Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 27
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Ooooooooooooooooooooooooooooooooi gente, que saudade daqui, só de imaginar que a estória tá acabando dá tristeza, vou sentir tanto a falta de vocês... Escutem, mil desculpas por não postar o vídeo agora, não deu para gravar, e resolvi, sob conselhos (hahaha) postar o capítulo agora, e pedir mais perguntas, já comentando esse cap. o que acham? Eu acho uma ótima ideia! E quero perguntar, o que acham de uma continuação? Agora com eles mais velhos, se formando, o que acham? Tell me, please. Espero que gostem, realmente gostei desse capítulo.



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- Nove dias. Nove dias... NOVE DIAS! Vocês não estão ansiosas? – Pergunta Belinda pela trigésima vez.

 - Tanto quanto você, eu acho que não. – Responde Mari, enquanto folheia seu livro de geografia.

 - Ah gente, vamos lá, é a última semana de aula...

 - Não é a última semana de aula Belinda. – Digo e ela revira os olhos.

 - Ai gente, que coisa, vocês ficam cortando todo o barato, preciso de amigas novas, amigas que se importem com o maior acontecimento do ano, e me compreenda, e que conte os dias comigo! – Ela faz beicinho.

 - Se você me der alguma chance, te digo amanhã que faltam “oito dias”. – Finjo emoção.

 - Sem graças, isso que vocês são. Quem vai ser seu par, Mariana? – Ela troca de assunto.

 - Ãn? Ah, o Vítor. – Mari responde depois de ser pega de surpresa. E então pega a mim de surpresa.

 - O Vítor Hugo? – Pergunto sentindo algo estranho dentro de mim.

 - É, seu primo. – Belinda ergue as sobrancelhas e se senta em cima da mesa.

 - Nossa, pensei que ele não participasse desse tipo de coisa. – Zoa. Mas só consigo prestar atenção num bolo estranho que se forma no meu estômago. – Mas então, quando ele te chamou? – Finjo não me importar muito, mas presto muita atenção quando ela responde.

 - Ontem.

 - Ai Mariiiiii! – Protesta Belinda. – Será que poderia ser mais detalhista?

 - Com o que? Ele apenas me chamou! – Ela dá de ombros e começa a anotar algo no caderno.

 - E mais nada?

 - Ele perguntou se eu já tinha um par, eu disse que não e ele falou que também não tinha, se eu queria ir com ele, daí eu disse que sim. – Ela balança a cabeça como se explicar aquilo fosse desnecessário.

 - Já devia ter esperado por isso, surpresa é o garoto ter te convidado por que parece viver numa caver...

 - Chega Belinda! – Digo interrompendo-a, mas sem alterar o tom de voz.

 - Ai! Esqueci que virou amiga dele. – Eu já ia protestar quando ela prosseguiu na intenção de encerrar o assunto. – Pois o meu par – ela enfatiza – foi totalmente fofo! – Seus olhos castanhos brilham.

 - Como ele te convidou? – Faço a pergunta que ela quer ouvir.

 - Bom, foi ontem também. Durante toda a segunda-feira, e ontem até às seis horas, eu ficava recebendo cartõezinhos coloridos com trechos poéticos, sem saber quem me enviou, não tinha assinatura e cada vez uma pessoa diferente me entregava. Por fim, ele próprio veio até mim com uma linda rosa amarela com bordas vermelhas, disse que eu era a garota do cabelo cor de ouro e olhos cor de chocolate mais linda que ele já vira, e perguntou se ele poderia ter a honra de me levar. – Ela termina com um ar sonhador. O tal garoto se chama Carlos Eduardo e está no segundo ano, tem cabelo preto, pele negra e um sorriso bem branco, pelo que já vi parece ser bem simpático.

 - Que romântico. – Responde Mari, e me surpreendo ao ver que ela está atenta, já que não cessa suas anotações e lê o livro a todo instante.

 - Pois é, quanto a você Melina, nem precisa contar que eu já sei que meu irmãozinho também te deu uma rosa. – Fico vermelha e Mari sorri, percebendo que fiquei sem graça.

 - Bem, eu vou tomar um banho e me trocar. – Belinda gargalha, por ver que realmente fiquei sem ação em relação ao pedido de Bernardo.

 - Vou subir com você Mel, você vem Belinda? – Mari pergunta.

 - Não, vou navegar. – Ela finge digitar algo. Seguimos Mari e eu para um lado, e ela para o outro, assim que chegamos ao topo da escada.

 Faço o que tenho para fazer, pego minha pequena bolsa e desço. Olho no relógio e vejo que estou trinta minutos adiantada. Caminho até o jardim e paro de repente ao ver Vítor sentado em um banco distante, novamente com um olhar vago e longe. Fico ali, quieta meio escondida atrás de uma árvore o observando. Minha nossa, ele é lindo! Não é à toa que Callie o marcou em sua listinha medíocre de ‘gatos da escola’. Seu cabelo loiro estava no ponto de cortar novamente, já estava tapando as sobrancelhas. Ele suspira e coça a testa, dá uma olhada no ipod e então se levanta. Escondo-me rapidamente, e saio pisando levemente, mas com pressa, para que ele não me veja. Chego no hall em segundos e finjo mexer em meu celular, quando ele chega logo depois.

 - Ué, chegou mais cedo? – Ele diz e me arrepio ao ver um olhar totalmente frio e triste.

 - Sim. – Respondo categórica, ainda observando seus olhos. Ele desvia e o motorista chega. Suspiro desanimada e sigo para o carro. Não consigo evitar minha decepção ao ver que Vítor, pela primeira vez, se senta na frente, deixando-me sozinha no banco de trás, mas fico calada.

 A estória de que ele estava bem não me convenceu nenhum pouco, e comecei a desconfiar que tinha sido algo que eu fiz, pois ele estava muito diferente comigo, distante demais. Resolvi tirar a prova assim que chegasse no consultório. Para o meu azar pegamos um bendito engarrafamento, devido a um acidente entre um carro e uma moto na principal avenida. Chegamos vinte minutos atrasados e não tive tempo de falar com ele.

 Saio da consulta, mas ele está com seus fones novamente e nem sequer olha para mim. Começo a me sentir mal por isso, sem saber o que fiz de errado, querendo ajudá-lo, mas ele parece não se importar. Retribuo o distanciamento e fico de cara fechada todo o caminho de volta. Quando chegamos desço do carro o mais rápido possível e corro. Sem olhar para trás, subo as escadas correndo e só paro quando estou de frente a minha porta. Certamente todas as meninas estão jantando, pois o quarto está escuro e silencioso, aproveito disso para chorar. O porque não sei explicar, mas aquele olhar do Vítor e sua total frieza, seu distanciamento... Quando eu pensei que as coisas estavam bem entre nós... Estraguei tudo de novo? Ah, que novidade, eu fiz tudo errado mais uma vez, uau! Ouço um barulho na porta e saio aos tropeços para o banheiro. Lavo meu rosto e o seco. Respiro fundo e espero alguns minutos para meus olhos e nariz desavermelharem. Depois de uns vinte minutos saio e encontro Mariana com uma expressão de estranheza.

 - Que aconteceu com você? – Arregalo os olhos. Será que não fiquei tempo demais? – Ficou quase uma hora dentro do banheiro. Não queria comentar, mas... – Ela sai correndo e entra, fechando a porta. Suspiro. Alguns segundos, e ela sai. – Porque estava chorando? – Fico congelada. Como ela sabe?

 - Quem disse que eu estava chorando? – Digo com sarcasmo depois de me recuperar da surpresa e me sento na cama.

 - Você não confia em mim, Melina? – Olho para o chão, morrendo de vergonha. Claro que eu confio nela, mas como eu vou dizer que estava chorando por causa do Vítor?

 - Claro que confio Mari, é só que eu não estava chorando. – Minha voz falha, colocando bem na minha testa ‘ela está mentindo’.

 - Não? Então estava se drogando? – Olho para ela boquiaberta e ela dá de ombros. – Para estar com olhos tão vermelhos... – Suspiro e abaixo a cabeça, meu nariz arde e sinto que mais lágrimas estão por vim.

 - Você pode se abrir comigo, Mel. – Ela diz se sentando ao meu lado e passando a mão em meu cabelo. – Me diz o que aconteceu. – Ela pede.

 - Nem eu sei, Mari. – Me sinto horrivelmente mal. Como eu pude ter sentido algo ruim ao saber que ela ia com o Vítor ao baile? Ela é uma garota incrível, assim como ele.

 - Eu sei que não tem nada haver com o atual assunto, mas... Você gosta mesmo do Bernardo? – Sinto uma pontada no estômago. O que?

- Porque está perguntando isso? – Ela suspira e olha em meus olhos.

 - Mel, promete não me odiar por tudo que estou preste a falar? – Franzo o cenho.

 - Eu jamais vou te odiar, Mariana. – Ela sorri, mas logo fica séria novamente.

 - Não conte isso a Belinda, tenho certeza de que ela me mataria se soubesse que vou falar isso para você. – Quase infarto de tanta curiosidade. – Eu, sinceramente, acredito que o Bernardo gosta de você. E eu sei que ele é um fofo, lindo, te trata com carinho e tudo mais, mas... Você. Gosta dele? – Fico desconcertada. Ela tinha razão em tudo o que disse, e eu nunca tinha me feito aquela pergunta. Desde o princípio me vi apaixonada por ele, e... – Antes, deixa eu te contar outra coisa. – Ela diz interrompendo meus devaneios.

 - Fala. – Respondo baixinho.

 - Tem outro alguém gostando de você. – Mariana tá querendo me matar, só pode.

 - Quem? – Pergunto incrédula.

 - Sério que você não sabe? – Faço que não.

 - Deveria?

 - Melina, vá me desculpar, mas, deveria sim! Tá bem na sua testa, debaixo do seu nariz, na sua frente com letras em néon. – Minhas sobrancelhas se tornam uma só e ela balança a cabeça negativamente. – Certo, ele também vai querer me matar, mas, tenho que te falar.

 - Fala logo!

 - O Vítor, Melina! – Ela fala como se dissesse algo óbvio demais.

 - O QUE? – Grito. Ela arregala os olhos e faz com que eu me sente de novo.

 - Melina! – Ela briga.

 - Você tá louca Mariana, só pode ser, o Vítor? Por favor. – Ela me olha como se eu fosse uma retardada.

 - Melina, só você não percebeu! – Solto um sorriso nervoso enquanto começo a andar de um lado para o outro do quarto. – A Belinda percebeu, eu percebi, até o Bernardo percebeu! – Ela levanta as mãos.

 - O que? Quer dizer, como? Meu Deus, do que você... – Coloco a mão na cabeça tentando assimilar tudo o que ela está dizendo.

 - Sabe quando você reclamava que ele só te atormentava, e dizia que ele era problemático? – Coro novamente, e continuo de lá pra cá, de cá pra lá. Ela fica calada e eu aceno desesperada para que ela continue. – Então, ele já estava gostando de você, por isso te tratava bem, e quando acabava te tratando mal, era por que não queria estar sentindo isso, queria esquecer, e fazer com que você não gostasse dele, para ser mais fácil. – Enfim paro e fico com uma expressão indescritível.

 - Mas ele só conseguiu gostar mais de você a cada dia, e ele fica realmente mal em te ver com o Bernardo. – Sento na minha cama totalmente desconcertada.

 - É por isso que ele tá estranho comigo? – Pergunto, tentando juntar as peças.

 - Exatamente! – Minha mente se torna uma bagunça, uma confusão imensa que começa a doer.

 - Mas Mariana ele... – Fico sem fala. Assim como minha mente, meu estômago parece que está dando voltas, gelado. Meu coração está palpitando cada vez mais rápido.

 - Ele é seu primo, eu sei, isso é meio estranho e confuso, mas não faz tanta diferença. O que importa é realmente o que eu lhe disse: Você gosta do Bernardo?

 - O que tem haver eu gostar do Bernardo com o Vítor gostar de mim? – Ela abre a boca.

 - Sério, Melina? – Balanço a cabeça negativamente e tiro o cabelo do rosto com as duas mãos, de olhos fechados.

 - Por que tudo isso? Espera! – Levanto a cabeça e olho para ela, que está com um rosto bem calmo. – Se você diz que ele gosta de mim, então por que ele chamou você para ir ao baile, e não eu? – Ela abriu um enorme sorriso e senti algo estranho novamente.

 - Está com ciúmes Melina?

 - Claro que não! – Respondo rápido demais.

 - Ai meu Deus, está com ciúmes do Vítor! – Ela tapa a boca ainda sorrindo e bate palmas, me deixando vermelha, de raiva e vergonha. – Bom, já vou deixando claro que eu e ele não temos nada, e você sabe bem disso. E, caso não se lembre, você aceitou ir ao baile com o Bernardo bem na frente dele! – Me senti horrível no momento em que minha ficha caiu.

 - Por isso que ele estava tão distante? – Pergunto baixinho e ela concorda pacientemente. Se ele realmente gosta de mim, então ter me visto daquele jeito com Bernardo deve ter sido horrível. – Meu Deus ele está triste por minha causa? – Que era por minha causa eu sabia, mas não por essa causa.

 - Mel, escuta. – Meus olhos se enchem de água – É por isso que te fiz essa pergunta. O Vítor está gostando muito de você, e a cada vez que ele te vê com o Bernardo, machuca, sabe? – As lágrimas rolam e ela me abraça. – Porque você estava chorando, afinal de contas? – Continuo quieta, e ela afaga meu cabelo.

 Ficamos ali sentadas na minha cama por muito tempo. Mikaella e Milena entraram no quarto, e por fim dormiram. Era bom ter um colo para chorar. Sempre chorei sozinha, trancafiada, escondendo do mundo a minha dor. Mariana não falou nada durante todo o tempo, apenas afagou meu cabelo e deixou que eu chorasse. Quando eu resolvi levantar ela secou uma lágrima que rolou.

 - Vá tomar um banho quente para relaxar, depois durma. Amanhã você pensa nisso tudo com mais calma, certo? – Balanço a cabeça confirmando e sigo para o banheiro.

 Quase não acordo, se não fosse pela Mari me sacudindo. Parece que eu dormi apenas uma hora. Estou com um sono tremendo e sinto que meu rosto está inchado. Visto meu uniforme com pressa, faço um rabo de cavalo e desço com ela. Sinto um frio na barriga ao ver Vítor sentado não muito longe dali, seu olhar cai em nós duas e sinto vontade de cavar um buraco. Mari fez o favor de caminhar até lá, e me arrastar para sentarmos com ele.

 - Oi Hugo Cabret. – Ela diz e Vítor sorri abertamente, mas mais uma vez a felicidade não chega aos seus olhos.

 - Oi. – Ele diz e depois olha para mim, fico sem graça e me concentro em meu cereal.

 Quando pensei que fosse ficar um silêncio insuportável, Mariana nos salvou. Começou a especular sobre a matéria, e sobre seus planos para o futuro, e o futuro mais próximo: as férias. Eu ainda não tinha pensado nada a respeito, as férias de dezembro não me trazem boas lembranças, apesar dela ter amenizado o clima, me senti aliviada ao ouvir o sino tocar. Saí tão depressa que pareceu terem anunciado ouro na sala de aula.

 Durante toda a aula me concentrei apenas em arquitetar um plano para não ter de sentar com o Vítor, eu estava muito confusa, e ficar perto dele estava me deixando mais sem graça que tudo, então eu tinha de evitar encontrar a Mari. Sentia-me tão mal fazendo isso, mas...

 Assim que ouço o sino tocar, guardo o material vagarosamente, e assim que saio percorro os olhos habilmente atrás da Belinda, para a minha sorte encontrei ela na porta da sala. Ela sorriu para mim e logo me puxou, me arrastando para o refeitório. Nunca me senti tão bem em ser arrastada. Nós nos sentamos na mesa de sempre e logo avisto Vítor em uma bem distante, e segundos depois Mariana se senta com ele. Meu olhar está nos dois quando sinto alguém me abraçar. Olho para cima e vejo o sorriso deslumbrante de Bernardo vejo ao longe Vítor abaixar a cabeça e Mariana me encarar, sorrio sem graça e delicadamente tiro seus braços de mim. Ai meu Deus, o que está acontecendo? Ele se senta meio sem graça.

 - Como você está se sentindo, Mel? – Franzo o cenho e dou de ombros.

 - Normal, ué. – Ele dá um sorrisinho nervoso, e dessa vez eu fico sem graça. – Estou bem Bernardo, e você, como está? – Ele parece ficar mais calmo.

 - Melhor agora.

 - Hummmmmmmm. – Solta Belinda e me dá uma vontade tão grande de enfiar a cabeça dela dentro do sundae que está tomando.

 - Alguém te ligou da loja, Belinda? – Mudo de assunto subitamente, ainda corada.

 - Ainda não, mas acho que esse final de semana já está pronto. – Quando deixamos o telefone para contato, acabamos deixando o número dela, pois ela já era conhecida.

 - Não se esqueça que sábado vamos até lá com a Mari. – Ela confirma parecendo cansada.

 - O Bê já comprou o smoking dele, tem que ver que gracinha Mel! – Sorrio timidamente para Bernardo que parece sentir o mesmo que eu: é melhor enfiar ela no sundae!

 - A falta de assunto leva a cada coisa, né não Belinda? – Ela revira os olhos e dá língua para ele.

 - Você que é sem graça! – Quando pensei que fôssemos almoçar em silêncio, o que eu gostaria no momento, me lembrei ao lado de quem havia me sentado. Belinda é a pessoa mais tagarela que conheço, fala o tempo todo de tudo, o assunto dela nunca acaba, passa de um para o outro sem avisar, tem que ser bem rápida pra entender o que ela fala.

 Ao terminar o almoço ainda ficamos ali um tempo, porque Belinda está no meio de algo muito interessante, que sequer sei o que é. Ótima amiga eu! Mas não consigo evitar que meus pensamentos estejam em outro lugar. Olho para frente e vejo que Vítor e Mariana também continuam ali. Bernardo olha para trás e me apresso em desviar o olhar. Com certeza ele percebeu algo porque devo estar mais vermelha que sangue. Depois desse flagra me concentro no rosto bonito de Belinda, ainda sem prestar atenção, e me surpreendo quando ouço a voz da Mari.

 - Mel, lembra que ficou de me ajudar com o trabalho de sociologia? – Fico meio desentendida, mas minha ficha logo cai.

 - Ah, claro. Desculpa Mari, tinha me esquecido.

 - É para amanhã, preciso que me ajude agora! – Aceno positivamente e me despeço de uma Belinda e um Bernardo desconfiados.

 - Depois conversamos mais. Vamos Mari. – Digo e seguimos para o quarto, ela comenta assim que chegamos na escadaria.

 - Pode assumir: Eu te salvei. – Sorrio.

 - Bom... É. – Me sinto confusa. – Eu gosto de conversar com a Belinda, e adoro muito ela, mas hoje eu não estava com cabeça para isso.

 - Ainda é o caso de ontem? – Franzo o nariz e torço o lábio.

 - É. Mas parece piorar a cada segundo... – Reclamo. Ela abre a porta e entramos, comemoro por estarmos sozinhas.

 Nos sentamos cada uma em sua cama e ela começa a me aconselhar, tiro a sapatilha e a ouço atentamente.

 - E então, você pensou no que eu te disse? – Abaixo o olhar. Na verdade isso era o que mais ocupava minha cabeça. Parece que eu não conseguia mais olhar para o Bernardo como antes, sabendo que aquilo feria o Vítor, doía em mim, saber que eu o magoara.

 - Pensei sim, mas eu não quero falar nisso por agora, estou cansada, minha cabeça dói a todo instante, e... Prefiro me concentrar no que está por vir, o baile. – Ela sorri e cai deitada na cama, colocando a mão na testa, dramatizando.

 - Ah não, a doença Belinda contaminou minha amiga? – Caímos na gargalhada.

 Ficamos sorrindo de várias coisas por bastante tempo, até que resolvemos estudar. Apesar das aulas já estarem por acabar, resolvemos nos preparar um pouco, afinal não era bom estar sem saber coisas logo no início do segundo ano. Nós sabemos que seria mesma escola e não estaríamos por fora do assunto, assim como estudar agora era precipitado, mas ainda assim optamos por isso. Ela, talvez por querer estudar mesmo, mas eu por querer colocar algo na minha mente.

[...]

 - Eu ainda prefiro o rosa. – Disse Belinda.

 - Mas eu gostei desse, Belinda. – Explicava Mariana.

 - Eu também. Combina mais com o seu tom de pele querida, o azul está perfeito. – Jean veio ao seu socorro. Belinda revirou os olhos e se jogou no sofá.

 - Então tá! Leva o azul, é até melhor porque assim não precisa de mais tempo para fazer os ajustes, o levamos ainda hoje. – Mariana fez que sim com a cabeça e seguiu para o provador.

 - Está de mau humor hoje? – Pergunto um pouco cansada. Belinda está sem paciência desde a hora que nos encontramos na entrada do shopping.

 - Estou ótima. – Ela disse com um vinco entre as sobrancelhas. – Porque? – Dou de ombros. Já que ela prefere não falar nada, quem sou eu para discutir.

 - Podemos ir. – Diz Mariana enquanto ajeita seu cabelo.

 Seguimos até o caixa da loja aonde ela passou o cartão, e logo depois fomos para a praça de alimentação. Belinda disse que estava de regime, portanto ia comer apenas uma salada, eu não tinha medo algum de engordar, afinal eu jamais tivera esse problema, comia o quanto for e não engordava. Mariana também pareceu não se preocupar, portanto optamos por um lanche no McDonald’s mesmo. Depois de lanchar Mariana viu um filme que estava em cartaz e disse estar louca para assistir, então entramos as três, e vimos o filme.

 O filme foi ótimo e mesmo depois de vermos ainda achei que Belinda estava com uma cara ruim. Ao nos despedir, perguntei novamente se ela estava bem, dessa vez disse estar apenas preocupada com o cabeleireiro na quinta-feira. Eu sabia que não era isso, mas a deixei quieta, pois sabia como era difícil falar sobre algumas coisas, quando não se tem vontade.

 Segui despreocupada para casa, e no meio do caminho me deu uma vontade súbita de ir até a praça. Aquela velha praça onde eu havia conhecido o Bernardo. Desviei o caminho e fui até lá. Era um pouquinho longe, mas não demorei muito, andei bem apressada. Antes de ‘entrar’ lá dei uma olhadinha de longe para averiguar se ele não estava lá, andando de skate, quando comprovei que ele não estava por ali, segui até o exato banco onde havíamos conversado.

 Tanta coisa mudou. Já fazia cinco meses que eu não me cortava. Onze meses que eu perdera meus pais e ganhara o Rodrigo, Vítor e a Janaína.  Dez meses que conheci Mariana, que acabara se tornando uma amiga mais próxima que Belinda. Eu tinha minhas dúvidas se ela sabia o verdadeiro ‘porque’ de eu freqüentar um terapeuta, acho que ela sabia, mas jamais me perguntara nada, ou questionara. Não me entendam mal, eu ainda gosto bastante da Belinda, meus sentimentos por ela não mudaram, mas sinto que se eu tivesse de me abrir totalmente com alguém, só conseguiria com a Mari, eu não sei o porque, mas é essa a verdade.

 Lembro que dá última vez que me sentei aqui, sentia que a cada dia que passava eu gostava mais do Bernardo. Tinha medo da Belinda ser sua namorada, um medo bobo. Sorrio de mim mesma. É estranho porque naquela época ele foi o único que tirou um sorriso de mim, e senti como se ele fosse o único que poderia me fazer feliz, me ajudar, me salvar! Mas então penso no Vítor. Ele não foi de arrancar muitos sorrisos meus, na verdade sempre me irritou bastante, mas foi ele quem me salvou. Literalmente! Ele me ajudou quando a Callie armou para mim, me ajudou com a terapia. Eu gosto dele. Mas não sei se gosto do jeito que a Marina diz que ele gosta de mim. E é bem verdade que comecei a olhar ele de um jeito diferente depois de saber disso, e que ele é lindo, eu sempre soube. Suspiro e passo a mão no rosto. Porque é tudo tão complicado? Olho no relógio e dou um pulo. Já são sete e meia. Ando o mais rápido possível e ainda assim levo meia hora para chegar em casa. Corro até o elevador mordendo os lábios.

 O Rodrigo vai ficar uma fera. Preparo-me para levar uma bronca e quase caio quando trombo em alguém na saída do elevador.

 - Desc... Vítor? – Ele me segura evitando que eu caia e me abraça. Fico sem fala, e delicadamente o envolvo com meus braços, morrendo de vergonha. Ele me solta o passa a mão no meu rosto.

 - Onde você estava? – Vejo preocupação em seus olhos.

 - Eu, estava no shopping com as meninas. – Digo estranhando esse comportamento.

 - Até agora? – Ele faz uma cara estranha.

 - Ué, qual o problema? – Ele tira oS olhos de mim e de repente se afasta. Vejo suas bochechas ficarem rosas.

 - Nenhum, eu... Eu estava... Eu estava indo... Eu estava indo à cobertura. – Ele diz por fim. Olho para ele desconfiada e cruzo os braços.

 - Na cobertura? A essa hora? Mas é hora do jantar. – Ele passa a mão no cabelo, meio sem graça.

 - É você tá certa, meu pai vai acabar achando ruim. Então vamos? – ele pergunta andando em direção ao apartamento.

 - Vamos. – Digo prendendo o sorriso.

 Diferente do que imaginei, da bronca que estava por vir, descobri que nem em casa o Rodrigo estava. Perguntei ao Vítor e ele disse que ele havia saído uma três horas e até agora. Achei estranho, mas fiquei quieta. Jantamos apenas nós dois, já que Janaína se recusou em comer na nossa mesa. Senti alguns olhares, mas desviei todas às vezes. Depois de jantarmos sentamos na sala e assistimos, ao que me lembro, uns quatro episódios de ‘friends’.

 Acordo assustada e não consigo enxergar nada. Tateio ao redor e percebo que estou na minha cama. Fico desconcertada. Como vim parar aqui? Olho em meu despertador e vejo que são 2:30, forço a memória e acabo lembrando que estava assistindo a série. Mas não me lembro de vir para o quarto... Desisto de lembrar até mesmo porque meus olhos estão protestando, mau encosto a cabeça no travesseiro e durmo novamente.

 A luz entra pela janela e começa a esquentar meu rosto, me fazendo levantar e puxar a cortina. Tento dormir de novo, mas não consigo. Espreguiço-me e caminho para o banheiro. Tomo um banho para despertar, visto um vestido de mangas compridas e desço. Apesar da hora não há ninguém na mesa, muito menos na cozinha. Sigo silenciosamente até o quarto de Janaína e a vejo passando um vestido.

 - Oh Meus Deus! – Ela dá um pulo, e coloca a mão no peito.

 - Que susto Melina!

 - Seu vestido é perfeito Janaína! – Ela cora e o pega, colocando-o rapidamente no cabide e guardando. – Ah não, me deixa ver direito. – Peço, mas ela é firme na resposta.

 - Não, você poderá ver no dia do baile. – Dou de ombros e cruzo os braços.

 - Já é quinta-feira mesmo. – Ela sorri.

 - Não precisa ficar assim, você logo vai ver. – Dou de ombros novamente.

 - Eu sei, agora vou para a cozinha tomar café da manhã. – Saio andando e ela vem atrás, dizendo que irá prepará-lo, e pedindo desculpas.

 Como um pedaço de bolo de chocolate com leite puro, e peço a ela que me faça companhia. Ela fica me olhando por bastante tempo, e sorri, olho para ela como se ela fosse louca, e ela sorri mais ainda.

 - O que foi? – Pergunto.

 - Eu sabia. – Ela diz e ergo a sobrancelha esquerda.

 - Nossa, eu também, sempre soube. – Digo ironicamente e ela sorri. – O que foi, Janaína? – Ela abaixa a cabeça, depois me olha nos olhos e por fim fala.

 - Lembra quando eu disse, que você havia chegado para trazer alegria a essa casa? – Abaixo a cabeça envergonhada. – Eu sei que se lembra, viu como eu estava certa?

 - Não sei se está certa, o Vítor não parece estar muito bem... – Digo ainda sem graça.

 - Ele está bem melhor, pára um pouco e pense, Melina. Antes de você chegar, essa casa era uma tristeza, ninguém jantava nessa mesa, ninguém se falava, ninguém sorria... – Ergo meu olhar-... Foi só você aparecer, o Rodrigo melhorou, foi o que teve resultado mais rápido, podíamos ver o sorriso no rosto dele duas semanas depois. O Vítor demorou um pouco, mas ele também está feliz com você aqui, eles sabem o quanto você é importante, você fez com que eles voltassem a ser pai e filho! – Dei um sorrisinho. – E você talvez não veja o sorriso no rosto do Vítor constantemente, porque ele não está totalmente feliz... – Franzi a sobrancelha. – Ele quer algo, que não pode ter. – Ela dá de ombros.

 - O que? – Pergunta totalmente confusa. Ela me dá uma olhada, ergue as sobrancelhas e sai, me deixando sozinha com meu prato, copo e mente bagunçada.

 O que diabos ela queria dizer com aquilo? O Rodrigo é muito rico, pode dar qualquer coisa que o Vítor quiser. Como ele pode querer algo que não pode ter, se ele pode ter tudo? Desisto de terminar de comer meu bolo e sigo para o quarto, me jogo na cama e tento organizar meus pensamentos, que ultimamente só rodeiam sobre o Vítor. Argh! O que está acontecendo comigo? O único momento em que penso no Bernardo é quando lembro que é com ele que vou ao baile. Porque eu fui aceitar? Minha nossa, o que estou pensando? Ele foi o único que me convidou, se não fosse por ele eu nem ia. Será que o Vítor teria me convidado caso eu não aceitasse o convite do Bernardo? Enfio minha cara no travesseiro! Solto um grito abafado. Estou enlouquecendo com tudo isso. Ouço alguém bater na porta, e a abrir. Viro-me rapidamente e congelo ao ver quem é. Meu coração salta e minhas mãos soam.

 - Bom dia Mel. – Ele diz e dá um sorrisinho de lado, fico parada olhando para ele, quase sem piscar. – Tudo bem? – ele pergunta.

 - Sim. – Digo recuperando a voz. – E com você? – Pergunto puxando assunto.

 - Tudo ótimo. Só vim te avisar que o papai saiu bem cedo, e disse não ter hora para chegar hoje, saiu com uma turma de amigos, que ele disse conhecer da faculdade. – Sorrio, feliz com a notícia. – E eu vou sair agora, com uma amiga. – Continuei olhando para ele, sentindo algo estranho dentro de mim. Uma amiga?

 - Tá... – Digo e o sentimento estranho começa a aumentar, e tenho vontade de amarrá-lo bem aqui, para que não saia com nenhuma amiga. Ele nem sequer dá “tchau” e sai, fechando a porta novamente.

 Enfio a cara no travesseiro e grito mais alto dessa vez. Quem é essa garota? E porque o Vítor vai sair com ela? Será que eles estão namorando? Devem estar, ele nunca sai... E a Mariana ainda fica com aquela estória idiota que ele estava apaixonado por mim, nem sei porque a escutei.

 Os dias que antecederam o baile simplesmente voaram, esse era o único assunto comentado nas aulas, nos corredores, nos dormitórios, no refeitório, no banheiro... Eu já estava tomando preguiça daquilo tudo. A cada hora que se passava, eu tinha menos vontade de ir com o Bernardo, e me sentia uma megera, a cada vez que isso acontecia. Pensei em desistir de ir, mas isso seria injustiça com ele. E então a tão esperada quinta-feira chegou, trazendo felicidade para todas, menos para mim. Belinda marcou cabeleireiro às cinco horas, e marchamos para lá assim que fomos liberadas da escola. Ela se recusou a prender o cabelo, fez babyliss nele todinho, e ficou parecendo a Taylor Swift.

- Meu Deus, o que vamos fazer? Nada pára nesse seu cabelo Melina! – Disse Belinda, enquanto a cabeleireira esperava, meio impaciente, eu acho. – Será que dá para tentar andular as pontas? – Ela olha para a moça.

 - Desculpe querida, mas como você viu, eu já tentei, não fica. Não faz nem cinco minutos que terminei, e o cabelo dela já está liso novamente. – Suspirei. Era impossível estar mais desanimada que eu.

 - O que vamos fazer Mel, pelo amor de Deus, só falta o seu cabelo! – Ela fala desesperada, ao que respondo com outro suspiro e um dar de ombros.

 - Deixa ela assim, ué. – Ela me fuzila com o olhar.

 - Claro que não, o que há com você, ein Melina? – Respiro fundo, e giro a cadeira, ficando de frente para ela.

 - Não há nada. Eu te avisei. Meu cabelo é liso demais e não tem como fazer nada, a não ser um rabo-de-cavalo. – A cabeleireira fica me olhando e de repente estala o dedo.

 - Já sei. Vamos fazer um coque! – Balanço a cabeça negativamente.

 - Não fica. – Ela discorda.

 - Vai ficar. – Ela termina a frase começa a mexer no meu cabelo. Puxa uma mecha para cá, outra para lá, levanta, desce, amarra, solta, e então ela me vira para o espelho. – Voilá. – Ela diz e meu queixo cai.

 - Ficou perfeito! – Grita Belinda dando pulinhos a batendo palmas. Queria a Mari ali também, mas ela teve de se arrumar no salão da tia, bem longe daqui.

 - Eu amei, obrigada. – Eu disse sorrindo abertamente para a cabeleireira, que sorriu e saiu.

 - Ótimo, agora vamos porque ainda temos que nos vestir. – Pagamos e saímos, pegando um táxi em direção a minha casa.

 Chegamos. Subimos no elevador e quando entramos no apartamento passamos direto para o quarto. O trânsito estava quase parado, por causa de um acidente, chegamos em casa 20:17, e tínhamos de estar lá as oito e meia. Colocamos o vestido o mais rápido possível. Calcei minha sandália, peguei a bolsa-carteira e desci, acompanhando Belinda, que está simplesmente deslumbrante. Ao chegar no fim da escada paraliso, congelando mais uma vez. Minha boca seca, minhas mãos soam, e meu coração palpita ainda mais rápido.

 Durante toda a semana, eu havia tentado nem olhar para a cara dele, pois estava ficando torturante olhar para ele e sentir um bolo no estômago. Ele também estava me evitando, eu senti isso. Tentei ignorar, mas eu sentia uma dor no peito, só de pensar que ele poderia voltar a me tratar como no início, eu tava sentindo falta do garoto que me fazia rir no caminho da terapia para aliviar minha atenção.

 Ele está simplesmente lindo. Parece um homem, ou melhor, um príncipe. Seu cabelo está penteado, e cortado bem curtinho, o deixando com aparência mais adulta. Olho no fundo dos seus olhos e sinto um arrepio, meu coração dá um looping e tenho vontade que aquele momento dure para sempre. Ele desvia o olhar e eu coro. Burra!

 - Vocês estão lindas! – Diz Rodrigo, que está um perfeito gentleman.

 - Obrigada. – Diz Belinda, educada como sempre, enquanto eu apenas fico envergonhada e tento olhar para o Vítor novamente. Ele parece estar concentrado no botão do seu terno, quando ouço passos e fico maravilhada.

 Janaína está perfeita! Seu vestido é cor de creme, longo e meio pregueado, parecido com os vestidos das personagens femininas de “Hércules”. Seu cabelo, que eu nunca reparara ser tão longo, estava de lado em uma trança ‘espinha de peixe’ lateral, sua maquiagem era quase invisível, aquilo contracenava perfeitamente com sua pele morena. Ela sorriu e eu pude ver que Rodrigo estava tão boquiaberto quanto eu.

 - Janaína você está esplêndida! – Ele diz, e ela sorri timidamente. Fico tão feliz, deu para notar o quanto ele adorou tê-la ali.

 - Obrigada. – Ela responde. Belinda corta o momento.

 - Então pessoal, estamos atrasados. – Ela diz, e todos parecem cair em si. Seguimos para o elevador, onde acabo ficando ao lado do Vítor. Próxima o suficiente para sentir se braço tocando o meu e causando um certo choque, seu perfume inalando. Ai que tortura!

 Durante o caminho parece levar uma eternidade para chegar no salão de festas, mas na verdade foram apenas 20 minutos. Descemos e não vejo a hora de sair dali, e sou surpreendida por um abraço, Vítor me olha, e vira o rosto rapidamente, entrando no salão, desvencilho-me e olho para trás.

 - Você está perfeita, hoje minha princesa veio a caráter. – ele disse e me deu um beijo na testa. Sorri sem graça e agradeci, olhando para trás novamente. Todos já haviam entrado no salão.

 - Vamos? – Eu disse já me virando, mas ele segurou meu pulso e me puxou.

 - Eu queria te falar algo antes. – Ele disse. Ergui as sobrancelhas como que o incitando a falar. Ele respira fundo. – Mel, eu...

 - MELINA! – Viro-me aliviada e sorrio ao ver Mariana. Ela tava ficando boa em me salvar.

 - Mari! Como você está linda! – Seu cabelo estava em uma trança-holandesa, sua maquiagem básica e espetacular, estava sem seus óculos, estava linda!

 - E você, está parecendo uma princesa! O que ainda estão fazendo aqui? Vamos para dentro, lá está uma loucura. – Ela disse me puxando, e o Bernardo não pôde fazer nada senão nos seguir.

 Às nove horas, a diretora subiu ao palco e fez um discurso, sobre esse ano, e blá-blá-blá, depois veio alguns outros professores, agradecer as turmas ali presentes, e enfim, quando terminaram ligaram o som. Estava tocando uma música bem animada, acredito que do “David Guetta” . Nós temos uma mesa para nós, onde estamos Rodrigo, Janaína, Belinda, seu par que esqueci o nome, Bernardo, Vítor, Mariana e eu. Mariana e Vítor foram dançar assim que soltaram a música, e Bernardo me puxou para fazer o mesmo.

 Dançamos umas seis músicas, eu já estava exausta, quando o DJ anunciou que agora tocaria uma para os casais apaixonados, virei uma estátua. Eu não posso dançar coladinha ao Bernardo, ele sorriu para mim, e segurou minha mão, estava se aproximando mais, a ponto de segurar minha cintura quando alguém o cutucou. Quase gritei de emoção ao ver Mariana, de novo! O Bernardo não pareceu muito feliz, olhou para ela meio impaciente, que apenas sorriu.

 - Me empresta ela só um pouquinho? – Ela perguntou.

 - Agora, Mariana? Será que não pode ser depois? – Ele responde mais impaciente.

 - É porque é uma urgência, por favor, Bernardo! – Ele respira fundo e aponta para que eu vá com ela, lhe dou um beijo na bochecha e sigo Mariana.

 - O que aconteceu? – Pergunto um pouco preocupada assim que entramos no toilet.

 - Melina, você tem que me escutar! – Faço que “sim”. – Você não me respondeu aquele dia, você gosta do Bernardo? – Apesar dessa pergunta já ser velha me pegou de surpresa. Começo a pensar.

 Há exatos dez meses atrás, eu diria sem pestanejar, com as bochechas vermelhas, que sim. Sim eu estou apaixonada pelo Bernardo. Ele com aqueles olhos mel, quando me derrubou bruscamente com seu skate, e disse ser meu super-herói, coisas que nunca esqueci, e guardo em meu coração. Mas agora... Tantas coisas aconteceram, tudo mudou tão repentinamente. Eu o vi beijando a Giselle, que ele jurou ter esquecido, e, algo que eu ainda não consegui esquecer, algo que me machucou, e ainda dói só de lembrar: No dia em que a Callie aprontou comigo, ele não fez nada. Não que ele tivesse a obrigação, mas como um amigo, ele deveria ao menos ter me consolado. Mas não, ele ficou lá com aquela cara de espanto, sem mover um dedo. Ele pediu desculpas, e logo depois disse que havia me procurado por todo canto, mas não desceu.

 - Mari, tenho que te falar uma coisa, desde o dia em que você falou aquilo, eu... Domingo o Vítor disse que ia sair com uma amiga, e eu senti algo muito estranho, senti ódio dessa amiguinha, e queria que ele ficasse lá, comigo. E eu começo a suar quando ele se aproxima, e eu estou muito mal, por ele ter se afastado! – Digo quase chorando. Ela sorri abertamente.

 - Ai, Mel! – Ela me abraça e fico sem entender nadinha. – Você sente isso com o Bernardo? – Balanço a cabeça negativamente. – Já sentiu? – Neguei novamente. – Mel, você está gostando do Vítor! – Ela disse comemorando e eu fiquei em choque. Não eu não estava, eu não posso estar!

 - Não, Mari...

 - E não se preocupe, a amiga era eu! – Franzi a sobrancelha.

 - Você? Mas porque ele não disse que era você? – Minha mente começa a bagunçar novamente.

 - Porque queria te causar ciúmes, e conseguiu! – Fiquei com um ponto de interrogação máster no meu rosto e ao mesmo tempo fiquei indignada.

 - Como é? Ele fez de propósito? E eu pensei que ele estivesse namorando... – Ela me interrompeu me pegando pelos ombros e sacudindo.

 - Melina Ávila! Ele. Gosta. De. Você! – Ela explicou lentamente. Balancei a cabeça negativamente, bastante descrente daquilo. – E foi para isso que te chamei aqui, ele está quase enlouquecendo com isso, Mel. Eu não podia deixá-lo ver você dançando agarradinha com o Bernardo. – Concordei. – Ele ficou meio mal, e saiu de perto, foi lá para o jardim, disse que precisava pensar. Você precisa ir falar com ele, Melina! – a olhei como se ela estivesse louca.

 - Eu ir falar com ele? Pirou? – Ela pareceu estar tentando buscar paciência.

 - Eu não quero nem saber, você vai! Vocês dois são meus amigos, e eu sei, que vocês se gostam, e não vou ficar vendo os dois tristes, um em cada canto, quando podem estar juntos.

 - Mas Mariana, ele é meu primo! – Ela continuou esperando algo.

 - E? Chega de desculpas foi-se o tempo em que isso era algo catastrófico, vai logo falar com ele. Vou distrair o Bernardo. – Ela sai andando e eu entro em desespero. O que vou fazer?

 Saio do toilet depois de me preparar durante uns trinta minutos. Já deve ser umas 23:00 horas. Tento passar despercebido entre a muvuca de alunos, e paro quando escuto algumas gargalhadas, vindas da direção da mesa do buffet, olho para trás e não consigo evitar um enorme sorriso. Callie está totalmente encharcada com o ponche. Seu vestido que era branco está todo rosa, e seu cabelo escorrido, pregado no rosto, e sua maquiagem acabada, está parecendo uma panda. Nada poderia ter me deixado mais feliz. Queria dar um beijo bem grande em quem tinha feito aquilo, mas ficaria para outra hora. Segui para o jardim, onde tinha alguns casais se beijando. Minha barriga esfriou. E se o Vítor estivesse beijando alguém ali?

 Percorri meu olhar por toda a extensão, já ia voltar para dentro, quando senti uma mão fria em meu braço.

 - Fazendo o que aqui sozinha? – Ele pergunta. O que eu falo?

 - Procurando você. – Decido falar. Eu não devia arriscar, e se eu disser que gosto dele, e não for recíproco, como vamos viver numa mesma casa desse modo?

 - Eu? – Ele ergue uma sobrancelha. Olho em seus olhos pela primeira vez e é o suficiente para que eu me derreta, fico minutos presa naquele verde, até que eu perceba que estou pagando de idiota.

 - O que? – Digo e ele me olha como se eu fosse louca.

 - Cadê seu namoradinho? – Ele pergunta. Eu nunca tinha parado para pensar nisso, haveria ciúmes nessa frase?

 - Não sei, acho que ainda vou demorar a encontrá-lo. - Falo persistindo no olhar.

 - Perdeu ele de vista? – Ele não se toca que eu estava falando pensando em um futuro namorado, e não no Bernardo.

 - Vítor, quero deixar bem claro que eu e o Bernardo não temos nada. – ele sorri com sarcasmo e eu viro seu rosto, fazendo que ele me olhe. - Nada! – Repito. Ficamos um tempo nos olhando, ele olha para minha mão em seu queixo, que cai na mesma hora, fico toda vermelha.

 - Você está diferente. – Eu digo depois de um tempo em um silêncio constrangedor.

 - Eu estou diferente? – Balanço a cabeça positivamente.

 - Você me abandonou, Vítor. – Digo com a voz embargada, e os olhos cheios de lágrimas, ele parece surpreso, mas fica quieto. – Você continua indo comigo as minhas terapias, mas não é você quem vai, é o seu corpo. Você fica o tempo todo longe, se tornou frio, nem fala comigo mais do que cumprimentos, o que aconteceu com o meu Vítor? – Eu já estou chorando. Ele se aproxima e seca uma lágrima.

 - Mel... Eu não te abandonei! – Ele se defende.

 - Ah não? – Pergunto meio irritada.

 - Não. – ele retruca. – Eu só estava cansado.

 - Cansado de que? – Estou sem tempo e paciência para enigmas.

 - De ter que ficar perto de você como um amiguinho, que só serve para secar as lágrimas. – Ele fala nervoso, mas com um olhar triste.

 - O que? – Pergunto indignada. – Você nunca foi um amiguinho para secar lágrimas, Vítor! – Ele passa a mão na cabeça, e se vira. – Você não vai, você vai me escutar. – Ele pára e me olha novamente, mas não consigo dizer nada, só chorar. – Droga, Vítor! – digo em meio a soluços.

 - Pára com isso Melina! Seca essas lágrimas, seu namoradinho...

 - ELE NÃO É MEU NAMORADO! – Ele se assusta, e algumas pessoas nos encaram, mas logo se voltam para seus beijos.

 - Ah não? Então me diz porque seus olhos brilharam tanto quando ele te entregou aquela droga de rosa e te convidou para vir a essa droga de baile!

 - Ele foi o único que teve a compaixão de me convidar!

 - E eu? – Olho para ele, meio desconcertada, e ele parece ficar também.

 - Você convidou a Mariana!

 - Porque ele te convidou, eu ia convidar você, e não ela! – Um sorriso brota em meus lábios, e ele fica com uma expressão, de quem falou demais.

 - Verdade? – Pergunto, agora mais calma.

 - Nem vem Melina, não caio nessa! Se quiser, vá chorar no colo dele porque...

 - EU NÃO GOSTO DELE VÍTOR, PARA DE INSINUAR ISSO! – Choro mais e mais, agora eu devo estar parecendo uma panda.

 - Duvido, Melina. Você é doidinha por ele.

 - Eu era doidinha por um garoto doce que eu havia conhecido, mas que se mostrou não ser tão doce assim. Mas tudo mudou quando, quase um ano atrás eu conheci outro garoto, que apesar de ter uma aparência fria e grotesca, é mais doce que qualquer um. Um garoto que não teve medo de me ajudar, e nem ao menos vergonha de mim. Eu estou a-pai-xo-na-da por um garoto lindo tanto por fora quanto por dentro, mas que de uns dias para cá resolveu me ignorar, e fingir que não existo. Um garoto que esteve ao meu lado quando minha vida virou de cabeça para baixo. Um garoto que... – Eu ficaria mais uma hora ali recitando esses detalhes, mas ele me interrompeu, colando seu lábios nos meus.

 Foi incrível como em um milésimo de segundo ele se aproximou, me abraçou com um braço e segurou meu queixo com a outra mão me puxando para si, delicadamente como se eu fosse uma boneca de porcelana, prestes a quebrar. Para uma pessoa que nunca beijou, é complicado dizer que teve o melhor beijo de todos, mas eu posso afirmar isso! Seu beijo é doce, calmo, apaixonado. Depois de alguns segundos ele se afastou um pouquinho e olhou nos meus olhos. Eu parara de chorar. Olhei para ele com ternura, amor. E senti que ele retribuiu, ele sorriu e sussurrou em meu ouvido:

 - Esse garoto, sou eu? – Sorrio e sussurro de volta.

 - Você tem dúvidas? – Ele sorri de volta e me beija novamente.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Mereço reviews? Perguntem EVERYTHIIIIIIIIING, irei responder, no problems pergunte QUALQUER coisa. O que acharam?????? Espero que tenham gostado, beijos.