The Beautiful Thieves escrita por bitterends


Capítulo 32
As Cartas


Notas iniciais do capítulo

Perdoem a demora, perdoem mesmo



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Sábado era dia de papai ir me buscar no Texas, mas eu não estava lá. Eu havia tomado uma decisão e se o visse, ou visse a Harry, ou Davey, eu desistiria para sempre e me mataria aos poucos vendo Davey me odiar pelo que fiz ao nosso bebê.

Não sabia como dizer ao meu pai tudo o que me fez chegar àquelas alturas, não sabia contar sobre a gravidez, sobre o aborto... Ele teria uma decepção tão grande que realmente iria adorar me ver longe e me deserdar.

Pensei em Harry, o único amigo que tinha na vida, que não sabia sobre a gravidez, porque se soubesse, tenho certeza que tudo seria diferente, ele saberia me aconselhar.

Pensei em Davey, e todos aqueles sonhos fazendo o maior sentido. Outra criança perdida e tudo mais que já fez por mim, tempo desperdiçado. Senti uma tristeza, porque somente ele poderia ter impedido àquilo, ter salvado tudo entre nós. Porcaria de pensamento. Eu poderia ter feito tanto, e hoje eu sei, nós mesmos responsáveis por todos os nossos erros e apenas nós.

O único meio que teria era escrever para os meus homens. Assim, quando lessem, eu estaria longe de qualquer olhar de ódio e reprovação.

A de Harry foi a primeira a ser escrita e fiz questão de colocar no correio, porque não haveria riscos de papai ler.

“Querido Harry.

Eu tentei com todas as forças esconder o que me vejo obrigada a dizer agora. Realmente espero que sente-se para ler, pois é uma longa história.

Você, melhor que qualquer pessoa, conhece meus sentimentos por Davey e também sabe o quão imatura eu sou, a ponto de fazer qualquer besteira.

Agora é uma besteira realmente séria, que destruiu a mim e logo destruirá Davey, não sei em quanto tempo ele saberá, mas imagino que não demore.

Bem, é melhor eu começar com isso de uma vez... Há quase três meses, aconteceu algo em minha vida...

Eu engravidei... E o fiz propositalmente.

Não foi tão difícil, aliás. Não tomo remédios e não é difícil sabotar uma camisinha com uma agulha... Então ela estourou e Davey achou que foi apenas azar do destino.

Imagine o quanto esperei pela notícia! Eu queria tanto fazê-lo feliz, que fossemos apenas nós três e que ele largaria a carreira para cuidar de mim e do bebê... Pouco depois, o estupro aconteceu, e a gravidez não constava no exame. Algumas semanas depois, finalmente o resultado foi positivo. Davey ficou tão feliz, contei a ele no dia de seu aniversário, depois fui pela primeira vez ao show da banda. Fiz exatamente o que deveria fazer para vê-lo feliz.

Puxa Harry, fui tão egoísta por ter feito tudo o que fiz sem ao menos saber se ele também queria naquele momento! Fui egoísta por querer usar uma criança para realizar algo que julguei certo: tê-lo por completo para mim. Fui egoísta o tempo todo por não querer mudar pela pessoa que eu julgava amar.

Depois daquelas fotos, como deve ter imaginado, nós brigamos feio e ele decidiu terminar comigo.

O fato era que meu pai não sabia, e ele prometeu que contaríamos juntos, quando eu estivesse pronta. Eu precisava contar e precisava dele por perto, para enfrentar meu pai, mas ele não retornava nem atendia minhas ligações. Enquanto isso durasse, minha barriga não pararia de crescer.

Então eu parei pra pensar sobre o que estava fazendo com três vidas... E cheguei à conclusão de que nenhum de nós poderíamos ser felizes enquanto eu não mudasse. Pensei em algumas coisas que Davey disse em nossa briga, e principalmente, pensei na criança. Ela não merecia uma mãe como eu... Não agora.

Foi um aborto muito perigoso, mesmo sem ter ido para uma clinica o fazer, foi arriscado. Me embriaguei, me intoxiquei de remédios, me debatia pelos móveis... Eu só queria que aquela criança me deixasse... era só aquilo.

Porque sou fraca, não consigo ser responsável pelos meus atos... nem nunca me deixaram ser.

O mais horrível, Harry, é que eu não consigo me sentir tão triste em relação ao meu bebê, me sinto triste pelo simples fato de tê-lo começado a gerar e desistido. Me sinto triste pelo que fiz o Davey passar, e o que vocês três vão sofrer a partir de agora; papai, você e Davey.

Eu vou entender perfeitamente se sentir raiva, decepção, saudade... mas você é como irmão para mim, me vejo obrigada a contar tudo.

Quero manter contato com você, e apenas você, se me permitir fazer isso.

Os dias no Texas foram horríveis, é claro, mas me fizeram pensar em coisas que eu não tinha pensado antes. Não que eu esteja fugindo ou me escondendo, nada disso! Eu só preciso do meu próprio tempo, das minhas experiências de vida e acrescentar coisas boas a ela... pessoas boas! Quero ser boa...

Estive pensando em ajudar a quem precisa, não sei fazer muita coisa, mas quando as pessoas precisam, têm toda paciência para ensinar aos que não sabem... E eu quero aprender! Sinto sede disto!

Meus planos? Não tenho...

Vou para onde sentir que devo, para onde meus pés aguentarem, e buscar o tal sentido da vida, aquele que vocês tanto diziam que eu precisava encontrar.

E se eu o encontrar, não sei se vou querer voltar.

Te amo mais do que poderia expressar,

Michelle. ''

Doía tanto fazer as coisas sozinha, mas eu tinha que ser forte e encarar tudo, encarar a verdade.

Agora era a vez de papai saber tudo. Eu queria saber como ele reagiria se eu tivesse contado aquilo, olho no olho...

“Papai...

Em primeiro lugar peço que me perdoe, por nunca ter sido a filha que o senhor merece, por ter fugido desse seu amor sem dizer, olhando em seus olhos, o porquê de estar fazendo isso.

Pai, eu sempre fui covarde, isso que eu sou. Covarde, fraca.

Não existe um acontecimento específico pra eu ter 'fugido', sim uma série deles e de pensamentos meus.

Eu já não aguento esconder tanta coisa, ou ao menos fingir que escondo algo do senhor.

É difícil, mas eu tenho que começar com isso, não sou de rodeios.

Há quase três meses, eu engravidei de Davey... Não fique irritado com ele por termos tido relações, acredito que me conhece o suficiente até, pra saber quem foi o culpado. Acho que nunca amei alguém como o amo... E tudo o que fiz, foi pensando na felicidade dele, ao menos, eu pensava que sim.

Davey perdeu toda sua família, papai, e eu era o que ele tinha... e o nosso bebê também.

Não conseguia fazê-lo completamente feliz, nunca o deixava alegre o bastante sozinha e acreditei que engravidar fosse o tornar completo, então sabotei o preservativo...

Acreditei que ele largaria tudo; fãs, carreira, tudo! Apenas para se dedicar a mim e ao bebê.

Eu estava usando aquela criança pra realizar meu próprio capricho, que era ter o homem que amo o tempo inteiro ao meu lado, sem ter que dividi-lo com outras pessoas.

E aí, ele terminou comigo. Terminou em todos os sentidos... Eu pensava.

Davey me disse coisas, que eu acreditava que ele estava enganado, mas quando eu percebi que ele não estava mais aqui, pra me salvar, longe de seus mimos, eu soube o quanto ele tinha razão em tudo; de meu egoísmo, de meus caprichos... E o que ele não sabia, era que a criança também fazia parte de uma das coisas que ele repugnava em mim.

Quem ama assim, papai? A ponto de machucar, de destruir os sentimentos de uma pessoa, de si mesmo, e de um inocente por vir? Eu conheci o jeito errado de amar, e agora reconheço isso.

O senhor tinha razão em desconfiar da minha gravidez, acho que o senhor sempre soube, mas não queria acreditar antes de saber por mim mesma.

Só que acabei fazendo uma coisa que nunca me esquecerei, exatamente por ser covarde e fraca... Eu abortei o bebê. Sou uma assassina, pai! Matei meu próprio filho... Não porque eu e Davey terminamos, e sim porque aquela criança não me merecia como mãe, não com a minha imaturidade... Eu sentiria remorso todos os dias de olhar pra ele e usá-lo para ter seu pai ao meu lado novamente, porque estou certa que seria isso o que eu iria fazer. Não achava justo, cuidar de uma criança, sem nem mesmo cuidar de mim, eu também não a amaria como deveria, porque não amo sequer a mim mesma.

Eu não estava pronta, bem como não estou para ver seus olhos me reprovando, com toda a razão.

A minha fraqueza é uma maldição.

Lembra-se daquele mês terrível em que adoeci, por não comer, não ver a luz do dia, ficar apenas trancada no quarto? Foi a minha fraqueza, de achar que sempre dependo de alguém que me faça feliz, de querer possuir tudo ao meu redor... Eu tive uma tarde linda com o David, quando então, ele sumiu e eu achei que fosse para sempre. Não faria sentido sem ele.

Me envergonho de contar essas coisas ao senhor, pois me criou sozinho depois que mamãe faleceu, não desistiu sequer um minuto da sua vida, nem da minha. Sempre admirei sua força, chego a invejar por não ter herdado do senhor.

Então eu fugi... simplesmente fugi.

Fugi da minha falsa felicidade, larguei aqui minha fraqueza, covardia e tudo mais o que não quis levar junto comigo... e isso custou inclusive a vida de seu neto, porque involuntariamente ele era a melhor parte de Davey que eu estaria levando... Eu não mereço o melhor de Davey... Eu não queria levar nada dele comigo, as lembranças já me bastam e são dolorosas o suficiente.

Eu quero ser útil, em algum lugar no mundo... aprender coisas novas, encontrar um propósito em minha vida vazia.

Eu quero encontrar uma razão e todas as respostas, e o meu coração disse que aqui não é onde irei encontrá-las. O meu coração disse pra eu mudar, e algumas mudanças exigem sacrificios, e devem ser rápidas.

A minha mudança sempre me esperou, e eu decidi agarrá-la antes que ela fosse embora e me deixo levar por ela agora... não sei se ela me trará de volta, mas eu quero ver seu sorriso e ouvi-lo me chamar de 'filha' outra vez.

Continue forte, porque o senhor é minha força onde quer que eu esteja e eu sei que sua força sou eu.

O senhor não pode cair, porque sem o senhor, mesmo que de longe, eu nunca poderei me levantar.

Te amo tanto, que nada pode expressar... te amo tanto que não consigo fazer melhor que isso, porque quando uma pessoa é muito importante, não existem palavras, não existem atitudes que demonstrem o suficiente aquilo que eu não consigo falar.

Te amo, tanto papai... a gente vai se encontrar.

Michelle ''

A carta de Davey, eu não sabia como dizer sequer uma palavra. Não sabia sequer se ia dizer, se QUERIA dizer...

“ Nós não estamos mais confinados, não há nada o que nos ligue um ao outro agora.

Primeiramente peço perdão, mesmo que meus pedidos de nada sirvam pra você, pois não há perdão para quem tira uma vida e é uma coisa que eu terei de conviver. Todas as lembranças vão me levar para o seu aniversário no parque, e quando eu olhar pras minhas mãos vazias, nada vai parecer real, mas tudo aconteceu.

Aconteceu um amor não merecido, uma falsa alegria, uma vida inocente e três destruídas.

Só você poderia ter salvo duas delas: a sua e de nosso bebê, a minha estava acabada antes mesmo de conhecer você. Mas você não estava lá, Davey... E no fundo, agradeço.

Eu abortei o bebê, e não estou feliz por isso... eu queria muito ter um pedaço seu comigo, pra sempre, mas eu não tinha condições pra isso.

Sei que tive a melhor parte de você, crescendo em mim. Assim como eu sei que não mereço o seu melhor. Assim como sei que nunca poderia cuidar de uma criança sem sequer cuidar de mim, como sei que não amaria como deveria, pois não amo nem a mim.

E agora eu vejo isso, vejo que apenas atrasei sua vida.

Confesso, agora que parei pra pensar... eu realmente nunca me importei o suficiente com os seus sentimentos, com suas vontades, com suas necessidades, era egoísta demais pra reparar em coisas distantes de meus interesses. E eu chego a imaginar se você não passou de um interesse, de um capricho meu.

Eu não sei o que sinto por você, eu realmente não sei. O que eu julgava ser amor destruiu tudo entre nós, não há sequer uma base em pé... O amor não destrói, não machuca... e foi tudo o que eu fiz para você... Que tipo de amor é esse?

Sabe, vejo que nunca realmente tentei mudar antes. Agora anseio por isso, eu busco mudança, ela me esperou durante muito tempo e resolvi agarrá-la antes que me deixasse de vez.

Estou bem longe agora, trouxe comigo apenas a vontade de ser útil, de aprender coisas... não sei muito, mas sempre haverá quem possa me ensinar, por onde quer que eu vá. Deixei muitas coisas para trás, muitas coisas que não queria levar: minhas fraquezas, meus caprichos, meu luxo, e o melhor que você poderia ter me deixado, porque não mereço nada de você, nem mesmo seu ódio.

Te desejo tantas coisas boas, tantas coisas que possam te orgulhar... eu não sou uma delas, talvez venha ser algum dia, não agora.

Te desejo o mundo, da mesma intensidade que desejava acordar ao seu lado, após outro pesadelo.

E é por te desejar tanto, que prefiro sair de vez da sua vida.

Michelle”

Estava feito, não havia mais volta.


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