“Seria o beijo perfeito.”

As batidas na porta ocorreram após os barulhos do salto alto se aproximando. Me levantei da escrivaninha em que estudava sobre alguns medicamentos e me dirigi até lá. Toquei a maçaneta com certa hesitação, porém girei-a, descobrindo a maravilhosa mulher de cabelos dourados e olhos azuis.

Nas mãos, Adrianne carregava uma bolinha preta e branca peluda e aninhada em seus braços. Sorriu.

- Oi, eu... – hesitou. – Esse amiguinho seu aqui veio junto quando você apartou... Acredito que seja de sua irmã...

Contorci o rosto em uma careta.

- Murphy? – chamei e ele desenterrou a cabeça do peito da linda mulher e virou-se para mim. Sem a menos dúvida, era o texugo de minha querida Helga. Sorri alegremente e ele pulou em meus braços. – Ah... Obrigada...

Ela apenas sorriu e foi-se pela porta aberta.

A pedra bateu na água azul-escura do lago, quicando duas ou três vezes antes de afundar. Murphy seguia seu movimento com os olhinhos quase negros e se levantou quando as pequenas ondinhas cercaram o local de seu mergulho. Suspirei, observando as nuvens cor-de-rosa e roxas que formavam o crepúsculo. A linha do horizonte contornava a paisagem, o ambiente era lindo.

O barulho das patinhas se movendo foi imenso naquele silêncio, quebrado também pela bela risada que ecoou pelo espaço. Virei-me já com o sorriso sendo exibido ao ver Adrianne com o animalzinho no colo, acariciando seu pelo alvinegro.

Deixei escapar um rápido risinho.

- Ele gosta de você. – aleguei e ela riu mais, levantando-se e deixando-o cuidadosamente no chão.

- Talvez... – admitiu. – Como você faz isso? – perguntou quando atirei a pedra e ela, mais uma vez, quicou diversas vezes.

Sorri mais uma vez.

- Você tem que escolher a pedra certa. – expliquei, pegando uma pedra de superfície lisa. – Se abaixa... E deixa a parte lisa quicar.

Atirei o pequeno projétil e Adrianne acompanhou cada quique que ele deu.

- Deixe-me te ajudar. – pedi, posicionando-me atrás da moça, pegando sua mão e repetindo o processo, que, igualmente, teve sucesso. Ela sorriu.

Quando se virou para mim, nossos lábios estavam quase colados. Seus belos olhos me encaravam como os de uma velha amiga. Seu perfume invadia minha mente. Seria o beijo perfeito.

Mas as patinhas almofadadas tocaram nossos tornozelos, assustando-a a ponto de quase derrubá-la na água rasa. Rimos juntos.

- É melhor... – hesitou. – É melhor eu ir.

Nos separamos rapidamente e ela ajeitou o cabelo, correndo de volta para o castelo. E eu sorria feito um idiota.