Capítulo 77 – Procurando os mestres

Tales, o irmão mais novo de André, estava saindo da mesa de jantar, quando finalmente viu seu irmão abrir a porta. André praticamente desmaiou quando chegou em casa.

-Meu Senhor...achei que não fosse chegar nunca – disse ele, com voz fraca.

-Que é isso, mano? - perguntou Tales – Você tá quase morrendo!

-O que aconteceu? - a mãe de André chegou e viu a cena – Céus! O que aconteceu, André? Te atacaram no meio da rua?

-Não, mãe. Foi o treinamento de hoje – disse ele.

-O que é iss? O Mestre Wong está abusando violentamente de você? Se quiser, eu vou falar com ele e..

-Não, mãe! Por favor! Fui eu quem pediu para intensificar os treinos!

-Mas...do jeito que você está...é como se tivesse brigado com um urso!

-Foi mais ou menos isso – respondeu André, juntando forças para se levantar – Mas...é necessário. Eu preciso ficar mais forte em menos de um mês.

-Nossa! Parece até um mangá! - disse Tales.

-É sério – falou André – Se eu não conseguir ficar forte...não vou conseguir ajudar nem a Lien e nem o Mestre Wong.

-Mas, filho...

-Deixe-o, querida – disse o pai de André, chegando na sala naquela hora – André já é quase um homem. Se essa é a decisão que ele tomou...

-Sim. É necessário – falou André – Eu só vou tomar banho, comer alguma coisa leve e ir pra cama.

-Três semanas? Será que ele aguenta? - perguntou a mãe dele. Mal sabia ela que essa foi a mesma pergunta que Lien fez quando os próximos treinos de André iriam começar...naquela mesma tarde.

-Será que ele aguenta? - questionou Lien, no treino de algumas horas atrás.

-Já disse que não serei bonzinho dessa vez – falou Mestre Wong.

-Por favor, Mestre – disse ele – Faça o que deve ser feito e..aff!

Mestre Wong encaixou um golpe na barriga de seu discípulo, jogando-o longe.

-O treino já começou, André – falou ele – Dessa vez, eu vou lutar diretamente contigo.

-Ah, isso vai ser bom! - disse Alex, já preparando sua câmera.

-Você adora isso, né? - perguntou Lien.

-Nem vem...o André disse que assistindo os vídeos do treino, ele aprende muito. Não é?

-Não posso falar agora, Alex..aah! - Mestre Wong não dava trégua.

-André! Lutará comigo o tempo todo, com pausas de um minuto, no máximo – disse o velho Mestre – Este será seu treino durante a primeira semana.

-C-Certo. Au! - Mestre Wong o atingiu mais uma vez.

-Não pegarei leve na força dos golpes. Se não quiser sair daqui tão dolorido, é melhor começar a se defender.

-Mas..ai! - e ele leva mais um chute do lado, seguido de outra sequência de golpes – O senhor é muito rápido...e forte.

-Eu sei – disse Wong – Mas aquele Golias deve ter golpes mais fortes que os meus. Se não suportar ataques com a minha força, não vai durar nem um segundo na arena com aquele monstro!

-André! - gritou Lien – Tente procurar alguma brecha! Você é bom nisso!

-Será que vai conseguir? - provocou Mestre Wong, aplicando mais um ataque, dessa vez tão rápido que André mal viu seu mestre sair de sua frente e atingi-lo pelas costas – Vamos! Você mesmo disse que quer treinar dez anos em três semanas, não é? Se quiser ter o mínimo de chance contra Golias, vai ter que ser nesse ritmo!

-C-Certo – falou André, preparando-se para levar mais ataques. Essa seria sua rotina durante aquela semana. Mas como os outros membros da equipe que enfrentaria a Liga de Academias estaria se preparando?

Naquela mesma tarde, na Academia de Karatê da cidade, Astolfo chegou com uma empolgação maior que a comum.

-Mestre! Mestre! - disse ele – Preciso de um treino mais pesado!

-Hã? Um treino mais pesado? - perguntou o professor dele, que mal acabara de chegar.

-Sim! Preciso...ficar mais forte em três semanas – falou ele.

-Mas você já é um dos mais fortes daqui, Astolfo – disse o professor – Não vai demorar muito para pegar a faixa preta.

-Mas ainda tem alunos fortes, não tem? - perguntou ele – Diga que tem. Diga que tem. Preciso lutar com essas pessoas, até ficar bem forte mesmo!

-Por que quer ficar tão forte?

-Fui convidado para enfrentar a Liga de Academias e...

O professor conseguiu interromper Astolfo naquele mesmo instante.

-A Liga de...Academias? - balbuciou o mestre de karatê, nervoso – Como isso foi acontecer?

-Na verdade alguns amigos meus que foram chamados. Daí eles me incluíram na equipe. Vai ser daqui a três semanas na Academia Wong na entrada da cidade. Não sei o quanto esses caras são fortes, mas eu queria...

-Para ficar no nível daquela Liga...você vai precisar treinar demais – disse o professor – Astolfo! A partir de amanhã, você lutará em todas as aulas do dia. Não se preocupe com preço, nem nada. Eu insisto que você treine duro! É por minha conta!

-Sério, Mestre? Tá falando sério?

-Se a sua equipe ganhar...nossa Academia também leva um crédito. Considere isso como um investimento.

-Valeu. Hehe!

Naquela mesma tarde, Álvaro também estava na quadra, treinando rebater bolas no paredão. Mas seu estilo não era muito apropriado para lutas.

“Não é o suficiente”, pensou ele, secando o suor da testa com o braço. “Preciso de um método de treinamento muito mais rigoroso. Se a Amanda Viena está temendo aquela Liga...é porque são adversários de alto nível”

-Ei, Álvaro! - chamou um dos alunos da equipe de tênis – Tem uma menina querendo falar com você!

-Comigo? - respondeu ele – Sei que meu charme é indiscutível...mas meu coração já pertence a outra pessoa. Sem contar que agora estou precisando me concentrar e...

Mas a “visita” de Álvaro não era muito paciente e atropelou o pobre garoto de entrega de recados. Era Juliana, da equipe de futebol do Estrela Pulsar.

-Álvarozinho! Lembra de mim? - disse ela

-Você...quem é você, mesmo? - perguntou ele, para desânimo de Juliana.

-Tudo bem, tudo bem, sei que você é muito ocupado e também não conversamos muito...mas nos conhecemos no dia daquela partida de futebol, lembra?

Álvaro ficou pensando por uns bons dois minutos, até que finalmente se lembrou.

-Ah, claro! É você!

-Sim, sou eu. Por favor, experimente esse bolo! Eu fiz ele ontem e precisava de alguém para prová-lo! Vai, experimenta!

-Bolo, é? - disse Álvaro, pegando a guloseima e comendo – Hmm. Está bom.

-Mesmo? Uma boa esposa precisa aprender a cozinhar, né? Então...aproveitando, será que você não gostaria de...

-Desculpe – disse ele – Preciso voltar a treinar. É muito importante.

-Treinar? No paredão?

-Na verdade – Álvaro parou e suspirou, enquanto segurava sua raquete e bola – Eu precisava de algo mais desafiador. Preciso de um treino de qualidade para enfrentar o desafio que terei em três semanas. Se pelo menos eu tivesse alguém que me ajudasse nesse treino.

Os olhinhos de Juliana brilharam naquela hora.

-P-Precisa de alguém que te ajude a treinar? - perguntou ela.

-Sim

-Ah, por que não disse antes? Eu conheço a pessoa perfeita!

-É? Quem? - perguntou Álvaro, animado.

-Eu.

-Você? - estranhou Álvaro – Você sabe jogar tênis?

-Não sei – disse ela – Mas sei chutar bem. Talvez meus ataques sejam mais eficientes do que as rebatidas no paredão.

-Mas...isso não vai atrapalhar seu treino de futebol? - perguntou Álvaro.

-Posso passar aqui todos os dias depois do treino – disse ela – Não é trabalho nenhum!

Embora Juliana estudasse em um colégio do outro lado da cidade. Bem, pelo menos Álvaro conseguiu uma boa parceira de treinos. E quanto a Amanda? Naquela mesma tarde, ela socava o saco de areia da sala de treinos com mais ferocidade do que nunca. Suas amigas nunca a tinham visto tão focada.

-Nossa...a Amanda tá treinando sério, não? - percebeu uma delas.

-Verdade – concordou a outra.

-Mas ainda não é o bastante! - exclamou ela, terminando com um soco poderoso no final – Só o que estou fazendo não vai melhorar minhas habilidades para enfrentar aqueles caras.

-De quem ela tá falando? - perguntou uma das amigas.

-Fui chamada para fazer parte de uma equipe que enfrentará a Liga de Academias – respondeu Amanda – Mas preciso treinar muito ainda.

-O que é isso, Amanda? - disse a colega – Você é bem forte.

-Mas acho que preciso de algo mais – reclamou a boxeadora.

Depois dessa conversa, Amanda saiu um pouco da sala para respirar e refletir (embora ela mesma tenha dito que a palavra descanso estava cortada do vocabulário da equipe). Assim que saiu da sala, viu seu professor de física, com um pacote cheio de provas.

-Oh, olá Amanda – cumprimentou o professor Márcio, o mesmo professor com grande poder espiritual – Espero que tenha ido bem na última prova.

-Oh, boa tarde, professor – ela cumprimentou educadamente, quando lembrou-se de sua grande habilidade. Era isso. Ela precisava aprender algo novo com ele.

-Com licença – Márcio já estava virando o corredor, quando Amanda o chamou.

-P-Professor! - gritou ela.

-Hã? O que foi, Amanda? Algum problema?

-Err...- ela ficou meio tímida – Eu...eu preciso que o senhor me ensine uma coisa.

-Claro. É sobre a matéria?

-N-Não – respondeu ela – É sobre...aprimora o meu ki!

-Seu ki? Isso pode demorar..

-E eu precisaria disso...em três semanas.

-Três semanas? Puxa vida, isso vai ser difícil – disse Márcio, embora seu sorriso expressasse uma boa vontade.

-Por favor..eu prometo me esforçar. É que...eu preciso enfrentar adversários muito fortes em três semanas. E as lutas serão sérias!

-Entendo – falou Márcio – Bem, você parece ser uma garota forte. Talvez eu consiga te ensinar o básico do básico em três semanas. Tem tempo depois das aulas da tarde?

-C-Claro – disse Amanda.

-Por mim, tá combinado. Até mais. Agora eu preciso corrigir essas provas – disse ele, sorrindo.

-A-Até – falou Amanda, ainda meio vermelha de pedir isso para o professor, mas ela logo sacode a cabeça e lembra os motivos de estar fazendo aquilo. Precisava aprender a dominar sua própria capacidade espiritual para lutar.

Enquanto isso, Kéfera apenas chegou em casa e falou com sua empregada Frederic.

-Frederic! - chamou a loirinha.

-Senhorita Kéfera? - perguntou Frederic, enquanto limpava os vasos da casa com um espanador – Em que posso ajudá-la?

-Preciso ficar forte em três semanas – disse ela – Você pode treinar comigo?

-Quer que eu treine com a senhorita? Posso fazer isso, mas tem alguma razão em especial?

-Apenas...quero ficar mais forte. Por isso, quero que me ajude com um treino realmente puxado!

-Entendo...seu pedido é uma ordem – disse Frederic – Podemos começar...agora mesmo!

Kéfera quase não conseguiu desviar-se do ataque de Frederic com o espanador.

-É disso mesmo que estou falando – disse a loirinha empolgada.

Parece que nossos amigos terão três semanas bem puxadas...