Simplesmente Complexo escrita por Julie Blair


Capítulo 27
Capítulo 27




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Voz: Brennan

Jung sabia. Tinha certeza que sabia. Dizia que os ventos lhe traziam as informações, mas tinha a impressão de que sempre estava me vigiando... Até mesmo nas horas que não tínhamos um encontro marcado. Mas eu não cobraria... Sabia que não era sua culpa, sabia que não podia fazer nada para impedir. Jung era valente apenas de estar ali, era o mais valente... Ver tudo acontecer sem poder agir, pedia mais coragem do que dar a sua vida em uma batalha impensada. Quando cheguei, vi Jung balançando e tocando com a ponta dos dedos a água da cachoeira, insatisfeito com ele mesmo. Não precisava me dizer o porque, eu sabia... Sabia que ele se sentia culpado, embora não fosse sua culpa. Não toquei no assunto... Não queria... Mas devia. Apenas me aproximei, tirei os sapatos, e me juntei a ele. Toquei de leve em sua mão, ele não se afastou... Entendia. Entendia o quanto precisava sair dali, entendia o quanto queria. Mas ainda assim, mesmo que entendesse, quis dizer... Quis repetir mais uma vez a frase que havia dito tantas vezes em minha mente... Quis afirmá-la, quis vivê-la.

- Precisamos sair daqui... Precisamos tentar.

Jung finalmente virou os olhos para mim. Balançou a cabeça positivamente, entendendo o porquê de minha decisão. Achei que diria algo, mas não, mergulhou fundo. Não tive medo, sabia que voltaria... Era um índio, aquela tarefa com certeza era fácil para ele. Enquanto não voltava, virei os olhos para o céu e o lugar... O céu estrelado, as árvores que levemente balançavam com a brisa quente... E Jung, que finalmente voltava de seu mergulho. Carregava, entre os dedos, um Muiraquitã. Conhecia... Era um amuleto de proteção, dizia a lenda que eram tirados do fundo das correntezas. Jung também carregava um leve sorriso nos lábios, percebendo que também sorria...

- Você não quer que eu acredite que tirou esse Muiraquitã do fundo da cachoeira não é?

Disse, rindo da situação. Jung também riu, colocando o Muiraquitã em meu pescoço. E então, enquanto tocava e olhava atentamente para meu presente, Jung respondeu, em um tom sério...

- Apenas quero que acredite em seu poder.

Balancei a cabeça, concordando... Mas Jung sabia que apenas estava sendo gentil, sabia que não acreditaria... Não no momento. E talvez, por isso, Jung tenha dado uma de suas risadas fortes e sinceras... Que tanto adorava.

- Mani – Aiá não acredita no poder do Muiraquitã, Mani – Aiá é apenas Mani – Aiá!

Não entendia o que Jung queria dizer, e já havia desistido... Mani – Aiá era uma palavra de significado próprio para ele, duvidava que fosse dividi-la comigo... Já havia insistido tanto!

- Jung nunca disse o que quer dizer Mani – Aiá... Jung quer dizer. 

O encorajei com os olhos, repletos de curiosidade. E então, sem jeito, Jung começou...

- Quando Jung conheceu Abaeté, viu que era espírito bom... Diferente de todos os espíritos que Jung tinha visto desde que os Abaetês chegaram. Viu que Abaeté corria perigo, Jung tinha que proteger Abaeté. E quando Abaeté abriu os olhos e Jung olhou para eles, sabia que era Mani – Aiá, o espírito bom que faria companhia pra Jung. Os espíritos tinham me falado de Mani – Aiá, e era a Abaeté que Jung salvou. 

Estava ainda confusa. Não acreditava nos espíritos bons, mas acreditava em Jung... Então uma parte de mim, acreditava. Ainda não sabia o que queria dizer Mani – Aiá, e provavelmente Jung percebeu o quanto queria quando continuou...

- Mani – Aiá quer dizer espírito bom, de coração grande, e mente grande. É espírito esperto e bom.

Sorri, gostando ainda mais do apelido... 

- É verdade... Eu sou realmente muito esperta!

Jung voltou a rir, alto... Sua risada era contagiante, logo me peguei rindo tão alto quanto ele. Rimos por um longo período, até que falássemos dos assuntos mais sérios. Precisávamos de um plano, e fizemos... No outro dia, quando o Sol estivesse se pondo, nos encontraríamos. Jung conhecia a floresta melhor do que Ben e seus guardas, e a noite, esse conhecimento era realmente vantajoso. Havia aprendido muito com Jung... A mergulhar sem fazer muito barulho, a subir em árvores, e a imitar sons se diversos animais da floresta... Me sentia pronta... Estávamos prontos. Confiava em Booth, mas tinha medo... Não de que desistisse, mas dos riscos que corria estando ali, sem nada fazer.


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Notas finais do capítulo

Glossário:
1. Abaeté: Espírito do bem.
2. Abaetê: Espírito ruim.
3. Muiraquitã: Pedra verde esculpida em forma de sapo. Os indígenas acreditam que dá proteção.
Obs: A falta de números foi descuido... Mas, como os termos já estão quase entendidos, melhor não apagar... Faz parte.



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