Encrenca Shaolin escrita por Metal_Will


Capítulo 120
Capítulo 120




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/167381/chapter/120

Capítulo 120 - Decepção

– Marcos? - repetiu Amanda, sem acreditar em seus próprios olhos - É você mesmo?

– Há quanto tempo - disse o sorridente rapaz de cabelos curtos e altura mediana na frente da garota - Desde que treinávamos juntos, não é?

– S-Sim - gaguejou ela - Muito tempo mesmo.

Um rápido flashback passou pela cabeça de Amanda naquele momento. Quando Amanda começou a praticar boxe, teve algumas dificuldades no início, mas foi apoiada por um rapaz, um amigo disposto a dar força quando ela estava quase pensando em desistir. Foi Marcos. E podemos dizer que Marcos fora a primeira paixão de Amanda, embora ela não entendesse isso muito bem na época.

– O que está fazendo aqui? Você nunca mais deu notícias! - disse a moça.

– Desculpe...mudei de cidade, depois voltei pra cá, mas também perdi seus contatos - disse ele.

– Eu que fui boba de não ter te dado nenhum telefone nem nada...e também nem entro nessas redes sociais como a maioria do pessoal - respondeu Amanda - A gente acaba perdendo o contato mesmo.

– Ah, eu também não sou ligado nessas coisas - disse ele - Mas você tá com pressa? Podemos lanchar juntos em algum lugar.

– Oh, verdade. Estou morrendo de fome - disse Amanda, sorrindo suavemente (sorrir...coisa que ela fazia raramente).

– Conheço um café aqui perto. Vamos lá? Temos muita conversa para colocar em dia.

– Ok - disse ela.

E logo os dois estavam juntos à mesa do café, lembrando do passado.

– Nossa...então você treinou firme mesmo? - falou Marcos em determinado momento - Fico feliz que tenha continuado com o boxe. Você quase desistiu nas primeiras aulas.

– Graças a você - disse ela - Se não tivesse me dado força, eu teria continuado aquela tonta de sempre!

– Que vergonha...eu parei de treinar um ano depois - disse o rapaz, meio encabulado - Nem sei mais como colocar uma luva.

– Sério? Abandonou o boxe mesmo? Que pena...você tinha talento.

– Acabei ficando preguiçoso. Mas ainda bem que você levou a sério. Isso já valeu a pena.

– Isso me ajudou bastante - confessou Amanda - Agora estou mais confiante...e até sou presidente do grupo disciplinar da minha escola.

– Sobre isso...sim, foi mais ou menos para isso que vim te procurar...além de matar as saudades, claro.

– Hã? Como assim?

– Bem, eu voltei para a cidade há pouco tempo. E entrei numa escola da região. Mas tem uns caras bem folgados por lá...e a coordenação do colégio não faz muita coisa.

– E?

– Soube que em um colégio da região havia um grupo que mantinha a paz escolar com bastante autoridade e fiquei surpreso quando soube que era você a líder. Não podia ser melhor!

– E o que exatamente você quer?

– Poderia...me ajudar a dar um jeito nesses caras?

– Olha, não posso usar minha autoridade fora do colégio...é...contra as regras e..

– Não precisa bater em ninguém. Apenas me dê uma cobertura. Esses caras são só folgados e malandros. Basta achar alguém com voz grossa que eles sossegam. Mas eles tem causado muita encrenca no meu colégio. Por favor, quebra esse galho para mim. Pelos velhos tempos.

– Bom..se é pelos velhos tempos. Claro. Devo muito a você - disse Amanda com ternura. Marcos sorriu e após o término do café, os dois seguiram para um prédio abandonado em uma região esquecida do centro da cidade. Amanda teve uma péssima impressão do lugar.

– Que lugar - disse ela - Num lugar desses seria melhor ter vindo com ajuda da polícia, não?

– Eles só latem, você vai ver - disse Marcos - Estão ali.

A dupla se aproximou. Amanda viu três caras em idade colegial conversando. A garota chegou com a expressão rígida de sempre.

– Então..vocês são os delinquentes que estão causando problemas nos colégios da região? - perguntou ela - Poderia falar com vocês um pouco?

– Ah - disse um dos caras - E você deve ser a Amanda, líder do grupo disciplinar do Sol Nascente, não é?

– Se for?

– Heh! - os três se levantaram, dando o sinal para um grupo enorme de vários estudantes fortões aparecerem, alguns carregando pedaços de madeira.

– Não pensei que fossem tantos - disse Amanda - Marcos?

– Valeu, Marcos - disse um dos delinquentes - Atraiu a gatinha direitinho.

– Como? - Amanda arregalou os olhos - O que disse?

– D-Desculpe - foi tudo que Marcos pode dizer.

– Heh! É o que ele pode falar, não é? - nisso, um cara nada bonito caminhava para o centro da multidão.

– Lúcio..pega leve aí, por favor - disse Marcos.

– Ah, tá com peninha da sua amiguinha, é? - disse Lúcio, o mandante de todos aqueles caras - Não acha que já fiz muito em perdoar suas dívidas em troca desse favorzinho, não?

– Dívidas? - indagou Amanda.

– Chantagem...eu...eu me meti com uma garota comprometida e o namorado dela estava me ameaçando. Como o Lúcio é influente na região ele deu um jeito no cara e fiquei devendo para ele. Mas o que eu podia fazer? Parei de treinar boxe...estava ocupado com uns trabalhos de meio período...virei um fraco, Amanda. Um fraco.

– Como...você foi capaz de fazer isso? - a garota parecia revoltada.

– Eu só tô fazendo meu trabalho. Ei, vocês querem ver isso? - disse Lúcio para seus três "clientes", que viam tudo de longe.

– Hã? A gente? - disse Fábio, ainda receoso.

– Ah! Claro! Não precisamos ter medo! - disse Caio, entrando no meio - Amanda...agora você vai aprender a não meter mais seu nariz nos nossos assuntos.

– C-Caio..ela parece brava - disse Pedro, o terceiro do grupo

– Heh! Como ela vai fugir dessa? - falou Caio.

– Podem atacar, galera - disse Lúcio, sem esconder uma expressão maligna em seu rosto. Marcos virou seu rosto para não ver a terrível investida de todos aqueles brutamontes para cima de Amanda. Sons de pancadas podiam ser ouvidos claramente. Alguns segundos depois, Marcos abre os olhos pensando na horrível cena de sua amiga do passado ferida. Mas não foi bem isso que ele viu.

– C-Como? - Lúcio gaguejou, enquanto todos os três estavam com a boca aberta.

Amanda simplesmente nocauteou todos os seus agressores com a maior facilidade. No entanto, sua expressão não era nada tranquila.

– Ela...acabou com todos eles sem nem suar? - Caio não podia acreditar em seus olhos.

– É só isso? - perguntou Amanda - É isso que você chama de ameaça?

– I-Impossível - Lúcio gaguejava - Aqueles caras eram meus melhores homens...e essa menina acabou com todos...até com os piores do Lua Minguante ela detonou.

– Lua Minguante? Não me faça rir...eu conheci os mais fortes de lá uma vez. Eles nunca se sujeitariam a obedecer um lixo como você - disse Amanda, se aproximando cada vez mais de Lúcio.

– E-Espera...foram eles que me contrataram. Eu não tenho nada contra você, não. Pelo contrário. Você não gostaria de trabalhar para mim? Posso pagar bem e..

– Com dinheiro sujo de chantagens? É assim que você consegue a força, não é? Pagando para algo que você não pode fazer. Passo...prefiro receber de outro jeito.

E Amanda mandou Lúcio para longe com apenas um punho. O horroroso vilão caiu inconsciente.

– Gostaria de socá-lo mais, mas seria muita covardia bater em alguém tão fraco - disse ela - E vocês..

Os três mandantes da surra se abraçavam trêmulos.

– Agora não serei tão piedosa...

– Não! Não! Por favor! - eles gritavam juntos, mas foi inútil. Poucos minutos depois os três estavam pendurados pelas calças nos ferros da construção. Uma lição merecida, diga-se de passagem. Amanda preparava-se para sair quando percebeu Marcos, escondido em um canto do local. Amanda o chamou sem sequer olhar para ele.

– Marcos

– Desculpe! - disse ele, sem sair do esconderijo - Eu não tinha escolha e...

– Não se preocupe. Não vou bater em você - disse ela - Apenas...fiquei decepcionada. Quando você me pediu para vir aqui...já comecei a suspeitar de que tinha algo estranho. Mas não quis acreditar. Sou uma boba mesmo.

Marcos não podia responder nada.

– E pensar que um dia eu te admirei...te achava tão forte...mas acho que nunca vi alguém mais fraco que você...me faça um favor: nunca mais apareça na minha frente!

E a garota saiu do local, sem olhar para trás.

"Eu..preferia que ela tivesse me batido", pensou Marcos.

Longe dali, Amanda limpava suas lágrimas de decepção. No meio do caminho, ela se deparou com seu professor de física, Márcio, voltando da escola. Era uma pena que o nome dele lembrasse o de seu ex-amigo traidor.

– Oh. Amanda. Como vai?

– Professor? - disse ela, voltando-se para trás ainda com os olhos marejados.

– O que foi? Andou chorando?

– Nada..foi só um cisco que entrou no meu olho.

– Amanda, Amanda. Não é nenhuma vergonha falar o que sente, sabia? Mas entenderei se não quiser contar.

– Sabe..quando uma pessoa que você confiava tanto...pisa feio na bola com você? Foi isso

– Pessoas são falhas - disse ele - Mas...também há muitas pessoas em quem se pode confiar, não é?

Amanda se lembrou de seus recentes amigos, como Lien, André e Kéfera. Ou mesmo aquele fotógrafo folgado do Alex.

– E você sabe que existem pessoas assim, não sabe?

– Sim...eu sei. Mesmo assim dói.

– Eu sei - disse ele, fazendo um cafuné nela - Se precisar conversar...estarei meditando na praça...no local de sempre.

– Obrigada - agradeceu a menina, se despedindo e olhando para trás, vendo o seu sereno professor caminhando para sua meditação diária.

"Obrigada mesmo...", suspirou Amanda.

Decepções...fazem mesmo parte da vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Encrenca Shaolin" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.