Encrenca Shaolin escrita por Metal_Will


Capítulo 122
Capítulo 122




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Capítulo 122 - A Relíquia Wong

Lien desceu as escadas da academia lentamente e conseguiu ver Ming, seu hóspede e amigo de infância bisbilhotando pelo grande salão de treino. Ele olhou para trás, mas Lien se escondeu em uma coluna. O rapaz parecia nervoso.

"O que é isso? O que você está pensando, Ming?", pensava a garota, tentando ser o mais discreta possível. Ming continuava a andar tão discretamente quanto até chegar a uma parede em um corredor que levava para o lado de fora do salão. Ali não havia nada, apenas a parede e uma pequena estátua de uma ave (um tipo de fênix ou algo do tipo). Ming puxou a estatueta da ave três vezes e abriu uma passagem secreta no meio da parede. Lien ficou mais do que espantada. Ela nunca havia ouvido falar daquilo. O que Ming estava pretendendo? Ela não podia ficar parada diante disso.

– Ming! - gritou ela para pânico imediato do pobre rapaz.

– L-Lien - gaguejou ele - N-Não é nada do que está pensando!

– É? E no que eu estou pensando?

– Que...eu estou querendo alguma coisa. Mas na verdade...

– Você é sonâmbulo? Não é o que parece - disse a chinesa.

– Oh, droga...é a desculpa que eu queria usar...tsc.

– Vai dizer o que está havendo ou não? - continuou Lien, cruzando os braços e aguardando alguma explicação. Ming suspirou e acabou falando.

– Olha...eu não ia roubar nada..só queria...pegar emprestado - ele falava de modo pausado e paciente. Lien conhecia o garoto desde pequena. Sabia que tinha mais alguma coisa por trás daquilo.

– Emprestado? Mas o que você queria pegar emprestado? Aliás, como você sabia que tinha uma passagem secreta aí. Nem eu sabia que tinha.

– Estudei a planta da academia e observei como ela é montada. Tenho uma certa experiência com essas coisas, afinal, já trabalhei em construções lá na China. Por isso eu tenho uma certa ideia de onde estão as coisas escondidas..

– Então você queria roubar mesmo, seu safado! Nunca pensei que meu melhor amigo de infância fosse um ladrão! Vou chamar a polícia agora!

– Não! Não! Espera...por favor. Não envolva a polícia nisso. Acho que ela não poderia ajudar em nada.

– E então? Dá pra falar logo no que você tá metido? - Lien acabou entrando no salão para observar o que havia de tão especial ali e só viu um pequeno pingente em forma de ave em um tipo de pedestal, bem no centro da sala.

– Bem...era isso que eu queria emprestado - falou Ming.

– O que é isso? - indagou Lien.

– Isso... - mas Ming foi imediatamente interrompido por ninguém menos que Mestre Wong.

– Isso é o tesouro da nossa família, Lien - disse o Mestre, com uma expressão nada feliz.

– Vovô! - exclamou a garota.

– M-Mestre...ouça, eu posso explicar.

– Ah, sim. Gostaria muito de ouvir uma explicação. Por que tem tanto interesse nesse presente? Ele foi dado por meu tataravô e foi passado de geração a geração. A nossa família tem guardado esse objeto por anos. O que você quer com algo tão importante?

– Por favor...eu preciso dele. Ou isso, ou minha família vai sofrer.

– Sua família? O que tem o pessoal da pastelaria? - indagou Lien, agora mais preocupada.

– Bem, digamos que...estamos devendo alguns favores para um pessoal. Mas só que é um pessoal não muito pacífico - continuou Ming.

– Dá pra ser mais claro? - pediu Lien.

– Ou levamos isso para a Família Meyou Zidan (*) ou estamos fritos! - disse Ming, sem enrolar muito.

– Família Meyou Zidan? - repetiu Mestre Wong agora com um olhar nervoso.

– O senhor já ouviu falar, vovô? - perguntou Lien.

– Não é possível - continuou Wong - É um clã chinês assassino...mas eles não usam armas de fogo. Mesmo assim, são mais competentes do que muitos atiradores por aí.

– O quê?! Ming! Como foi se envolver com isso? - perguntou Lien.

– Bom, tudo começou quando um dos membros desse grupo estava comendo um pastel no nosso estabelecimento. Eles ouviram que estavam ameaçando nos despejar e acabaram nos ajudando a quitar a licença do lugar. O problema é que ficamos devendo um favor para eles e agora ou cumprimos ou...sei lá o que pode acontecer. Tentamos pagar em pastel, mas eles sabiam que tínhamos ligações com vocês aqui e me mandaram para pegar esse pingente.

Ming apontou para o pingente em forma de pássaro que estava no pedestal.

– E por que eles querem esse pingentezinho feio? O que tem esse passarinho aí? - perguntou Lien.

– Não é um passarinho! - reclamou Mestre Wong - É um galo! Não dá pra ver que é um galo?

– Mais ou menos - falou Lien - Ah, já é madrugada....tá muito tarde pra ficar pensando se é um galo ou não. Mas isso vale tanto assim?

– Bem, meu tataravô só dizia que é uma relíquia rara...e parecia não ser a única. Imagino que deva valer bastante dinheiro, mas...tem um valor sentimental muito forte.

– Por favor, Mestre! Não sei o que acontecerá se não levar isso para eles! Por favor...pelos velhos tempos!

– Não seria melhor chamar a polícia, vovô? - perguntou Lien - Estamos falando de um crime internacional. Mandaram o Ming roubar algo daqui para levar lá para a China.

– Sim. Você sabe que está cometendo um crime, não sabe, Ming? - perguntou Wong.

– S-Sim - gaguejou o rapaz - Mas eu não tive escolha. Estou com muito medo. Enquanto estou aqui não sei o que eles poderão fazer lá na China. Se vocês chamarem a polícia eles podem fazer algo lá. É um problemão!

– Ming, como foi chegar nisso? - perguntou Lien.

– Mas é a Meyou Zidan - disse Wong - Eles tem como política não usar armas de fogo, portanto tudo que podem fazer é tentar nos atingir com outros meios. É isso. Somos artistas marciais! Podemos enfrentá-los!

– Eles são fortes, não? - disse Lien.

– Sim. Mas se for para proteger meu tesouro e minha família ficarei feliz em lutar contra todos. Podemos pedir para a polícia chinesa proteger a família de Ming enquanto pensamos no que fazer.

– Não tem como - disse Ming - Nossa família já está sendo vigiado pelos homens deles. Estamos perdidos.

– Então vamos acionar a polícia daqui do Brasil - sugeriu Lien - Esse é um caso sério!

– Não...eles vão acabar descobrindo - disse Ming.

– Tem alguma ideia melhor?

– Eu tenho - disse uma voz desconhecida, surgindo de repente atrás da porta.

Todos se viraram para trás espantados. Atrás deles havia um outro rapaz de traços chineses, com um sorriso maligno no rosto e certamente com nenhuma boa intenção.

– Quem é você? Como entrou aqui? - perguntou Lien.

– Ninguém em especial. Sou apenas o responsável por vigiar esse garoto na missão dele - disse o estranho com toda a tranquilidade - Não precisam se preocupar com a polícia ou com as ações de Ming. Eu mesmo levarei a relíquia para a China. Só precisava que ele encontrasse o local onde ela estava. Suspeitei de que ele não teria iniciativa para roubá-la sozinho, por isso nosso clã achou por bem me colocar como espião.

– Você estava atrás de mim? Eu não percebi nada - disse Ming.

"Nem eu e nem o vovô percebemos", pensou Lien. "Esse cara não deve ser comum"

– Quem é você afinal? - perguntou Mestre Wong.

– Costumam me chama de Tiaoyue (**). Sou um dos membros mais jovens do clã Meyou Zidan, muito prazer - disse ele.

– E acha que vamos deixar levar o tesouro da nossa família assim tão fácil? - perguntou Wong.

– Bem, precisamos desse pingente para uma causa muito maior...vocês não entenderiam. Apenas me deixem levar e podem continuar vivendo suas vidas tranquilamente - disse Tiaoyue sem perder a calma.

– Nem ferrando! - exclamou Lien - Ouvi que vocês não usam nada de armas de fogo, não é?

– Não precisamos - disse Tiaoyue - Nossas habilidades são mais do que suficientes.

– Sei - disse a garota, assumindo uma posição de batalha - Então...não pense que levará esse pingente sem luta!

– Lutar, é? - disse o invasor sem nenhum sinal de tensão - Será que vale a pena vocês se arriscarem tanto?

– Lien...tem certeza? - falou Ming.

– Vamos defender o que é nosso. Só isso - falou a garota.

– Justo - disse Tiaoyue - Mas não vá se arrepender depois.

– Só me arrependo do que eu não faço - disse ela, com um sorriso confiante - Pode vir...agora meu sono já foi embora.

Será que Lien terá condições de enfrentar esse adversário?

–---

(*) : Meyou Zidan é a pronúncia aproximada para "Sem Balas" ou "Sem Munição".

(**): Tiaoyue. Pronúncia aproximada para "Saltar"


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Notas finais do capítulo

E assim começamos a nossa próxima e longa saga. Aguarde o próximo!

Até!



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