, as nuvens pareciam algodão no céu do mais claro e limpo azul anil, o aroma da brisa levemente salgada do mar, das areias mornas da praia chegava as minhas narinas junto com outros cheiros mais exóticos, como o cheiro de grama molhada e o aroma rico e terroso da mata que ficava as minhas costas. 

  Perdi um minuto todo apreciando a beleza daquele lugar, a harmonia daqueles cheiros tão difusos e que mesmo assim combinavam de um jeito tão agradável...

  -É lindo, não é...? - disse uma voz feminina, à minha esquerda.

  Eu não tinha percebido aquela presença ainda, e isso me assustou por um segundo, mas não fiz questão de me mexer, não importava realmente. Além disso, a presença que ela emanava era algo tão pacífico quanto aquele oceano, eu sabia que não me faria mal algum.

  -Sim... É magnífico... - respondi, permitindo que um sorriso escapasse pela minha voz - Onde é esse lugar?

  -Esse é o paraíso, é onde a alma dos bons descansam. Pela sua vida você merece cem vezes o que esta aqui, mas ainda não chegou a hora, estou aqui só pra conversar com você...

  Me virei pra ela com curiosidade, não duvidava das palavras dela, conhecia o mundo todo, e não havia na Terra nenhum lugar como aquele. Além disso, sinceridade emanava de cada traço do seu chakra, além de sentimentos que a uma primeira vista me deixaram um pouco confuso, respeito, admiração, carinho, orgulho, e um amor tão incondicional que me deixou um pouco envergonhado. Eu não sabia que alguém poderia sentir tudo aquilo por mim.

  -Quem... É você? - eu perguntei por fim.

  A garota, não sabia se podia chamá-la assim, de alguma forma pareceu imensamente errado referir-se a ela de uma maneira tão... mundana?! Me faltavam palavras pra explicar. Ela era linda, simplesmente linda, os cabelos eram completamente brancos, tão alvos como a neve mais imaculada e pareciam brilhar, usava um vestido bem leve, azul claro e a pele dela era levemente morena, um tom bem saudável e atrativo, os olhos eram lilás bem claros, brilhantes e serenos, além de passar uma sabedoria que faria o tempo parar pra ouvi-la. Mesmo antes de ela responder eu já sabia de quem se tratava.

  -Eu já tive muitos nomes, a maioria não quer dizer nada, e os outros são bem parecidos. Eu sou a Deusa da Criação, pode me chamar de Megumi...

  Achei que numa hora dessas eu devia parecer surpreso, mas por alguma razão eu não estava, não estava assustado, nem com raiva, nada. Tudo o que estava sentindo era serenidade, Me levantei da cadeira de balanço, e me ajoelhei diante dela, aquilo era uma coisa que eu nunca faria pra ninguém, ninguém exceto ela.

  -Megumi-sama - eu disse um pouco de preocupação passando de repente pela minha voz - Tenten, ela...

  A Deusa fez um gesto pra mim me acalmar, e então disse, sorrindo gentilmente:

  -Ela esta muito bem querido, esta descansando, a primeira coisa que falou quando a encontrei foi de você... Ela é uma boa garota, tiveram sorte de conhecer um ao outro. Ela também aceitou a proposta que lhe fiz...

  Me levantei, e a olhei com curiosidade, normalmente eu ficaria um pouco sem jeito diante de alguém como ela, principalmente por que Megumi era mais baixa que eu, sua cabeça batia no meu peito, e ela olhava pra cima enquanto conversava comigo, eu teria me sentido desconfortável com isso, mas não pensei nisso naquela hora, ela também não parecia se importar.

  -Proposta?

  -Sim... Eu a oferecia uma segunda chance na Terra, e ela aceitou. Tenten vai reencarnar exatamente um ano depois que você acordar do seu sono profundo, mas ela vai ser apenas uma criança, não vai se lembrar de nada da sua outra vida...

  Toda a felicidade repentina que eu estava sentindo se evaporou de uma hora pra outra. Eu cai sentado na cadeira com uma mão por sobre os olhos.

  -Se eu mereço mais que isso... Kami-sama, por que essa crueldade?! Ela vai se esquecer de tudo... de mim... por que me castiga assim... depois de tudo que eu já passei...

  Ouvi um soluço baixo, e abri os olhos, em seguida desejei não ter feito aquilo, ou então não ter dito aquelas palavras tão precipitadamente.

  Megumi estava de joelhos na frente da minha frente, dos seus olhos corriam um rio de lágrimas, a dor e a tristeza que ela passava só com o olhar era indescritível, eu conseguia ver no fundo da sua alma a dor que havia lhe causado ao dizer aquilo, podia sentir todos os sentimentos dela, de uma maneira muito mais profunda do que meramente chakra podia me contar.

  Cai de joelhos e a abracei, estávamos ambos de joelhos, chorando e abraçados no chão de madeira daquela varanda. Minhas lágrimas escorriam pelo seu pescoço e as dela pelo meu, eu não sei quantas vezes me desculpei, mas mesmo depois de tudo não parecia suficiente. Durante um bom tempo ficamos abraçados, o colo dela era quente, acolhedor, me fazia sentir em paz, e ela parecia sentir o mesmo, tudo o que dissemos a seguir foi daquela maneira, ao pé do ouvido um do outro. 

  -Me perdoe criança... - Megumi disse, sorrindo fracamente - Mas isso é o máximo que posso fazer, é terminantemente proibido que uma alma regresse ao mundo dos vivos depois de morrer, ela já não faz mais parte de lá...

  -Eu entendo... – disse por fim, sorrindo amargamente.

  -Você ainda é jovem... - ela disse, o tom de voz ficando um pouco vago, como se ela falasse de além do tempo - Mesmo sendo um ancião entre os humanos, ainda é muito jovem, você não compreende totalmente seus sentimentos, ainda... Mas o seu amor por aquela garota é muito mais do que o amor de um homem por uma mulher, você a amou como sua filha, sua mãe e sua mulher, dentre as eras, nunca conheci alguém como você...

  Ela se levantou, me olhando com um orgulho que eu não merecia, não era possível que ela sentisse aquilo tudo por mim, ela enxugou as lágrimas que insistiam em cair dos seus olhos e disse:

  -Durante toda a sua vida, Naruto, eu estive observando suas decisões. Vi toda a dor que você já sentiu, vi o quanto se esforçou, e como mesmo depois de tudo, você nunca odiou. Mesmo depois de tudo o que sofreu, você nunca odiou ninguém, nem Madara, nem o povo que te maltratava, você esteve preparado o tempo todo pra dar sua vida por eles. Vi como você amou cada um dos seus senseis, como se fossem seus pais, seus irmãos, seus companheiros, nunca nenhum humano esteve tão disposto a se entregar quanto você Naruto, a sua alma é um ponto de luz brilhante e pulsante entre a escuridão, você é o destinado a trazer luz à humanidade, aquele que ofusca os anjos, esse é você, Naruto...

  Abaixei minha cabeça, e chorei, de felicidade, de tristeza, tudo ao mesmo tempo. Todos os sentimentos que eu tinha guardado dentro de mim, eu joguei pra fora, não percebi exatamente quando os braços de Megumi envolveram o meu pescoço, só senti o carinho que ela me dava, o rosto dela estava descansando placidamente na curva do meu pescoço, assim como o meu estava no dela. Ela tinha um cheiro muito bom, eu poderia ficar pra sempre naquele abraço...

  -E é por ser luz Naruto, que eu vou ter que te jogar novamente nas sombras do mundo. A humanidade precisa de você, só alguém como você pode impedir que o círculo vicioso do ódio cause ainda mais dor e guerra no mundo... eu já não suporto mais...

  Megumi soluçou, e cobriu os olhos, eu nunca tinha visto alguém demonstrar tanta dor como ela.

  -Eu não suporto mais ver meus filhos matando uns aos outros Naruto – ela disse, enquanto chorava – Por favor... me ajude!

  Eu não sabia se era tudo o que Megumi me dizia, mas mesmo que fosse, não podia ser nada em comparação a ela. Se eu era um ponto de luz entre a escuridão, aquela garota era o próprio sol, brilhando e banindo a escuridão pra longe, tão quente, tão maternal e tão carinhosa. Eu a abracei, e sequei suas lágrimas.

  -Vou impedir que tudo ocorra de novo, Megumi...

  -Obrigado querido... – ela disse, depois abriu um imenso sorriso, quem visse poderia comparar com os meus, sorri pra ela também.

  -Se lembre, ela vai reencarnar exatamente um ano após você acordar, mas não tenho como dizer onde isso vai acontecer, é impossível de se prever, você terá que reconhecê-la por si mesmo.

  -Não se preocupe – sorri confiante – Eu vou achá-la.

  -Tenho certeza que vai querido – Kami sorriu pra mim, e logo depois minha mente nublou, mergulhando de novo na escuridão.


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Notas finais do capítulo

deixem reviews XD