Capítulo 62 - Visitas Amigáveis

  Betina estava em seu quarto, sofrendo com assoadas de nariz a cada cinco minutos e tentando estudar alguma coisa, quando ouviu a campainha tocando.

"São eles", pensou Betina apertando os olhos. "Aquela turma que anda com Lien adora fazer bagunça, ai, ai."

- Filha! Seus amigos estão aqui! - gritou uma mulher que podia simplesmente ser descrita como a versão adulta de Betina. A frágil garota respondeu imediatamente:

- Pode mandar eles subirem, mãe! - gritou ela, enquanto rezava mentalmente torcendo para seus pressentimentos de confusão estarem errados. Logo ela ouvia a voz de Lien ecoando pelos corredores.

- Betina! E aí, como vai? - disse ela, acompanhada logo atrás por André, Alex e Kéfera.

- Ah, oi Lien, oi gente - cumprimentou ela timidamente.

- Oi, Betina - cumprimentou Kéfera sorrindo - Hoje estou retribuindo a visita daquele dia, né?

- Ah, é... - disse Betina, olhando de lado e tendo péssimas lembranças das experiências que passou com as "atividades" na casa da loirinha.

- Sua casa é bem bonita - disse André gentilmente.

- Obrigada - agradeceu Betina.

- Você tá estudando? Mesmo doente? - reparou Alex.

- Eu preciso passar de ano, né? - disse Betina secamente - Ainda mais com Matemática!

- Ah, sim, também é meu ponto fraco - falou Kéfera.

- De todos nós, pode apostar - disse Lien.

- Como assim? Você é asiática! Tem que saber matemática! - reclamou Alex.

- Já falei que não sou tão chinesa assim - retrucou Lien.

- Mas você tá bem, Betina? - perguntou André - Você quase sempre ficam mal.

- Ah, sim, é só mais uma gripe - respondeu Betina, pegando mais um lenço para assoar o nariz - Espero melhorar até o fim da semana.

- Tomara - disse Lien.

- E então? Vamos fazer alguma coisa? - perguntou Kéfera.

- Alguma coisa que dê pra jogar sem se mexer muito...de preferência - falou a adoentada garota.

- Podemos jogar stop - sugeriu André.

- Nossa, faz séculos que não jogo isso - falou Alex.

- Pra mim tá bom - concordou Betina - Acho que tem um pouco de papel ali em cima do armário, embaixo das caixas.

- Onde? - perguntou Kéfera - Pode deixar que eu pego.

- Só cuidado pra... - Betina ia dizer alguma coisa, mas já era tarde. Duas caixas de livros caíram assim que Kéfera tentou puxar as caixas.

- Ops, foi mal - disse ela - Eu juro que tentei puxar fraco.

- Tudo bem, a gente arruma - falou Lien - É mais alguma coisa pra fazer e...Aaaaah!

 Lien quase pulou no colo de André naquela hora. Alguma coisa a havia assustado.

- O que foi? - perguntou André.

- Uma barata - respondeu ela, subindo na cama de Betina logo depois de falar isso - Não suporto esses bichos!

- Ah é, é o ponto fraco dela - disse Alex, com toda a calma.

- Onde? Cadê ela? - Betina também parecia assustada, colocando os pés na cadeira no mesmo instante - Nem brinca com uma coisa dessas...não vou colocar os pés no chão até esse bicho sumir!

- Outra - lamentou Alex.

- Tudo bem, tudo bem, eu dou um jeito - falou Kéfera. 

- Eu te ajudo - disse André.

- E você não vai fazer nada? - perguntou Lien para Alex.

- Claro que vou - respondeu ele - Vou filmar essa cena. Alguém precisa colocar isso na Internet.

- Ora, seu - mas Lien estava muito longe para bater nele.

- Acho que ela já se escondeu em algum canto, viu, Kéfera? - disse André - Esses bichos entram por qualquer frestinha.

- Ai, eu não vou mais dormir nesse quarto enquanto esse bicho ainda estiver aqui! - falou Betina.

- Por favor, alguém tira essa coisa desse quarto! Ou pelo menos mostre o corpo! - disse Lien.

- Agora entendo porque o Mestre Wong não quer te deixar herdar a Academia sozinha - falou Alex - Onde já se viu? Um mestre de Academia com medo de barata?

- Cala a boca, Alex! - disse Lien - Eu posso enfrentar uns cinquenta inimigos, mas uma barata não é humana. É um demônio.

- Mestres de artes marciais deveriam enfrentar demônios também - disse Alex.

- Ah, olha ela ali! - apontou André para a parede - Acho que ela vai voar..tsc.

- Barata voadora?! Aaaaaah! Que horror! - Lien e Betina gritaram juntas, se abraçando.

- Xá comigo! Eu dou um jeito nela! - Kéfera pegou um dos livros e arremessou na direção do inseto. Parece que ela acertou, mas o resultado não foi dos mais agradáveis.

- É, morreu - disse Alex - Saiu até aquela gosminha branca que elas tem dentro.

- Ai, que nojo! - exclamaram as garotas.

- Droga..eu usar aquele livro - disse Betina, lamentando por seu livro de estudos estar em péssimas condições. Pelo menos, a barata estava morta. E tanta gritaria acabou atraindo a atenção da mãe de Betina.

- Gente, o que aconteceu? - disse a dona de casa, enquanto carregava uma pilha de roupas lavadas.

- Uma barata - disse Kéfera - Mas já mandei ela pra vala!

- Barata?! Onde? - a mãe de Betina deixou cair a pilha de roupas no susto, revelando mais do que devia.

- Mãe, cuidado! - reclamou Betina.

- Calcinha...de oncinha? - perguntou Lien - Não combina muito com você.

- Opa, esse lado da Betina eu não conhecia - falou Alex.

 Desnecessário dizer que a garota estava mais do que vermelha com aquilo.

- Desculpem...é que eu também tenho pavor desse bicho - falou a mãe dela - Tina, vou deixar as roupas aqui, tá?

- Ai, que vergonha - reclamou Betina - Minha mãe tinha que chegar com as minhas calcinhas justo agora?

- Calma, calma, essas coisas acontecem - falou Lien - Todo mundo passa por alguma situação constrangedora antes, né?

- Tipo aquela vez que seus pais foram jantar na casa do André, né? - lembrou Alex, apenas para levar uma bela livrada na cara.

- Não ligue pra ele - sorriu Lien - Mas, então...você já não se sente melhor com seus amigos aqui?

- Muito melhor - ironizou Betina. Não que ela não gostasse dos amigos, mas quem está gripado normalmente quer um pouco de paz. Bem, não se pode fazer muita coisa com uma turma encrenqueira dessas, não é?