Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Estou tão feliz com minhas leitoras! Um passarinho verde me contou, que tem mais leitores do que os que mandam review, porque vocês não mandam? Se não tiverem conta tudo bem, mas se tiverem, mandem review, por favor, não sabem o quanto isso me deixa feliz!



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 Tive um sonho estranho onde eu estava cortando meus pulsos e alguém, que não consegui ver o rosto, passou as mãos sobre eles, fazendo desaparecer o sangue, não deixando nem ao menos cicatrizes. Esse alguém se dissipou em uma fumaça onde pairaram as seguintes palavras: “Não se destrua, por favor! Você é tão perfeita desse seu jeito”, e ouvi uma melodia de piano muito bonita. De repente, tudo desapareceu, tornando uma escuridão onde eu me encontrava sozinha, e então ouvi a voz da Marina junto com a de Callie. “Você é ridícula”, “Baixa e sem sal”, “Olhos sem cor”, “cabelo cor de pinche”, “pobretona”, “que garoto ia gostar de alguém com essa aparência” e então passou um flash do rosto sorridente de Bernardo, e o rosto perfeito de Marina sorrindo para mim com desdém, seguida pelo de Callie, e depois pelo da moça loira bonita, beijando Bernardo; Acordei com um nó na garganta, e o cabelo pregado no rosto pelo suor. Levantei e cambaleei até a janela, a abri deixando entrar uma lufada de ar que levou todo o meu cabelo para trás, e as minhas lágrimas correram silenciosamente. Sentei na minha cama e abracei os joelhos repassando cada cena do sonho. Deitei, esperando pelo sono que não chegava; fui até a cozinha e tomei um copo de água, controlando minhas emoções, voltei e deitei. Depois de rolar de um lado para o outro, enfim consegui dormir. Pareceram segundos o tempo em que dormi e tive de acordar. Vesti meu uniforme, ainda sonolenta, fiz um rabo-de-cavalo e me dirigi à cozinha.

Para a minha surpresa, havia uma mesa bem bonita, com pães, bolo, uma jarra com suco, outra com leite, uma garrafa de café, uma de água quente, que eu sabia ser para o chá, que estava posto ali perto, e um prato com biscoitos. Esfreguei os olhos com o dorso da mão e olhei novamente, a mamãe apareceu por trás do balcão com um sorriso presunçoso.

 - O que achou? – Ela abriu os braços apontando para a mesa. Sorri e olhei para o relógio, ainda eram seis e meia, teria tempo para desfrutar de tudo aquilo; sentei-me.

 - Achei lindo! Maravilhoso. Desde quando a senhora sabe fazer café? – Perguntei enquanto colocava água em uma caneca.

 - A professora fez ontem, mas só explicou, não fizemos em sala, sabe? Então resolvi arriscar, não vai experimentar? – Sorri sem graça.

 - Eu não bebo café mamãe, desculpa, mas... – Ela sentou e pegou uma xícara colocando café, ela bebeu um pouco e fez uma careta.

 - Acho que esqueci de um detalhe... Ou dois. – Ela afastou a xícara e apanhou uma caneca seguindo meu exemplo e colocou chá. – Ficou amargo, sem doce, e forte, muito forte. Se eu tomar é provável que não durmo o resto da semana. – Sorri imaginando como seria uma mãe zumbi.

 - Pega uns biscoitinhos, comprei ontem de tarde. – Obedeci. Este café estava sendo muito proveitoso. Ás 6:50 a Marina apareceu falando no celular. De onde ela tirava tanto crédito?

 Ela pegou um copo de suco e sumiu, como toda vez em que pegava o celular. Levantei-me e fui escovar os dentes. Assim que saí de casa vi Marina entrando no civic preto com um enorme sorriso, enquanto mamãe soltava gemidos de desaprovação, olhando pela janela. Segui meu caminho rotineiro, mas hoje não teve nada disso quando entrei no ônibus, ao invés das pessoas me ignorarem, como sempre fazem me encararam, fazendo-me corar até a alma. Fui para o último banco à esquerda tentando camuflar com o azul do ônibus, sabendo ser impossível. Desci o mais rápido que pude e corri para a sala, havia um amontoado de gente em frente ao mural, mas preferi não olhar, continuei e direção à sala.

 A sala estava quase vazia, a não ser pela Daphne, que costumava ser minha amiga; Ela estava sentada na primeira cadeira à direita, como sempre sentou. Lembrei-me de que eu sempre sentava à esquerda dela, onde fofocávamos entre as trocas de professores, e mais uma vez um bolo desceu pela minha garganta. Fui até a cadeira que passei a usar depois do fim da minha riqueza e abri meu livro de biologia. As pessoas começaram a entrar assim que o sinal tocou, ambas soltando risinhos toda vez que olhavam para mim. Tentei ignorar, tentei concentrar na matéria de biologia, mas estava difícil. E para a minha felicidade a professora chegou e fez-se silêncio. A professora, que me considerava como “a garota mais inteligente da escola”, olhou para mim e engoliu seco corando, fiquei desentendida.

 A aula de biologia, seguida pela de português e depois de história passaram tão lentamente que pareciam não ter fim, assim como os sorrisinhos, eu já estava para entrar em colapso. Até que chegou a hora da prova, que hoje seria aplicada pela minha querida irmã. Ela entrou e passou o olho por toda a sala, duas vezes até parar o olhar em mim, ela acenou para que eu fosse até ela, e com relutância eu fui, imaginando que ali ela era professora e não minha irmã chata. Assim que eu estava próxima o bastante, ela me puxou firme pelo braço quase me fazendo fundir com ela.

- Que palhaçada é essa Melina? – Ela deu ênfase na palavra palhaçada, e eu fiquei pasma.

 - Me solta Marina, e, do que você ta falando? – Ela soltou um “ah” e um sorriso sarcástico.

 - “Do que você ta falando?” Me poupe Melina. – Ela olhou para a classe e sorriu. – Só um momentinho, queridos - e me puxou até a porta da sala. – O que você tinha na cabeça quando fez aquilo?

 - Se você desembuchar e falar do que se trata... – A vice-diretora se aproximou com passos firmes e rígidos.

 - O que fazem aqui, algum problema? – Fiz que não e voltei para minha cadeira quando a Marina soltou meu braço começando a pedir desculpas a Srta. Fernandes.

 Depois desse acontecido ela aplicou as provas, que terminei meia hora depois, tendo de esperar os outros trinta minutos; Marina me mandava um olhar reprovador sempre que nossos olhos se encontravam, e eu ficava me perguntando o que acontecera. Apesar da minha curiosidade, eu não fiquei esperando ela quando sinal tocou, fui direto para casa, quando um garoto, mais velho, devia ser do segundo ano, passou e soltou um assovio.

 - Corpaço em Meester? – Fiquei roxa de vergonha, parando com estrépito quando visualizei algo no mural.

 Fiquei mais roxa ainda, se isso fosse possível. Havia uma foto, que era montagem clara, em que havia um corpo musculoso com muito seio e nádegas, e no lugar do rosto da mulher, estava o meu. Em cima estava escrito: “Miss Meester”, e embaixo com letras miúdas, R$ 10,50 a noite. Engasguei-me com minha própria saliva ao ler aquilo. Olhei ao redor e as pessoas que já haviam sido liberadas me olhavam e soltavam risinhos, alguns gargalhavam. Tentei controlar, mas dessa vez o choro foi mais forte que eu. Corri escola afora entre soluços, corri o mais rápido possível sem nem olhar por onde andava, eu estava tão perdida que não percebi que tinha acabado em frente à outra escola, a Madre Tereza, a segunda mais renomada da cidade, onde alunos estavam sendo liberados, continuei correndo ignorando olhares quando trombei em um garoto fazendo-o cambalear.

 - Epa!... Melina? – Olhei para cima e vi o rosto que menos gostaria de ter visto. – O que você está fazendo por aqui... Você está chorando? – Balancei a cabeça freneticamente em negativa. Tentei me desvencilhar dele, mas ele me segurou. – Melina, ei, calma, o que houve? – Continuei calada, as lágrimas descendo. Olhei para ele, ele olhou ao redor e me puxou. – Vamos sair daqui. – Disse e me levou por um caminho desconhecido.

 Eu nunca havia visto aquela escola direito, nem sabia da localização dela, até virarmos uma esquina e estarmos na praça. Suspirei. Ele segurava minha mãe e me guiava gentilmente, enquanto eu ainda chorava. Sentamos no banco onde eu sempre sentava, e então ele me abraçou. Poderia ter sido um abraço qualquer, mas não foi. Pareceu me deixar mais fraca, as lágrimas vieram mais velozes, e eu me senti confortável e segura. Ficamos assim por longos minutos, até que me senti preparada para deixá-lo, lembrando subitamente da garota loira. Ele passou o dedão no meu rosto, gentilmente secando minhas lágrimas.

 - D-d-desculp-pe.– Gaguejei entre soluços, tentando controlar minha respiração pra não repetir isso.

 - Desculpar pelo que? – O olhei com um agradecimento no olhar, e ele pareceu retribuir. – Quer dividir? – Quase concordei. Seria tão bom tirar aquele peso das minhas costas, mas ele não precisava me ajudar a carregar, muito menos saber o quanto eu era odiada. E então fiz que não com a cabeça. Ele pegou uma mecha solta do meu cabelo e ficou brincando com ela.

 - Porque não usa o cabelo solto? – ele perguntou tirando-me dos meus pensamentos tenebrosos, sorri com a súbita mudança de assunto.

 - Porque lê é muito feio, e essa é a única maneira que consigo contê-lo. – Ele sorriu desdenhoso.

 - Seu cabelo feio? – Ele olhou para mim e eu concordei com um aceno. – Conheço tantas mulheres que queriam ter o cabelo feio assim. –Gargalhei, e ele sorriu comigo. – Assim que eu gosto... Sorrindo! – Corei. – Mas então, ele é liso né? Ou você usa chapinha? – Fiz que não com a cabeça. – Posso soltá-lo? – Eu quis dizer não, mas ele estava sendo tão generoso comigo.

  Com um gesto rápido tirei o prendedor  deixando meu cabelo cair sobre os ombros deslizando. Ele passou a mão pelo meu cabelo.

 - Fala sério, olha só esse cabelo e você diz que é feio. – Ele fez um sinal de desaprovação. – Posso fazer só uma pergunta? – Fiz que sim. – Como foi parar em frente a minha escola?

 - Não sei. Eu só corri, sem nem olhar a direção. – Ele concordou.

 - Que bom que foi parar por lá. Escuta, aonde você mora? – Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e franzi o cenho, pensativa.

 - Não fica muito longe daqui, mas não sei explicar. – Ele abriu a mochila e pegou um caderno, que para minha surpresa era organizado e tinha uma letra muito bonita.

 - Quando você estiver chorando... – Ele arrancou um pedaço da folha e escreveu um número – Ligue para mim, seu super herói! – Ele ergueu o braço em uma imitação do super-homem e eu sorri, pegando o pedaço de papel.

 - Certo. – Olhei para baixo.

 - Eu estou falando sério, viu? – Concordei e de repente me veio a imagem de uma garota bonita e loira.

 - Ah, desculpe Bernardo, mas eu não posso. – Devolvi o papel para ele que tinha indignação no olhar.

 - Porque? – Balancei a cabeça.

 - Tenho que ir. Obrigado. – Levantei e segui meu caminho para casa, deixando-o lá, com um olhar perplexo.

 Senti uma pequena dor no peito. Eu queria ficar lá, mas o que aquela garota pensaria se me visse com ele? Nós não temos nada, isso é óbvio. Mas seria estranho ver seu namorado brincando com o cabelo de outra garota. Eu não gostaria. Olhei para trás e vi que ele continuava sentado no banco, com o olhar fixo no papel que recusei.


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Notas finais do capítulo

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