Lá estava eu, com os mesmos cabelos pretos, com os mesmos olhos azuis, a mesma pele branquela, a mesma menina sem graça sentada no chão de madeira do orfanato, a propria ovelha negra na noite de natal.

Porque a ovelha negra? Bom, vou lhe esplicar:

Primeiro: Todas as meninas desse orfanato são anjos por fora : todas são loiras de olhos azuis; menos eu.

Segundo: Sou travessa, quase nunca bem comportada quando tem vizitas no orfanato.

Terceiro: A maior parte das garotas daqui preferem bonecas, coisas fofas e sei lá o que mais (glitter?), ja eu prefiro aranhas, doces, morcegos, coisas que fariam essas meninas sairem correndo e gritando. Talvez seja por isso que ninguem quer me adotar, afinal quem iria querer uma pestinha ao invés de um lindo anjinho que se comporta bem?

Se isso me importo com isso? Não muito, já estou acustumada ao fato de ninguem me querer quando as pessoas vem ao orfanato.

--- Francis! Francis! - gritou a madre superior.

---Sim, madre? - respondi sem vontade

--- Não me venha com "sim,madre" e mostre respeito quando for falar comigo - disseo com raiva como sempre que falava comigo --- Agora venha - disse pegando meu braço e me puxando --- É vespera de natal, muitas adoções ocorrem agora e eu não posso peder a chance de me livrar de uma peste como você. Agora vá se arrumar! - dizendo isso me empurrou para dentro do meu quarto.

---Afz - suspirei, este é o decimo terceiro natal que a madre tenta se livrar de mim, como se eu também não quisesse me livrar dela.

Abri o grande ármario de carvalho e reterei o meu uniforme, o mais surrado por sinal, lhe faltavam dois butões dos bolsos e estava meio rasgada na manga direita, mesmo assim, eu adorava aquele uniforme.

Escovei os cabelos os pondo em uma tranças, pus o uniforme e os sapatos e fui ao salão principal.

---Muito bem meninas, em formação - todas nós ficamos em fileiras --- Sorriam e sejam os anjinhos que sei que vocês são - disse dossilmente para as outras garotas, então se voltou a mim --- E você seja o anjo que sei que você não é.

Forcei um sorriso que no final saiu meio torto.

Casais chegam, casais saem, e pela primero vez em um natal ninguem foi adotodada, e assim que o ultimo casal saiu do orfanato foi um chororô. Todas as meninas se culpavam e/ou culpavam os casais por não adota-las.

Isso não me importava, fui em direção da lareira onde se encontrava uma grande árvore de natal, sentei-me sobre minhas pernas e a fiquei observando. Eu nunca havia ganhado um presente de natal na vida, a madre sempre pega os meus presentes antes que eu os pegue e me diz que eu não mereço nada.

--- Rapido meninas! Vão durmir, amanhã é natal e todas vocês vão abrir seus presentes - disse a madre tentando consolar as outras meninas. Então ela me viu. --- Ahhhhh, acha mesmo que vai ganhar algo esse ano? - disse com uma pontada de ironia --- HÁ! Não me faça rir! - me pega pela orelha.

--- Ai,ai, ai, ai ,ai!

--- Já pro quarto - me leva até o quarto me puxando pela orelha.

--- Mas-

--- Mas?! Você disse mas?! - me joga dentro do quarto --- Agora você vai ficar ai trancada até amanhã! - dito isso fechou a porta e a trancou antes que eu pudesse fazer alguma coisa.

Senti uma imensa raiva dentro de mim, me joguei na velha cama e pus o travesseiro sobre minha cabeça.

Começei a sentir as lagrimas escorrerem de meus olhos, quis parar mas simplesmente não conseguia, elas saiam sem que eu quisesse.

Fiquei em silência, não ia dar esse przer a madre, o prazer de saber que eu estava chorando.

Fiquei quieta com a visão embaçada por lagrimas, olhando o tempo passar e acabei adormecendo.