Premonição 2: A Morte lhe Cai Bem escrita por Lerd


Capítulo 10
Você Acredita em Deus?


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo de "A Morte Lhe Cai Bem". Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/167146/chapter/10

O relacionamento de Mia e Kaleb desenvolveu-se de maneira natural nas semanas que se seguiram àquele fatídico dia. Os dois se conheciam há pouco tempo, mas parecia que haviam passado toda uma eternidade juntos. Eles se entendiam e se completavam de uma maneira que nenhum dos dois jamais imaginou ser possível.

— Quero que você conheça os meus pais. – O indiano disse um dia, de repente.

A garota gaguejou, complicou-se, mas por fim acabou cedendo. Não foi surpresa alguma quando, na semana seguinte, as duas famílias realizaram um jantar. O pai de Mia entendera-se perfeitamente com o senhor Kleiner, pai de Kaleb, e até mesmo a prima da jornalista, Nina, conversava com naturalidade com a irmã mais nova do indiano. Em horas parecia que todos eles eram amigos de infância. Tudo estava perfeito.

— Eu te amo, meu Ganesha.

— Eu também te amo.

x-x-x-x-x

A saída de Damien do hospital foi rodeada de pompa e festividades. Mia e Kaleb o esperavam ansiosamente, mas o garoto não foi tão receptivo e amoroso quanto eles imaginaram que ele seria. O menino estava completamente magoado por conta da morte de Gretel. Ele lembrava-se vagamente do incidente com Maria em seu quarto, e o casal achou melhor não tocar no assunto, já que era um trauma a menos para ele.

— O que nós vamos fazer agora, Kaleb? – Mia perguntou, certo dia em que eles saíram para passear com Damien. O garoto brincava com os esquilos no parque enquanto o casal tomava um sorvete.

— Em relação ao quê?

— Em relação ao Damien. — Ela respondeu. — Você sabe que nós não podemos continuar assim para sempre. Se nós quisermos mesmo ficar com a guarda dele, a gente precisa ir até à justiça. Você sabe o risco que estamos correndo ficando com ele dessa forma?

Kaleb sabia que a loira estava certa, mas tentou sorrir de maneira otimista.

— Você se preocupa muito, docinho. Vai dar tudo certo, eu prometo. Eu estou aqui pra te ajudar.

Mia sorriu fracamente. Ela sabia que o namorado falava aquilo do fundo do coração, mas palavras bonitas não resolveriam o problema prático que eles tinham para enfrentar.

— É só que... Eu não sei... — Ela começou, temendo ser interpretada de forma errada. — Eu não sei se eu estou pronta. Pra ser mãe, entende? Pode não parecer, mas eu tenho pouco mais que o dobro da idade desse menino. Eu não sei se... — E então ela sentiu as palavras entaladas em sua garganta. — Droga, eu sou uma covarde!

Kaleb meneou a cabeça negativamente.

— Tudo bem, meu amor. — Ele disse, tocando o rosto da namorada. — Você não precisa fazer isso se não quiser. Na verdade... Essa notícia é um alívio.

Mia não entendeu o sentido das palavras de Kaleb.

— Alívio? Como assim?

O rapaz baixou os olhos, temendo a reação que Mia teria.

— Você promete não ficar brava?

A garota meneou a cabeça positivamente.

— Então... Acontece que há alguns dias uma garota veio até o hospital para ver o Damien. Alice era o nome dela, se eu não me engano. Bom... Ela perguntou quem era o responsável legal pelo garoto agora que Gretel tinha falecido, e eu disse que não sabia. Foi então que...

— Foi então que o quê? — Mia o interrompeu de maneira impaciente. — Continua, Kaleb!

— Ela disse que gostaria de adotar o Damien. — O indiano falou num rompante.

— Como?

— Pois é. — Ele afirmou, olhando nos olhos da namorada. Mia parecia calma. — Eu achei loucura, mas depois vi que os dois se conheciam mesmo e que ele parecia gostar bastante dela. Meu único receio de isso acontecer era você. Eu não soube dizer se você gostaria ou permitiria que o tirassem de você.

Mia sorriu. Você se preocupa muito, docinho.

— É lindo ver que você se preocupa comigo, meu fofo. — Mia começou, tocando delicadamente o rosto dele e passando a mão pela sua barba cerrada. — Mas bom... Eu adoro o Damien e não quero deixar de vê-lo nunca. Mas isso pode ser arranjado, não acha? Caso essa Alice fique com ele, eu tenho certeza de que ela vai nos deixar visitá-lo, não é?

— Claro. — Kaleb concordou. — No fim das contas, nós somos tudo o que sobrou pra ele. O mais próximo de família, na verdade.

Mia concordava com aquela linha de raciocínio.

— Mas o que ele quer, no fim das contas? Vocês conversaram sobre isso? — A jornalista perguntou.

Kaleb deu com os ombros.

— Bom, acho que depois de perder duas mães em menos de um mês, qualquer uma que demonstre um mínimo sinal de que não vai abandoná-lo já está bom.

Mia sorriu de maneira pesarosa. Pobre Damien... Ele merece ser feliz.

x-x-x-x-x

Alice caminhava no parque de mãos dadas com Damien. Graças ao ataque que sofrera, o garoto havia ficado com uma imensa cicatriz em seu pescoço, que, mesmo depois de várias semanas, ainda não havia cicatrizado por completo.

— Vamos tomar um sorvete, tia Alice? — Ele pediu de maneira educada, apontando para um quiosque há alguns metros deles.

A ruiva sorriu e concordou com um aceno de cabeça. Ela ainda estava atônita com tudo o que havia acontecido e tudo o que havia descoberto nos dias que se seguiram à sua visita na casa de Gretel. Mia havia tido uma premonição igual a de Bobby, e por isso todos ao seu redor (inclusive o casal DuBois) haviam morrido. A coincidência era assustadora.

E por fim, havia Damien. A capacidade do garoto de manter-se minimamente feliz apesar de todas as circunstâncias era admirável. Ele conseguia fazer qualquer um colocar um sorriso no rosto, e Alice estava decidida a adotá-lo. Ela já havia conversado sobre o assunto com o advogado da família, e as chances eram boas. Ela era grande amiga da responsável legal pelo garoto (que após a morte de Ewelyn, era Gretel) e havia conseguido autorização judicial para cuidar dele enquanto o processo de adoção estava acontecendo. Era fácil com a quantidade de orfanatos lotados do país. Eles não se atreveriam a deixar uma criança apodrecer em uma instituição assim, não quando havia pessoas realmente dispostas a ficar com ela.

— Eu gostaria que você conhecesse meus afilhados, Damien. — Alice disse de repente, quando eles se soltaram para tomar o sorvete. — Que tal um passeio até a casa de uma amiga?

— Crianças? Claro, eu vou adorar! — O garoto disse, sorrindo.

Alice seguiu de mãos dadas com o menino até a casa de Lily, há poucas quadras do parque. Foi a própria amiga quem a atendeu na porta assim que ela chegou, recepcionando-os com um sorriso enorme no rosto.

— Alice! — A loira exclamou, abraçando a amiga com força. — Ainda bem que você chegou, os meninos estão me deixando maluca. Será que você podia tomar conta deles enquanto eu faço o almoço?

A ruiva concordou com um aceno de cabeça. Ela então pediu que Damien saísse de trás de si, apresentando-a a amiga.

— O príncipe do qual eu te falei.

— Olá, rapaz! — Lily disse, abrindo um sorriso. Você deve ser o Damien, certo? A Alice não para de falar de você!

A ruiva riu de maneira genuína e abraçou a amiga pela segunda vez, entrando na casa em seguida. Logo no corredor, ela viu Bimbo correndo atrás de Mick Jagger, seu antigo cão.

— A Titia chegou, meu amor! — Alice exclamou.

O garotinho abriu um largo sorriso, os olhos brilhando com a presença de Alice. Ele correu para abraçá-la no mesmo instante. A ruiva pegou-o no colo e começou a enchê-lo de beijos, enquanto Damien olhava para ambos com uma expressão de incerteza em seu rosto.

— Onde está o Max? — Alice perguntou.

— Brincando com a Beth lá atrás no quintal. — Lily respondeu, seguindo em direção à cozinha. A ruiva e o garoto a seguiram.

— A Beth também está aqui?

— Pois é! O Matt realmente acha que eu não tenho mais nada para fazer da vida. — A loira falou, rindo em seguida.

Damien olhava maravilhado o ambiente ao seu redor. Havia um certo caos aconchegante que lhe inspirava amabilidade e confiança. Ao contrário da mansão dos DuBois (apesar dos genuínos esforços de Gretel), a casa de Lily não era apenas uma casa. Isso aqui é um lar.

x-x-x-x-x

Mia guardou sua carteira na bolsa e chamou Kaleb:

— Vamos, querido, nós só temos meia hora!

O rapaz saiu afobado de dentro do banheiro, ainda fechando o zíper da calça.

— Pra quê a pressa, amor?

— Nós vamos perder o ônibus desse jeito!

— Mas e daí? Pegamos o próximo. A Melissa nos disse que hoje o dia vai ser cheio: com direito até a uma festa na Psi Alpha Zeta.

O casal estava indo visitar Melissa na universidade onde ela estudava. Gostariam de agradecer a ajuda que ela e Bludworth deram a eles num momento em que realmente precisaram. Além disso, gostariam de aproveitar a festa de fraternidades aberta a não-alunos que estava sendo promovida.

— Você e sua falta de pontualidade...

A loira riu e foi surpreendida por um beijo de Kaleb.

x-x-x-x-x

A chegada a universidade foi extremamente divertida, apesar de não terem visto qualquer rosto conhecido. Todos os estudantes eram demasiadamente receptivos e brincalhões. O dia era realmente de festa, como Mia percebeu logo: a universidade toda estava um caos, com alunos praticando todo tipo de brincadeiras. Ao chegarem à sede da Psi Alpha Zeta foram recebidos por um gentil rapaz de toga.

— Bem vindos à fraternidade Psi Alpha Zeta! Esperamos que se divirtam!

Mia e Kaleb estranharam a formalidade no discurso do rapaz, mas ignoraram. Foi quando foram recebidos por diversos pledges que os recepcionaram com baldes de tinta na cabeça. A loira estava preparada para surtar com os garotos, mas logo viu Kaleb rindo alto com eles e devolvendo as brincadeiras, e desistiu. Riu junto e os dois entraram na casa já se esquecendo de toda a formalidade.

x-x-x-x-x

Dentro da fraternidade, Mia virava diversos copos de uísque na mesa, enquanto um coro de adolescentes a desafiava a mais.

— Vira! Vira! Vira!

A loira já estava zonza, mas divertia-se com a situação, de modo que virou mais dois copos em seguida, gritando.

— Isso é tão inapropriado! – Mia gritou para, do outro lado do cômodo.

— Eu sei! – O rapaz respondeu, gargalhando.

O indiano ajudava alguns os pledges a jogarem um veterano na piscina, contra protestos e ameaças. Ali, se divertindo, eles já não se lembravam de que haviam vindo para encontrar-se com Melissa. Já passava das onze da noite e ainda não se podia notar a presença da garota em lugar algum.

De repente, entre uma dose e outra, Mia ouviu vagamente uma discussão vinda do hall da casa, seguida por alguns gritos. A loira levantou-se do local onde estava e caminhou lentamente em direção ao cômodo seguinte, sentindo tudo ao seu redor girar. Ela então se pôs a observar a cena. Meia dúzia de adolescentes saíam da fraternidade, alguns furiosos, liderados por uma garota de piercing que parecia extremamente abalada, aos prantos.

— O que aconteceu ali? – Kaleb perguntou, já parado ao lado de mia.

A garota deu com os ombros. Mas de repente um insight tomou conta de sua mente, ao ouvir o cochicho de algumas pessoas atrás de si. Oh, não. Não. Não pode ser...

— Garota maluca essa Kelsey. Dizer que teve uma premonição... É incrível o que as pessoas podem fazer quando querem chamar a atenção.

Mia congelou no mesmo instante. Num segundo tudo fazia sentido.

Eles não haviam se salvado. As palavras de Bludworth ecoaram claras em sua cabeça. Quando alguém se salva sozinho, sem ajuda, ele recupera sua vida, ela ouvia a voz dele dizer de maneira profética. Maria recuperara sua vida, ela já estava fora da lista quando foi morta. Eles não haviam quebrado a lista, não haviam matado alguém fora da ordem em que a pessoa deveria morrer. Damien, porém, estava a salvo, já que ganhara a vida de Maria. Mas eles... Oh. Nós ainda somos o alvo. Ainda é a nossa vez.

— Kaleb nós precisamos ir embora, eu acho que...

Mas sua frase foi interrompida pelo barulho de tiros vindos da sala de jogos. Antes que Mia tivesse tempo de tentar correr para fora, o ceifador apareceu, vestido todo de preto e com uma metralhadora em mãos. Ele disparou com fúria contra vários adolescentes que estavam no hall, e os estudantes vivos começaram a pisar nos corpos dos colegas mortos, buscando salvação através de qualquer saída que encontrassem. A jornalista teve tempo somente de gritar para o namorado:

— As escadas!

O indiano estava prestes a subir quando foi surpreendido por um tiro certeiro em sua nuca. Para ele, a sensação foi como ser perfurado por uma fina agulha de acupuntura, e a dor foi quase inexistente. Kaleb caiu lentamente, de joelhos. A loira tentou socorrê-lo no exato mesmo instante, correndo em sua direção e erguendo seu corpo. Os olhos do namorado já estavam fechados, e o sangue de sua nuca começou a escorrer por todo o corpo de Mia, sujando-a por inteiro. Ela então ergueu a cabeça e soltou o grito de horror mais alto que conseguiu.

Seu clamor foi interrompido na metade, já que o atirador aproximou-se dela à passos pesados e segurou seus cabelos com uma força descomunal, arrastando-a escada abaixo.

— Me solta! — Mia berrou estridentemente, se debatendo de maneira débil. — Me ajudem! Por favor, alguém me ajuda! — Ela gritava, sentindo as lágrimas escorrendo pelo seu rosto e misturando-se com o sangue de Kaleb.

A loira esperneava e chutava o ar, mas a força de seu algoz era maior. Enquanto a segurava pelo cabelo, ele aproveitou para atirar em mais alguns estudantes que tentavam escapar pela porta dos fundos, trancada. Havia sangue, corpos e pessoas agonizando por todo lado. Mia não queria acreditar que aquele seria o seu fim. Depois de tudo... Isso?

— Por favor... – Ela implorou, já extremamente machucada e com hematomas por todo o corpo.

O atirador encapuzado agachou-se e colocou seu rosto próximo do dela, respirando fortemente. Ele então retirou a máscara que cobria seu rosto e Mia pôde ver a angelical face do querubim da morte. Ele possuía os olhos de um azul puríssimo e aparência pacata e serena.

— Por favor... – Mia repetiu seu clamor, mas recebeu como resposta um tapa no rosto.

E então ela já não tinha forças para mais nada. Então é esse o meu destino final.

O assassino pigarreou e indagou em um tom de voz rouco e áspero, contrastante com a sua aparência doce e infantilizada:

— Você acredita em Deus?

Mia não entendeu o sentido da pergunta e murmurou, entre soluços:

— Co-como?

O rapaz não parecia paciente, e puxou o cabelo da loira com mais força, repetindo a pergunta a uma proximidade assustadora de seus ouvidos. Mia ergueu o queixo, tentando manter o mínimo de dignidade em seus últimos momentos.

— Eu perguntei se você acredita em Deus.

Mia gemeu uma última vez, se debatendo de maneira fraca. Implorou:

— Por favor...

— Responde! — O anjo da morte berrou diretamente em seus ouvidos.

A loira já estava completamente esgotada quando respondeu seu epitáfio.

— Sim.

All heads are bowed in silence

To remember her last sentence

She answered him knowing what would happen

Her last words still hanging in the air

Mia engolia as lágrimas. O atirador pigarreou pela última vez e sorriu morbidamente.

Ele colocou a arma contra a cabeça da garota e apertou o gatilho.

Fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Intenso, não? Haha, espero que tenham gostado. Quis dar um fim diferente a essa fanfiction, mostrando que nem sempre se consegue redenção. Na primeira, Bobby salvou seus amigos e eles realmente venceram a morte. Mas dessa vez... Não. Só Damien conseguiu escapar.
Uma curiosidade: o trecho de música colocado no final, é da música "Cassie", da banda Flyleaf. A música foi escrita em homenagem a uma vítima do massacre de Columbine, Cassie Bernall. Reza a lenta que antes de ser morta por um dos atiradores, a garota foi perguntada se acreditava em Deus, e ao ouvirem a resposta positiva, os assassinos atiraram em sua cabeça. A versão oficial da polícia diz que esse diálogo nunca ocorreu, mas a garota acabou se tornando uma mártir e um símbolo do massacre. Achei a informação interessante e decidi incluir na morte da Mia. E sim, esse fim é o pontapé inicial da terceira fanfiction, o tal "acidente" do qual algumas pessoas vão conseguir escapar. Algo como Sam e Molly morrerem no vôo 180, entendem? Enfim, espero que tenham gostado! Aguardem que em breve postarei a terceira (e última) fanfiction sobre Final Destination.
Ps: sim, todos meus personagens tomam sorvete, principalmente nos finales. É um ritual, haha.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Premonição 2: A Morte lhe Cai Bem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.