Feliz Aniversário, Dionísio! escrita por Mandy-Jam


Capítulo 8
Bolas


Notas iniciais do capítulo

Adivinha que dia é hoje! Não, não é só dia de atualização.

HOJE É MEU ANIVERSÁRIO!

Como não podia deixar de ter atualização, programei esse capítulo bem caprichado para vocês se divertirem. Espero que gostem!

Aceito reviews como presente de aniversário, principalmente nessa fic, que tem tido muitas visualizações mais poucos comentários.

Espero que gostem! Beijos e boa leitura.



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OLIMPO

 

Ares não pensava em nada.

A verdade era que ele gostava de não pensar em nada, era um de seus passatempos favoritos. Ele sentava no sofá, ligava a TV em um dos mais de 100 canais de luta que seu pacote cobria, e assistia a mortais/semideuses/monstros/deuses menores saindo no braço um com o outro.

Era divertido, e ele não tinha que nem sequer se dar ao trabalho de incitar a briga.

Quer coisa melhor do que uma guerra que acontece sozinha?, pensava ele. É como comer uma sobremesa deliciosa sem ter tido o trabalho de fazê-la.

Alguém bateu a sua porta, mas o deus da guerra não se deu ao trabalho de responder. Ouviu a batida novamente, e ignorou mais uma vez. A pessoa demonstrou insistência, batendo várias e várias vezes, até o barulho começou a incomodá-lo.

— Eu já falei para você, pirralho. — Disse rosnando e se levantando do sofá — Eu não dou a mínima para o que-

Afrodite estava do lado de fora quando ele por fim abriu a porta da frente. A deusa do amor, batucou a caneta preta no caderno de gliter e sorriu para ele.

— Amor. — Respondeu em um tom diferente, quase ronronando. Afrodite sorriu ainda mais, feliz por estar sendo recebida melhor — Você veio atrás de mim, pombinha?

— Vim. — Concordou, mas quando ele achava que ia ouvir algo agradável, ela continuou — Eu vim aqui, porque fiquei sabendo que você está sendo um preguiçoso inconsequente, Ares. Isso é verdade?

O deus da guerra franziu o cenho, e só então reparou Hermes atrás de Afrodite. Seu rosto ficou amargo fitando o irmão mais novo.

— Então é isso? Você correu mesmo para a saia de Afrodite, seu covarde? — Falou, irritado.

— Nós já terminamos de fazer trancinhas. — Ergueu as sobrancelhas de forma sugestiva, e o deus da guerra arrebentou a madeira da porta, segurando-a com força demais. Jogou o pedaço quebrado no chão, pronto para avançar contra Hermes, mas Afrodite colocou a caneta no peito dele.

— Você não sente vergonha de si mesmo? — Perguntou a deusa, avançando e fazendo-o recuar para dentro de seu templo — Ia mesmo deixar todo o trabalho para Hermes?

— É o trabalho dele de qualquer forma! — Protestou.

— Não interessa. — Cortou, incisiva — Ele é seu irmão mais novo, e desempenha mais funções do que você. Trate-o com mais respeito.

Hermes sorria para Ares com satisfação em ver o irmão mais velho levar bronca da namorada. O deus da guerra estava fervendo de raiva, mas não podia reagir agressivamente na frente de Afrodite.

— Querida, eu não-

— É o nosso trabalho, entende isso? — Ares assentiu, de contra gosto — Quero ouvir você dizer então. Vamos, diga.

— É o nosso trabalho. — Resmungou.

— Isso mesmo. — Concordou com a cabeça — Desligue aquela coisa agora, e vamos conversar sobre os convites. Anda.

Isso está mesmo acontecendo?, Ares se perguntou.

Se tinha uma coisa que o deus da guerra não gostava era quando perturbavam sua paz. Afrodite, no entanto, era uma deusa a qual Ares não conseguia dizer não. Por isso, marchou batendo os pés no chão como uma criança birrante, indo em direção a televisão.

— Você nem queria fazer isso! — Queixou-se enquanto desligava o aparelho. Jogou o controle no sofá com raiva — Você disse que era uma perda de tempo, e que Dionísio não merecia nossa piedade!

— Eu realmente disse. — Concordou Afrodite com um suspiro pesado, mas então se virou para Hermes e deu um sorriso de compaixão. Segurou o queixo do deus dos mensageiros com ternura, o que revirou o estômago de Ares em ciúmes — Mas Hermes me relembrou que todos merecem amor, até mesmo nosso vergonhoso parente Dionísio.

— Todos merecem amor? — Repetiu Ares fuzilando Hermes com ódio — Posso saber como ele te levou a essa conclusão?

— Ah, nós tivemos tempo para nos entendermos. — Respondeu Hermes com um sorriso provocador — Mas acho que ela deve ter chegado a conclusão depois de se trocar.

Espere até Afrodite não estar mais por perto, sua peste. Eu vou arrancar os ossos das suas pernas e usar para tocar bateria.

— É irrelevante, de qualquer forma. — Falou Afrodite andando na direção de Ares. Jogou para ele o caderno e a caneta, e sentou-se como uma dama no sofá — Tome nota, por favor. Vamos começar.

Incrédulo, Ares percebeu que ela estava realmente falando sério. Hermes riu, puxando um banco para se sentar, e encarou a deusa do amor, esperando as ordens.

— Todos os semideuses estão convidados. — Estalou os dedos, e Ares revirou os olhos, rabiscando no papel. Afrodite prosseguiu — Todos os olimpianos também, obviamente. Faremos convites dourados para os convidados VIPs.

— Quem seriam os VIPs? — Perguntou Ares.

— Nós, é claro. — Afrodite jogou o cabelo de forma esnobe, porém elegante — Quantos aos deuses menores, não convidaremos Hipnos. Anote isso.

Só de pensar no deus do sono, Hermes teve que conter um bocejo. Não tinha nada contra ele, mas entendia perfeitamente porque ele não poderia ir para a festa.

— Perséfone precisa de um convite dourado também. — Completou. Ares resmungou, entediado com a tarefa ridícula que lhe foi dado — Chamaremos as ninfas do Acampamento também, como pude esquecer? Elas servirão a bebida e a comida.

Afrodite prosseguiu falando dos convidados, mas Ares se perdeu no meio de seu falatório e, ao invés de escrever o que a deusa dizia, ele passou a fazer rabiscos de desenhos obscenos no papel do caderno. Estava desenhando dois testículos, quando lembrou de um evento passado que tivera com Dionísio.

O deus da guerra suara a camisa para levar o exército alemão até as fronteiras russas. Ia ser o primeiro ataque bem-sucedido, apesar das opiniões pessimistas de Atena. Lá estava ele, usando um casaco grosso de inverno, suportando as temperaturas negativas daquele país maldito, quando percebeu que haviam poucos homens no campo com ele.

Ares olhou em volta, sem entender o que estava acontecendo. Como poderiam seus homens terem sumido dessa forma? Não havia uma alma viva naquela cidade abandonada, muito menos comida e água. Deviam continuar em frente antes que fossem vencidos pelo clima, como sua irmã tanto dissera que aconteceria.

— Onde estão vocês, inúteis?! — Rugiu buscando-os. Procurou, até que foi ao encontro de risadas, vindas de algum lugar em um prédio velho e destruído. Ares arrancou a porta de madeira tombada e o que viu lá dentro fez seu queixo cair.

Todos os seus soldados estavam ali, a maioria jogada no chão semi-inconsciente. Os que estavam dispersos, riam e bebiam, cercados de mulheres e homens seminus. Se os olhos de Ares se arregalassem mais, eles saltariam de seu crânio.

— Estou falando. — Ouviu uma voz conhecida, e buscou quem era em meio ao bacanal — Foi assim que eu fiquei conhecido pelas minhas fantásticas bolas.

Os homens gargalharam e bateram palmas. Ares abriu caminho pelos corpos jogados no chão, e pelas garotas de seios expostos.

— Dionísio, eu estou há segundos de arrancar as suas bolas tão famosas. — Rosnou socando a mesa. Seu irmão mais novo estava nu, com exceção de um capacete camuflado usado pelos soldados. Rindo, o deus mandou um beijo para Ares, que trincou os dentes — O que você fez com os meus homens?

— Calma! Tem pra todo mundo! — Falou e acertou um tapa na bunda de um jovem loiro ao seu lado. O soldado riu, assim como todos os outros. O rosto de Ares ardeu em vermelho, em um misto de ódio e vergonha.

— O que você fez?! — Repetiu furioso — Nós estamos prestes a lutar na guerra, seu bêbado desgraçado. Os russos estão há poucos quilômetros daqui! Você está estragando tudo para mim!

Dionísio soluçou e ergueu o dedo para Ares, que presumiu que ele explicaria a situação.

— Durão, não é? Ele é bem macho. — Balançou a cabeça, tornando Ares o centro das atenções agora — Falando grosso assim, nem parece que molhava a cama.

Ares rugiu de ódio, enquanto os homens riam.

— Isso é mentira! — Gritou enfurecido — Como se atreve a roubar meus homens, embebedá-los e contar essas calúnias sobre mim?!

— Eu nem sabia que você gostava de homens! — Exclamou de volta, como se esse fosse o assunto da discussão. De repente, pareceu pensar em voz alta — Eu devia imaginar, na verdade. Todos esses anos lutando tanto para afirmar a sua masculinidade, arrumando brigas, e treinando no meio dos seus guerreiros espartanos de tanguinha. Acho que isso diz muito, e eu não notei.

— Ah, seu miserável! — Rosnou avançando contra o deus, que pulou para longe dele, correndo pelo lugar completamente nu. Ares jogou uma cadeira contra a parede, despedaçando-a com violência — Volte aqui e me enfrente!

— Desculpa! — Exclamou erguendo as mãos — Vamos fazer uma troca então! Eu fico com os seus homens, e você fica com as minhas mulheres.

— Não estou aqui para uma das suas orgias! — Rugiu com ódio e depois se virou para seus próprios homens, ou, ao menos os que restaram em pé — Nós estamos aqui para a guerra! Estamos aqui para vencer, para lutar! O que vocês me dizem? Vão voltar agora mesmo para o campo de batalha, ou vão se entregar para a bebia e o sexo?

Unanimante, todos ergueram os punhos e berraram:

— Bebida e sexo!

Ares cerrou os punhos assistindo com ódio enquanto seus soldados viravam mais doses de vodka e se agarravam com a primeira mulher — ou o primeiro homem — que encontravam pela frente.

— Atena vai rir de mim por causa disso. — Disse devagar, fitando Dionísio — Ela vai gargalhar por séculos da minha derrota, e a culpa é inteiramente sua!

Dionísio, tonto pela bebida, mas ainda assim feliz, respondeu ao irmão erguendo um copo cheio de vodka.

— Um brinde ao fracasso! — Comemorou como se fosse algo bom, bebeu e então tombou no chão como se estivesse morto.

Eu queria que ele estivesse, pensou desenhando as bolas na página do caderno. Eu preferia que ele tivesse morrido e que eu não precisasse fazer nada por aquele bêbado nojento.

— Está anotando? — Perguntou Afrodite, esticando a cabeça para olhar. Ao ver os desenhos imaturos de Ares, revirou os olhos e tomou o caderno das mãos do amante. Estendeu-o para Hermes, sem paciência — Hermes, assuma.

Lançou um último olhar para o deus da guerra.

— Agora eu sei onde eu não vou passar a noite hoje. — Torceu o nariz em desaprovação e voltou a falar dos convites.

 

 

ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE

 

Quando julgou ser seguro entrar, Hera abriu a porta da Casa Grande discretamente e fechou-a da mesma forma. Agora, tudo rangia devido ao desgaste da madeira, mas logo esse problema seria resolvido.

— Podem sair. — Declarou batendo palmas duas vezes. Hades e Deméter desceram as escadas, e Hera pôde ter certeza que um gostaria de empurrar o outro, degraus abaixo — O que vocês fizeram, seja lá o que foi, funcionou. Dionísio vai ficar alojado no Chalé 12 por hoje, e possivelmente no próximo dia, o que nos dá tempo e espaço de sobra para arrumar tudo.

Hades olhou para o estrago que ele ajudara a criar.

— Não foi muito difícil. — Admitiu — Dê algumas moedas e ideias erradas, e os filhos de Hermes fazem um ótimo estrago.

Deméter torceu o nariz em desaprovação. Leu as palavras que foram escritas na parede e colocou uma mão sobre seu peito, chocada.

— Essas crianças não têm futuro. — Disse olhando para a irmã — Com um linguajar desses, Hermes deveria estar horrorizado.

Hera gostaria de pontuar o quanto a boca de Hermes poderia ser suja, mas conhecia a irmã bem o suficiente para saber que não seria a melhor forma de respondê-la. Concordou em silêncio, dando espaço para seu incomodo, e infelizmente ouviu Hades rir pelo nariz.

Fora uma única vez, mas ainda assim foi o suficiente para que Deméter virasse o rosto para ele com raiva.

— É claro que você acha graça. O que esperar de um depravado? — Falou com repulsa.

— Depravado? — Repetiu Hades, em um tom nada amigável — Não vejo como isso se aplicaria a mim.

— Você sabe muito bem do que estou falando, surrupiador de donzelas. — Acusou Deméter.

— Não vamos começar isso de novo. — Interveio Hera, de mau humor — Com vocês dois, tudo sempre volta para a mesma história. Perséfone é uma deusa adulta agora, e tenho certeza que a última coisa que ela gostaria de ver é vocês dois discutindo sobre a decisão dela.

— Se ao menos fosse a decisão dela. — Deméter afastou-se, inquieta — Se ao menos a minha filha tivesse realmente feito essa escolha.

Eu prometi que não ia brigar com você, pensou Hades lembrando-se de como Perséfone estava insegura quanto ao tempo que ele passaria com sua mãe. Mas é tão difícil quando você age como uma velha, Deméter.

— Deméter, não-

— Como vamos resolver isso? — Interrompeu Hades, para a surpresa de Hera. O deus dos mortos abriu os braços, gesticulando para o salão — Restauramos o lugar com magia, mas e depois?

Hera avaliou o espaço com olhos atentos.

— Depois nós vamos ter que arrumar a decoração. — Murmurou pensativa — Balões são sempre uma ótima opção. Encheremos o suficiente para dar uma vida a esse lugar, e depois ajeitaremos distribuiremos algumas mesas.

— Balões? — Repetiu Hades.

— Sim.

— Você quer que nós enchamos balões? — Repetiu ainda não convencido. Hera olhou para o irmão sem muita paciência.

— Como acha que o ar vai parar dentro deles, Hades? — Questionou.

— De qualquer outra forma, que não envolva meus pulmões. — Respondeu e ao ver a expressão insatisfeita de Hera, sugeriu algo diferente — Você quer que não usamos nossos poderes para fazer isso, certo? Bem, eu acredito que haja uma solução melhor. Esse acampamento está cheio de crianças.

— Vai fazê-las de escravas agora? — Acusou Deméter.

— Não. — Respondeu travando o maxilar — Vou pagá-las pelo serviço.

— Você acha que pode pagar por tudo, não é mesmo? — Replicou.

Hades se virou para Deméter, sentindo raiva da irmã. Tentou falar de forma controlada, mas sabia que sua voz estava tão amarga quanto café puro.

— Você quer fazer isso? Você quer soprar balão por balão até decorar essa sala enorme? — Perguntou olhando-a nos olhos — Porque se você não quiser, acho que a escolha mais inteligente é me apoiar ao invés de atacar, irmã.

Deméter retorceu a boca para baixo, descontente, mas vendo a razão no que ele falara. A deusa não estava particularmente animada para ter todo aquele trabalho, de forma que a ideia de colocar as crianças para fazer o serviço — por um preço justo — parecia atraente.

Eu queria ter tido essa ideia antes de você, pensou ela com inveja. Assim eu não teria que concordar contigo.

— Ele tem razão. — Murmurou desanimada — É a melhor forma.

Hera olhou para os dois por alguns instantes, em silêncio, até que deixou-se soltar uma risada de satisfação. Apontou para os dois deuses, que não compreendiam a graça, e disse:

— Olhe só para vocês dois, finalmente entrando em consenso. — Falou, admirada.

Então era um teste, pensou Hades aliviado. Só queria testar para ver se nós conseguíamos trabalhar em conjunto.

O deus estava quase aliviado, quando ouviu ela completar:

— Essa atitude vai ajudar vocês, quando estiverem enchendo os balões.

Maldita.


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