Carla's P.O.V.

Aquele dia havia amanhecido quente demais. Mesmo depois de dois anos morando no Japão e indo e vindo da Coréia do Sul, ainda não havia me acostumado com calor do verão asiático. Parecia três vezes mais quente que o verões de São Paulo, e dez vezes mais abafado também. Estava quase desmaiando dentro daquele quiosque onde tinha conseguido um emprego temporário, durante as férias, junto com minhas amigas; Ayu, Well, Bia e Carol. Todas eram brasileiras, com exeção da Ayu. Ela havia nascido no Japão, mas sua mãe era brasileira e ela fluente no português. Se não fosse ela, o próprietário do quiosque não nos teria deixado tomar conta daquele quiosque sozinhas. 
- Carlinha!- Ouvi alguém dizer o meu nome, logo atrás de mim. Pela voz, tinha certeza de que era a Carol. Sempre era a última a chegar. 
Dei uma olhadinha no relógio: já se passavam das dez horas- Já terminou ai? 
- Quase! - Respondi, terminado de passar o pano no balcão - Daqui a pouco os clientes vão começar a chegar. E do jeito que está quente hoje, é melhor armar mais mesinhas. Parece que vai lotar.
- Parece mesmo - Ela suspirou - Vou ajudar a Ayu com as frutas e já volto. Se chegar alguém, só gritar. 
- Wakarimashita - Entendi. Falei, conseguindo arrancar um sorriso com ar de sonolento do seu rosto. 

Logo depois que ela saiu, não demorou muito para mim terminar de limpar o balcão e os primeiros clientes do dia chegarem.

Nosso quiosque tinha uma variedade enorme de bebidas, batidas, sucos e coquetéis, todos feitos pela Ayu, Carol e Bia, que se fazia de tudo um pouco. Ás vezes ajudava Well a entregar os sucos, ou me ajudava a anotar os pedidos. Em menos de quinze minutos, já tinha anotado mais de dez pedidos. Alguns esperavam o pedido ao lado do balcão, enquanto outros pediam para entregar na mesa.
- Seja bem-vindo! - Eu dizia todas as vezes que chegava um cliente, com um sorriso idiota no rosto, o que me fazia sentir completamente idiota - O que vão querer?

E isso se repetiu tanto, que no final de uma hora de trabalho, minhas bochechas estavam doloridas. E foi durante essa correria da manhã, que eu reencontrei uma pessoa que só achei que fosse possível ve-la de novo pela televisão ou nos vários posters que eu tinha espalhados pelas paredes do meu quarto: Cho Kyuhyun. O reconheci no momento que o vi, claro.Mas não sabia ao certo se ele tinha me reconhecido, embora a resposta mais sensata fosse não. Estava metida em um avental três vezes mais do que meu número, e usava um boné vermelho horrível.
- O que vai ped...Kyu? - Não resisti. Precisava falar o nome dele, mesmo que ele saísse correndo com medo de mais alguém o reconhecer. 
Mas para minha surpresa, ao invés dele cobrir o resto e começar a correr na direção contrária, ele sorriu e começou a me fazer perguntas. Como, o porque de eu estar trabalhando alí, o porquê...E a única coisa que eu conseguia fazer era responder com algumas palavras desorientadas, porque minha atenção estava voltada à sua beleza. Tudo estava perfeito, se não fosse por um detalhe. Kim Heechul.
- O QUE ELAS FAZEM AQUI? - Ele berrou, fuzilando Well com os olhos, que estava logo atrás de mim. 
Oh não, ele lembrava dela. Claro, se Kyuhyun lembrava de mim, era mais do que óbvio que ele lembraria dela também. Nem preciso dizer que Well largou o que fazia e veio ao encontro de sua Cinderella:
- Olha quem está aqui! - Ela exclamou, em um tom um tanto quanto irônico, vindo em direção a ele. Agradeci ao céus que o movimento tinha diminuido, e eles eram os únicos da fila - Por que você não se tranca no seu quarto de hotel até o final das férias? Digo, não vai querer queimar sua pele de princesa com esse sol, não é? 
- E você não vai querer perder seu emprego não é? Fica quieta menina - Murmurei, puxando pelo braço. Se tivesse deixado, ela teria jogado o liquidificador que segurava na cabeça dele - Tire o resto do dia de folga. Eu te cubro aqui.

- Mas...
- Mas nada! Se ele falar alguma coisa para o chefe, a gente já era aqui. 
- Isso não fica por aqui - Ela intimidou Heechul, antes de sair por trás do quiosque, que lhe respondeu com uma risada debochada. Logo após que ela saiu com aqueles passos pesados, ele sentou-se em uma mesa que estava vazia. 
Tentei olhar para Kyuhyun e os outros meninos, que já estavam aglomeravam em volta do balcão. Kyuhyun mais vermelho que um pimentão, e os outros meninos se entreolhando sem entender nada. 
- Bem...Vão querer beber alguma coisa? - Perguntei, trazendo aquele sorriso forçado novamente. Tudo para tentar contornar a situação - Temos um coquetél de frutas batidas que é uma delícia. 
- É...Já que você diz - Ele sorriu - Vou querer um. Vocês me acompanham? 
Donghae e Siwon fizeram que sim com a cabeça, enquanto Henry foi o único que viu o menu de sucos e preferiu um de abacaxi com hortelã. 
- E um chá para o estressadinho ali - Completou Henry. 
- Sério? Temos chá verde também - Falei, mostrando o menu de chás - É gelado, mas deve ter o mesmo efeito. 
- É...Pode ser então - Ele concordou. 
- Cinco coquetéis de frutas especiais, um suco de abacaxi de hortelã e um chá verde gelado! - Disse às meninas como de costume. Elas repetiram exatamente o mesmo que eu falei, com um "Para já" animado no final. 
- A garçonete levará em um minuto, vocês pegam quando terminarem. 
Eles agradeceram, enquanto Kyuhyun sorria, fazendo meu coração disparar. 
- Vamos Ayu, me belisque! - Pedi, quando fui ajuda-la a preparar as bebidas deles.

- Olha para uma das mesas a direita. 
- Do que está faland...- Quando ela finalmente os viu, quase derrubou o copo no chão - Não pode ser! 
Como ela trabalhava na preparação, ela ficava de costas para o balcão. Praticamente não via os clientes.
- Isso mesmo! - Exclamei, com um sorriso bobo no rosto.
- Justo aqui? - Ela disse, surpresa - Com tanto lugar para viajar...Deve ser muita sorte. 
- Para nós né. O Heechul e a Well quase discutiram. 
- E ele lembra dela? 
- E como ele poderia esquecer dela? - Ri. Ayu também riu, enquanto terminava de enfeitar o copo com do suco de abacaxi com algumas folhas de hortelã. 
E quanto todos os copos finalmente estavam prontos, a vontade de levar pessoalmente era muito grande. Eu prometi que cobriria Well, mas o movimento havia começado a aumentar de novo, fazendo com que Bia assumisse o papel de garçonete.
A minha vontade era de pegar a bandeja e ir entregar pessoalmente, mas não queria deixar aquilo transparecer muito. E mais uma vez está lá, atrás daquele balcão, anotando pedidos, enquanto tentava prestar atenção na conversa daqueles coreanos. Pelo que consegui contar, eram poucas as pessoas que os reconheciam ou pediam autográfo. Cinco no total. Alguns passavam de lado e cochichavam com a pessoa ao lado. E cada vez que isso acontecia, mais desanimada eu ficava. Embora um amasse ele, como ídolo, ou como um homem, ele jamais poderia corresponder. Jamais. 
Foi ai que comecei a rezar para que lotasse o quiosque, para que eu ficasse olhando para ele o tempo todo. Se não tinha ninguém para atender, eu ia ajudar a lavar os copos, ou simplesmente arranjava alguma coisa idiota para fazer. Embora não estivesse saindo tudo tão bem assim., durante a hora que eles ficaram na mesa, não consigo contar nos dedos de quantas vezes me peguei olhando para ele sem perceber. Parece basteira, mas juro que ele também olhava para mim. Só não sei se era realidade ou invenção da minha cabecinha. 

- Hey Carla, acorda - Ayu me cutucou, quando eu estava em pé, de costas para a mesa do Kyuhyun, perdida nos meus pensamentos. Nem preciso dizer que quase infartei ali mesmo - Kyuhyun está no balcão para pagar, vai lá. 
Ok. Respira fundo. 
Minhas pernas começaram a tremer. E eu quase caí enquanto ia em direção a caixa registradora. Ele estava de lado, segurando notas de dinheiro na mão.
- Esse lugar é lindo, não é? - Ele perguntou, admirando o mar. 
- Pois é, lindo - Respondi envergonhada - São 3,500 ienes. 
- Aqui está - Ele respondeu, me entregando várias notas de 1,000 ienes, todas as que estavam em sua mão. Nessa hora, Siwon gritou seu nome e falou em coreano "Venha aqui". E ele, simplismente saiu correndo. 
- Peraí! - Gritei, sem entender nada - Acho que você tem troco... 
Começei a contar o dinheiro novamente, que já passava dos 6,000 ienes, quando percebi um papel branco, dobrado no meio das notas, com o número de um celular. E um "Me liga" no final, com o nome dele escrito embaixo. 
Quando eu levantei os olhos para fita-lo novamente, ele já me encarava, com um sorriso largo estampado no rosto. E antes de se virar e sair andando com os outros meninos estavam fazendo, ele piscou. Nem preciso dizer que meu coração quase parou. E se não fosse a Ayu me chamar para a realidade mais uma vez, eu teria ficado ali, assistindo aquele coreano se distânciar do quiosque. 

To be continue...