Após aquele dia no estúdio, descobri que a banda ensaiava duas vezes por semana e dediquei minhas férias de verão a participar de toda a rotina da produtora, fui todos os dias, a AFI ensaiando ou não.

Davey sempre era o primeiro a chegar, íamos para a cantina, como de praxe, tomávamos cafés e conversávamos sobre assuntos variados, ele falava sobre seu presente, mas não me contava sobre suas relações amorosas ou sua origem. Todo seu passado para mim era mistério.

— Sabe, Miche... Te conheço há pouco tempo, mas gosto de você. Mesmo você sendo essa metida a patricinha, tendo idade pra ser minha fi... Sobrinha! Isso, sobrinha. - Ele sempre falava aquilo.

— Eu também gosto de você, você é uma pessoa especial! Mesmo sendo um velho e amigo do meu pai.

— Nossa, que engraçadinha... – Me mostrou a língua. - Obrigado, pela primeira vez sei que uma garota está sendo sincera comigo, não se aproximou por interesse. Sim, porque dinheiro você tem, e muito... Seu pai é produtor musical, ou seja, se você quiser ter fama, basta estalar seus dedos. O que te falta para ser completa, ter uma vida perfeita?

Meus olhos encheram-se de lágrimas neste momento, ele estranhou minha reação, então o respondi.

— Me faltam amigos. Eu sou uma pessoa tão insuportável, tão feia por dentro que somente meu pai e Mary me amam e aceitam meus defeitos.

— Isso não é verdade, Michelle. As pessoas têm essa visão de você por sua própria culpa. Você foi quem deixou que pensassem isso de ti. Você sente medo de se aproximar dos outros, tem medo de você mesma. Não precisa de muitos amigos, só precisa desfazer esse bloqueio que você mesma criou.

— Eu não consigo sozinha.

— A vida te ensina, você tem muito que aprender e é nova, tem tempo. Seu pai, a Mary, o Harry e... E eu, vamos te apoiar para que não se sinta só.

Eu já não podia controlar as lágrimas que caíam, regando meu rosto. Era um misto de gratidão ao conforto que Davey me oferecia e consentimento de que a culpada de minha relação com as pessoas ser horrível, era somente eu mesma.

Davey apenas me envolveu em um abraço apertado, fazendo-me sentir protegida e forte, ele beijava minha testa e acariciava meus cabelos em silêncio.

Aquilo era tão mágico, como se o mundo estivesse desabando e só existíssemos nós dois. Em um mês ele já era fundamental em minha vida.

A cada dia que se passava eu estava mais decidida em conquistá-lo como homem, uma vez que já o tinha como amigo. Seria incrível contar com aquele apoio irrestritamente e sentir o calor que ele emanava.
         Eu estava certa em correr os riscos inclusive de ser rejeitada por ele ser apaixonado por um homem, mas eu iria me esforçar o quanto pudesse.

Em meu ponto de vista, a amizade poderia transformar-se facilmente em amor e que não amamos gêneros, amamos pessoas.