Encrenca Shaolin escrita por Metal_Will


Capítulo 22
Capítulo 22




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Capítulo 22 – O Duro Passado da Dura Garota

Amanda relaxou os braços e suspirou. Pelo que parecia se lembrou de algo distante no tempo.

 -Ei, não precisa falar se não quiser – disse Lien – Podemos continuar a lutar e...

- Não – falou Amanda, como se tivesse lágrimas nos olhos – Agora que tocaram nesse assunto...eu quero desabafar. Não vou conseguir lutar à vontade com isso engasgado na garganta.

- Nossa, que dramático – comentou Alex.

- Quieto! Vamos ouvir a história! - bronqueou André.

Bem...foi quando eu tinha doze anos – lembrou-se Amanda – Era uma garota magricela e franzina...sem muitos amigos...

* Flashback da Amanda *

 Amanda realmente tinha a aparência que descreveu. Era mais magra do que as colegas e falava com uma voz não muito ativa. Aos doze anos, as garotas começam a desenvolver interesses diferentes e passam por transformações no próprio corpo. O problema é quando uma dessas meninas demora para apresentar essas mudanças, o que era o caso de Amanda.

- Amanda? E aí? - chamou uma das colegas dela.

- Ah...oi – respondeu ela.

- Soube da última? A Lu da sala C vai dar uma festa nesse sábado. Você vai?

- F-Festa? - perguntou Amanda com estranhamento.

- Shh... - chamou outra menina de lado – Acho que ela não foi convidada.

- Não?

- Err...não, não fui – balbuciou Amanda.

- Sério mesmo? Que chato...devia falar com ela, vai ver ela esqueceu e...

- Não tem problema – respondeu a menina, claramente chateada – Eu...teria outro compromisso mesmo...

- Se é assim – a amiga tentou consolá-la – Bom, se quiser ir talvez ela deixe e...

- Assim você só piora as coisas – criticou a outra menina – Deixa ela.

- É...não vou poder ir mesmo – terminou Amanda – Deixa para próxima.

- Bom, então tá.

 E esse era o cotidiano de Amanda. Solitária, sem muita iniciativa e calada. No entanto, o problema dela não era apenas as meninas que a isolavam, mas também os meninos. Por outro lado, foram os meninos que a fizeram acordar e mudar de vida.

- E aí, Amanda? - falou um dos meninos da sala – Fez toda a lição hoje?

- S-Sim – gaguejou ela.

- Ah, legal, pode emprestar pra gente?

- T-Tudo bem – ela continuava a falar de forma desconfortável. Os meninos agradecem, mas claramente avacalhavam com a pobre Amanda.

- Ainda bem que temos uma cdf como a Amanda do nosso lado – disse um dos copiões de tarefa de casa – Ela não é muito bonita, mas pelo menos ajuda a gente.

- É...aquela Bruna já tem até peito, mas é burrinha que dói. A Amanda é meio tábua, mas é gente boa.

- Isso aí! Se precisar que a gente te defenda dos folgados é só falar com a gente!

- Obrigada...eu acho – balbuciou a menina.

   Mas Amanda, mesmo não recebendo maus tratos diretos, se sentia fraca e insegura. Em seu íntimo, detestava as meninas mais encorpadas e também detestava ser explorada pelos meninos, mesmo eles dizendo que iriam protegê-la. No fundo, não queria ser protegida. Queria ser forte. Queria ser independente. Queria ser uma pessoa melhor do que era agora. Como se impor e deixar de ser uma mosca morta?

Você quer se impor e deixar de ser uma mosca morta? - dizia a frase em uma revista feminina no lado da banca de jornal próxima à faixa de pedestres. Amanda ficou interessada e leu o que estava escrito abaixo: “Cada vez mais mulheres tem se interessado por boxe. Saiba como entrar nesse esporte”

 - Por incrível que pareça, Amanda sentiu que aquilo era pra ela. Pediu a seus pais que a matriculassem em uma academia de boxe para crianças e, mesmo sendo a única menina da turma, não se sentiu nem um pouco constrangida.

- Você tem certeza mesmo de que quer fazer isso? - perguntou seu instrutor, em um salão cheio de garotos iniciando no boxe – É um esporte meio violento para meninas...

- Tenho certeza sim! - respondeu Amanda – Eu...eu quero muito aprender boxe...

- Hmmm...olha lá, heim? Você sabe que pode se machucar

- Não ligo! Eu quero ficar mais forte!

- Forte – repetiu seu instrutor – É...o que significa ser forte?

- Não sei exatamente – respondeu Amanda – Mas deve ser melhor do que ser fraca.

- He. Gostei de você, menina. Mas, vamos fazer um teste...será que você sabe socar bem?

- Bom, nunca tentei pra valer

- Então agora é sua chance – falou o instrutor, se dirigindo a um saco de areia enquanto os outros meninos da turma continuavam a rir – Tente socar esse saco com toda a sua força!

- Socar?

- Sim. Dependendo do resultado, posso ser mais ou menos rigoroso com você.

- Pode ser bem rigoroso. Eu não ligo.

- Mesmo assim...soque. Quero ver o quanto você já é forte.

 Amanda respirou fundo e tentou visualizar algum corpo feminino com curvas naquele saco. Essa mentalização foi suficiente para deixá-la furiosa e socar com o máximo de força que conseguia. O saco de areia praticamente derruba o instrutor que fica espantado com o ataque da garota.

- Uau! Isso foi bem forte!

- Os outros meninos também ficam de olhos arregalados. Ela causou mesmo um espanto geral.

- Eu..fiz isso? - perguntou a própria Amanda, surpresa com sua força.

- Você...parece ter mesmo talento. Seja bem-vinda a nossa turma de boxe infantil, garota!

. A antes fraca Amanda havia encontrado um motivo para se tornar forte. E isso gerou resultados nos primeiros meses de aula.

- Amanda, você fez a lição? - perguntou um dos meninos.

- Fiz – respondeu ela.

- Poderia nos emprestar e.

- Não – respondeu ela – Já cansei! Se querem ganhar nota, façam vocês mesmos!

- O que é isso, Amanda? Ficou louca? Eu só...

- Algum problema? Na boa, já tô cansada de dar tudo de mão beijada pra vocês! - ela soca a mesa da carteira, deixando os meninos assustados. Sim, ela havia conquistado mais respeito da sala. Pelo menos dos meninos. Já das meninas, a dificuldade era mais psicológica. E um episódio não muito agradável um ano depois mostrou isso.

- Ah, Amanda, é você? - perguntou uma das patricinhas da sala, aproximando-se da garota.

- Sim? Quer alguma coisa?

- Só queria saber se você conhece algum garoto legal naquela sua academia..

- Hã? Tem muitos garotos lá...e todos são gente boa.

- É que você parece se dar tão bem com eles...que deve conhecer algum gatinho interessante...mas você deve ligar muito pra isso, né?

- Como assim? Não entendi...

- Ah, você sabe, linda. Você tem um jeito que mais parece um menino do que uma menina. Cuidado para não ganhar muito músculo daqui a pouco, heim?

- A garota nem precisou terminar a fala para quase levar um soco no rosto, mas Amanda conseguiu se controlar no último instante.

- Prefiro ser parecida com um menino...do que ficar me mostrando por aí com esses shortinhos. Vê se vaza daqui!

- Ai, que grossa...só tava perguntando de boa.

- Cala a boca e vaza daqui. Preciso continuar a ler esse livro!

 No caso era um livro de lutas. Amanda se dedicou mesmo às lutas e se dedicou em ajudar os mais fracos a se levantarem. Gostava cada vez mais de lutar e se fortalecer. Saber o que é se tornar forte, tornou-se seu objetivo de vida. Ao se mudar para o Colégio Sol Nascente no ano seguinte procurou o grupo de disciplina e logo assumiu a presidência após a formatura do presidente anterior, tamanho foi seu crescimento lá dentro. Sempre se dedicou a se aprimorar cada vez mais, no entanto, seu complexo com o corpo magro sempre continuou. Por isso, sentia um certo desconforto com comentários da beleza feminina padrão por aí...basicamente, era essa sua história.

* Fim do flashback de Amanda *

- E essa é a minha história – terminou a garota – Nunca me conformei em não ser considerada feminina o bastante e por isso fico uma onça quando vejo insinuações de peito...e bunda e...ah, vocês entenderam!

- Que fofa – comentou Kéfera, quase derramando lágrimas – De uma garota fraca e magricela, tornou-se uma forte lutadora. Você é um exemplo de vida!

- Ouviu direitinho, André? - disse Mestre Wong – Aquela garota se dedicou totalmente a tornar-se forte. O que tem a dizer sobre isso?

- Incrível – disse André – Concordo com a Kéfera..é mesmo um exemplo. Amanda! Agora eu te admiro ainda mais!

  Amanda ficou vermelha e lisonjeada com isso.

 - Ah, para com isso...só desisti de ser uma mosca morta...

- Eu peço desculpas também, Amanda – gritou Alex – Juro que não falarei mais de garotas peitudas ou popozudas na sua frente...imagino o quanto uma garota sem esses atributos deve se sentir e..

- Ora, seu, eu vou matá-lo!

- Espere, Amanda – agora era Lien quem a chamou – Também achei sua história interessante. Agora te respeito ainda mais como lutadora.

- Mesmo?

- Confesso que subestimei o boxe como arte marcial, mas...devido ao seu empenho, admito que é um estilo de luta que merece respeito.

- Hmm, bom ouvir isso de você

- Agora...vamos começar de novo. Quero lutar contra você com toda a seriedade agora.

- Eu sempre lutei sério!

- Sem bobagens. Esqueça de tudo que te desconcentra – continuou a chinesinha – Vamos dar tudo de nós nessa luta!

  Amanda exibe um rosto mais calmo. Pelo que parecia, agora a luta seria mais respeitosa. Agora sim podemos refazer a pergunta: quem venceria? O boxe ou o estilo shaolin?


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