Premonição 2: A Morte lhe Cai Bem escrita por Lerd


Capítulo 5
Respostas?


Notas iniciais do capítulo

Enjoy!



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Mia não se levantou naquele dia. Seu chefe ligara três vezes, em seu celular e no telefone fixo, mas ela se recusara a atendê-lo. Iria ser demitida, tinha certeza, não havia como Nero ser compreensível àquele ponto. Mas depois da morte de Cub e a oferta de Cicciliona, não importava mais. Sua vida estava em jogo e ela era mais importante que qualquer emprego.

A garota correu até o computador e procurou o deathiscoming.com. Ela precisava de mais informações acerca da tal lista da morte, que, agora, tinha certeza que estava sendo colocada em prática. Logo na home do site, encontrou uma aba em que se lia “testimonials”. Era uma sessão onde havia depoimentos de pessoas envolvidas com os casos das premonições. Mia então começou a lê-las, interessada.

Seus olhos se prenderam ao depoimento de um homem chamado “Harold Kobolski”. Ele dizia:

Eu fui atraído pelos fenômenos, visões e a lista da morte desde a primeira vez que tive contato com tudo isso. Era o ano de 1999, e eu estava trabalhando como normalmente fazia no departamento de polícia de Mt. Abraham, escrevendo relatórios policiais banais. Naquela noite alguns agentes trouxeram um garoto chamado Alex Browning, para ele dar explicações a respeito do que estava fazendo em frente à casa de sua professora, a senhorita Valerie Lewton. Os policiais pensavam que Alex oferecia perigo a Srta. Lewton, o que nem de longe podia ser considerado uma verdade. Mas o que me assustou e fascinou ao mesmo tempo, foi a retórica perfeita e a teoria mirabolante que ouvi da boca de Alex.

Ele dizia que a morte estava atrás deles, caçando cada um dos sobreviventes do voo 180, já que eles não deveriam estar vivos naquele momento e tudo aquilo fazia parte do esquema original da própria morte. Não havia como provar o que ele estava dizendo, mas me pareceu loucura refutar. Dois dos sobreviventes do voo (Tod Waggner e Terry Chaney) estavam mortos e, sem que soubéssemos, naquele momento a própria Valerie Lewton estava prestes a se tornar a terceira vítima da tal lista.

Alguns meses depois, encontrei Alex. Ele estava morando com sua namorada Clear Rivers, e me pareceu bastante abalado e paranoico. Todos os seus amigos estavam mortos naquele ponto, inclusive Carter Horton, que estava vivo na última vez que conversei com Alex. Eu pedi para entrar e ele me autorizou, sendo que após isso nós tivemos uma longa conversa sobre a lista e as teorias do rapaz. Foi nesse ponto que ele me deu um nome: William Bludworth.

Saí da casa do rapaz com a certeza de aquela estar sendo a minha última conversa com Alex. Debaixo do meu braço um gravador com toda a entrevista com o Sr. Browning, palavras essas que vieram a se tornar parte de meu livro sobre o caso do voo 180. Por fim meu pressentimento acabou se tornando correto, já que Alex morreu naquela mesma tarde, sendo vitimado por um tijolo que caiu em sua cabeça.

Fiquei abalado, mas me contive. Tentei contatar Clear Rivers, mas foi impossível. Comecei então a me dedicar a minha obra. Quando estava quase terminando o livro, decidi tentar entrar em contato com Clear pela última vez. Acabei descobrindo, através de uma gentil garota chamada Kimberly Corman, que Clear estava morta. Ela morrera durante uma explosão em um hospital alguns meses antes. Fiquei intrigado e fui conversar com a tal Kimberly.

Qual foi meu espanto e fascínio quando a garota me contou em detalhes sua relação com Clear. A situação parecia incrível, já que ela estava na mesma situação de Alex! Mas havia um diferencial, porém. Kimberly se sentia alegre e viva, dizendo ter conseguido vencer o esquema da morte, e ser muito grata à Clear. Mas acanhou-se quanto a me dar uma entrevista oficial para i meu livro, tornando sua personagem bastante obscura. Kimberly, porém, consentiu que eu usasse as palavras que ela dissera, com a promessa de entregar-lhe uma cópia do livro.

Terminei a publicação em 2004, cinco anos após o início do mesmo. Estava pronto para mandá-lo à editora quando me lembrei do nome citado por Alex na última vez que nos encontramos: William Bludworth. Não me surpreendeu o fato de procurar o maldito e não encontrar vestígio algum dele. Como sou da polícia, posso dizer com propriedade: se Bludworth existe, se esconde muito bem. Por fim desisti daquela busca e publiquei o livro.

“180” está disponível nas melhores livrarias do país e em meu site: haroldkobolski.com.

Os olhos de Mia mantinham-se fixos na tela. Decidida, entrou no site de Kobolski e procurou seus números de contato. Em segundos já estava discando para ele.

— Sr. Kobolski?

Uma voz feminina disse ser sua assistente, e Mia pediu para marcar um encontro. A mulher demorou alguns segundos, com uma má vontade evidente, e depois anunciou que eles poderiam se encontrar no dia seguinte, desde que a conversa fosse rápida. Mia confirmou e agradeceu a moça, desligando em seguida.

— Harold Kobolski... Eu espero que você tenha minhas respostas...

x-x-x-x-x

Cicciliona aproximou-se do espelho mais uma vez, sentindo-se inquieta. Seus olhos estavam vermelhos, e ela gritou alto ao perceber uma pequena marca de expressão ao lado dos olhos.

Maledizione!

E jogou uma taça de vinho contra a parede.

Dio!

A conversa com Mia não rendera nada, já que ela não conseguira saber o que queria. Seria possível que aquele Kaleb fosse o irmão da tal indiana que ela e Tony maltrataram anos atrás? Maya era o nome. Cicciliona reconheceria a garota em qualquer circunstância. Não havia como esquecer aqueles olhos violentos, em chamas. A vivacidade. Tudo que a mulher desejava para si e não poderia mais ter.

Talvez fosse esse o motivo do despeito de Cicciliona para com ela. Ver Maya praticamente se jogar nos braços de Tony sem ter consciência disso, enquanto ela tinha de manter-se jovem e bonita para que o homem lhe desse algum resquício de atenção. Era fácil há vinte cinco anos atrás quando Tony tinha dezesseis anos e ela era uma bela mulher no auge de sua plenitude, aos trinta e cinco anos. Qual adolescente não se interessaria por ela? Fora fácil. Talvez o problema tenha sido se apaixonar por aquele garoto rebelde. Talvez ele fosse seu ponto fraco, seu calcanhar de Aquiles. Talvez ele fosse sua ruína.

Cazzo...

A raiva a consumia por dentro. Sentou-se na cama, as mãos sangrando. Lembrou-se então do ponto mais baixo que fora capaz de ir em nome do amor por Tony.

Cicciliona andava no shopping, fingindo fazer compras, mas sordidamente observando o carrinho de bebê carregado pela babá. Gretel estava dentro da loja, enquanto Mike tomava um sorvete do lado de fora. A mulher conseguiu sumir com a empregada rapidamente, pegando o garoto em seguida. Naquela época ele era o elo que ligava Tony à Gretel, e impedia o homem de ser dela. Se aquele bebê estivesse fora da jogada, Tony poderia finalmente ser meu.

Mas seu plano foi por água abaixo, quando ela acidentalmente matou o garoto asfixiado. Sua ideia era entregá-lo para uma família em Paris, nos braços de uma velha viúva milionária, onde Mike teria uma vida de príncipe. Na mente psicótica de Cicciliona, ela estava fazendo o correto, já que melhoraria o futuro da criança e teria Tony para si. Mas não foi o que aconteceu, e em instantes ela se viu com um cadáver em mãos. O que fazer? Quando se tem dinheiro, é fácil.

Tratou de livrar-se do morto e continuou com sua vida. A consciência já não pesava. Não depois de tantos anos. Não depois de tantas cirurgias plásticas. Ela havia sido artificialmente modificada por fora e por dentro. Se algum dia houvera um coração no vazio e fútil corpo de Cicciliona, ele fora consumido por inteiro pelo botox da grande dama.

— Vivienne! – Cicciliona chamou a empregada com um grito.

Não demorou muitos segundos e a mulher apareceu na porta, sendo sufocada com ordens. Por fim, a grande dama falou:

— E marque a minha lipoaspiração para as cinco horas. Eu não quero perder mais nenhum segundo.

x-x-x-x-x

Mia dirigia com rapidez. O encontro marcado com Harold Kobolski seria na cidade vizinha, em um restaurante com temática country relativamente famoso.

Kaleb, que estava sentado no banco do passageiro, ficou em silêncio durante quase todo o trajeto. Olhou para Mia e viu seu rosto melancólico, abatido. Tentou uma investida:

— Eu sinto muito pela sua perda...

A loira arrependeu-se de tê-lo chamado para a viagem naquele mesmo instante. Trazer o indiano significava que ela teria de conversar sobre o assunto, e isso era o que ela menos queria no momento. Mas o jeito meigo e preocupado com que Kaleb dissera aquelas palavras amoleceu um pouco seu coração.

— O Cub era mais do que um amigo pra mim. Sabe desde quando nós nos conhecíamos?

Kaleb mexeu a cabeça negativamente diante da pergunta retórica.

— Quinze. Quinze anos. Ele esteve comigo nos piores momentos da minha vida, assim como eu estive nos dele. Quando ele decidiu contar aos pais que era gay, fui eu quem ficou na porta da casa dele, no caso da reação deles ser negativa. Quando eu decidi contar aos meus pais que eu iria largar a faculdade, foi ele quem ficou na porta da minha casa. Nós passamos por tanta coisa juntos... Meu primeiro beijo!... Eu estava tão assustada, não sabia como agir, e... O Cub me ajudou. Aliás, foi ele também quem comemorou comigo quando o teste de gravidez deu negativo logo após a minha primeira relação sexual sem proteção. Foram tantos segredos tantos momentos... Eu... Eu...

E estacionou o carro no acostamento. As lágrimas caíam de modo teimoso, impedindo-a de ver com clareza. Kaleb não soube direito o que fazer, então só encontrou no ombro da garota, como a lhe passar conforto.

— Eu não sei como eu vou viver sem o meu melhor amigo... Eu não sei se eu consigo viver sem ele, sabe? É tão difícil...

O indiano compreendia Mia mais do que ela poderia imaginar, mas não soube o que dizer. Continuou ao lado dela, segurando seu ombro e esperando que a garota conseguisse suportar a dor.

x-x-x-x-x

Cicciliona chegou à clínica de estética usando uma roupa esdrúxula. Estava vestida com um mini vestido com estampa de oncinha cor de rosa e um Chanel importado preto e reluzente nos pés. Nos cabelos havia uma tiara preta, e nas orelhas dois enormes brincos de diamante. Ela pisava firme quando apertou a campainha, batendo impacientemente os pés no chão. Uma mulher magra e bastante nova veio atendê-la.

— Srta. Ilona Staller?

A grande dama manteve o olhar de desinteresse, ignorando a pergunta retórica da moça.

— Por aqui, queira me acompanhar.

Cicciliona seguiu a moça através de alguns corredores, até chegar a uma sala branca. Lá dentro um homem de meia idade sorriu de orelha a orelha:

— Cicciliona! Que prazer vê-la por aqui.

A dama não respondeu.

x-x-x-x-x

Cicciliona agora estava deitada em uma maca usando apenas suas roupas de baixo. O homem começou a lhe dar algumas instruções, todas já conhecidas e solenemente ignoradas.

— Por favor, apenas comece. Se eu sair daqui e ainda não couber naquele espartilho, essa sua clínica vai a baixo.

O médico sorriu falsamente e então sedou a grande dama, colocando uma máscara de gás em seu rosto. Em segundos ela dormia.

Cicciliona acordou durante o procedimento. Na sala tocava uma música conhecida:

Dust in the wind

All we are is dust in the wind

Não havia ninguém na sala, apenas Cicciliona. Ela ainda estava um pouco grogue e zonza, então não conseguia mexer-se muito bem. Olhou para sua barriga: o cano e o aspirador estavam dentro dela, embora a mulher não sentisse dor devido à anestesia.

Gritou:

— Quando eu sair daqui eu vou meter um processo tão caro que vocês vão ter que vender os órgãos para pagar! Incompetentes!

Ninguém veio ao seu socorro. Cicciliona rapidamente entrou em pânico.

— Por favor! Alguém...

Nada. A mulher começou então a tentar se levantar, embora com medo. Ela estava anestesiada e não sentia nada, então poderia comprometer seriamente seu corpo. Acabou esbarrando em um botão da máquina a que estava ligado o aspirador que estava dentro de seu corpo.

— Não...

O objeto começou a sucção e Cicciliona sentiu um ardor. Muito sangue saía da sua barriga e ela finalmente sentiu a dor. Uma dor insuportável, lancinante. Gritava:

— Alguém me ajuda!

Naquele momento a mulher já vomitava sangue e se debatia com força, fazendo o cano perfurar sua pele em vários lugares, aumentando ainda mais a quantidade de líquido rubro. O aspirador continuou a sucção, e de repente a grande dama ficou cara a cara com a visão aterradora de sua própria morte.

O tubo ligado ao aspirador estava completamente entupido de uma massa vermelha. Seus órgãos. Ela gritou pela última vez, enquanto a dor tomava conta de seu ser. O aspirador parou, travado com as tripas de Cicciliona em seu interior.

Do lado de fora da sala de operação, a clínica estava vazia. Um médico e uma secretária batiam com força na porta de vidro, tentando abri-la:

— Como essa droga foi se trancar por dentro?

x-x-x-x-x

Mia parou o carro abruptamente.

— Você está bem? – Kaleb perguntou, olhando-a de maneira confusa.

— Eu... Estou com uma sensação estranha... Como se alguém estivesse fazendo cócegas na minha barriga, mas por dentro...

O rapaz preocupou-se com aquilo.

— Você precisa comer, deve ser isso.

— Não, não é fome. É mais um mal-estar...

De repente o indiano teve um estalo. Arregalou os olhos e disse:

— E se isso tiver algo a ver com a sua premonição e a lista da morte?

Mia tinha contado todas as suas teorias (provenientes do deathiscoming.com) à Kaleb, e o rapaz tinha mais fé naquela hipótese do que ela própria.

A jornalista suspirou, concordando com um aceno de cabeça. Faz sentido. Falou:

— Eu estava pensando em uma coisa, que eu inclusive li vagamente naquele site... — Kaleb assentiu com a cabeça, atento. — É sobre a ordem da lista. Na minha visão a primeira a morrer era a Ewelyn, que acabou nem saindo do palácio. Depois vinha a tal Maria, a modelo... Que sofreu um acidente e quase morreu. Logo em seguida vinha o Cub.

Mia não precisou dizer mais nada. O indiano meneou a cabeça negativamente, entendendo o que a garota estava dizendo.

— Ela está seguindo a ordem em que eles deveriam ter morrido no desastre! Ewelyn, Maria, Cub... Quem é o próximo?

A loira engoliu em seco. A grande dama.

— A Cicciliona.

Kaleb não sabia de quem se tratava, então fez uma expressão de confusão. Mia tentou ajudá-lo:

— É aquela perua loira, toda vestida de rosa...

O indiano então entendeu a quem Mia se referia, embora não soubesse direito o que dizer.

A garota bufou e então retirou seu celular do bolso. Por mais que detestasse aquela mulher, faria o possível para ajudá-la. Procurou o número de Theo na agenda e discou. O rapaz atendeu no segundo toque:

Alô?

— Alô, Theo, me escuta. Aqui quem fala é a Mia. Você sabe onde a Cicciliona está? Eu preciso entrar em contato com ela agora. É urgente. Caso de vida ou morte.

A resposta demorou a vir. O telefone ficou mudo por vários segundos, até que, por fim, Theo disse com uma voz trêmula:

Não vai rolar. A Cicciliona morreu há meia hora durante uma lipoaspiração.

Mia nada respondeu. Estava estática, completamente chocada. Desligou o celular sem despedir-se e deixou-o cair em seu colo com um baque surdo. A única coisa que conseguiu fazer foi murmurar para Kaleb:

— A Cicciliona está morta. A teoria da ordem está certa.

O rapaz respirou forte, ansioso e preocupado.

— Nós precisamos encontrar esse Harold logo! Ele deve saber de algo que nós possamos usar para escaparmos...

— A Maria. — Mia disse, ignorando o que Kaleb dissera. — Ela conseguiu escapar. Mas... Como?

Por mais que se esforçasse em pensar, o rapaz mais uma vez não soube o que responder.

x-x-x-x-x

Harold estava no local combinado na hora combinada. Ele vestia um terno justo e moderno, e estava sentado em uma mesa na extrema direita do restaurante, com um sorriso no rosto. Já estava próximo dos cinquenta anos, e tinha os cabelos grisalhos bastante curtos. Seu rosto era completamente liso, sem o menor resquício de barba.

Kobolski recepcionou Mia com certa cerimônia. Levantou-se, estendeu o braço e apertou a mão dela, dizendo.

— Srta. Mia Kirklin?

A garota assentiu com a cabeça. Ela então apresentou o indiano:

— Esse aqui é o meu amigo, Kaleb Kleiner.

O rapaz então cumprimentou Harold com um aperto de mãos. Harold imediatamente viu a deficiência de Kaleb, e não disfarçou. Perguntou:

— Acidente de trabalho?

Kaleb foi pego de surpresa por aquela pergunta franca, já que em geral as pessoas contentavam-se em mudar de assunto.

— Digamos que sim. — Foi tudo o que conseguiu responder.

Harold pareceu ficar satisfeito com aquela resposta, e pediu a Mia e Kaleb que se sentassem. Os dois assim o fizeram, sentindo-se um pouco estranhos com aquela situação. O escritor então chamou a garçonete, que anotou os pedidos com rapidez. Quando os três já estavam confortáveis esperando a comida, Kobolski disse:

— Bom, a minha assistente me adiantou que a nossa conversa tem a ver com o meu livro sobre o caso do Sr. Browning. Isso procede Srta. Kirklin?

— Procede. — A garota confirmou. — Mas pode me chamar apenas de Mia.

O homem concordou com um aceno de cabeça, sorrindo.

— Pois pode me dizer, Mia. Eu sou todo ouvidos.

Mia suspirou. Não sabia direito como começar, então tentou ser direta:

— Eu estou na mesma situação do Alex e da Kimberly. Eu previ um desastre, eu salvei algumas pessoas. E agora... Bom, você sabe. Elas estão morrendo uma a uma na ordem em que deveriam ter morrido no acidente.

Harold pareceu levemente abalado com aquilo, e franziu o cenho.

— Oh meu Deus... Você fala sério?

A expressão de melancolia no rosto de Mia foi o suficiente para responder a pergunta do homem.

— Querida... — Harold começou, parecendo estar visivelmente transtornado. — Há algo que possa fazer para ajudá-la?

— Há sim. — Mia respondeu prontamente. — Eu li uma declaração sua, a respeito da criação do seu livro, em que o senhor dizia que se encontrou com a Kimberly Corman e que ela disse ter vencido a lista da morte. A minha pergunta : como?

A expressão de pesar ainda era forte em Harold. Ele não sabe, Mia rapidamente concluiu.

— Temo que eu não saiba responder a essa pergunta, Mia. Na ocasião a Kimberly não entrou em detalhes, e eu preferi não questioná-la. Mas eu creio que ela tenha se equivocado quando falou que deteve a lista da morte. Eu li uma notícia no jornal, alguns meses depois, que dizia que a Srta. Corman faleceu vítima de um acidente com uma máquina e um casaco ou qualquer coisa assim. Eu acho que você consegue encontrar a scan desse periódico se procurar na internet.

Mia desolou-se com aquela resposta.

A única pessoa que parecia ter vencido a morte estava morta.

— Eu não comprovei a veracidade da informação, e não procurei contatar a Srta. Corman, mas acredito que ela realmente faleceu.

— Droga... — Kaleb comentou, não conseguindo conter seu desânimo.

Mas então os olhos de Harold pareceram adquirir novo brilho, como se ele tivesse se lembrado de algo.

— Eu sei quem você deve procurar. O nome dele é William Bludworth.

— Mas eu li que o senhor não conseguiu encontrá-lo... — Mia começou, mas foi interrompido por Harold.

— Eu realmente não consegui encontrá-lo naquela época, mas isso foi há anos atrás. O sistema de busca da polícia era bastante precário, e o Sr. Bludworth tinha alguns documentos irregulares, o que dificultou a minha tarefa de achá-lo. Mas eu encontrei-o em dois mil e nove. E nós então tivemos uma longa conversa...

Mia não conseguiu conter sua empolgação:

— Então o senhor com certeza deve saber sobre métodos de como deter a lista!

— Deveras. — Harold confirmou, coçando o queixo. — Mas eu não me recordaria com clareza... Eu não pude gravar a conversa, porque o Bludworth não me autorizou, mas... Eu acredito que ele falaria com vocês dois sem problema.

Kaleb parecia tão empolgado quanto Mia. Perguntou:

— E o senhor tem ideia de onde ele está agora? Nós realmente precisamos encontrá-lo.

Harold sorriu e confirmou com a cabeça.

— Sei sim. O William Bludworth está trabalhando agora em uma escola de ensino médio duma pequena cidade há alguns quilômetros daqui. Eu vou ligar agora mesmo para a minha secretária e pedir o endereço dele.

Os pedidos então chegaram e, durante a refeição, nenhum deles voltou a tocar naquele assunto. Comeram em silêncio, trocando poucas palavras. Quando terminaram, Harold ainda insistiu que eles ficassem pra sobremesa. Enquanto Mia e Kaleb comiam, ele então ligou para sua secretária e obteve o endereço de Bludworth, anotando-o em sua agenda e entregando o papel para a jornalista.

Mia agradeceu veementemente o homem, dizendo ser grata pela ajuda que ele lhes dera. Antes de sair ainda recebeu uma cópia autografada de “180”, com um recado que Harold escreveu antes de entregar a ela.

Já dentro do carro, a garota decidiu ler a dedicatória. Estava escrito:

Para Mia Kirklin, o anjo da morte com os olhos mais doces já vistos.

Mia sorriu. Anjo da morte? A ironia era fina, mas a garota não poderia esperar menos de um homem com aquelas credenciais.

x-x-x-x-x

Mia dirigia de maneira lenta quando Kaleb perguntou:

— Então nós vamos atrás desse tal de Bludworth?

A garota concordou com um aceno de cabeça.

— Com certeza, Kaleb. Nós não temos tempo a perder.

O rapaz concordou, tocando o ombro de Mia. A garota sorriu com o gesto, dizendo:

— Caso eu me esqueça de te dizer umas mil vezes durante a viagem... Muito obrigada pelo apoio que você está me dando, Kaleb. Eu com certeza já teria desistido dessa maluquice há muito tempo se você não estivesse do meu lado me dando suporte, me colocando pra cima. Eu realmente espero que nós possamos ser grandes amigos depois que tudo isso tiver acabado.

O rapaz sorriu, sentindo-se enrubescer.

— Tudo bem, Mia. Eu to aqui pra isso. E quanto a sermos amigos, bom... Eu acho que nós já somos, né?

A garota retribuiu o sorriso e concordou.

— Bom, então... Pé na estrada!


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Notas finais do capítulo

A deixa pro próximo capítulo é bem clara né? Aguardem Bludworth e alguém de "Sem Saída"...



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