Diário De Cris Sulivan escrita por Bri


Capítulo 6
4. O Cérbero




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UM POUCO MAIS DO DOMINGO, 4 DE JANEIRO DE 2009

Eu ia ficar no dormitório de numero 71 que ficava no oitavo andar, traduzindo: eu vou ter que subir todo dia oito lances de escadas para finalmente chegar ao meu quarto.

Eu ia morrer Melane.

Mas apesar de que eu vou ter que subir oito lances de escadas todo santo dia em que eu estudar aqui tinha uma vantagem. Adivinha Melane? Eu não ia ter colegas de quarto. Eu quase dei um pulo de animação quando a Karina disse isso, mas é claro que eu me controlei. Sabe é que eu não tenho muita sorte nesses lances de colegas de quarto. Quando eu estudava fiquei no mesmo quarto de uma garota que simplesmente me odiava por ter nascido. Então essa noticia foi mais como um alivio. E adivinha mais? Eu não ia ter vizinha, ou seja, naquele corredor o único quarto ocupado seria o meu. Fiquei ainda mais feliz quando ela me disse isso, quase chegou a recompensar que eu ia ter que subir todos àqueles lances de escada.

De acordo com Karina aqui em Green Hill tem 140 alunas e em cada corredor a dez quartos que abriga dois em cada um, então fica vinte alunas por andar. Então depois que eu entrei ficou 141 alunas e é por isso que eu não tenho colegas de quarto e nem vizinhas. Entendeu Melane? Espero que sim, pois eu não vou explicar de novo.

Karina me disse que assim que eu guardasse a pasta poderia descer para almoçar e também me avisou que as minhas malas já estavam lá. Dentro guardadas. Então Melane eu simplesmente jogue a pasta de qualquer jeito em cima da cama e desci sem ver direito o meu quarto ou para checar se realmente minhas malas estavam lá, afinal o meu estomago estava clamando por comida.

Eu desci as escadas  mais rápido do que subi e isso porque eu estava descendo de dois em dois degraus. Queria o que? Eu estava com fome. É claro que com isso eu tropecei duas ou três vezes com alto risco de cair, bater a cabeça e morrer com traumatismo craniano. Melane eu estou com tanta fome que estou falando igual a minha mãe — sem ofensas mamãe querida.

Quando eu finalmente desci as escadas eu vi que a sala de estar estava ocupada por um grupo de garotas com risadas escandalosas. Eu pude reconhecer a garota de porcelana e ate algumas garotas que estavam com ela, mas não liguei e nem tive tempo de observar, afinal Melane a minha barriga deu outro ronco daqueles.

Repeti o mesmo caminho que tinha feito minutos antes com o coordenador, sem prestar atenção e nada. Finalmente pude chegar ao refeitório, que, como eu percebi Melane, estava completamente vazio, de alunos quero dizer, pois havia varias empregadas — com roupas brancas e toucas — tirando o resto da comida das bandejas. E Melane quando eu digo resto é porque era só o resto, as sobras, o que sobrou de uma comida e mais outros adjetivos.

— Não! — Espere um pouco, eu falei isso alto Melane?

Infelizmente eu falei e infelizmente Melane uma mulher me escutou.

Ela usava uma roupinha branca como as das outras e uma touca perdendo os seus cabelos. .  Um óculos de lentes quadradas pendia na ponta de seu nariz e não demorei muito para perceber que ela tinha um semblante zangado. Sua pele era bastante enrugada e ressecada, mas se olhasse bem você poderia ver uma verruga horrorosa que ela tentava esconder com a touca. A coisa parecia ate ter rosto ou pior, parecia viva. Mas tinha uma coisa nela Melane que me chamava à atenção e não era aquela verruga em sua testa do lado direito. Não sei, mas acho que era me parecia familiar...

— O que foi? — perguntou ela usando  o seu visível mal humor.

Foi impressão minha Melane ou aquela verruga se mexeu?

— É que eu ainda não almocei...

— Problema seu — disse ela antes que eu pudesse terminar de fala. Ela com certeza não recebeu educação. — Você teve duas horas para almoçar e não comeu porque não quis — ela ficou de costa como se eu não estivesse ali.

Um fato sobre o Cérbero — que é o cachorro de três cabeças que guarda os portões do inferno e foi como  eu quis nomear a filha do cão, quer dizer, essa filha de deus Melane —: Eu com certeza odeio ela.

— Mas o coordenador disse que eu podia vim aqui...

— Não quero saber do coordenador — disse ela sem me deixar terminar a frase — quem manda na cozinha sou eu.

Ok. Com certeza essa mulher vai para a minha lista negra —nem me pergunte se eu tenho listra negra Melane.

Voltei para o dormitório com a barriga colada nas costas e com muito raiva do Cérbero. Poxa o coordenador disse que tinha almoço guardado para mim e vem essa infeliz e diz que não.

Será que da para melhorar?

Eu já estava para subir as escadas quando Karina me chamou.

— Já almoçou querida — perguntou ela com gentileza.

Claro que não, lá no refeitório a um demônio — desculpa Melane — com muita falta de educação, por sinal, que não quer me deixar almoçar, eu quase disse isso para Karina, mas pensei que ela ia ter uma visão negativa de mim nos primeiros dias.

— Não — disse com a maior cara de vitima, afinal era isso que eu era Melane, certo? — O Cér... — eu quase ia dizendo Cérbero — quer dizer, a mulher que estava limpando lá disse que não podia comer depois do horário.

— Essa mulher tem uma um rosto enrugado e uma verruga monstruosa? — perguntou Karina e eu afirmei com a cabeça. Pelo visto não era só eu que achava a verruga do Cérbero monstruosa Melane. —Venha comigo.

Karina andava em passos largos em direção ao refeitório. Eu quase tive de correr para poder acompanhá-la e quase tropecei uma ou duas vezes. Estava muito visível que eu e Karina tínhamos a mesma opinião Melane, pois ela resmungava de vez em quando coisas tipo: “Aquela mulher não tem jeito” ou “Quem ela pensa que é para não obedecer a uma ordem direta do coordenador?”. Eu disse a Karina que o Cérbero deixou bem claro que o coordenador  não mandava ali e tenho certeza que ela ficou com mais raiva ainda do Cérbero.

Ops. Eu acho que alguém ta encrencada Melane.

Quando entramos no refeitório pude ver o Cérbero reclamando com uma das empregadas por ter deixado o pano cair. Será que aquela mulher é paranóica Melane? Eu sinceramente não sei e nem quero saber quem é o medico dela.

— Fique aqui e se sente em qualquer mesa que quiser — disse Karina antes de ir com passos largos em direção do Cérbero.

Depois de um tempo discutindo e uns olhares malvados do Cérbero para mim, ela veio trazendo uma bandeja em minha direção com um sorriso tão amargo que parecia uma careta.

— Desculpa Sulivan, espero que você tenha uma boa refeição — porque será Melane que aquilo soou mais como um “Espero que você morra engasgada”.

Depois disso ela praticamente largou a bandeja na minha frente — quase derramando o suco de maracujá — e saio com passos largos e reclamando do seu emprego.

Karina apareceu logo em seguida e deu um sorrisinho de cumplicidade. É Melane ela não era nenhuma senhora mexicana que me dava doces, mas ela era bem legal.

Feliz por finalmente comer, peguei os meus talheres e comi muito de vagar a minha salada com arroz e bife, demorando o Maximo possível para deixar o Cérbero com mais raiva ainda.


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