Encrenca Shaolin escrita por Metal_Will


Capítulo 17
Capítulo 17




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/167381/chapter/17

Capítulo 17 - A Garota com Sede de Justiça

 Parecia uma manhã comum nas redondezas do colégio Sol Nascente. Não era um dia ensolarado, mas pelo horário ainda demoraria um pouco para os primeiros raios surgirem. E mesmo em um horário assim, os problemas não demoram para acontecer. E aquele pobre garoto cercado por dois valentões com o uniforme do colégio parecia entender bem isso.

- E aí, Luizinho? Coincidência te encontrar logo de manhã - falou um dos grandões, com um sorriso maldoso no rosto.

- E aí? Já tá jogando seu portátilzinho? - reparou o outro, também nada bem-intencionado.

- O...o que vocês querem?

- Nada. Só conversar um pouco. E...fazer amizade - disse o primeiro valentão - Que tal deixar a gente jogar um pouquinho?

- Ei, calma aí  - disse a pobre vítima - Cuidado com isso.

- Foi muito caro? Seu pai não é rico? Ah, se quebrar ele compra outro.

- Vamos ver que jogo você tem aqui? Alguma coisa de tiro? - perguntou o outro.

- Não, mas ele parece estar bem adiantado nesse aqui... não dá pra criar um arquivo novo? Ah, a gente queria jogar desde o começo.

- É só apagar e começar de novo - falou o outro.

- Opa. Boa ideia.

- Não! Por favor! Demorei muito para conseguir tudo isso e...

- O que foi? Ah, se você insistir talvez a gente mantenha e...

 Acontece que o garoto não parou de falar por medo deles, mas sim por medo da figura que apareceu atrás deles. Os bullies não percebem de cara, mas logo sentem a sombra de mais alguém ali.

- Hã? Aaah! - eles praticamente pulam de medo ao ver quem está atrás deles. É. Eles sabiam quem era ela. Uma garota de cabelos longos castanhos, olhos severos e sérios, corpo relativamente magro, mas alta. Não parecia extremamente atlética, mas sua presença causava algum respeito.

- A-A-A-Amanda...você por aqui?

- Pelo uniforme de vocês...são do Colégio Sol Nascente - disse ela - Acham que podem agir como bem entendem por aí só porque estão fora dos muros da escola?

- N-Não. A gente só tava brincando. Aqui...seu game de volta! Hehe!

 Os dois dão tapinha na cabeça do pobre Luizinho que apenas fica imóvel. Amanda ainda não parecia calma.

- É muita sorte de vocês eu estar boazinha hoje...vocês tem DOIS segundos para sair da minha frente..um...

 Ela não precisou nem terminar de dizer "um" e os dois saíram correndo. Amanda olha para os dois covardes com desprezo. Luizinho fica aliviado.

- O..Obrigado - disse ele, mas Amanda o interrompe.

- Não me agradeça - disse a garota - Se não quiser mais passar por isso, trate de ficar mais forte

- Mais...forte? Mas eu...

- Se for pra ficar com auto-piedade, não quero nem saber! Não pense que é fácil ser forte, mas também não pense que é impossível.

- Hã?

- Eu já fui fraca...e resolvi dedicar a minha vida para me tornar forte. E dedicar a minha vida para proteger os fracos como eu era. Mas pior do que aqueles que abusam dos fracos, são aqueles que querem continuar fracos.

- Desculpe, eu..

- Passar bem.

 Era mesmo uma menina de aparência séria. O garoto percebe que ela carregava uma mochila em um ombro só, com algumas luvas de boxe penduradas do lado. Parecia ser mesmo forte e ameaçadora só com o olhar. Quem seria essa Amanda? Bem, a resposta viria logo. Enquanto Amanda caminhava para o colégio, outro casal bastante conhecido fazia seu caminho de mãos dadas (e vermelhos).

- Acho que..ainda não me acostumei a andar de mãos dadas por aí - falou André.

- É..eu também não - disse Lien -  Mas é gostoso.

- Haha. Né? Ai, ai

- Pois é..

 Ficam em silêncio por algum tempo.

- Desculpa. Sou meio calada de manhã - falou Lien.

- Oh, eu também - disse ele - Acho que preciso acordar um pouco.

- Já se acostumou com os treinos do vovô?

- Bem, ainda estou com a barriga dolorida por causa das abdominais e dos golpes na barriga. Mal vejo a hora de aprender alguns golpes.

- O vovô está te dando um treinamento especial - falou ela - Normalmente, ele não demora tanto assim para ensinar os golpes para os alunos. Além disso...

- Além disso?

- Além disso, ele deve ter percebido que você é um caso raro.

- Um caso raro?

 Mas a conversa dos dois não demora muito, pois uma figura nada convencional cruza o caminho dos dois.

- Lien Wong, minha amada!  - disse Álvaro, surgindo do anda e segurando na mão desocupada dela - É muita coincidência vê-la por aqui.

- Quer soltar minha mão? E que coincidência? Eu estudo aqui!

- Mão? - ele observou André segurando a mão dela - Você que segura a mão dela...quem você seria?

- Sou o namorado dela! Já esqueceu? Nos enfrentamos no fim de semana passado!

- Oh, sim...lembro que havia mais alguém lá...

- Está claramente nos avacalhando - disse Lien, arremessando o pobre tenista para trás - Nossa conversa já está encerrada.

- Juro que vou me tornar mais forte para ganhar seu coração, Lien Wong! - disse Álvaro, ainda caído ali - Me espere!

- Apenas ignore - falou Lien. Nessa hora, Amanda chega no colégio e vê Álvaro caído, lamentando seu trágico destino (ele era bem dramático).

- Ai de mim...sofrer por amor, emocionalmente e fisicamente - disse ele, ignorando todo o ridículo por que estava passando.

- Algum problema? - perguntou ela.

- O único problema é minha fraqueza! - disse ele - Vou me tornar forte para ser merecedor dela!

- Merecedor? Do que está falando?

 Nisso, duas meninas relativamente atléticas e de cabelos negros se aproxima de Amanda. Pareciam conhecê-la.

- Ah, Amanda! Que bom! Você voltou! - falou uma delas.

- Oh, Cíntia, Leda. Muitas novidades?

- Algumas...enquanto você estava viajando essa semana...aconteceram umas coisas esquisitas - disse Leda, a mais baixinha.

- Esquisitas? Bem, vamos ver. Fiz essa viagem de treinamento justamente para me preparar para qualquer tipo de encrenca. Afinal, sou a líder do grupo de disciplina dessa escola.

 As duas amigas se entreolham meio temerosas da reação dela. Na mesma hora, elas abrem a sala do ginásio e mostram o vídeo da luta entre Lien e Kéfera que ocorrera no dia anterior.

- O...O que é isso?

- Essas duas tornaram o pátio da escola uma arena de batalha. Precisamos ficar de olho nelas - diz Cíntia.

- C-Como a coordenação permitiu uma coisa dessas? Elas tinham autorização pra isso?

- Parece que o diretor autorizou - falou Leda.

- Como assim? É um absurdo! Uma luta fora de qualquer evento esportivo não é mais do que uma briga! Apenas membros do grupo de disciplina podem usar de meios de luta em ocasiões fora do comum!

- Imaginávamos que você reagiria assim... - falou Cíntia.

- É claro! Estamos em uma escola! Não podemos incentivar atos de violência! Vou falar com o diretor agora mesmo!

 E Amanda fez isso. As colegas engoliram em seco. O diretor Freiriano estava em sua sala, ocupadíssimo em quebrar seu recorde no Tetris, quando ouve Amanda bater na porta.

- Quem é? Estou meio ocupado...- disse ele.

- Sou eu, Amanda Viena, presidente do grupo de disciplina escolar.

 O diretor parece ter sentido um arrepio, um calafrio. O nome dela parecia mesmo ser temido. Engolindo em seco, ele abre a porta (certamente imaginando que, pelo tom de voz, caso não abrisse, Amanda arrombaria a porta).

- Oh, Amanda..como vai? - disse ele- Como foi sua viagem de treinamento? A escola fez um bom investimento! Hehe!

- Traidor!

- Como? Traidor?

- O senhor criou um grupo de disciplina de alunos treinados para coibir ações violentas e autoriza uma briga dentro dos muros da escola! Isso é coisa que um educador faz?

- Espere, espere - disse o diretor, agora mais sério - Nosso colégio incentiva os esportes e as artes marciais. Essas duas lutaram de forma respeitosa e deram o exemplo que um artista marcial deve dar. Não é uma briga.

- Não é uma briga? O senhor viu os vídeos?

- Oh...tenho aqui gravado - disse ele, mostrando no computador os arquivos da luta.

- Viu só? Elas quase arrebentaram aquela coluna!

- Está exagerando, Amanda. As duas são profissionais, assim como você. 

- Bom...de fato, os movimentos não são de qualquer um.

- Viu? Olhando para esses movimentos dá para ter uma ideia da habilidade delas.

 Por alguma razão, Amanda sente um mal estar ao ver as duas lutando, principalmente quando as câmeras focavam em partes mais "cheinhas" das duas. 

- Mesmo assim, isso não justifica essa irresponsabilidade. Como presidente do grupo disciplinar preciso reprovar isso!

- Mas é muito diferente de uma briga de rua. A exceção para uma luta nessas condições foi até boa para divulgar nosso colégio.

- Divulgar...acho que a propaganda da nossa escola ficou é muito negativa com uma luta desorganizada dessas.

- Mas eu já disse: elas são profissionais. Basta assistir os vídeos. Aquela garota, a Lien Wong, também é uma excelente esportista. Precisa ver os vídeos de tênis dela.

- Tênis, é?

- Ela derrotou até nosso campeão de tênis, o Álvaro. Você deve se lembrar dele..

- Oh, então era disso que ele estava reclamando hoje de manhã - lembrou Amanda - Seja como for, não concordo com sua opinião..mas...

- Mas?

- Se elas são profissionais como o senhor diz...então devem estar preparadas para qualquer coisa

- Por acaso está pensando... - o diretor coloca os cotovelos na mesa com as mãos entrelaçadas e parecia adivinhar o que Amanda queria.

- Estou pensando em testar essas garotas. Se são tão fortes assim...acho que podem fazer parte do nosso grupo disciplinar.

- Imaginei que fosse dizer algo assim...

  - Já que elas gostam tanto de lutar..então vou fazê-las lutar dentro das regras da escola - os olhos de Amanda pareciam queimar. Que tipo de força essa garota possui?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!