Premonição 2: A Morte lhe Cai Bem escrita por Lerd


Capítulo 2
Em Chamas


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo, sem muita ação. Espero que gostem!



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Mia estava sentada do lado de fora do Maiden’s Garden abraçada com Damien, que, após chorar e soluçar muito, acabara dormindo de exaustão. Cub estava do outro lado do menino, também abraçado com ele. O Ganesha aproximou-se com receio, esfregando a mão na calça jeans. Disse de maneira tímida:

— Ele está bem? – E apontou para Damien.

Mia mexeu a cabeça de modo desajeitado e pediu para o rapaz sentar ao seu lado.

— E você? Está bem? — Ele perguntou.

— Não...

Kaleb engoliu em seco. Ainda estava tímido quando decidiu fazer a pergunta em que todos estavam pensando:

— Como... Como você sabia?

— Eu... Não sei.

— Mas você disse claramente que o lugar ia explodir, desmoronar, qualquer coisa assim. Você sabia do acidente!

— Eu...

Mia começou a responder, mas então foi interrompida pela presença de Theo, que tinha uma expressão de fúria em seu rosto.

— O que... Você fez?

A loira abaixou a cabeça, cansada. Não iria aguentar mais acusações.

— Eu já disse que eu não sei! Eu não... Eu não tenho ideia do que aconteceu! Eu apenas vi, no meu pensamento.

Liam e Maria já estavam ao lado de Cub. Mia não percebeu quando eles chegaram ali.

— Você é alguma espécie de terrorista, não é? Só isso explica o fato de você saber que o lugar ia explodir segundos antes disso realmente acontecer. Sua... Assassina!

— Eu não sou uma assassina, seu filho da puta!

Theo estava irado e levantou a mão para dar um tapa em Mia, mas Kaleb segurou o braço dele com firmeza, dizendo:

— Você pode não ser o sujeito mais equilibrado do mundo, mas ainda assim é um homem. Então se você encostar um dedo que seja na garota, eu vou encostar os meus cinco dedos em você. Estamos entendidos?

Theo engoliu em seco, mas não desistiu:

— Impossível seria encostar os dez.

Kaleb ficou furioso com a ofensa à sua deficiência e deu um soco certeiro em Theo. Já com o rapaz no chão, pensou em dar um chute nele, mas Mia o impediu.

— Chega! — A loira gritou.

Damien acordara com o barulho. Liam percebeu e puxou o garoto para irem até outro lugar. Não houve objeções. Cub ajudou Theo a levantar-se, enquanto o outro rapaz esfregava a mão no nariz, percebendo que, por sorte, ele não tinha quebrado.

— Pela última vez, Theo: eu não tenho ideia de como eu sabia que esse lugar iria desmoronar. Eu apenas... Sabia. Eu vi acontecer, eu vi todos vocês morrerem naquele desmoronamento. Eu, eu...

E então começou a chorar copiosamente. Cub abraçou-a e a garota desmoronou nos ombros do amigo. Theo limpou o sangue do nariz e saiu ajeitando o terno desalinhado. Kaleb envergonhou-se de sua atitude e correu para o lado oposto, querendo sair dali o mais rápido possível. Apenas Maria ficou, parada e olhando para um ponto fixo.

— Eu vou ver como o Damien e o Liam estão...

E saiu.

x-x-x-x-x

Damien já dormia novamente, dessa vez nos braços de Liam. Foi quando Gretel aproximou-se, também de maneira tímida. A mulher interceptou primeiramente o oriental:

— Liam, certo? O responsável pelas modelos.

O rapaz mexeu a cabeça positivamente.

— Quem é esse garotinho? — A mulher perguntou de maneira curiosa.

Liam arrepiou-se. Só naquele momento se lembrou de que Ewelyn estava dentro da caixa de concreto que explodiu.

— Filho de uma amiga, Ewelyn.

Gretel demonstrou um mínimo sinal de abalo diante daquela resposta.

— Ewelyn? A secretária?

O asiático admirou-se com o fato da dama de ferro saber o nome da secretária do ateliê do marido.

— Essa mesma.

— E onde está ela?

— Ela... Não escapou. A Ewelyn estava dentro do palco quando o desmoronamento ocorreu. Ela estava junto com todos os outros...

Gretel exprimiu um gemido de dor abafado.

— Pobre garoto! Há algo que eu possa fazer por essa criança?

Liam não soube direito o que responder. Arriscou:

— Eu não sei... A Ewelyn nunca mencionou qualquer tipo de parente, e nunca teve uma boa relação com o pai de Damien. Mas seria de grande ajuda se a senhora usasse... — E então Liam calou-se, sentindo estar indo longe demais. Mas Gretel parecia interessada, e fez sinal para que ele prosseguisse com sua fala. — Seria de grande ajuda se a senhora usasse os seus contatos pra descobrir se existe alguém que possa tomar conta do garoto.

Gretel assentiu de maneira positiva ao terminar de ouvir tudo o que o rapaz dissera.

— Tudo bem. Ele passa a noite com você? Amanhã à tarde eu já terei uma resposta pra te dar. Se esse garoto tem qualquer parente vivo nós saberemos sem dúvida.

Liam agradeceu timidamente e despediu-se da mulher, observando-a seguir em direção do Mustang onde Tony já a aguardava. Apesar dos pesares, Gretel era uma boa mulher. Diferente do marido, Liam não pode deixar de pensar.

x-x-x-x-x

Mia mal acreditou quando acordou pela manhã. Sua sala estava completamente virada do avesso. No chão, deitados em diversos colchões espalhados, estavam Liam, Cub e por último Damien, no meio dos rapazes. Os três dormiam como anjos, e a loira não teve coragem de acordá-los. Tomou um banho, arrumou-se e ao sair para o trabalho ainda não os viu de pé. Deixou um recado colado na porta:

Fui trabalhar. Fechem a casa quando saírem. Beijos, Mia.

No trabalho a redação estava a mil, com pessoas andando ansiosamente de um lado para o outro. Quando Nero viu a garota seus olhos brilharam, mas logo voltaram à severidade que lhe era usual:

— O que você está fazendo aqui?

Mia estranhou aquela reação. Respondeu, tentando ser o mais educada possível:

— Eu estou chegando pra trabalhar...

Nero fez um sinal de reprovação diante daquela frase. Mia assustou-se.

— Depois do horror de ontem? Eu soube da sua amiga Ewelyn. Eu sinto muito pela sua perda.

— Na realidade nós não éramos amigas. — Mia explicou. — Apenas conhecidas. Ela era amiga de um amigo.

Mas o chefe insistia:

— De qualquer forma você deve estar arrasada.

Ou Nero estava sendo extremamente irônico, ou o “ataque de pânico” de Mia não fora comentado por nenhum dos sobreviventes.

— Uma grande sorte você ter saído de lá antes do palácio desmoronar.

Claro, sorte.

Mia tentou outra investida:

— Mas eu ainda não entendi porque o senhor perguntou o que eu estava fazendo aqui...

— Mas é evidente, garota! Depois do que aconteceu ontem, eu achei que seria natural você tirar uma folga. Alguns dias em casa não vão lhe prejudicar, eu lhe asseguro.

Ufa! Então ele não está furioso por eu não ter aproveitado o momento para uma exclusiva. No fundo ele só está pensando no meu bem estar.

— O que você ainda está fazendo aqui, garota? O Pierre já voltou, você pode ir pra casa. Eu prometo que eu ligo se precisar de você.

Mesmo sem entender a bondade repentina do chefe, Mia aceitou aquela oferta. Tinha milhares de motivos para recusar, porém. Com Paris tão perto, tirar uma folga para descansar podia facilmente fazer com que ela perdesse a oportunidade. Além disso, ficar sozinha em casa acabaria fazendo-a pensar em todo o ocorrido e isso era aterrorizante. Mesmo assim, viu-se no metrô a caminho de casa. Sempre haveria o dia seguinte. Um dia de folga não poderia ser tão ruim.

Quando chegou, os rapazes já estavam acordados. Cub usava seu avental cor de rosa e preparava um sanduíche para eles, enquanto Liam assistia TV com Damien. Ao ver a garota, Cub puxou-a pelo braço em direção ao extremo da cozinha. Mia perguntou:

— Como ele está?

— Estranho. Não falou na mãe e nem mesmo mencionou o caos de ontem a noite. Eu temo que ele esteja em estado de choque...

A loira tapou a boca, horrorizada.

— O que vai ser desse menino, Cub?

Cub respirou fundo. Disse:

— O Liam disse que a dama de ferro foi atrás dos parentes do menino.

— Tão rápido assim?

— Pois é, ela tem contatos.

— E o que aconteceu? A Gretel encontrou o pai dele? Os avós?

— Mais ou menos. Aparentemente a Ewelyn era sozinha no mundo, não tinha pais ou irmãos. Em suma, nenhuma família. E quanto ao pai do Damien... Bom, ele está na cadeia. Foi preso por assalto à mão armada e tráfico de drogas.

Mia sentiu um calafrio, mas não se chocou.

— Isso explica o motivo da Ewelyn tentar afastá-lo a todo custo do menino.

x-x-x-x-x

Gretel terminou a leitura de seu romance e bufou. Sentia-se entediada. Desde a morte de seu filho, com apenas três anos de vida, nada mais lhe dava alegria. Já fazia mais de cinco anos, mas a mulher nunca fora capaz de esquecer. Ao ver Damien sozinho e desamparado, lembrou-se imediatamente do pequeno. Ele estaria com praticamente a mesma idade do garoto se estivesse vivo. Mas não estava e não havia nada mais que pudesse ser feito. Ou havia?

Quando o filho dela e Tony, Mike, desapareceu, o casal tentou de tudo. Gastou rios de dinheiros em busca e procura e nada de conclusivo foi encontrado até dois meses após o desaparecimento, quando a polícia encontrou o corpo do garoto boiando em um lago. Ele havia sido asfixiado até a morte e depois jogado lá de modo a esconder o corpo. Tony nunca contou esses detalhes à mulher, porém. Dissera apenas que o filho fora encontrado morto. Quando ela tentou ver o corpo de Mike, Tony fez uma revolução e mobilizou a família toda para impedi-la. Desde esse fatídico dia o casamento de ambos nunca mais foi o mesmo. Gretel sempre culpou o marido por não ter conseguido se despedir do filho.

Ao pensar no pequeno Damien, o rosto de Gretel irradiou-se. A mulher sentiu um enorme carinho e ternura dentro de si, como não sentia há mais de cinco anos. Em seus olhos castanhos surgiu um brilho diferente.

— Se ao menos houvesse uma maneira de eu conseguir a afeição desse garoto... Tudo seria mais fácil...

Decidiu-se. Ligou para Liam e pediu para ele trazer Damien à sua casa dali há duas horas. O rapaz tentou objetar, mas a grande dama não deu brecha para negativas:

— Eu serei eternamente grata pelo seu gesto, Liam.

E desligou. Seu coração bateu forte só de pensar no que estava prestes a fazer.

x-x-x-x-x

Maria desligou o chuveiro e saiu do banheiro. Caminhou até perto da cama, pegou o controle remoto e ligou a TV. O aparelho estava sintonizado no noticiário, e uma repórter chamada Heather Diamond dizia:

Um terrível incêndio e desmoronamento ocorreram ontem em um dos mais importantes edifícios da cidade, o palácio conhecido como Maiden’s Garden. Os policiais ainda não têm certeza da causa, mas acusam uma falha elétrica que acabou causando diversas pequenas explosões que arruinaram uma das salas do edifício. A situação é crítica e eles ainda não têm o número exato de vítimas, mas estima-se que cerca de cem pessoas perderam suas vidas...

A garota desligou o aparelho de televisão, abalada. A noite anterior havia sido a mais traumatizante de toda a sua vida. Ali, parada, pela primeira vez deu-se conta de que todas as garotas com quem convivera no último ano estavam mortas. Todas com quem ela trocou alegrias, tristezas e decepções, perderem suas vidas. Ela havia sido a única modelo a escapar com vida.

Por quê?, perguntou a si mesma. Não havia qualquer motivo para ela ter saído do prédio, mas o fez mesmo assim. Se Mia não tivesse surtado, talvez Maria tivesse continuado na passarela. E hoje eu estaria morta. Como todas elas.

Uma onda de eletricidade percorreu todo o corpo de Maria. Ela jamais teria tanta sorte de novo em sua vida.

x-x-x-x-x

Liam, Mia, Cub e Damien almoçavam em silêncio. Nenhum dos três adultos teria coragem de quebrar o silêncio antes do garoto. Mia, porém, tentou uma investida:

— E os aparelhos, querido? Funcionam?

Damien não respondeu, e nem ao menos levantou o rosto. A loira ficou em dúvida quanto ao motivo, mas se convenceu de que ele ouvira perfeitamente o que ela havia dito, apenas se recusara a responder.

— A mamãe está no céu, não é? — Ele perguntou de repente.

A frase do menino pegou a todos de surpresa. Liam engasgou com o pedaço de lasanha. Cub tentou contornar a situação:

— Se o céu existe, a Ewelyn está lá com toda a certeza.

Não houve mais nenhuma resposta ou reação nos cinco minutos que se seguiram. Foi novamente Damien quem interrompeu o silêncio:

— Eu vou morar com papai agora? A mamãe não gostava do papai, então acho que eu também não vou gostar. Ela com certeza iria preferir que eu morasse com vocês.

Mia apenas sorriu de maneira resignada.

— Nós adoraríamos isso, querido.

E não teve coragem de continuar. Secretamente ela temia que Damien acabasse em um orfanato, mesmo tendo tantas pessoas dispostas a ficar com ele. Suspirou. E então abaixou os olhos e voltou-se para a refeição.

x-x-x-x-x

Cicciliona sentou-se na beirada da cama e fechou o espartilho. Na cama, o homem estava de braços abertos, sorrindo maliciosamente:

— Adorei a noite, titia.

A mulher ficou alguns segundos em silêncio, mas logo fez um movimento inesperado que pegou o homem de surpresa. Em segundos ela estava deitada em seu peito com o cotovelo em seu pescoço:

— Se me chamar mais uma vez de titia eu corto o seu pinto.

O homem concordou no mesmo instante, balbuciando palavras ininteligíveis. Cicciliona soltou-o e ordenou:

— Te dou quarenta segundos pra sair daqui. Se você demorar mais do que isso eu peço para os seguranças te jogarem pra fora. Entendido?

— S-Sim.

E saiu, colocando as calças enquanto andava. A grande dama levantou-se e seguiu em direção ao espelho. Passou a mão no rosto. Nenhuma ruga. Sorriu e uma pequena marca de expressão se formou. Estava perfeita. Cicciliona mexeu na penteadeira e encontrou o batom adequado. Passou-o de maneira quase ritualística, enquanto uma mulher receosamente batia na porta.

— Sim?

— O Sr. DuBois está aqui. Ele disse que é urgente.

Cicciliona pareceu levemente abalada, mas logo se recompôs:

— Peça para ele me encontrar no jardim.

A empregada concordou com um aceno de cabeça, sem responder verbalmente a patroa.

x-x-x-x-x

— O que você quer a essa hora da noite, traste?

Cicciliona chegou ao jardim com demora, e encontrou Tony relaxado em um dos bancos. Ele usava um terno branco e justo, e os dois primeiros botões de sua camiseta lilás estavam abertos.

— Estava com saudades.

A mulher revirou os olhos.

— Saudades? Fala logo, vai, isso tem algo a ver com o desastre do Maiden’s Garden. Seu ateliê deve estar uma loucura agora, com parentes de todas as vítimas que trabalhavam com você querendo indenizações, explicações...

— Na verdade, não. Eu fechei o ateliê justamente para evitar todo esse circo. As explicações devem ser dadas pela polícia, e as indenizações pelos responsáveis pelo local. Ambas as coisas não me dizem respeito. Eu não devo nada a essa gente.

— Você está falido, Tony. Aquela coleção era o seu último suspiro, a sua última fagulha de fortuna. E foi tudo queimado, os modelos e as modelos!

O homem sabia que tudo aquilo era verdade, mas não queria dar o braço a torcer.

— Eu posso me manter por alguns meses, vender o ateliê a preço de banana e tentar conseguir algo com algumas ações que eu tenho. Mas e a longo prazo? Se eu não me reerguer rápido, eu...

A mulher pediu que ele se calasse.

— Olha... Amore mio. Eu sou famosa por não ter coração. Você me conhece, sabe de tudo isso. Eu duvido muito que eu tenha um mesmo. Então me poupe do drama.

Tony perdeu todas as esperanças com a fala da mulher, mas a continuação dela acendeu um pouco a vivacidade em seu rosto:

— Mas, por outro lado, eu respeito lealdade. Você tem sido fiel a mim durante todos esses, não sei, vinte e tantos anos. Eu posso conseguir algo pra você... — E vendo que Tony ia manifestar-se, Cicciliona mandou que ele se calasse. — Se... Você me der algo em troca.

— O quê?

Em segundos a pergunta de Tony já estava sendo respondida, nos lençóis de seda da grande cama da grande dama.

x-x-x-x-x

Mia finalmente estava sozinha em casa depois de algum tempo. Liam levara Damien para encontrar Gretel, enquanto Cub saíra para visitar o irmão. Mas, apesar dos pesares, a garota gostava de ter a casa cheia, já que aquilo a impedia de pensar no incidente do Maiden’s Garden.

O funeral para as vítimas ocorreria só dali há uma semana, devido a dificuldade de identificarem os corpos.

Depois de algum tempo, aquela era a sua primeira oportunidade de realmente pensar a respeito do que havia ocorrido. Desde o dia da tragédia, Mia não tivera uma só oportunidade de colocar os pensamentos em ordem, sempre sendo tomada por problemas alheios. Aquele era o seu momento. Era o momento de pensar em si mesma.

Por quê?

Era a pergunta de um milhão de dólares. Por que ela havia previsto o acidente antes de ele ocorrer? Mia havia visto cada detalhe do desmoronamento e da explosão e logo em seguida presenciado as coisas acontecerem como em sua visão. Tentou se lembrar de acontecimentos estranhos em sua infância ou adolescência, mas não havia nada. Ela jamais demonstrara qualquer sinal de mediunidade ou coisa que o valha. Jamais vira coisas estranhas, fantasmas... Era apenas uma jovem adulta normal, com uma carreira em ascensão, um apartamento que não havia sido pago e um cachorro que lhe fazia companhia.

Uma faísca de entusiasmo tomou conta da loira e ela correu até seu quarto. Em cima da mesinha do computador encontrou o que procurava: seu notebook e o acesso à internet. A Internet. O paraíso dos mistérios. Qualquer coisa que havia acontecido com ela na certa também havia acontecido com outros milhares de internautas.

Na barra de pesquisa digitou:

Visão

Mas não fora específica o suficiente, e diversos sites médicos pularam na tela. Mia então tentou outra investida:

Visão de acidente

O resultado dessa vez foi mais satisfatório. Chamou a sua atenção um site chamado restinpieces.com. Clicou.

O site requerido está indefinidamente fora do ar. Desculpem-me pelo inconveniente.

Babe Yurkowski, administradora.

Frustrada, Mia voltou à página de pesquisas, procurando outros sites. Deu sorte com um chamado deathiscoming.com. Clicou. Uma página preta abriu-se, revelando diversos tópicos. Na descrição do site havia os seguintes dizeres:

Experiências sobrenaturais de quase morte e clarividência, acidentes bizarros e depoimentos verídicos podem ser encontrados aqui. Mas lembre-se: a morte está chegando.

Mia tremeu. Clicou na home e havia uma notificação de um comentário novo postado na sessão Trem 081. Mia clicou. O que se abriu foi uma página que ela não teve tempo de ver, pois foi redirecionada para o extremo sul, onde havia o tal novo comentário. Ele dizia:

Bizarro.

A garota rapidamente arrependeu-se do que havia feito, já que aquele comentário em nada a ajudava. Resolveu subir a página e chocou-se com algumas das fotos. No meio delas havia um texto, que Mia começou a ler.

No dia primeiro de agosto do ano passado, eu e alguns amigos decidimos viajar até a casa de férias de uma de nossas amigas, a Alice. Tudo ia às mil maravilhas, até o momento em que um amigo nosso, o Bobby, surtou. Ele gritou que o trem em que a gente ia embarcar iria descarrilar e nos impediu de tomarmos o mesmo. Mas o condutor não deu ouvidos a ele, e o Trem 081 saiu da estação para fatidicamente descarrilar como Bobby havia previsto.

No dia seguinte, dois amigos nossos foram estranhamente mortos durante um passeio de lancha. Depois deles outra amiga nossa, a Naomi, seguida do nosso amigo Pepper. Todos em circunstâncias estranhíssimas. Eu sou o próximo e temo pelo meu destino. Cego, acredito piamente que sou a vítima mais fácil da lista da morte. Espero que consiga sobreviver.

Luther Boye DePooter (1993-2010)

Mia arrepiou-se ao perceber o rodapé onde se lia o ano de nascimento e o ano do falecimento do tal Luther. Desceu a página e encontrou algumas fotos com os dizeres:

Provável foto de Roxy após o acidente com a lancha.

Bobby antes de o legista chegar.

A última foto era grotesca, e mostrava apenas uma massa humana esmagada entre os trilhos do trem. Mia sentiu seu estômago embrulhar, descendo rapidamente a página. Logo abaixo havia uma lista completa dos “sobreviventes” do Trem 081:

Rosaline “Roxy” Rosenbaum, 18 anos. Rosto esmagado por motor de lancha.

Eric Martin Jones, 19 anos. Perfurado por tábuas de um píer.

Naomi Debra Leach, 17 anos. Rosto queimado por ácido.

Manik "Pepper" Baskhar, 17 anos. Rosto esmagado por rodas de skate.

Luther Boye "Lubo" DePooter, 17 anos. Perfurado por espadas.

Jamie Walker, 18 anos. Queda da janela e espinha quebrada por hidrante.

Bobby Scott Davies, 17 anos. Atropelado por um trem.

Tudo se tornava mais difícil quando aqueles corpos esmagados e destruídos adquiriam nome e idade. Mia respirou fundo. O que diabos era aquela tal “lista da morte”, mencionada no depoimento do tal Luther? A resposta veio fácil, em um dos comentários da sessão do Trem 081. Estava escrito:

SarahXXX diz: é impossível conseguir deter a lista. Uma vez dentro dela você já está morto, só precisa esperar a sua vez. Boa sorte aos que tiverem esse fatídico destino...

Mia tentou organizar as ideias. Então ela havia evitado o acidente dela e de algumas outras pessoas, e agora a morte estava trás de todos eles?

— Isso é a maior besteira. — Disse em voz alta. — Eu controlo o meu destino.

E desligou o computador, procurando esquecer toda a besteira que havia lido naquele site.

x-x-x-x-x

No salão de beleza, Maria esperava as unhas secarem. A manicure havia saído, e a garota tinha a cabeça dentro de um vaporizador de cabelo. O local estava quase deserto, já que a metade de suas clientes havia morrido no desastre do Maiden’s Garden.

Isso faz de mim uma cliente vip, Maria pensou de maneira maldosa.

Foi então que ela esbarrou em um copo d’água, deixando-o cair. Maria percebeu o pequeno acidente, mas o ignorou. As faxineiras estão aí para isso. A água rapidamente escorreu até perto da tomada onde o vaporizador estava conectado, serpenteando pelo chão. Maria entretinha-se com a música que saía que saía de fones de ouvido:

Dust in the wind...

De repente houve um pequeno curto no plug da tomada, não notado pela moça. Algumas faíscas foram soltas, e a temperatura do vaporizador começou a subir. Primeiramente ele causou apenas um suor na testa da garota. Quando a sensação começou a ficar desconfortável, Maria chamou a atendente:

— Amy, isso aqui está me queimando...

Não houve resposta. Maria então começou a procurar uma maneira gentil de retirar o objeto, mas nada aconteceu. Ela estava presa. Quando o calor estava alto o suficiente pra realmente queimar o couro cabeludo da garota, ela começou a se debater e gritar.

— Socorro! Alguém me ajuda, socorro!

Maria dava socos e chutes no ar, tentando retirar a cabeça do aparelho, mas em vão. De repente o objeto começou a realmente pegar fogo, queimando o rosto da modelo. Ela então se debateu mais forte, e acabou chutando o plug da tomada, desligando o vaporizador. Ao fundo, apenas o som da música. O cheiro de carne queimada era nauseante.

Eu estou viva. Maria gritou ainda mais alto ao tocar o rosto queimado. Foi quando duas pessoas entraram na sala, aterrorizadas com o estado da moça.

— Uma ambulância, rápido!

Maria desmaiou.


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Notas finais do capítulo

O terceiro capítulo sai provavelmente na quarta-feira. Abração!



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