Simplesmente Complexo escrita por Julie Blair


Capítulo 24
Capítulo 24




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/166405/chapter/24

Voz: Brennan

”Hoje completa um mês que estou aqui. Não sei, mas acho que parte de mim está se habituando... Além da companhia de Pud, Jung está sempre por perto. Ainda não sei o que significa Mani – Aiá e como consegue chegar até mim, mas pretendo descobrir. Sabe, Jung ás vezes me lembra você... Mesmo sendo tão mais jovem. Ele é dócil, tem um olhar acolhedor, e é tão difícil lhe negar alguma coisa... Sem falar na sua mania de querer me defender... É encantador. Hoje temos um encontro marcado... Ele disse que queria me mostrar um lugar, estou ansiosa. Passei a conviver menos com Ben e sua trupe... Acho que aos poucos me sinto mais forte, como se pudesse encontrar uma solução. Acredito que Jung pode me ajudar... Ele é realmente um índio muito esperto. Eu te amo, Booth. Amo você, amo Sophie, e não vou desistir... Não posso.

T. Brennan”.


Saí da cabana segurando um lampião com uma das mãos. Caminhei por trinta minutos, até chegar ao lugar onde Jung e eu havíamos marcado de nos encontrar. Jung parecia cansado, embora não houvesse demorado tanto assim... Estava de costas, sentado no chão, acompanhando o percurso da cachoeira com os olhos. Quase não tive coragem de dizer que estava ali... Apesar da calma, Jung parecia triste. Mas não podia dar as costas a ele... Deveria interromper seus pensamentos. Com cuidado, me aproximei. Logo, toquei seu ombro... Estava quente, como se o frio não lhe tocasse. Jung com pressa secou o rosto, tentando esconder que estava chorando. Não sabia... A tristeza de Jung pra mim era apenas uma suposição... Mas naquele momento, era real... O índio que me ajudara desde que salvara minha vida, precisava de minha ajuda. Não sabia como... Não tinha idéia de como ajudá-lo... Era realmente péssima nessas coisas. Decidi lembrar de Booth... Da maneira como ajudava a mim, a Sophie, a todos. Jung já me olhava, mas suas palavras se negavam a sair... Foi então, que me pronunciei.

- Jung, o que está acontecendo?

Jung olhou para o chão e fez umas linhas com os dedos na terra antes de falar. Levantou-se, pegou meu braço, e começou...

- Jung prometeu mostrar lugar bonito pra Mani – Aiá, Jung vai mostrar.

Estava decidido... Era teimoso, assim como Booth. Sabia que não o convenceria, então apenas o segui. Mas não desistiria... Jung me contaria o que estava acontecendo assim que chegássemos. Subimos por vinte minutos, Jung ainda segurava meu braço. Assim que chegamos, Jung me puxou pelo braço, ajudando-me a subir. Era lindo... Tinha a impressão de estar quase tocando o céu. A floresta parecia ter vida, assim como Jung sempre me falara.

- É lindo, Jung... É incrível!

Jung sorriu, mas nada disse. Entrelaçou as mãos, e voltou a ficar cabisbaixo. Aquele era o momento... Jung tinha que me contar, tinha que saber o que estava acontecendo. Antes que lhe perguntasse, Jung respondeu... Ás vezes tinha a impressão de que podia ler meus pensamentos.

- Mani – Aiá sempre pergunta a Jung como chega até aqui... Mas Jung nunca chega, Jung nunca sai...

Minha expressão era confusa. Jung percebeu, e continuou... 

- Jung e irmão Joshua pescavam aqui quando os Abaetés¹ chegaram... Mataram Joshua, Jung não pode fazer nada, Jung se escondeu em cima de uma árvore...

Jung começou a chorar, não insisti para que continuasse. Devagar, aproximou-se de mim, encostando a cabeça em meu ombro. O ajeitei, e lhe fiz cafuné por um tempo... Até que Jung insistisse em continuar.

- Joshua era irmão mais novo de Jung, Jung tinha que defender Joshua, mas Jung ficou com medo...

Passei os dedos de leve, afastando sua franja dos olhos...

- A culpa não foi sua, Jung... A culpa não foi sua.

Jung calou-se por um tempo... Fiquei lhe fazendo cafuné, enquanto insistia em continuar olhando para baixo...

- Jung nunca mais viu família, nunca mais viu aldeia, nunca mais saiu daqui... Jung tem saudade.

Vi seus olhos marejarem novamente, como se quisessem me dizer alguma coisa. Eu o entendia, melhor do que imaginava... E ele deveria saber.

- Eu entendo...

Agora sua expressão era de conforto... Jung queria que lhe contasse minha história, e assim faria. Contaria sobre Booth, Sophie, o laboratório... Contaria sobre a minha vida, e como fora parar ali. Antes de começar, Jung segurou a minha mão... Ele estava ali, e não iria embora... Jamais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Glossário:
1. Abaetés: Pessoas más, espíritos do mal.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Simplesmente Complexo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.