Simplesmente Complexo escrita por Julie Blair


Capítulo 22
Capítulo 22




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Voz: Brennan

- Vejo que está se habituando ao habitat Dra. Brennan...

Ben ria da própria graça.

- Não tanto quanto você.

O vi olhar para suas bermudas sujas de lodo, parando de rir imediatamente. Tentei esboçar um sorriso igualmente irônico, antes de continuar...

- Vou sair por algumas horas.
- Sentirei saudades.
- Não tanto quanto eu.

Peguei a bolsa amarela encostada na parede. Uma linda noite quente cobria o céu... Sairia, ficaria longe pelo maior tempo possível. Antes de sair pela porta, Ben voltou a dirigir-se a mim...

- Quatro horas. Ou infelizmente, terei de mandar matá-la.
- Não será preciso.

Saí, sem olhar pra trás. Deixaria aquela vida por mais quatro horas... Deixaria a elegância asquerosa de Ben, a visão nojenta de Nathan, e as risadas dos demais. Mesmo que não pudesse passar a noite fora, aquele tempo seria o suficiente para me recompor... Suficiente e necessário, para poder pensar em Booth e Sophie em silêncio, para poder pensar em maneiras de sair dali.

Andei por quarenta e cinco minutos até que encontrasse uma nova cachoeira. A água transbordava, mas não havia correnteza. A noite realmente estava linda... Observava minuciosamente. Aquele lugar era ainda mais lindo do que os outros... Era magnífico! Me despi, e logo mergulhei. A água estava morna, batia em meus ombros, enquanto a luz do luar me iluminava. Me distraí, passei os dedos entre meus cabelos, fechei levemente os olhos... Não queria que aquela sensação passasse tão cedo! Foi aí, que escutei um barulho próximo a mim... Logo, vi Jung levantar a cabeça de seu mergulho... Os cabelos negros molhados e bagunçados, o peito nu... Pressentia que não era apenas seu peito que estava nu. Jung se aproximava, enquanto tentava encontrar alguma situação mais embaraçosa do que aquela. Certamente aquela situação era comum para ele, mas não para mim... Estava nua, tentando encontrar alguma maneira de ser gentil...

- Jung, que bom ver você!
- Jung também está feliz de ver Mani – Aiá!

Se aproximou, em um abraço... Comprovei que estava completamente nu. Senti meu rosto arder, enquanto batia de leve em seu ombro, tentando afastá-lo.

- Jung, preciso da toalha... Preciso pegar...
- Jung pega pra Mani – Aiá!

Tentei impedi-lo, mas era tarde demais... O vi sair, deixando seu corpo inteiro a mostra. Havia visto vários corpos nus até aquele momento, mas por alguma razão, não me sentia confortável olhando para o corpo de Jung... Virei-me.

- Essa é toalha de Mani – Aiá?

Teria de responder. Virei-me, com certa pressa, e não pude conter o riso ao ver Jung segurando um par de chinelos. Antes que pudesse retomar o fôlego, Jung continuou...

- É chinelo de Mani – Aiá, Jung sabia!

Jung ria, achava ainda mais graça... Sua risada era forte, alta... Mal contendo os risos, alcançou-me a toalha.

- Jung sabe que Abequar¹ fica desconfortável sem roupa.

Suas palavras misturavam-se aos risos ainda fortes. Antes que pudesse voltar a falar, Jung entendeu... Virou-se de costas, colocando as mãos sobre os olhos...

- Vou contar pra Mani – Aiá! 1, 2, 3... Já deu?
- Ainda não Jung...
- 2, 3, 4... E agora?
- Mais um pouco...
- Jung só sabe contar até vinte, Jung não quer passar vergonha com Mani – Aiá! 5, 6, 7, 8, 9, 10, deu?
- Só mais um pouquinho...

Ria enquanto Jung contava, até seus vinte números.

- Já foi vinte, Jung não sabe mais contar... Jung pode se virar?

Já estava vestida, ainda achava graça...

- Pode.

Jung se virou, e logo percebeu o quanto estava rindo...

- Mani – Aiá estar rindo de Jung... Jung não gosta...

Vi Jung fazer beiço e cruzar os braços, como se estivesse realmente chateado. Ri mais um pouco, e logo continuei...

- Se vestir uma roupa, prometo te ensinar a contar até cem!

Jung pareceu entusiasmado. O vi correr até sua Tanga, e vesti-la com um sorriso no rosto.

- Agora Mani – Aiá vai ter que ensinar Jung a contar!

Ri novamente ao observar seu entusiasmo.

- Jung sabe lugar bom, Jung vai levar Mani – Aiá.

Pegou-me pela mão, me guiando. Subimos algumas pedras, até que estivéssemos em um lugar relativamente alto... A vista era linda! Sentamos em um enorme bloco de pedra, com os pés balançado no ar. Ao nosso redor, além de um céu magnificamente belo, árvores enormes que nos cercavam, e a vista de cima daquela mesma cachoeira. Ficamos ali, por um bom tempo... Jung aprendendo com facilidade número por número, até que chegássemos ao cem. Tentei algumas vezes perguntar como tinha chego até ali, e o que significava o apelido que me dera... Mas Jung estava concentrado, apenas repetia os números em sua mente e depois em voz alta, até que pudesse contar do um ao cem sem erros. Achei que estava cansado, mas me enganei...

- Agora Mani – Aiá ensina Jung mais números?

Era difícil negar aquele pedido... Mas não sabia quanto tempo havia passado desde que havia saído do acampamento... Era arriscado ficar mais tempo ali. Jung pareceu chateado quando lhe disse que não poderia... Mas quando prometi que o ensinaria outro dia, vi seus olhos brilharem novamente.

- Boa noite, Jung.
- Boa noite Mani – Aiá.

Passei de leve os dedos entre seus cabelos negros, aquela demonstração de afeto era entendida até mesmo por eles, índios. Jung sorriu, um pouco sem jeito. Com aquela visão, me virei... Mesmo que não quisesse, peguei minha bolsa amarela e segui em frente.


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Notas finais do capítulo

Glossário:
1. Abequar: Homem que voa, vindo do céu.



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