Snape passou o resto da madrugada em sua biblioteca, refletindo a proposta do diretor. Sua infância fora muito parecida com a do menino que agora dormia em seu quarto de hóspedes. Durante anos sofrera nas mãos de seu pai que odiava magia de uma maneira apaixonada, sua mãe não pode fazer o que ele agora tinha a oportunidade de fazer pelo garoto. Mas, seria ele a pessoa certa? Durante muito tempo viveu sozinho nessas masmorras, temido pelos alunos, sua única companhia eram seus livros e poções.

 “Senhor?” Uma vozinha tímida chamou da porta. Snape se virou e lá estava Harry, ainda de pijamas e com os óculos tortos em seu rosto.

 “Harry, sente-se.” Ele apontou para a poltrona a sua frente. “Tink!” Ele chamou e uma pequena criatura apareceu do nada, era magra e com grandes olhos arregalados, seus cabelos brancos iam até a cintura e usava trapos.

 “Senhor Snape.” Ela fez uma profunda reverência chegando a encostar o nariz no chão. “O que posso fazer pelo senhor?”

 “Tink, por favor, traga-nos o café da manhã.”

 “Sim, senhor.” E ela desapareceu com um estalo, apenas para reaparecer alguns segundos depois com enormes bandejas de comida e as depositou na mesa de centro. Com outro “pop” ela foi embora.

 “Sirva-se.” O homem disse, já derramando café para si. Harry se mexeu nervoso na poltrona, nunca experimentara essa situação em Hogwarts. “O que foi?”

 “Não estou autorizado a comer com adultos, senhor.” O menino respondeu tão baixo que ele teve que se esforçar para ouvir. Snape se esforçou ao máximo para não ir agora mesmo usar uma maldição imperdoável nos Dursley.

 “Harry.” Ele disse tentando controlar sua voz. “Não sou muito bom com esse tipo de coisa, então preste bastante atenção.” Suspirou. “O que seus tios fizeram durante todos esses anos é errado, nenhuma criança merece ser tratada dessa maneira. Se conheço Petúnia bem o bastante, você foi tratado como uma verdadeira aberração, mas não é verdade. Você é uma criança muito especial, confesso que errei com você durante esse ano e espero que possa me perdoar.” Os olhos do menino traiam seu espanto.

 “Não há nada perdoar, senhor.” Snape olhou em seus olhos e percebeu que o menino queria dizer mais.

 “Vá em frente.” Ele encorajou.

 “Senhor...” O menino hesitou. “O que vai acontecer comigo? Terei que voltar à casa de meus tios?”

 “Conversei com o diretor enquanto você dormia e chegamos à conclusão que você não precisa voltar para lá.” Harry abriu um sorriso tímido. “Porém, há uma condição, eu sou o único que poderá adotá-lo.” O sorriso de Harry morreu lentamente, afinal, não é porque Snape tem sido bom para ele que estaria disposto a adotá-lo.

 Harry se levantou cabisbaixo.

 “Obrigado por tentar, senhor.” Ele se virou para ir embora quando a voz de Snape o parou.

 “Sei que sou uma pessoa difícil, Harry, mas estou disposto a tentar se você quiser.”

 “O senhor faria isso por mim?!” O menino praticamente gritou em seu estado de euforia.

 “Sim, mas devo avisá-lo que a convivência comigo é difícil e...” Ele não pode terminar, porque quase foi derrubado pela criança que correu para abraçar sua cintura.

 “Obrigado, senhor!” Lágrimas escorriam pelo rosto do menino que estava tão distraído que não percebeu o professor dando um de seus raros sorrisos.