Fogo Que Arde Sem Se Ver escrita por Labi


Capítulo 1
One shot


Notas iniciais do capítulo

Antes de vos deixar ir para o capítulo, tenho de partilhar com vocês algumas coisas. A ideia para esta fic surgiu graças a um sonho que tive. Não exactamente assim, claro. Sonhei com um rapaz na praia e depois de acordar não consegui dormir mais e fiquei a matutar em quem seria. No dia seguinte começamos a estudar a obra de Fernando Pessoa na aula de Português E voilá, inspiração divina.
Eu chamei ao meu Portugal de Afonso ( oh criatividade maravilhosa -.-) e ao Brasil chamei Luciano. Chamei Luciano porque nas fics que li ele tinha quase sempre esse nome. Quanto ao Afonso, nas fics ele era quase sempre mulher e portanto dei-lhe o nome do seu primeiro rei.
Escrevi isto enquanto ouvia a versão piano da musica Just be Friends da Megurine Luka. Portanto se puderem, ouçam enquanto lêem.
Espero que não esteja muito bizarra, prefiro escrever comédia a fluff, e portanto considero isto como uma estreia.
Ah, ultima coisa. Eu tentei escrever as falas do Luciano em pt-br. Ignorem, por favor, o imenso fail que foi.



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O dia encontrava-se ameno mas havia um certo vento frio beira-mar que fazia as pessoas na praia terem de andar a correr atrás dos seus guarda-sóis e vestirem casacos. Num dos penedos perto do mar, num dos cantos mais isolados da praia, encontrava-se Afonso sentado a contemplar o mar.

Aquele mesmo mar que lhe trazia uma imensidão de memórias. A sua travessia tinha sido a maior aventura da sua vida e as memórias referentes a ela eram guardadas de forma ambígua no seu coração. Ele tinha sido um grande império, um dos maiores e mais ricos da Europa. E o que era ele agora? Um falhado cuja economia afundava um pouco mais todos os dias? Uma memória para as suas ex-colónias? Ele suspirou e dobrou as pernas pousando o queixo sobre os joelhos, nunca tirando os seus olhos verde ácido do Atlântico.

“Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?” tinha escrito Pessoa nos inícios do século XX referindo-se á antiga gloria de Portugal. Esses versos eram interpretados pelo seu povo como uma metáfora ao sofrimento dos marinheiros e das suas famílias durante a época dos Descobrimentos. Afonso achava esses versos irónicos porque eles eram bem mais literais do que aquilo que ele alguma vez admitiria.

Ele via o sol a começar a cair em direcção ao mar, mas para ele era como se o tempo tivesse congelado. Valeu a pena todo o seu sofrimento? Ou melhor, valeu a pena todo o sofrimento que ele causou?

Angola…Macau…Todos sofreram ás suas custas e ainda apresentavam cicatrizes disso. Esse tópico delicado fazia-o sempre sentir-se deprimido, ele ainda sentia remorsos pela sua ganância e orgulho daquele tempo.

E depois havia Brasil. A sua Independência causou no português sentimentos que ele ainda hoje não sabia explicar. Podiam já ter passado quase duzentos anos desde aquele dia quente de Setembro onde o grito de apelo pela liberdade tinha sido o ponto final daquela união, mas Afonso sabia que no fundo o Brasil nunca iria perdoar inteiramente as atrocidades que ele, como nação, cometera ao seu povo indígena nas costas da antiga colónia. Eles davam-se muito melhor agora, depois de tudo isso, apesar de Luciano insistir em fazer piadas parvas sobre Portugal, ambos gostavam da companhia um do outro e ambos negavam a si mesmo isso.

Afonso fechou os olhos para se concentrar no barulho produzido pelas ondas e gaivotas. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” tinha escrito o mesmo poeta. Afonso forçou uma gargalhada. Aquele homem realmente sabia sobre quem escrevia…

Ele tinha de voltar para casa mas não queria. Não se queria deparar com o silêncio aterrador dela naquele momento. Tinha saído de uma reunião recentemente e ainda não estava psicologicamente preparado para ficar sozinho com os seus pensamentos. Pelo menos ali o Atlântico fazia-lhe companhia.

Estava a começar a apreciar a sua solidão quando ouviu passos a aproximarem-se. Ele manteve os olhos fechados e não se mexeu.

“Hey velho, virou anti-social com essa idade?”

Continuou sem abrir os olhos, não precisava. Podiam ter passado muitos séculos desde a primeira vez que a ouviu, mas ele iria sempre reconhecer aquela voz, aquele sotaque, em qualquer parte do mundo independentemente do tempo que tenha passado sem a ouvir.

“Não se deve ignorar as pessoas, sabia?”

“Vai-te embora.” Respondeu o português irritado.

Luciano sorriu e sentou-se na ponta do penedo enquanto molhava os pés nas ondas que continuavam com os seus movimentos de vai e vem cada vez maiores.

“Como sabias que eu estava aqui?”

“Ah, deve pensar que é o único que gosta de olhar o mar não? Eu não vim á sua procura, apenas o encontrei por acaso.”

“É… velhos hábitos não morrem.”

Nenhum dos dois falou de novo, apenas saboreavam o silêncio que era bastante confortável. Mas algo na mente de Luciano o deixava inquieto:

“Porque você desapareceu depois do almoço? Perdeu a hipótese de ver o Francis saltar, literalmente, em cima do…Como ele se chama mesmo?”

“Quem?”

“Ah, esqueci.” Disse ele coçando a cabeça tentando, em vão, lembrar-se do nome de Matthew.

Afonso abanou a cabeça e voltou a sua atenção para o mar. Estava realmente sem paciência para conversas sobre casualidades. Ao sentir-se ignorado, Luciano fez-lhe uma careta e ia dizer alguma coisa quando uma onda mais forte o apanhou desprevenido salpicando-o com o liquido salgado e deixando-o molhado de um dos lados.

“PORRA! A ÁGUA ESTÁ FRIA!”reclamou ele enquanto se levantava para espremer a camisola.

“Nem está muito. Na verdade está mais quente que o habitual.” Comentou o português que tinha sido poupado do banho graças ao facto de se ter sentado encolhido.

“Bah, se você acha isto quente, então no Brasil as praias são uma banheira gigante não?!”

Afonso soltou uma gargalhada, de facto ele tinha pensado isso quando lá chegou pela primeira vez.

Luciano sentou-se de novo e encolheu-se para não sentir frio. “Cara, seu clima é horrível.”

Ao ver que o brasileiro estava verdadeiramente a tremer e não a brincar, Afonso tirou o seu casaco e atirou-o na direcção de Luciano.

“V-você não tem frio?”

“Noup. Não está assim tanto frio, e alem disso eu estou habituado ás praias do Norte, que são bem piores.”

Luciano olhou para ele com descrença mas vestiu o casaco na mesma, fazendo algumas piadas ao facto de as mangas lhe ficarem curtas, e voltou-se de novo para o mar.

Nos minutos seguintes, nenhum deles voltou a dizer alguma coisa. Luciano olhou para o português, quase como que a verificar que ele ainda estava ali, e reparou pela primeira vez nas enormes olheiras negras que o português tinha. A crise económica estava mesmo a dar cabo dele… Não devia dormir em condições há vários dias, o moreno pensou com alguma tristeza. Em forma de brincadeira passou o braço pelas costas de Afonso aproximando-o de si.

“Hey velho, não morra aqui!” disse ele a sorrir.

Afonso não disse nada nem tão pouco fez o mínimo esforço para se mexer. Limitou-se a fechar os olhos e a relaxar no pseudo-abraço do brasileiro. Este último, encontrava-se agora muito corado sem saber o que fazer. Algum tempo depois, reparou que a respiração de Afonso se tinha tornado calma e ritmada.

“Seu idiota, não me use como almofada.” Sussurrou o brasileiro enquanto tentava ajeitar a posição de Afonso para que ele ficasse mais confortável.

Estava a ficar escuro e a maré a subir, dali a nada, o penedo iria ficar encoberto pela água. Com todo o cuidado para não acordar Afonso, Luciano pegou nele de cavalinho e começou a dirigir-se para a casa do português. Pela forma com que ele dormia calmamente, devia estar realmente cansado e Luciano sentia pena em acorda-lo já que da praia até sua casa eram apenas 3 ou 4 quarteirões e ele conseguia leva-lo sem problemas.

##

Afonso acordou com uma sensação estranha. Estaria a voar? Ele não sentia o chão. Sentia também cócegas na cabeça por culpa da areia e a barriga quente. E depois havia aquele cheirinho vagamente familiar a canela…

Abriu os olhos e a primeira reacção que teve foi corar imenso. Estava já escuro e os candeeiros públicos estavam acesos mas ele sabia perfeitamente que estava de cavalinho nas costas de Luciano. Ele tinha adormecido? Durante quanto tempo? Porquê? Como ele tinha adormecido se ultimamente andava a ter insónias horríveis? Ele afastou ligeiramente a cabeça dos ombros do brasileiro e reparou que ele tremia ligeiramente de frio, e o casaco que lhe tinha emprestado estava agora nas suas próprias costas

“Hum…Luciano?”

O brasileiro voltou a cabeça e sorriu:

“Então velho? Como foi a sesta?”

“Hum, idiota porque não me acordaste?”

O sorriso do brasileiro desapareceu e ele olhou para a frente:

“Porque você parecia precisar dormir.”

“N-não precisava nada. Podes por-me no chão?”

“Nem pense.Você ainda nem acordou totalmente, além do mais parece bastante cansado ainda.” Disse indignado Luciano enquanto que segurava com mais firmeza o português que se debatia inutilmente nas suas costas.

“M-mas isto é humilhante!”

“Heh? Como assim?”

“Era EU quem antes te levava de cavalinho para a cama depois de adormeceres no jardim.”

“Você chama o seu irmão de idiota por culpa do Romano, mas você é igualzinho a ele.” Respondeu o brasileiro com uma gargalhada.

Portugal ficou ainda mais vermelho e deu um murro leve na cabeça do brasileiro:

“S-seu mal-educado!”

“Aha, sei. Agora volte a dormir. Está precisando.”

“E-eu vou a pé!”

“Não seja ridículo. Você mal consegue aguentar com seus olhos abertos.”

“M-m-mas…”

“Eu aguento você! Sou maior e mais forte que você agora sabe? Além do mais, faltam só 10 minutos para chegar a sua casa. E não se preocupe, eu entro pelos fundos para seus convidados não o verem e virem incomodá-lo.”

Sem saber ao certo o que fazer, Afonso segurou-se com força ao pescoço de Luciano e encostou o seu nariz ao espaço que ficava entre a omoplata e o pescoço. Ah, o cheiro a canela, ele sabia que lhe era familiar…

“H-hey! Isso faz cócegas!”

Obrigado.” Sussurrou o português que já nem força para manter os olhos abertos tinha.

“D-de quê?”

“Fazer-me companhia. Pelos vistos aqui o velho dorme melhor quando estás por perto.” Disse ele soltando uma gargalhada muito fraca e Luciano sentiu a sua cara a arder.

Ficaram novamente calados e quando Luciano sentiu que a respiração de Afonso tinha de novo acalmado e ele estava a dormir de novo, instintivamente segurou-o com mais firmeza contra si. Na sua mente vagueava um dos mais famosos versos da lírica Camoniana: “A amor é o fogo que arde sem se ver.”

O noite continuava tão ventosa como o dia, apesar de mais fria. E mesmo que tenha reclamado do clima de Portugal , Luciano tentava agora pensar no que sentia. Frio? Pelos vistos o fogo era forte demais para ele conseguir sentir frio.


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Notas finais do capítulo

Força, matem-me de novo. Este final horrível já o fez.
Não me perguntem como alguém consegue pegar noutra pessoa de cavalinho sem a acordar, porque eu não sei. Deve ser uma coisa que só o Brasil consegue fazer~
E por falar em de cavalinho, essa foi uma expressão que me deu muito trabalho. Cá em Portugal dizemos ás cavalitas então tive de andar a perguntar a amigos online a tradução Peço perdão se foi usada de forma errada.
Enfim, espero que tenham gostado