Simplesmente Complexo escrita por Julie Blair


Capítulo 48
Capítulo 48




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Voz: Brennan

- Amarre-os. Todos.

Nathan seguiu as ordens de Ben, e mandou os demais fazerem o mesmo.

Jung, Zora e Caio tentaram resistir... Mas pouco adiantou. Eles eram muitos, nós éramos poucos.

As cordas que amarravam meus pulsos machucavam-nos. Era puxada como uma prisioneira, na chuva, por Ben.

- Até que lhe caiu bem esse novo corte de cabelo! Gostei Dra. Brennan!

Minhas lágrimas se misturavam com a chuva... Permanecia cabisbaixa, para que Ben não pudesse vê-las. Ele estava feliz, triunfante. Falou alto, como piada, para que todos os demais pudessem escutar.

- O que eu disse? Se fugir, a encontraremos! E encontramos você Dra. Temperance Brennan!

Seu tom de deboche fez com que todos rissem, exceto Jung, Zora e Caio... Que lutavam da sua maneira, contra o que estava acontecendo.

 Minha pele já estava arrepiada, meu corpo tremia com o frio e a chuva... Não sabia se agüentaria. Sabia que Jung, Zora e Caio estavam acostumados... Mas, ainda assim, sentia-me culpada. Não apenas pelo frio, mas por tudo o que ainda não sabia. O futuro de nossas vidas era incerto... Não sabia quais eram os planos de Ben. Eles haviam se envolvido por minha causa, eu não deveria tê-los envolvido. Já andávamos a mais de cinqüenta minutos, estava exausta, machucada. Não enxergava nada ao meu redor... Meus olhos estavam perdidos, embaçados, pelas lágrimas que corriam incessantemente. Depois de caminharmos cerca de uma hora e meia em direção a aldeia de Jung, Ben chegou ao lugar planejado.

- Cansei de ser bonzinho.

Jogou-me com força contra a parede de uma gruta.

Nathan fez o mesmo com Jung, e os demais fizeram o mesmo com Zora e Caio.

- Cuidarei deles. Apenas amarrem suas pernas, e prendam as cordas das mãos nos anzóis de ferro.

E assim eles fizeram, machucando-nos ainda mais.

- Cerquem a área. Certifiquem-se de que não haverá ninguém para nos impedir.

Ben deu uma longa risada, seguida pela risada de Nathan.

Quando finalmente se afastaram, Ben começou...

- Como eu disse, cansei de ser bonzinho.

Tirou do bolso das calças vários fios de arame farpado, carregando um sorriso no rosto.

- Vamos ver, vamos ver... Quem escolherei dessa vez?

Ben deu várias voltas, olhando para todas as suas possíveis opções. Depois de várias idas e vindas, focou seus olhos em Caio, e aproximou-se um pouco mais.

- Não vai doer mais do que o necessário!

Ele cochichou em seu ouvido, em bom som, para ser escutado por todos. Logo depois, envolveu as mãos de Caio com o arame... Colocando e apertando mais, até que a dor fosse o suficiente para fazê-lo chorar e implorar para tirá-los.

- Sinto muito, mas regra número um... Eu nunca volto atrás!

Ben riu ainda mais, e mais alto.

Jung tremia, tinha medo... Era visível. Por mais que tentasse disfarçar, não conseguia controlar suas mãos tremulas e seu coração que rapidamente pulsava. Não conseguia controlar a respiração ofegante, e os olhos que  desviavam de canto a cantando da Gruta.

- Você.

Ben olhou para Jung.

- Você é o indiozinho que ajudou a Dra. Brennan a escapar, não é?

Escutei Jung engolir em seco.

- Você escolhe. Você, ou ela. Apenas um levará a culpa.

Jung ficou pensativo, até que respondesse...

- A culpa é minha.

Zora gritou com Jung em protesto... Disse que não era sua culpa... Mas nada adiantou.

O que faria a seguir, era difícil... Mas o certo a se fazer. Não poderia ser feliz sabendo que Jung havia morrido por minha causa, assumindo uma culpa que não era sua. Eu não sabia. Mas naquele momento soube... Que o amava. E foi por essa razão, por saber que jamais suportaria que ele morresse por minha causa, que fiz o que deveria fazer.

- Não Jung! A culpa foi minha!

Jung e Ben viraram-se para trás.

- E então, Jung? A decisão é sua...

Foi então que Jung olhou no fundo dos meus olhos e disse...

- Jung prometeu pra Mani – Aiá que nada aconteceria... E Jung não sabe se disse verdade... Jung não sabia. Mas Mani – Aiá ensinou muito pra Jung... Ensinou números, antropologia, e a ser mais corajoso. Jung não vai deixar Mani – Aiá morrer, Jung não pode. E se Mani – Aiá não viver, Jung não vai ter cumprido promessa.

As lágrimas rolavam por meu rosto. Me despedia do maior herói de todos os tempos, me despedia de Jung... Do indiozinho que salvara minha vida, me ensinara tupi e a subir em árvores. Do indiozinho que me ensinara sobre a pureza, a coragem, e a lealdade. Não sabia como lhe responder... Aquelas seriam as últimas palavras antes de Ben levá-lo.

- Você é o índio mais puro e corajoso que já conheci. Não quero que vá embora...

- Jung nunca vai ir embora. Jung vai proteger Mani – Aiá, aonde estiver.

- Sinto muito, mas o tempo acabou.

Ben puxou Jung com força, tirando-o de minha vista.

- Aliquam! Aliquam! Aliquam!

Gritei com todas as minhas forças, para que pudesse escutar.

As palavras saíram entre soluços e choros, que permaneceram. Zora e Caio choravam tanto quanto eu, e pediam, imploravam para que ele voltasse.

Um tempo depois, voltou Ben... Sua camisa branca estava manchada de sangue, assim como suas mãos. Ele ria alto, gargalhava... Enquanto chorávamos, chorávamos pelo índio mais nobre e corajoso que já existira.

- Você é um monstro!

Eu gritei, em meio aos soluços e ao choro.

E Ben apenas esboçou um sorriso maior, satisfeito com o resultado.


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