Capítulo 145 - Invasão Inevitável

Uma vez que o inimigo soube a localização do pingente do galo por conta de um descuido de Astolfo, restou à Kéfera correr para proteger a joia da investida inimiga o quanto antes. O pingente estava devidamente protegido no cofre da família Maiglockhen, mas será que era suficiente? A garota correu muito e chegou ofegante em sua mansão. Sua governanta, Frederique, a recepcionou devidamente.

– Bem-vinda de volta, Srta. Kéfera - disse ela, cordialmente - Parece cansada. Gostaria de um suco?

– Água já é o bastante - respondeu a loirinha - Ei, não, espera! Frederique! Alguém tentou invadir a casa nessas últimas horas?

– Invadir? Não, não aconteceu nada do tipo.

– Ah, que bom. Cheguei a tempo!

– Algo de errado? Fui informada de que a senhorita passaria uns dois dias fora em retiro espiritual com seus amigos.

Sim. Foi essa a desculpa que Kéfera deu.

– Espero que tenha aprimorado seu espírito, senhorita - continuou Frederique.

– Sim, sim - disse Kéfera, meio desconsertada - Acho que...melhorei..hehe.

Assim que ela disse essas palavras, Frederique tentou atacar Kéfera com o espanador que tinha em mãos. Imediatamente a garota se defendeu.

– O que é isso?! Fiz algo de errado para você me atacar assim?

– A senhorita está mais forte. Não sei o que houve nesses dois dias, mas posso sentir daqui que melhorou bastante sua capacidade de luta.

– Bom...mais ou menos isso...digamos que...foi um treinamento secreto.

– Em apenas dois dias? Não parece muito possível.

– É que...se eu contasse, você não acreditaria.

– Por que não acreditaria? Nos últimos dias tem acontecido coisas muito estranhas.

– Ah, você ficou sabendo?

– Desde o estranho fenômeno na sua escola que foi noticiado para a mídia como um delírio coletivo gerado por um projeto de computação gráfica...até mesmo esse pingente que a senhorita insistiu em guardar no cofre da família.

– É só uma joia...

– Uma joia muito estranha e sem nenhum valor reconhecido no mercado. Trabalho para a sua mãe e se tem uma coisa que ela entende é de joias.

– Tá, tá bom, vou contar - continuou Kéfera - É que a história é muito complicada...mas aquele pingente está sendo visado por uma organização do mal...

– Organização do mal? Não parece muito realista, senhorita.

– Tá legal...seria um tipo de máfia chinesa. Chamam eles de Meyou Zidan.

– Meyou Zidan? - repetiu Frederique, como se já tivesse ouvido aquele nome antes - Meyou Zidan...o nome não me é estranho. Já ouvi algo sobre eles em alguma missão do passado.

Lembrando que Frederique já foi uma agente secreta antes de se tornar governanta.

– Eles são gente perigosa, mas não usam nenhum tipo de arma de fogo, apenas resolvem seus problemas com as próprias habilidades...que não são poucas. Treinei muito nesse tempo que fiquei fora e estou morrendo de saudades da minha cama, mas...não posso descuidar disso. Parece que agora eles sabem que o pingente está aqui e podem nos atacar quando menos esperarmos.

– Não há o que temer. Esta mansão possui um sistema de segurança incrivelmente avançado. Não é qualquer pessoa que pode invadir.

– Eles não tentarão roubar às escondidas, acredite - falou Kéfera - Eles..tentarão nos atacar diretamente! Estou pronta para enfrentá-los, mas..

– Não se preocupe - continuou Frederique - Mesmo que eles ataquem de frente, estarei pronta para defender a honra desta família.

– De qualquer modo, vou continuar alerta. Meus pais estão trabalhando, não é? Espero que o ataque não ocorra quando eles estiverem aqui.

– Estarei alerta - confirmou Frederique - Posso ajudá-la em algo mais, senhorita?

– Bom... - Kéfera continuou falando com lágrimas com olhos - Quero tomar um banho. Estou morrendo de saudades de um banho quentinho na banheira.

– Providenciarei imediatamente - respondeu a governanta.

Apesar de rica, Kéfera não era do tipo patricinha, mas tinha seus momentos. Tomar banho na academia Wong não era em nada parecida com o conforto da banheira de hidromassagem que ela tinha em sua própria suíte.

"Aaah..que delícia", pensava a loirinha, enquanto se deleitava nas espumas de sua banheira. "Espero que não tenha problema relaxar assim. Ah, qual é? Não vai acontecer nada justo agora que estou no banho, não é? Eles não podem nos atacar tão rápido assim, ou podem?"

Na verdade, podiam. Tanto podiam que fizeram exatamente isso. Uma pessoa na figura de um rapaz alto, cabelos negros relativamente compridos marrados por tranças, traços chineses, braços fortes e um pingente em forma de tigre amarrado nos punhos se aproximou do portão da mansão Maiglockhen. Quando se diz aproximação, não pense em simplesmente tocar a campainha e pedir para falar com os donos: pense em simplesmente saltar o portão com cerca elétrica com uma agilidade monstruosa. É claro que os seguranças da casa tentaram impedir sua entrada imediatamente.

– Ei, o que está fazendo? - disseram os guardas em uma tentativa de interceptá-lo, mas o homem era bem mais ágil. Conseguiu nocautear todos os três seguranças particulares da mansão em frações de segundo. Os guardas caíram trêmulos no chão, como se tivessem levado algum choque.

– Não me atrapalhem - disse ele, arrogantemente - Não é com vocês que vim tratar. Quero falar com a responsável por essa mansão.

– Infelizmente, os donos não estão - disse Frederique, se aproximando calmamente da figura - Mas, sou a representante da casa na ausências dos mesmos.

– Uma criada, é? Heh! Escute, mulher, não vou ferir ninguém se contribuir comigo. Há uma joia nessa casa que me pertence. Só vim pegá-la de volta. Entregue e poderá prosseguir com sua vida em paz.

– E posso saber quais são suas intenções com essa joia?

– Isso não te interessa - continuou o homem - A joia pertence ao meu clã e ponto final.

– Mesmo que não queira me responder, já estou ciente dos fatos - continuou a governanta - E a resposta é não. Não irei entregar a joia e nem dizer onde está. Se insistir, terei que impedi-lo de forma rude.

– Você é bem educada, heim? Mas tem ideia com quem está falando?

– Não fomos apresentados.

– Sou o relâmpago da Meyou Zidan, Shandiàn (*) - respondeu ele, de forma orgulhosa - Aquele que foi rápido o suficiente para derrubar seus guardas em décimos de segundo. Tem certeza de que quer me desafiar?

– Tem razão...você derrubou nossos melhores guardas - disse Frederique, sem perder a calma por um segundo sequer.

– Heh..viu o que disse e..

Mas antes que Shandiàn se desse conta, Frederique já estava atrás dele, com uma faca afiada apontada em seu pescoço.

– Você derrubou os melhores guardas. Mas, infelizmente para você, eu não sou um guarda - disse ela, em um tom extremamente frio, como se pudesse cortar a garganta dele a qualquer momento.

"Ela é rápida", pensou Shandiàn que, embora surpreso, não estava nem um pouco temeroso, pelo contrário, a ação da governanta só o deixou mais empolgado. "Agora essa missão começou a ficar interessante!"