Encrenca Shaolin escrita por Metal_Will


Capítulo 60
Capítulo 60




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/167381/chapter/60

Capítulo 60 - Ultrapassando os limites

- Ufa! - bufou André, após finalmente acertar um golpe em Draco - Como a Lien já te falou..não subestime o estilo shaolin da Academia Wong!

 Draco massageou a barriga com uma cara furiosa. Já Lien e os outros comemoravam o sucesso do ataque de André. Mesmo de olhos fechados para evitar novas ilusões, ele conseguiu finalmente acertar um golpe naquele poderoso adversário. Será que as coisas iriam mudar agora?

- Valeu, André! - comemorou Alex - Mostra quem é que manda!

- Boa, amor! - disse Lien - Mas não baixa a guarda!

- Não vou baixar - respondeu André - Estou pronto para enfrentar o que ele mandar!

- Parabéns...você conseguiu acertar um golpe em mim - disse Draco, agora em um tom bem mais sério - Mas não pense que é suficiente para me derrotar. Um golpe de sorte desses não acontece duas vezes.

"Ele tem razão", pensou André, "Se eu não achar um jeito de lutar bem, mesmo de olhos vendados, estarei perdido!"

 Mas o pobre André não teve muito tempo para pensar. Draco já havia se recuperado e acerta um duro golpe com a ponta de seu bastão na barriga de André. Não foi perfurado, já que a ponta era meio esférica e a pressão não era suficiente para furar a pele humana, mas que doeu bastante, doeu.

- Ai, minha barriga - reclamou o pobre André.

- Esse é o troco - falou Draco - E estou só começando.

- André! - gritou Lien.

- Não adianta - Amanda comentava, ainda presa do lado de fora junto com Álvaro e a adormecida Kéfera - Ele não pode lutar contra alguém de olhos vendados. Mesmo que isso impeça os truques de ilusão, ele ainda está em desvantagem. Talvez até maior do que antes!

- Tsc. Que droga - reclamou Álvaro - Ele precisa reagir!

- Tem certeza que não quer tirar a venda? - perguntou Draco - Vai ser bem mais doloroso desse jeito.

- Ainda assim tenho mais chance do que se caísse nos seus truques - respondeu André - Não vou me dar por vencido.

- Admiro sua coragem - continuou Draco, agora dando um chute no peito do pobre André, que é lançado na direção da janela - Mas você ainda precisa de muito treino para me derrotar.

- Os seus golpes doem, mas não é nada que seja pior do que meu treinamento - disse André - Eu vou levantar enquanto puder.

- Seu "enquanto puder" não vai durar muito - Draco já estava mais impaciente - Vai pagar caro pela sua arrogância!

  O adversário de André aproximava-se para continuar a surrar o garoto sem dó. André pensava consigo mesmo, tentando achar uma maneira de enfrentar seu adversário. Devia haver alguma forma de descobrir a presença dele, mas qual? O garoto precisava pensar rápido, mas Draco não era do tipo que pegava leve. Pelo contrário, o próximo ataque dele foi ainda mais forte. Com uma tacada de seu bastão, ele praticamente jogou André contra o outro lado da sala como se fosse uma bola de golfe. Era mesmo um oponente forte e impiedoso.

- E então? Você não ia se levantar e me enfrentar? Estou esperando - disse ele - Se tirar a venda, posso até criar uma ilusão em que a surra não pareça tão dolorida assim.

- Nunca.. - André voltava a se levantar e ficar em guarda. Precisava reagir logo. Draco já estava confiante em sua vitória.

- Mesmo? Sabe, às vezes tenho dúvida se o mundo inteiro não seria uma ilusão? Quem pode garantir, não é verdade? E se o mundo é uma ilusão, será que o mundo fora da ilusão também não seria outra? Difícil de dizer - continuava Draco.

- Que papo é esse agora? - perguntou André.

- Nada demais...só estava filosofando um pouco - falou o adversário, agora dando uma joelhada na barriga de André que, de novo, se contorcia de dor - Talvez uma conversa seja útil para você não sentir tanta dor assim com tantas pancadas, não é?

- André... - Lien lamentava, mas era fato que seu namorado estava perdendo. Como ele poderia vencer um adversário que não podia enxergar? E se tirasse a venda, cairia em outro truque cruel. O que ele podia fazer?

"Pense...pense numa forma de prever os ataques. A visão não é meu único sentido", pensava André, enquanto também lembrava o que Márcio, seu professor de física e grande mestre da energia interior dizia. O artista marcial pode se concentrar e transformar seu espírito em energia. Se Draco era um lutador tão forte, ele devia emitir algum tipo de energia interior e André talvez pudesse senti-la. Se pelo menos ele pudesse perceber, de alguma forma, a presença de Draco. Mas o oponente era ágil e o rapaz mal conseguia saber onde seria a próxima vez que ele apareceria.

- Estou aqui - disse Draco, dando mais um chute, agora nas costas de André - Ou será que estou ali?

 Ele atingia o rapaz com seu bastão. A luta estava ficando cada vez mais difícil para André, apesar dos ataques de Draco não serem mais do que aquilo que ele havia treinado.

"Mestre Wong...o que devo fazer agora?", pensava André, lembrando de seus dias mais difíceis de treinamento.

- Ai! Não dá, não dá mais - dizia o cansado André ao treinar com Mestre Wong - Não consigo mais lutar...

- Já vai desistir? - falava o Mestre - Se tem energia para falar, deve ter energia para lutar.

- Mas desse jeito eu vou morrer - reclamava André.

- E daí? Prefere morrer sem lutar? Se é para morrer, faça isso enquanto luta e não deitado no chão como um fracassado! - gritava o velhinho, deixando André admirado.

- Mas...mesmo quando não tenho mais forças?

- Idiota. A luta começa de verdade quando suas forças estão acabando - respondeu Mestre Wong - Vamos! Disciplina! O herdeiro da Academia Wong não pode se render por tão pouco!

 E André se levantava para continuar o treino. Aquelas palavras faziam ele perceber que ainda tinha forças para lutar. E naquele instante não seria diferente. Ele precisava tirar forças de algum lugar e precisava descobrir um meio de perceber a presença do adversário. Ele conseguiu atingi-lo uma vez, não conseguiu? Só precisava atingi-lo de novo, dessa vez com mais força.

- Está se levantando de novo? - percebeu Draco - Por mais corajoso que você seja, devia saber qual a hora de desistir...

- Não vou desistir - falou André - Eu vou te enfrentar com tudo que tenho!

- Tudo que você tem é uma venda na cara...e com isso nunca vai me derrotar - disse Draco, partindo na direção de André mais uma vez. Mas agora, o rapaz percebe algo diferente. Talvez um tipo de harmonia, difícil de explicar, mas de alguma forma, ele conseguia saber de onde Draco estava vindo. André conseguiu engatar um chute giratório na direção e finalmente acertar um ataque no seu oponente.

- Ele acertou! - comemorou Lien - André acertou um chute naquele desgraçado!

"Como? Ele conseguiu", pensou Draco, "Devo ter abaixado a guarda...mas isso não vai acontecer de novo"

"Sim, eu acertei", pensou André, "De alguma forma acabei me acostumando com os olhos vendados e consigo perceber o ambiente. Já sinto de onde Draco está atacando."

 Mas Draco não era um adversário tão simples assim de enfrentar. André ainda levou um outro golpe na próxima investida, mas agora já conseguia se desviar. De alguma forma, ele percebia os pontos de energia mais fortes e eram naqueles pontos que Draco certamente iria atacar. Evitando os locais mais agressivos, André conseguia defender alguns golpes e de saco de pancadas, passou a atacar.

- Vai, André! - gritou Alex - Incrivel! Você tá conseguindo se desviar, mesmo de olhos fechados!

"Como? Como ele tá conseguindo se desviar dos meus golpes?", pensava Draco, achando tudo muito absurdo, "Eu...eu não posso acreditar que alguém de olhos vendados está me enfrentando assim"

 Mas por mais absurdo que a situação parecesse, era fato que André conseguia sentir a energia agressiva de Draco e se desviar. Em certo momento, finalmente André conseguiu uma oportunidade para desferir uma sequência de golpes. Uma sequência que Lien conhecia muito bem.

- Isso! Engata essa sequência! - gritou a chinesinha - É a sua chance, André!

 Era uma combinação precisa, que terminava com um chute no queixo do adversário e, por fim, uma derrubada dele no chão. Draco estava caído e André com o pé no peito dele. Alex começou a contar imediatamente.

- Opa. Ele caiu. Um...dois..

"Impossível...esse cara conseguiu me derrubar mesmo de olhos vendados. Não posso ser vencido por isso", pensava Draco, mas assim que o ilusionista tentava se levantar, André se concentrava para deixá-lo no chão, pisando com mais força. Bem ou mal, o rapaz adquiriu uma boa força nos seus treinos. Draco não iria se livrar dele tão facilmente, pelo menos durante os próximos dez segundos.

- Dez! Draco não levantou! André venceu! - anunciou Alex, declarando a vitória de André. O rapaz finalmente tirou a camisa amarrada na cara e viu a expressão carrancuda de Draco.

- Você..é mesmo muito forte - reconheceu André - Ai!

- André! - gritou Lien, correndo para ajudar o namorado.

- Opa...podemos entrar agora - reparou Amanda, ao ver que conseguia colocar a mão dentro da sala.

- Finalmente - disse Álvaro - Vamos lá e..

- Uaaah! - era Kéfera, bocejando. Parece que finalmente havia acordado.

- Kéfera! Você acordou! - exclamou Amanda, ao ver que a loirinha finalmente havia despertado.

- Hã? Nossa...eu dormi tanto assim? - admirou-se ela - Perdi muita coisa!

- Bem, perdeu as últimas três lutas. Parece que ganhamos - disse Amanda.

- Sério? Ai, caraca. Não acredito que perdi tudo.

 Lien chegou até André e o beijou apaixonadamente. Ele havia vencido. De uma forma estranha e dolorosa, mas venceu.

- Err...na China, primos se beijam assim mesmo? - perguntou Álvaro para Amanda.

- Se você quiser pensar assim, pense - respondeu Amanda, já cansada da negação de Álvaro. Mas a realidade é que André havia vencido. Draco se levantou, ainda sério, tirou a poeira da roupa e pegou seu bastão de volta.

- Meus parabéns, você venceu - disse ele - Reconheço quando sou derrotado.

- Draco, seu inútil - gritou o diretor através do alto-falante da sala - Eu assisti tudo daqui. Como pode perder para alguém de olhos vendados?!

- O diretor - comentou Lien - Até esqueci que estávamos aqui lutando pela estatueta da nossa escola.

- Bah..isso é o de menos - disse André - Mas já que vencemos, podemos pegar nossa estatueta de volta, não podemos?

- Claro que sim - falou Alex - Eu tenho tudo gravado. O diretor não pode voltar na sua palavra.

- Grrr - grunhia o diretor - Draco, você é o pior de todos. Confiei tanto em você.

- Se o senhor achava que era tão fácil - disse o ilusionista - Por que não vem aqui lutar com eles?

- Seu insolente, eu...hã, o que é isso? O que são essas coisas?! - o diretor parecia atordoado.

- O que houve? - perguntou André.

- Ah, o diretor deve estar tendo alguma alucinação...só um truquezinho simples - disse Draco.

- Você.. - André estava assustado, mas Draco não parecia mais tão chateado.

- Podem pegar o troféu de vocês...foi um prazer lutar com pessoas fortes. O colégio Sol Nascente tem mesmo os melhores lutadores - falou Draco.

- Mas vocês também são muito bons - disse Amanda - Espero que não usem da sua força para cometer delinquências por aí.

- Vou cuidar para que nossa imagem não suje - falou ele - De qualquer forma, obrigado pela luta. Eu estava errado...vocês...realmente puderam me derrotar.

 Ele ofereceu a mão para André que aceita cumprimentá-lo de bom grado. Parece que a batalha do colégio Lua Minguante finalmente terminou. No dia seguinte, todos se reuniram bem cedo na sala do diretor para entregar o troféu.

- Aqui está...a estatueta da escola, diretor..ai, meu braço - disse André, entregando a estatueta prêmio da competição com o Lua Minguante para ele.

- Vocês parecem doloridos - reparou a secretária dona Fernanda - As lutas foram tão difíceis assim?

- Mais do que vocês imaginam - falou Lien.

- A minha não foi tão dolorida - falou Kéfera - Mas o meu sono está todo desregulado. Vai demorar para eu me acostumar. Ainda  bem que o Alex gravou todas as lutas que eu perdi!

- Ela gosta mesmo de lutas - comentou André.

- Muito obrigado. Não sei como agradecer vocês! - disse o diretor Freiriano, todo contente.

- Parando de fazer apostas bizarras já seria um ótimo começo - falou Lien.

- Claro, claro, nada mais de apostas, eu prometo! - disse o diretor, colocando a estatueta de volta ao seu lugar. Nisso, a secretária reparou uma coisa.

- Diretor...pode me dizer o que é isso dentro desse compartimento da mesinha da estatueta? - perguntou Fernanda - Pelo barulho parece ter alguma coisa metálica aí dentro.

- Sério? Nunca reparei nisso e... - ao abrir, o diretor dá de cara com outras duas estatuetas idênticas à que foi recuperada.

- Três...estatuetas? - perguntou Lien.

- Ah, o fundador da escola deve ter mandado fazer réplicas caso a primeira fosse roubada, né? - disse o diretor - Eu não sabia disso. Não é engraçado? Hahuahauha!

 Mas os alunos não pareciam estar vendo graça nenhuma. Bom, apesar dos pesares, foi um grande aprendizado para André. Quando será que ele terá outra luta dessas? Só o tempo dirá...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, o fim da saga do Lua Minguante encerra a primeira temporada de Encrenca Shaolin. As confusões do treinamento de André para herdar a academia voltarão no futuro, com lutas e capítulos melhores. Eles voltam, não se preocupem, mas esse pessoal vai tirar umas férias por enquanto.
E então? O que acharam até agora? O que esperam da próxima temporada? Deixem seus reviews.
Até a próxima, galera! Ah, e semana que vem começo uma história nova.
Flw!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Encrenca Shaolin" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.