Capítulo 42 - Problema de Direção

- Ai, ai, ai, ai... - o diretor do colégio Sol Nascente parecia preocupado. Ele olhava para o nada, pensativo, com o cotovelo sobre a mesa e as mãos entrelaçadas, como se desejando encontrar uma solução para um problema difícil.

- Bom dia, diretor - disse Fernanda, a secretária, entrando na sala como de costume.

- Que susto, dona Fernanda! - reclamou ele - Não bate mais na porta?

- Mas a porta estava aberta - disse ela - Qual o problema?

- Qual o problema? Qual o problema? - diretor Freiriano não parecia bem-humorado - O problema é aquilo!

- O que tem aquilo? Não tem nada ali, diretor - Fernanda observou corretamente. Era apenas um pedestal vazio - Aliás...não era ali que estava a estatueta de ouro do colégio?

- Disse bem, dona Fernanda! Estava! Não está mais!

- Foi roubada? Precisamos avisar a polícia!

- Não, não foi roubada! - o diretor se levantou e agora parecia mais tenso - Na verdade...foi perdida.

- Perdida? Como assim perdida? - perguntou a secretária.

- Bem...é uma história meio esquisita...

- Comece a contar - disse a secretária, sentando-se na borda da mesinha da sala e cruzando os braços, como se já previsse que a justificativa seria uma coisa totalmente esfarrapada.

- Sabe, dona Fernanda...eu sempre fui um homem sério, mas também tenho meus hobbies...

- Hobbies? - repetiu Fernanda, já fazendo uma cara nada amigável.

- Eu sempre gostei de jogar minha partidinha de poker com os amigos...mas da última vez joguei com um inimigo...o diretor do Colégio Lua Minguante.

- Colégio Lua Minguante? - perguntou Fernanda - Não é aquele colégio do outro lado da cidade...cheio de alunos problemáticos.

- É, é, esse mesmo. Nunca me dei bem com o diretor de lá. Já lecionamos no mesmo colégio anos atrás e nunca nos demos bem.

- Uma richa antiga, heim?

- Sim. Só porque já consegui conquistar três das garotas que ele nunca conseguiu!

- O senhor conquistou todas as garotas que ele não conseguiu?

- Você sabe, eu sempre tive charme...as mulheres não resistem a meus..

- Poupe-me, diretor. Continue explicando o que foi que aconteceu com a estatueta.

- Ah, sim, eu fui no meu poker quinzenal na casa de um dos meus grandes amigos...o diretor do colégio Eclipse...quando vi que quem estava lá era o desgraçado do Mendonça.

- Mendonça é o nome do diretor do Lua Minguante suponho

- Ele mesmo. Alceu Mendonça. Com aquela cara de cínico.

- E então?

- Bem, nós fomos jogando e todos foram vendo que tínhamos uma grande rivalidade. No fim, foi uma partida só com nós dois e aí as apostas começaram a aumentar, mas eu tava com sorte..já tinha vencido várias só naquela noite.

- Mas..

- Mas aí ele me provocou e acabei apostando a estatueta da escola. O empregado dele veio buscar agora de manhã junto com o advogado e tudo. Eu não pude nem impedir...

- Como o senhor foi capaz de fazer isso? A estatueta é da escola e não do senhor!

- Eu sei, mas ele cobriria minha aposta com uma coisa que eu queria muito.

- O quê?

- Uma coleção completa dos filmes do Indiana Jones. Você sabe que eu sou fã.

 Fernanda já conhecia a falta de bom senso do diretor e o fato dele ter feito uma besteira não seria de surpreendê-la tanto. Mas dessa vez, a besteira realmente foi séria.

- Senhor diretor...aquela estatueta é mais do que uma simples peça feiosa que fica ali no meio. Ela representa todo o suor e luta dos fundadores desse colégio. É como uma pedra fundamental. É insubstituível! Como o senhor vai explicar a superintendência o que aconteceu?

- E a senhora acha que eu não sei disso, dona Fernanda? Mas lá na hora, com todo aquele êxtase, e quando ele colocou a coleção da Indiana na conversa...acabei cedendo.

- Muita irresponsabilidade sua, diretor! - bronqueou Fernanda - E agora? O que vamos fazer?

- Eu não sei - disse o diretor, encabulado e tocando as pontas dos dedos - Achei que a senhora, como uma secretária eficiente, poderia ter uma ideia interessante.

- Eu? Tudo eu? Tsc. Mas nem sei o que fazer - disse a secretária, coçando a cabeça e tentando ser racional em um momento de desespero - Em primeiro lugar...por que diabos esse Mendonça queria a estatueta do colégio?

- Ele não queria. Eu que apostei no calor do jogo.

- E nem um motivo sério essa perda teve - reclamou a secretária - Ligue agora para esse diretor e explique a situação. Não importa que vocês sejam inimigos, o que está em jogo aqui é a tradição do nosso colégio. Deixem a escola de fora das suas desavenças pessoais

- Isso não vai dar certo... - balbuciou Freiriano, mas Fernanda já estava com o telefone na mão, exigindo que o diretor ligasse. Relutante, ele discou para o inimigo. Por via das dúvidas, Fernanda ativou o viva-voz para ouvir a conversa também.

- Ora, ora, se não é o meu velho amigo Freiriano - disse o diretor Mendonça do outro lado. Eles não podiam ver quem era, mas Mendonça era um homem alto, magro, narigudo, olhos pequenos e olhar de fuinha.

- Mendonça! - disse ele - Eu admito que você é um bom jogador de poker...mas preciso que devolva a estatueta da escola..

- Não - disse Mendonça - Dívida de jogo é sagrada

- Mas o que você ganha com a estatueta da escola? - questionou o diretor.

- Ora, posso deixá-la exposta na minha sala, ao lado da estatueta da MINHA escola, deixando na história para sempre que você e toda a sua escola não passam de perdedores!

- O quê? Seu maldito...eu vou te matar e!

- Diretor! Precisa continuar a conversar com calma! - disse Fernanda, tentando manter a razão.

- A minha escola é muito melhor do que a sua! Duvido que a sua escola tenha....tenha...

 Freiriano olhou pela janela e viu nossa heroína Lien Wong conversando com Kéfera e Betina. Imediatamente ele se lembrou de algo que sua escola realmente era superior.

- Lutadores profissionais! Duvido que você tenha alunos que venceriam os meus em uma luta!

- O que está dizendo, diretor?! - exclamou Fernanda - Não pode envolver os alunos nesse tipo de problema!

- Espere - Freiriano ouvia Mendonça dar uma risadinha do outro lado.

- Entendi, entendi - disse Mendonça - Então você acha que minha escola não tem alunos fortes, heim?

- E tem?

- Hihihihihi...você é mesmo uma figura, Freiriano...não sabe o que está dizendo.

- Como é?

- Entendi. Então eu desafio os seus alunos contra os meus alunos.

- Um desafio? Tá falando sério?

- Se está tão confiante, você certamente aceitará. Se vencer, eu devolvo a estatueta do colégio.

- Heh. Você que não conhece meus alunos. Não importa que desafio você elabore, o Sol Nascente vai vencer! Nós temos os melhores lutadores!

- Como é um desafio de lutas...acho que teremos que ser discretos com o evento.

- Hã? Como assim?

- Eu vou mandar os detalhes por e-mail - disse Mendonça - Se estiver com medo, é só responder recusando.

- Até parece! Com os alunos que estão no meu time, vou vencer qualquer coisa que você mandar.

- Se está tão confiante, venha com tudo. Aguarde meu e-mail. Mandarei em menos de meia-hora.

- Tá legal.

- Falou...ladrão de namoradas.

- Ladrão de namoradas? Elas nunca foram suas namoradas...e você...você...é um ladrão de estatueta!

 Freiriano desliga o telefone furioso.

- O que está fazendo, diretor? - bronqueou Fernanda - Vai envolver nossos alunos nessa infantilidade?

- Relaxe, dona Fernanda. Nós temos os mais fortes com a gente - respondeu ele - O Mendonça não sabe com quem está se metendo. Mande chamar Lien Wong, Kéfera Maiglockhen e Amanda Viena nessa sala agora!

 Por outro lado, Mendonça também estava confiante.

"Hihihi. Aquele tolo do Freiriano...ele pode vir com um exército pra cá...mas nunca vai vencer minha arma secreta", pensava o magrelo diretor enquanto digitava o desafio por e-mail, "Sua escola vai ser humilhada, mastigada e cuspida fora. Huihuhuhuh"