Capítulo 99 - Último Fôlego

  Álvaro havia utilizado um de seus últimos recursos: uma bola de tênis com gás lacrimogênio em seu interior. Quem estava na plateia podia sentir os efeitos levemente. Já Gaspar, o oponente de Álvaro, estava bem no meio de toda a concentração de gás. Com os olhos irritados, ele não podia enxergar nada.

"É minha chance!", pensou Álvaro, sentindo que se fizesse os movimentos corretos poderia garantir sua vitória. Mestre Geraldo, o árbitro da luta, também estava tendo dificuldades, mas não contestou a ação de Álvaro.

- Tome isso! - gritou o tenista, pegando duas bolas de tênis de sua mochila e atirando-as com sua raquete, com o máximo de força que conseguiu. Essas bolas foram arremessadas com tanto impacto, que acabou atingindo a barriga de Gaspar intensamente. Enquanto o espadachim se contorcia com o primeiro golpe, a segunda bola o atingiu bem na cabeça, levando-o ao chão.

- Não dá pra ver direito, mas parece que ele caiu - falou Lien, torcendo para que a batalha terminasse logo.

- Beleza! O Álvaro ganha agora! - André comemorava.

  De fato, Gaspar estava caído no meio da arena e Álvaro saltou para mandar seu último arremesso. Mais uma bola no peito de Gaspar o levaria a nocaute, com certeza (ou pelo menos o deixaria no chão por mais de dez segundos). Álvaro colocou toda a sua força interior naquela raquetada e atirou a bola com tudo. O resultado parecia favorável ao tenista, mas algo inesperado aconteceu.

- Mas o quê? - Alex estranhou ao ver um brilho diferente no meio da fumaça de gás lacrimogênio. No início, ele imaginou que estivesse vendo coisas por conta de seus olhos também estarem um pouco irritados, mas os outros também compartilhavam da mesma observação.

- O que é aquilo? - estranhou Astolfo.

- É o que eu ia perguntar - comentou Kéfera - Alguma coisa...está brilhando?

- Não é possível...será que aquele garoto? - Mestre Wong parecia ter uma suspeita em mente.

 A verdade estava bem diante dos olhos de Mestre Geraldo. Gaspar parecia ter levitado a sua própria espada através de sua energia interior e utilizado essa energia para rebater o golpe de Álvaro. A bola lançada foi rebatida para algum lugar da Academia, mais especificamente, em uma janela fechada.

- Que barulho foi esse? - perguntou Lien, percebendo que o som de vidraça quebrada vinha de trás.

- Aquele cara...acabou com a minha vidraça! - reclamou Mestre Wong - Vocês vão pagar por isso!

- Hehehe. Quando a academia for nossa...pagaremos com muito prazer - disse Geraldo, rindo da situação, afinal, o membro de sua equipe estava se recuperando - Mas primeiro...veremos Gaspar derrotar seu oponente.

- Impossível - reclamou Álvaro, vendo que seu adversário se levantava lentamente. Gaspar ainda sentia o impacto dos golpes anteriores, mas sua espada conseguia ser controlada por sua energia interior à distância.

- Minha espada estava intensamente carregada com meu próprio ki - falou Gaspar - Embora eu precise gastar boa parte da minha energia para controlá-la à distância...

 E a espada voltou para a mão dele, como um sabre de luz volta para as mãos de um Jedi (*).

- Isso...é totalmente contrário às leis da física! - comentou Alex.

- Em lutas de alto nível...podemos ver isso - falou Amanda - É sinal de que Álvaro o obrigou a chegar nesse ponto!

- O Álvaro...estranho, né? - disse Alex.

 Mas Gaspar sabia que Álvaro deu muito de si naquela luta.

-  Devo admitir que aquele gás lacrimogênio foi inesperado - disse o espadachim, embora sem mudar sua expressão séria em momento algum - Sinto os meus olhos irritados até agora.

"Aquela era a minha única bomba de gás", pensou Álvaro, "Agora...não tenho muita saída...talvez...como ele já gastou toda a energia..."

- Bem, acho que o efeito do gás já acabou - disse Gaspar - Podemos continuar?

 Álvaro agarrou sua outra raquete e, com os dois braços armados, resolveu partir para cima.

"É tudo ou nada!", pensou o tenista.

 E Álvaro investiu contra Gaspar. O espadachim defendia tudo e Álvaro usava toda sua velocidade e empenho para tentar desarmá-lo. Ao que parecia, o tenista estava em uma situação de desespero.

- Ele...está indo com tudo mesmo, né? - comentou Alex, sem tentar perder um segundo da ação com sua câmera.

- Isso é mau - falou Lien - Se ele se desesperar assim...vai ser uma presa fácil.

 Mas a luta continuava. Mesmo com pouca energia, Gaspar ainda defendia tudo facilmente. No entanto, o espadachim deixou uma única brecha que permitiu ao tenista atingi-lo na costela do lado. Ele sentiu o impacto e Álvaro aproveitou para atacar por cima com a outra mão. No entanto, Gaspar defendeu essa. Mesmo com o braço um pouco mais fraco, Gaspar defendeu a raquetada e começou a concentrar sua energia.

- Acho que...já chega - falou Gaspar, voltando a concentrar suas energias na espada e lançando uma rajada de energia interior na direção de Álvaro. O impacto foi forte, forte o bastante para lançar o pobre tenista para fora da arena.

"Ele..ainda tinha tudo isso de energia?", pensou ele, com lágrimas nos olhos. "Não dá pra vencer esse cara...perdão, Lien Wong...não vou conseguir evitar de sair do ringue...droga."

 Álvaro caiu fora do ringue. Lien desviou o olhar, mas era a realidade. Gaspar havia vencido e garantiu mais um ponto para a Liga de Academias. A batalha havia se encerrado.

- Fim de luta. Gaspar, da Liga de Academias, venceu! - disse Geraldo, levantando as mãos e anunciando a vitória de sua equipe.

- Aí sim! - exclamou Golias - Mas bem que podia ser mais rápido.

 Gaspar não disse nada. Apenas fez uma pequena reverência a Álvaro e saiu de cena. Dois a zero para a Liga.

 Álvaro também estava caído, sem forças para levantar. Lien e André se aproximam dele.

- Lien Wong... - balbuciou ele, em tom choroso - ...eu...eu não pude cumprir minha promessa. Não mereço o seu amor por mim.

- Que amor o quê?! - reclamou a garota.

- Lien Wong... - o tenista repetia.

- Mas...você lutou bem...preciso reconhecer - disse Lien.

- Levante-se - disse André, sorrindo - Foi uma ótima luta. Seu adversário é que era forte demais.

- Primo da Lien Wong... - Álvaro levantou-se aos prantos e abraçando André - Você é mesmo um grande homem!

- Eu não sou...ah, deixa pra lá - reclamou André, sem saber bem o que fazer.

- André - disse Amanda, se aproximando do grupo.

- Sim? - André atendeu prontamente.

- Você tem consciência da situação em que estamos, não tem? - disse ela - Agora...estará tudo em suas mãos.

 André sentiu seu coração bater mais rápido, mas era a verdade. A única forma da Academia Wong vencer seria conseguir a vitória nas próximas duas lutas.

- P-precisamos vencer as outras duas, não é? - gaguejou o rapaz.

- André... - balbuciou Lien, meio chorosa.

- Não se preocupe comigo - falou Amanda, meio que desviando o olhar - Eu vencerei a próxima luta. Mas estou preocupada com você.

- Concentre-se na sua luta - disse André - Eu...estarei bem.

 Já do lado da Liga, o clima era de vitória, mas com um pouco de tensão.

- Agora é só a Lisandra garantir a luta que eu não vou nem precisar me dar ao trabalho de subir nesse ringue - falou Golias - Por outro lado...seria legal dar uma sova naquele almofadinha ali...

- Já disse para não subestimá-los - falou Tanaka - Gaspar e eu vencemos, mas não quer dizer que foi fácil.

 Gaspar concordou com a cabeça.

- Se eu não usasse boa parte da minha energia para rebater aquela bola quando caí... - balbuciou o espadachim - ...eu teria perdido.

- Vocês são humildes demais - falou Golias - Devem ter guardado o ouro. Seja como for, você garante essa, né, Lisandra?

- Garanto - falou ela - Pode deixar comigo!

 A próxima batalha entre garotas está prestes a iniciar: Amanda contra Lisandra.

(*) = Referência a Guerra nas Estrelas