Estávamos prestes a completar dois meses de namoro, o famoso “casal isqueiro” : implicantes, ele o vegan mais sexy do mundo e eu a mimada, riquinha e ciumenta. Belo título.

Apesar de todos os comentários, da mídia maliciosa tentando envenenar nosso relacionamento a todo custo, nós não nos importávamos. Tínhamos plena consciência do que enfrentaríamos e acima de tudo, nosso carinho e amor vencia tudo isso.

Era sábado de manhã, quando, em uma revista de fofoca enviada por correio para minha casa, continha nossa foto na capa e a manchete “ Davey Havok e Michelle Walker: amor ou faixada ? “. A reportagem era um fiasco, não deveria me importar, mas um trecho específico me irritou muito e dizia o seguinte:

“ … Dois motivos óbvios para este relacionamento são: Michelle Walker é filha do produtor musical Bryan Walker, milionário e extremamente conceituado profissional no ramo musical. Coincidentemente (ou não), é o produtor da banda de Havok, a AFI. Não nega-se a hipótese de que este namoro seja por conveniência, uma vez que a banda teve o álbum 'Crash Love' marcado com o pior desempenho de vendas de todos os discos da AFI (embora tenha sido o melhor, mais trabalhado disco que a banda já fez em todos estes anos de carreira). O namoro com Michelle, seguraria um contrato com a produtora do pai, pois a mocinha mimada faria de tudo para que o namoradinho não perdesse um valioso contrato como este ou fosse à falência, afinal, se ele for à falência, ele não terá como presenteá-la com outro anel com pedrinha de diamantes.

Outro motivo para o namoro de Havok e a senhorita Walker, é que, Davey sustenta uma fama homossexual, e é vítima de muitas discussões sobre sua própria sexualidade, sobre a qual nunca admitiu ou negou tais boatos. A azaração com a moça seria um modo de assumir sua falsa masculinidade, até porque, uma garota nova como ela, oferece um namoro de beijos e abraços, em casa, com o pai vigiando. Muito conveniente para um enrustido, não precisaria transar com ela.”

Isto era horrível e acima de todos os limites, quem escreveu aquilo poderia ter ido para a cadeia, por calunia e difamação, assédio moral, constrangimento público, e a revista teria de pagar uma gorda indenização, que jamais chegaria a um terço do meu dinheiro.

Eu tinha que mostrar àquilo para papai e Davey, eles saberiam o que fazer melhor que eu poderia saber.

Eles estavam em reunião na produtora, tomada por fúria, pedi ao motorista que me levasse até lá.

Chegando lá, eu não queria interromper, abri a porta da sala de papai de mansinho, estavam todos de costas, conversando com aparência tensa. Em poucos instantes, pude começar a ouvir a conversa.

- Não há como renovar o contrato com a gravadora então? - dizia Hunter.

- Depois das vendas do Crash Love? Não estão dispostos a isso. - respondia papai.

- Temos de aceitar, estamos sem gravadora, gastando dinheiro da produtora em vão... - dizia agora Adam.

- Em vão não, nossos fãs não são em vão. - retrucou Jade.

- Gente, não é o fim. Perdemos a gravadora, mas temos nossos fãs, são maravilhosos e fiéis, esperam muito de nós. Quanto ao dinheiro da produtora e da gravadora, nossos shows arrecadam o suficiente para pagar qualquer gasto excedente que tiveram conosco e ainda paga muito bem nosso cachê. Participamos muito de festivais, sempre somos chamados e não temos tantos gastos. Isso não afeta nossa turnê, temos os projetos paralelos e há um convite para... bem, deixo isso pra lá. Não pretendo aceitar este convite. - agora era Davey quem falava.

- Rapazes, é isto... o contrato se esgotou e... -papai não terminou de falar porque eu cheguei, feito louca, interrompendo.

- Eu sabia, pai! Você somente pensa em dinheiro, não acha que temos o bastante? Por que não renova o contrato? Sabia que traria algum motivo pra acabar com meu namoro...

- Filha, o que deu em você? Eu...

- O que deu em mim? Eu ouvi bem você dizer que eles estão sem contrato, sem gravadora, produtora... Aliás, já leu alguma revista hoje? - disse, jogando-a em cima da mesinha de centro. - Aposto que você tem algo com isso, pai!

- Michelle, você está acusando seu pai do que você não sabe! O contrato com a gravadora excedeu, mas seu pai não deixará a banda, inclusive já está em busca de outras alternativas, mas também não é justo que se gaste mais do que se lucra, isto são negócios, aqui dentro, eu e seu pai somos profissionais. Aqui dentro, genro e sogro ficam longe de nós. Seu pai nunca conspirou contra nós, Miche! Como está sendo injusta, julgando seu pai assim, como trapaceiro! - Davey dizia, impaciente e chocado.

- Tudo bem, Davey. Ela não entendeu bem e está nervosa... diria que tem razão de estar neste descontrole... você já leu isso? - papai estendia a revista para ele.

Eu chorava de tanto nervoso, mas envergonhada ao mesmo tempo, por me faltar coragem de pedir desculpas ao papai, sem deixá-lo ao menos se defender eu fui atacando-o na frente de todos.

O rosto de Davey estava perplexo, enquanto corria os olhos em cada palavra da revista.

Então ele terminou de ler, erguendo a cabeça, mostrando um olhar que eu ainda não havia conhecido. Um olhar assustador, frio, seco.

- Isso é um absurdo, estou realmente chocado, embora saiba melhor que qualquer pessoa o quanto é mentira.

- O que faremos sobre isso? - disse papai.

- Vamos encerrar nosso contrato, Bryan.

- Desculpe Davey, mas isso não é ser profissional. - disse Jade, dessa vez.

- Veja então, Jade! Veja isso! - ele dizia entregando a revista ao Jade.

Uma pequena pausa foi feita, enquanto ele lia em voz alta, para que todos soubessem o que se tratava.

- Estas pessoas deviam ser processadas, isso é calunia, difamação, constrangimento... é horrível! - dizia Jade, também nervoso.

- Acredito que é questão de integridade encerrar o vínculo com a produtora, mostrar que estão errados! E se a solução for esta... - disse Hunter.

- Querem saber? Pensei melhor. Não daremos esse gosto a eles. Eu farei as fotos para a Tarino Tarantina. Com esse dinheiro, pagarei até adiantado os serviços da produtora, boatos assim não podem ganhar poder, ainda mais sendo mentira. - disse Davey, mais calmo.

- Que fotos são essas, Davey? Você nunca as mencionou para mim... - todos então se entreolharam e saíram da sala, deixando-nos a sós. - O que deu neles? Que fotos são essas, David?

- Calma... Estas fotos são para um evento de hardcore. As fotos são um tanto sensuais, para uma revista japonesa.

- Um tanto sensuais, quanto? Vai sair estampado nu por aí? Eu não permito isso!

- Não, Michelle! Sensualidade não é sempre vinculado a nudez. Mesmo se fosse, você não tem que permitir, não depende do que você quer.

- Por que tem que ser você? Há mais três opções para eles...

- Eu não sei Miche, eles me escolheram e ponto.

- Se isso dependesse de mim, pode ter certeza que nunca faria essas fotos.

- SE dependesse... Mas não depende, a escolha não é sua. Isso é o meu trabalho.

- Você é cantor, não modelo.

- Miche, chega por hoje. Eu decidi, não importa o quanto você vai reclamar, não me fará mudar. Assim as coisas ficam piores, hoje eu não estou com cabeça... - ele me puxou levemente para um abraço.

- Eu sabia que as coisas seriam difíceis depois daquele primeiro beijo, mas está tudo mais complicado do que eu imaginava, tudo mesmo... E ainda me vem essa novidade de fotos sensuais...

- Bem vinda ao mundo dos adultos, as coisas não serão sempre como você imaginava. Miche, eu sempre estou aqui para você, todo o tempo, o tempo todo. Faço tudo o que você quer, mas hoje, eu preciso de você... Preciso que me apoie... Olhe só ao redor, não acha que estamos perdendo tempo com essas brigas infantis? Não estamos chegando a lugar algum! Já existem coisas e pessoas demais contra nós. Não precisamos estar contra nós mesmos também. Você é tão importante pra mim, mas eu não posso abrir mão de tudo que não te agrada.

- Realmente, não me agrada ver meu namorado, num ensaio sensual, podendo ter a chance de qualquer vagabunda quase... quase...

- Meu amor, podem haver mil delas em cima de mim, com a roupa mais provocante... mas nenhuma delas terá valor algum, porque elas não serão você. Eu nunca te trocaria! É com você que eu sonho dormir e acordar ao lado, sentir o cheiro, ouvir a voz, todos os dias a minha vida inteira! Sim, minha vida... porque antes de você, eu sobrevivia, só sentia prazer no palco, agora eu sinto prazer como um homem, sinto prazer em viver, sou completo... Você é o que me faltava, e eu te amo. Eu te amo!

- Ama?

- Sim, eu te amo.

E eu me deixei embalar por seu beijo, doce, quente e acolhedor. Seus braços me refugiavam e tudo o que ocorreu antes, aquele momento imperfeito, acabava ali.

Davey me disse, pela primeira vez, três palavras capazes de cessar uma tempestade, dissipar furacões, soarem mais alto que trovões. Palavras monossilábicas, simples porém as mais belas que um ser pode dizer ao outro. Ele disse “Eu te amo”.