Blasphemy escrita por Hoppe


Capítulo 4
Fracos ou fortes


Notas iniciais do capítulo

Oii :) desculpem pela demora! Espero q gostem!
Bjoos ♥



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Chapter Three

As semanas correram tão rápidas, que logo o dia 30 de julho amanheceu. Perto da mansão dos Greengrass, havia um imenso lago onde no verão, Astoria costumava nadar. No entanto, aquele dia era diferente. Ela estava parada na beira do lago, não para sorrir, brincar, rir ou nadar.

Sua expressão sempre vista feliz e risonha, já estava diferente ali. Os grandes olhos cheios d’água, a expressão melancólica e o coração pulsando de forma arrastada, que a cada batimento pareciam se despedaçar dolorosamente.

Bem ali também, havia a mansão dos Malfoy que ironicamente eram vizinhos dos Greengrass. O rapaz Malfoy andava distraidamente pelos arredores, não havia dormido a noite e isso explicaria as profundas olheiras sob seus olhos metálicos e seus cabelos platinados desarrumados.

Ele logo a viu, parada na margem do lago gélido. Havia uma densa cortina de neblina que cobria as montanhas mais a frente e a grama verde do chão. Sorrateiramente, ele se aproximou dela encolhendo-se em seu casaco pesado.

Astoria sequer o fitou, continuou com os olhos distantes fixos no além, imóvel. Um silêncio profundo se fez entre eles, os olhos de Draco observavam cada mínimo movimento que Astoria fazia estranhando seu silêncio absurdo.

– Vovó faleceu... – murmurou ela quebrando o silêncio – Essa madrugada...

– Meus pêsames... – foi a única coisa que Draco pôde dizer. Realmente, não sabia lidar com aquela situação. A morte. Seus únicos familiares eram seus pais, já seus parentes, a maioria já estavam mortos e outros, distantes, traidores do próprio sangue. Sem dúvidas, não sabia lidar com aquilo e muito menos, consolar alguém, o que com certeza, não faria com ela naquele momento.

– Já estava doente... – sua voz voltou a ficar doce e infantil – Varíola de Dragão, foi fatal para a sua idade. Mamãe não quer ir ao enterro dela... – continuou – Muito menos Daphne, não eram muito apegadas. Terei de ir sozinha...

– Quer que eu vá? – ele, novamente, perguntou sem pensar. Ela, por sua vez, levantou os olhos aos seus, surpresa.

– Não vai querer ir... – ela forçou um sorriso fraco – Sei que não sabe lidar com isso, Draco.

– Posso tentar... – murmurou ele e novamente, ela o fitou, surpresa.

– Já lhe disse... Não vai querer ir – repetiu ela, lentamente se virando de volta para sua casa. O casaco pesado que cobria seu corpo frágil não parecia esquentá-la o bastante e suas botas de camurça, marrom a impedia de afundar nas poças de água.

Ele suspirou fazendo com que uma névoa densa e branca se formasse no ar.

– Está me impedindo de ir? – perguntou com uma pontada de arrogância – Impedindo um Malfoy de ir?

– Só estou impedindo de tornar seu dia depressivo... – ela apressou os passos em direção a mansão Greengrass, no final da imensa rua.

– Sabe quando dizem que algumas pessoas precisam de um ombro para chorar? – ele a seguiu – Bom, essa frase com certeza não se encaixa a mim.

– Então por que quer ir? – ela se virou rapidamente para ele.

– Nunca fui em um enterro... – ele deu de ombros.

O silêncio novamente se fez, ela parou de andar e virou-se para ele.

– Tem certeza de que quer ir?

– Acho que sim... – era estranha a combinação dos olhos metálicos de Draco Malfoy com os olhos castanhos de Astoria Greengrass.

 ***

– Está pronto? – perguntou ela a ele, diante da pequena chaleira de ferro, pesada. Uma chave-portal.

Ele simplesmente assentiu com a cabeça. Juntos, tocaram a mão na chaleira que começara a brilhar intensamente, ela se ativara. Instantaneamente, sentiram seus corpos serem puxados com um solavanco.

Tudo girou, cores rodavam ao redor deles e era como se o chão não existisse mais. E então, tudo parou de forma abrupta.

Ela abriu os olhos sentindo um aperto em torno do seu corpo, aquecendo-a. Sua visão ainda era difusa e turva e sua cabeça latejava.

– Draco? – ela sussurrou devido à dor que lhe parecia insuportável. Pressionou com força as têmporas enquanto tentava se colocar de pé.

Ela sentiu algo sob seu corpo e rapidamente se afastou. E logo que constatou que era apenas Draco, lhe estendeu a mão e o ajudou a se levantar.

– Você está bem? – perguntou ela cautelosa e gentil.

– O que você acha? – rebateu ele com arrogância e pareceu que ela não se importara.

– Venha... – Astoria o puxou pelo braço na direção sul – É ali.

Andaram por muito tempo contra o vento gélido que a cada instante parecia ficar mais forte. E quando finalmente avistaram o campo aberto, onde ali estavam muitas pessoas, Astoria parou deixando novamente, seus olhos distantes.

Draco a fitou, inexpressivo.

– Quando você quiser... – ele murmurou baixo e ela assentiu, respirando fundo. Recomeçou a andar, lentamente e Draco a acompanhou, logo atrás.

Desceram a colina e pararam um pouco distante das pessoas que rodeavam o caixão. Ela novamente respirou fundo e voltou a andar.

– Pequena Astie! – três senhoras elegantes a pararam com um sorriso. Não o sorriso que Draco via estampado na maioria de suas tias. Era algo assemelhado a ternura... Carinho, doçura.

Astoria abraçou a senhora do meio.

– Onde está sua mãe? – perguntou a senhora de cabelos negros, da ponta.

– Não veio... – respondeu Astoria.

– Era de se esperar... – murmurou a da outra ponta e logo, seus pequenos olhos negros envoltos pelos óculos redondos pararam em Draco – Ora... Quem é esse belo rapaz?

Ela se aproximou dele, sorrindo.

– Draco... – murmurou ele – Draco Malfoy – e ele nunca tivera tanta vergonha em pronunciar seu sobrenome. Depois de tudo, sentia-se altamente repulsivo e sujo pelos atos que seu pai fizera em nome de Lord Voldemort.

Inesperadamente, a senhora o abraçou ternamente.

– Obrigada por acompanhá-la, meu rapaz – falou ela baixinho e ele, por sua vez, a fitou inexpressivo – Aliás... Mande um abraço a sua mãe. Faz um tempo que não a vejo – ela sorriu.


Aos poucos, o pôr-do-sol era visível naquele imenso campo aberto. A terra já cobria quase inteiramente o caixão e até aquele momento, Draco não vira uma lágrima sequer cair dos olhos de Astoria. Era visível sua dor e sua tristeza, no entanto, ele poderia naquele momento considerá-la forte.

– Tenham uma boa viagem, crianças – murmurou a senhora de olhos negros enquanto Astoria e Draco subiam a colina e voltavam para o lugar onde a chave-portal estava.

Em silêncio, tocaram a chaleira e sentiram a mesma sensação. Um solavanco abrupto e uma tontura repentina.

Draco se levantou do chão sentindo seus braços tremerem, ele suspirou sentando-se na grama fria ainda coberta pela fina cortina de neblina.

Ele olhou ao redor e não houve nenhum sinal de Astoria, apenas soluços que ecoavam por ali. Bem perto.

– Greengrass... – murmurou ele cautelosamente levantando-se do chão e se deparando com um extenso bosque com árvores por todos os lados.

Andou silenciosamente por entre elas, ele a encontrou encolhida perto da mais alta árvore. Lentamente, agachou-se ao seu lado.

– Não devia chorar... – murmurou ele friamente e ela levantou os olhos para os seus.

– Diga-me um motivo...

– Chorar é para os fracos... – ele soltou uma risada de escárnio.

– Não é errado chorar, se quer saber... – ela o fez parar de rir – É algo que as pessoas fazem depois de muito tempo, sendo fortes.

Ele a fitou curiosamente. Não queria admitir para si mesmo que ela, de alguma forma, estava certa.


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