Era uma noite tenebrosa aquele dia. A pequena cidade que se erguia por dentre as arvores agora estava em ruínas. O fogo se espalhava por entre os corpos e restos das moradias, agora destroçadas.

Em meio a todo aquele caos, iluminada apenas pelas chamas do fogo crepitante, uma figura de longas asas e negras se fazia presente. Esta erguia em sua mão esquerda o corpo de um homem aparentemente sem vida. Logo o ‘monstro’ largou sua vitima deixando-a cair sobre a pilha de corpos que ali se formara.

A criatura apenas virou-se ao escutar um choro por entre os mortos. O brilho vermelho de seus olhos destacava-se em meio à escuridão da noite. Seus cabelos negros curtos  esvoaçaram quando a brisa passou levando consigo o ar fétido dos corpos. O sorriso que se abriu em seus lábios fora tão sádico quanto o de qualquer outra criatura da noite.

A criatura horripilante, por assim dizer, lambeu o lábio superior preparando-se para a sua ultima e mais jovem vitima. Caminhou em passos largos ate a criança que a cada instante chorava mais e mais. Respirou lenta e profundamente sorvendo o cheiro que rodeava aquele garotinho puramente inocente, mas que certamente em um futuro próximo tornar-se-ia um assassino, assim como os seus pais e os antecessores a estes.

Olhou para a luz lunar que vinha por dentre as nuvens escuras daquele céu que tomava tons alaranjados com o nascer do sol. Voltou a direcionar suas orbes, que agora tomava a cor de esmeralda, para o garotinho que observava a criatura com temor.

O menino secou suas lagrimas enquanto ainda matinha seu olhar sobre a criatura. O ódio crescia em seu peito e este jurou que, se escapasse com vida, vingaria toda a sua família que foi assassinada a sangue frio.

Ele observou atento o rosto do monstro. Era uma mulher? Perguntou-se.

Sim, uma mulher. Mas não qualquer uma. Chifres negros erguiam-se em sua cabeça, presas cintilavam em sua boca, garras se formavam em suas mãos, uma cauda, coberta por escamas grossas e prateadas, continuava sua coluna vertebral, seu vestido vermelho de frente única descia colado ate sua cintura, onde uma saia longa descia com alguns rasgões, seus pés descalços com alguns vergões indicavam que a batalha havia sido um pouco dura.

A ‘mulher’ continuou a olhar profundamente nas orbes negras da pequena criança. Ela sabia que o pequeno estava tanto com medo quanto com ódio.

A mulher monstro abaixou-se lentamente ainda mantendo seus olhos fixos nos na criança. Devagar aproximou sua mão do rosto deste, que ficou paralisado com a ação dela. Com o polegar secou uma das muitas lagrimas que escorriam pela face do garoto, logo levando o dedo à boca e sentindo o gosto salgado apoderar-se de seu paladar.

- Você vivera – sussurrou a mulher, erguendo-se e desaparecendo em um bater de asas.