Capítulo 125 - O Ataque da Meyou Zidan

Cinco dias após o incidente com o chamado pingente do galos se passaram. E, em algum lugar escondido (porém luxuoso) da China, Tiaoyue se aproximava dos enormes portões, guardados por guerreiros nada bem encarados. Ao perceberem a presença do guardião do pingente do macaco os guardas se ajoelham imediatamente.

– Mestre Tiaoyue! Bem-vindo de volta! - disseram eles (em chinês, claro. Mas como não é uma língua muito fácil todos os diálogos serão traduzidos).

Tiaoyue não falou nada e apenas entrou. Caminhou por entre os corredores extravagantes da construção que mais parecia um grande palácio. Colunas enormes e outros detalhes de arquitetura chinesa saltavam aos olhos, mas a atenção de Tiaoyue não era para nada disso e sim para a sala mais afastada de todas. Um local onde o próprio Tiaoyue sentia um certo receio. Ele se aproximou do grande salão no local mais fundo da habitação, respirou fundo e bateu na porta. Não precisou bater mais de uma vez. Logo as duas portas se abriram, revelando uma grande sala, certamente maior do que todas as outras, onde um homem de cabelos compridos lia uma espécie de pergaminho.

– Mestre Long - disse Tiaoyue - Estou...de volta.

– Oh, seja bem-vindo - falou o homem, em um tom de voz tranquilo - Soube que teve problemas em trazer o pingente do galo.

– Sobre isso... - Tiaoyue hesitava em falar - Não esperava que tivesse um protetor tão forte.

Imediatamente o homem se levantou e abriu a palma da mão direita. Uma espécie de vendaval praticamente jogou Tiaoyue para longe.

– Acho que cometi um erro em mandar alguém tão mole como você para resgatar o pingente do galo - disse o tal Long, agora com uma expressão mais severa - Achei que tivesse tudo sob controle. Não chegou ao ponto de usar a família daquele imbecil como refém?

– Err...as circunstâncias me forçaram a soltá-los - disse Tiaoyue, realmente amedrontado.

– Tsc - Long voltou a se sentar, mas sem mudar sua expressão furiosa - E agora? Como ficamos? O pingente do galo é o único que resta para completar os doze signos. Só assim seremos os mais guerreiros mais temidos de toda a China.

– Se me permite dizer...acho que já temos poder o suficiente para..

– Cale-se! - disse Long, socando a cadeira - O verdadeiro poder dos pingentes só se concretiza quando completarmos os doze signos. Se um único estiver faltando...somos apenas pessoas fortes, mas não os mais poderosos.

– Que tipo de poder é esse, Mestre? - perguntou Tiaoyue.

– Algo que nem eu consigo imaginar - ele disse, enquanto mexia em seu pingente com formato de dragão - Mesmo eu, com o pingente do dragão, o mais poderoso dos doze, ainda não seria páreo para esse nível de força.

– Bem, mas só fiz uma retirada estratégica - disse Tiaoyue - Tenho certeza de que se me enviar acompanhado de mais um irmão...conseguirei recuperar facilmente o pingente do galo.

– Um único membro do Meyou Zidan já deveria ser suficiente para resgatar aquele pingente. Que tipo de inimigo você enfrentou?

– Alguém forte...pelo que me lembro...parecia seguir o estilo da família Wong ou algo do tipo.

– Wong...Wong...o nome não me é estranho - disse Long, colocando as mãos no queixo de forma pensativa - Seria...

Ele se levantou e se dirigiu a uma espécie de estante ao lado do salão, recheada de pergaminhos. Após alguns instantes finalmente encontrou o que procurava.

– Aqui. Estive estudando tudo que pude sobre o pingente do galo nesses últimos dias. Parece que o pingente já pertenceu a um homem chamado Da Wong, mas isso foi há muitos séculos atrás.

– Seria um descendente desse Da Wong? - indagou Tiaoyue.

– É possível - disse Long - Considerando que o pingente foi passado de geração a geração, nada impede. Mas ele conhecia o poder do pingente?

– Err...na verdade, não - disse Tiaoyue.

– O QUÊ?! - agora Long voltou a sair de um estado calmo para um estado furioso - Quer dizer que você foi derrotado por alguém que sequer conhecia o poder do pingente do galo? Como um membro da Meyou Zidan se prestou a esse papel?

– Pelo que parece..ele era poderoso mesmo sem pingente. Preciso reconhecer isto - disse Tiaoyue, buscando alguma compreensão por parte de seu mestre.

– E agora? O que está pensando em fazer?

– Esse homem está disposto a lutar para defender o pingente - disse Tiaoyue - Se retornar lá acompanhado de mais um membro, tenho certeza de que poderei vencê-lo.

– Mas se é tão poderoso assim sem o pingente, nada garante que não se torne ainda mais forte se for capaz de se sintonizar com ele - disse Long - Aqui diz que o clã Wong tem sido uma grande família guerreira há muitas gerações.Talvez...seja melhor nos prepararmos.

– Como assim?

– Vamos para o Brasil - disse Long - Enquanto estamos longe, eles podem pensar em alguma coisa. Mas com toda nossa equipe lá, certamente eles não terão chances.

– Todos nós? Não seria muita coisa...creio que dois de nós já são suficientes.

– Huhuhuhu. Acabou de falar o homem que perdeu para uma pessoa comum. Não está se achando muito para um simples macaco? - agora era uma voz feminina, que vinha da porta de entrada.

– Dushé (*)? - virou-se Tiaoyue imediatamente.

Era uma chinesa de longos cabelos negros e lisos, mas olhos vermelhos e aparentemente perversos. De fato, lembrava uma serpente, que, aliás, era o formato do pingente que carregava no pescoço.

– Deveria ter me enviado, Mestre Long - disse ela, aproximando-se da cadeira de Long - Eu não teria sido tão mole com meus inimigos.

– Terá sua oportunidade, Dushé - disse Long - Amanhã mesmo estaremos partindo para o Brasil. Todos nós, inclusive aquela pessoa.

– Mesmo ela? - perguntou Tiaoyue.

– Se conseguirmos nosso intento, ela será necessária, não? - disse Long - Agora vão se preparar. Parece que finalmente daremos algum trabalho para nossa base naquele país.

"Todos nós irmos para lá?", pensou Tiaoyue. "Isso realmente não é necessário"

– Tem sorte do Mestre Long ser tão generoso, Tiaoyue - disse Dushé - Se eu estivesse no lugar dele, você pagaria seu fracasso com a vida.

– Fala como se fosse muito poderosa - disse o dono do pingente do macaco - Mas não está muito longe de mim em nível de luta. Não acho que teria melhores resultados do que eu.

– Acha mesmo? Os poderes da serpente são muito maiores que os seus - disse ela, mostrando orgulhosamente seu pingente. Tiaoyue não disse nada. Ao que parece, a guerra estava prestes a começar e, no Brasil, Mestre Wong estava ciente disso.

– Minha família está protegida em um lugar onde ninguém irá encontrá-los - disse Ming - Pedi para que ficassem por ali até as coisas esfriarem. Prometi trabalhar aqui e mandar dinheiro para eles.

– Mas se eles são uma máfia, vão encontrar sua família cedo ou tarde - comentou Alex, que estava ali, juntamente com André, Lien e Mestre Wong xeretando no treino como sempre. Lien e Wong contaram tudo que ocorreu naquela noite e todos estavam cientes da confusão.

– Alex! - retrucou Lien - Isso é coisa que se diga?

– Você nunca assistiu esses filmes, não? Eles não são de brincadeira!

– Pior que ele pode estar certo. Dloga...o que fui fazer? - reclamou Ming, que deixava seu sotaque escapar quando ficava nervoso.

– Bem, eles querem o pingente, não é? - disse André - Cedo ou tarde eles virão buscá-lo, mas estaremos aqui para protegê-lo. Não é, Mestre?

– Tenho minhas dúvidas se vamos conseguir protegê-lo - falou Mestre Wong, pegando o pingente em suas mãos - Aquele cara era forte. Forte a ponto de chegar no meu nível. Não acho que vocês tenham chances.

– Então...vamos precisar treinar muito, não é? - falou André - Estou disposto a ajudar no que for preciso!

– Isso é um assunto meu, não precisam se preocupar - falou Mestre Wong - Estarei pronto para enfrentar quem quer que seja.

– Mas...se esse é o último signo do horóscopo chinês para eles - lembrou Alex - Quer dizer que eles já devem ter os outros onze, não?

– Bem, o cara que nos atacou era do signo do macaco - lembrou Lien.

– Então deve ter no mínimo mais uns dez caras do nível dele ou mais - falou Alex - Precisamos estar prontos, não acham?

– Bom, por enquanto não aconteceu nada - falou Wong - E acho que não farão nada com a família de Ming ou já teríamos notícias. Meu palpite é que levaram a sério o papo da guerra.

– O senhor declarou guerra? - perguntou André.

– Sim. O mais provável é que voltarão a nos atacar aqui - disse ele - Se isso acontecer, podemos estar em sérios apuros.

– Então o que estamos esperando? - disse Lien - Precisamos treinar!

– Sim - concordou André.

Os dois foram para a arena e iniciaram uma luta. Estavam dispostos a auxiliar o Mestre. Mas Ming percebeu a preocupação de Wong.

– O senhor...acha que eles não tem chance?

– Não sei nem se eu vou ter alguma chance - falou ele - Mas vamos aguardar...enquanto isso, seria interessante descobrir como essa coisa funciona.

Ele disse isso apontando para o pingente do galo.

– O Tiaoyue disse que cada pingente tem um poder - disse Ming - Se conseguíssemos usar esse pingente ao nosso favor.

– É verdade - concordou André - Mas...como será que se faz isso?

– Harmonizar o ki, ele disse - falou Mestre Wong - Lien e André ainda são iniciantes nisso. Mas...se pelo menos eu pudesse harmonizar, já seria de alguma ajuda.

A verdade é que nenhum de nossos amigos tinha muita ideia sobre o que fazer. Mas a Meyou Zidan já estava a caminho do Brasil. Como eles poderão reagir a isso?

(*): Dushé é a pronúncia aproximada para víbora.