Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 26
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, I REALLY SO SO SO SO SO SO SORRY!!! Desculpa a demora infinita. mas taí o capítulo, e uma novidade: Próximo capítulo será o último, daí vou responder os reviews em um vídeo, pra vocês me conhecerem, que tal? Então, caprichem nos reviews, digam tudo o que pensam e peguntem o que quiserem, juro que vou responder (quero me sentir uma calebrity, façam PREGUNTAS!) I hope you enjoy.



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Acordo com o telefone tocando, levo alguns segundos para assimilar isso, e então atendo.

– Alô? – Digo com uma voz sonolenta, e ainda meio grogue.

– Bom dia Meeeeeeeeeeel! – Ela prolonga, cantarolando. Coço os olhos e me jogo em cima do travesseiro ao lado. – Levanta agora, e se troca porque temos que ir ao shopping! – Pela primeira vez abro os olhos.

– Que? – Pergunto e me estico para ver as horas. – São nove horas, Belinda! – Reclamo, mas ela não dá a mínima.

– E o shopping abre as dez, você tem uma hora para ficar pronta, te encontro na livraria cultura, beijos. – Ela diz rapidamente e desliga, sem me dar a chance de protestar. Amasso o rosto no travesseiro, sem a menor vontade de levantar. Ela não disse nem ao menos porque quer ir lá.

Depôs de muito protestar com meu travesseiro, me alongo e levanto, seguindo para o banheiro. Depois de tomar um banho, faço um rabo-de-cavalo e visto uma blusa do ‘Muse’, mini jaqueta jeans, calça jeans e uma sapatilha. Passo gloss, guardo meu celular no bolso e sigo para a cozinha. Encontro apenas Janaína, que sorri angelicalmente para mim. Eu não cheguei a contar para o Rodrigo sobre ela, joguei algumas indiretas, mas ele não percebeu, e então fingi esquecer, pois ela já estava quase pirando. Mas no fundo, não esqueci, e ainda vou fazer com que eles fiquem juntos.

Ela prepara um suco de laranja e torradas para mim, que como com requeijão. Assim que termino subo para escovar os dentes e peço a ela que avise Rodrigo que saí. Sigo para o shopping, sem a menor idéia do que a Belinda quer fazer lá tão cedo. Entro na livraria e logo a vejo, sentada no café. Aproximo-me e a cumprimento com beijinhos, como ela sempre faz.

– Ainda bem que chegou na hora certa, mocinha! – Ela diz e coloca a caneca em cima da mesa. – Quer algo? – Nego com a cabeça.

– Não, obrigada. Acabei de tomar café. – Ela sorri e dirige-se para o caixa, para pagar seu café.

– Vem! – Ela diz e sai me puxando shopping afora.

Subimos a escada e rodamos quase todo o terceiro andar até que ela para de repente em frente a uma loja feminina, a qual Marina amava frequentar, lembro-me bem. A loja chama-se “Onix” e ela sempre vinha aqui quando tinha de comprar vestidos de festa. Olho desconfiada para Belinda e ela sorri, me puxando para dentro da loja, que certamente, é um espetáculo, totalmente luxuosa. Um grande lustre de cristais iluminava a loja que tinha paredes pretas e luminosas. Uma mulher com pouco mais um metro e setenta vem até nós com um grande sorriso, usando um vestido social colado em seu corpo esguio, totalmente elegante, enquanto seu cabelo preto está preso em um rabo-de-cavalo.

– Bom dia moças! O que desejam? – Ela pergunta alternando o olhar entre Belinda e eu. Belinda revira sua bolsa e lhe entrega um pequeno cartão.

– Bom dia! Temos hora marcada! – Estreito os olhos. Como assim hora marcada? A atendente percorre os olhos pelo cartão e novamente sorri para nós.

– Queira me acompanhar, por gentileza. – Ela diz e caminha em direção a uma escada em forma de caracol. Seu sapato de salto faz um irritante ‘tec-tec’ até chegarmos lá em cima, onde ela abre uma porta de vidro esfumado, e sussurra algo, antes de dizer para entrarmos.

A sala em que entramos consegue ser mais luxuosa que o resto da loja. Parece um grande porta-jóias com lustres de cristais, tudo organizado em seu devido lugar. Fico me perguntando se eles não têm medo de colocar tanta coisa valiosa em uma loja dentro de um shopping. Um homem alto não muito magro e careca sorri para nós. Belinda segue até ele e o abraça.

– Olá Jean! – Ela diz delicadamente e fico parada como uma estátua, sem saber o que fazer. – Essa aqui é minha amiga, Melina. – Ela acena para que eu vá até lá.

– É um prazer conhecê-la e tê-la em nossa loja, querida Melina. – Ele diz e eu sorrio, enquanto aperto sua mão gentilmente. – Não sei se está se questionando isso, mas, eu não sou o Arthur, como já deve ter percebido. – Ela diz sorrindo para Belinda.

– Arthur...? – Pergunto tentando entender isso tudo.

– Calliman, querida. – Esboço um ‘ah’ enquanto fico vermelha de vergonha. – Você não se parece nada com sua irmã. – Ele continua, chamando minha atenção. – Ela era uma cliente fiel, não ia a festa alguma sem encomendar um vestido aqui. Mas, apesar de não se parecerem, você é tão bonita quanto. Já estou imaginando um vestido que ficará perfeito em você, que tenho ali, exclusivo! – Ele se empolga. – A não ser que queira encomendar um, claro. – Arregalo os olhos e me viro para Belinda.

– Nós viemos escolher um vestido para o baile, Melina! – Ela diz por fim. – O que mais você acha que poderia ser? – Ela revira os olhos. – Podemos ver o que você imaginou nela, Jean?

– Belinda você está apressada demais! Ainda nem falaram sobre isso na escola...

– Vão falar.

–... Muito menos me convidaram...

– Eu sei que alguém vai te convidar, larga de frescura Melina! – Faço cara feia para ela, enquanto Jean abre uma porta na extremidade da sala. Ele entra e demora alguns minutos antes de voltar com um grande embrulho nos braços.

– Você também não tem a altura de sua irmã, creio que na sua idade ela era bem mais alta. – Coro enquanto aceno positivamente. – Mas ainda assim, por ter o corpo esguio, pode usar um vestido longo, e ficar elegante do mesmo modo. – Ele coloca o embrulho sobre o sofá e abre o zíper. – Terá de ser feito alguns ajustes, se você o quiser, pois ele é grande no comprimento... – Ele então coloca o vestido a minha frente.

Fiquei imóvel e sem fala olhando para o vestido. De seda tem a cor entre um rosa claro e salmão, longo justo no tórax e levemente solto nas pernas, com pedras cravadas na parte superior. Com uma fita fina cravejada das mesmas pedras, faz-se as alças. Sorrio, ainda deslumbrada.

– Meu Deus, é perfeito! – Exclama Belinda, trazendo-me de volta do meu transe. Sorrio para ela confirmando.

– Bom, se servir em mim... – Belinda começa a me empurrar, pegando o vestido de Jean e o colando em minhas mãos.

– Experimenta! – Ela diz por fim e me empurra para o que acredito ser um provador, mas que mais parece outro quarto. Tiro minha roupa e o visto.

– Que tal? – Pergunto saindo do provador, e os vejo boquiabertos.

– Perfeito! – Jean bate palma como uma criança que ganha o brinquedo que tanto queria. Belinda sorri e vem até mim.

– Amiga! Você vai parar Rio Grande do Sul inteiro desse jeito. – Sorrio envergonhada, e fico feliz com a imagem que vejo no espelho. Ficou realmente bom.

– Deixe-me pegar os alfinetes... – Diz Jean indo até sua mesa. – Só terei de diminuir... Você certamente usará salto, não é mesmo? – Faço beicinho.

– Não tão alto...

– Teremos de comprar a sandália antes de fazer os ajustes. – Afirma Belinda e Jean concorda, olho para os dois e respiro fundo, com uma pontada no coração ao dizer isso, realmente gostei do vestido.

– Vocês estão se apressando demais, eu nem sei ao menos o preço do vestido, não é apenas escolher, faz tempo que deixei de ser uma menina rica que compra tudo o que quer não importa o valor. – Digo dando mais uma olhadinha no espelho.

– Como se o Rodrigo fosse te negar um vestido né, Melina! – Olho para ela meio cansada e com preguiça de explicar tudo novamente. – E esse vestido nem é tão caro, basta ele dividir em várias e várias vezes, caso necessário. Agora, tire o vestido que precisamos ver sua sandália. – Balanço a cabeça negativamente.

– E o seu vestido, senhorita? – Pergunto cruzando os braços e a olhando em tom acusador, ela dá de ombros.

– Ainda vamos voltar aqui, vamos atrás das nossas sandálias, daí voltamos e eu escolho um vestido para mim. – Ela me empurra em direção ao provador e eu me troco em segundos.

Damos várias voltas até a Belinda parar em frente à ‘Debora Bertti’.

– Tá de brincadeira, né? – Pergunto encarando a vitrine e logo após, ela.

– Claro que não. Essas são as sandálias mais lindas do mundo, vamos comprar aqui! – Ela tenta me puxar, mas me seguro.

– Belinda... Você está me levando nas lojas mais caras, não quero causar um rombo no bolso do Rodrigo, porque, caso não saiba, eu não tenho um tostão. Meu dinheiro não paga sequer a linha que usaram naquele vestido! – Ela me olha como se estivesse ouvindo só para fazer minha vontade.

– Minha nossa, mas que chatice! O Rodrigo te trata como uma filha, linda, princesa a quem ele vai dar tudo o que precisar, acorda! – Ela dá um peteleco na minha cabeça.

– Não é porque ele me trata como uma filha...

– Chega Melina! Eu já falei com ele, certo? – Não posso evitar meus olhos se arregalarem de surpresa. – Ele achou justo, já que não vai te dar uma festa de quinze anos. – Reviro os olhos.

– Não acredito que você foi falar com ele...

– Eu simplesmente imaginei que você fosse criar caso, é bem o seu tipo! Então, agora que já expliquei tudo, e você sabe que ele liberou, vamos! – Ela me puxa e dessa vez eu a acompanho.

Experimentamos bem uns cinqüentas pares de sandália, sapatos e demoramos bastante para achar um que agradassem ambas. Por fim, ela acabou escolhendo um branco parcialmente tapado na frente, com mais ou menos 12 cm de salto. Eu, pensando no vestido, escolhi uma na cor prata e com alguns strass. Era bem delicada, e não era tão alta quanto a dela. Assim que escolhemos Belinda passa a compra no cartão que ela disse ser seu, mas que seu pai libera apenas em certas ocasiões. Sendo assim, voltamos a Onix.

Já com minha sandália coloco o vestido mais uma vez e o Jean marca com os alfinetes o tanto que precisará ser reduzindo, enquanto a Belinda procura seu vestido entre os que ali estão. Fico sorrindo para mim mesma enquanto vejo minha imagem refletida. Não posso negar, amei o vestido, quase consigo me sentir... Bonita!

– Não encontrei nenhum que me agrade, Jean! – Diz ela fazendo bico.

– Não se preocupe queria, eu reservei um para você. – Ele diz e ela olha para ele, cética.

– Então porque me fez procurar um? – Ela responde sem tirar os olhos do meu vestido, enquanto me vira de um lado para o outro, ajeitando.

– Pensei que devia deixar você apreciar outros modelos. Pronto! – Ela sorri para mim. – Se quiser, já pode retirá-lo. Quanto a você, espere um minuto. – Ela entra novamente no quarto de onde trouxe meu vestido e sai minutos depois com outro embrulho.

Ela delicadamente abre o zíper e retira outro vestido magnífico. Ele era totalmente oposto ao meu. Era curto e vermelho, com detalhes únicos e perfeitos na parte da frente, tinha uma ‘falsa’ costa nua. Belinda abre um enorme sorriso e vai correndo para o vestuário. Minutos depois ela volta, totalmente deslumbrante. Ela dá vários giros.

– Esse vestido é maravilhoso, perfeito! Vou ficar com ele! – Ela diz logo de cara. E com toda a razão, não serão necessários ajustes ou algo do tipo, ele caiu perfeitamente em seu corpo esbelto.

– Claro, pensei que diria isso. Vocês duas serão as mais lindas da festa! – E então me lembro de algo, e me odeio por ter lembrado disso apenas agora.

– Belinda, porque não chamou a Mari? – Pergunto um pouco irritada, se ela sabia o tempo todo que viríamos, devia ter chamado.

– Eu me esqueci totalmente, Mel. Me desculpe, mas ela é tão caladinha, que eu pensei que... – Franzo o cenho, mais irritada.

– O que tem haver ela ser ‘caladinha’? – Cruzo os braços e vejo Jean se distanciando disfarçadamente.

– Ah, Melina... – Ela dá de ombros. – Nós ainda vamos voltar aqui, para buscar seu vestido, pronto. Então ela vem conosco, tá bom assim? – Meio a contragosto eu digo que sim.

Terminamos nossa prova e combinamos uma data para voltar e buscar os vestidos. Almoçamos ali mesmo, e seguimos para casa as duas e meia. Chego em casa, com uma decisão tomada, e sigo correndo para o quarto do Rodrigo. Bato na porta com os nós dos dedos e ele fala para entrar. Sim que abro a porta o vejo sentado de frente para o seu computador com vários papéis, novamente. Ele sorri para mim.

– Oi. – Digo e sento-me, sem cerimônia alguma em sua cama. – Vou direto ao assunto. – Digo depois de respirar fundo. – Pelo visto você já está sabendo do baile da escola. – Ele acena e eu prossigo. – E, claro, como meu tio e pa do Vítor você tem que ir. – ele concorda mais uma vez. – E simplesmente não pode ir sozinho, quem você vai convidar? – Sua expressão é como se tivesse se engasgado.

– Melina... Eu... – Ele cora – Não estava pensando em levar um par, pensei que eu pudesse ir desacompanhado. – Abro minha boca em um perfeito ‘o’.

– Mas é claro que não! – Digo. Ele fica meio sem graça e olha para seus papéis.

– Melina, querida... Eu não tenho namorada, e acho que você sabe disso. – Ele fala ainda engasgado.

– Sim eu sei, e isso não é problema. – Digo calmamente e lê me olha como se eu estivesse enlouquecendo. – Já pensou em chamar uma amiga? – Levanto a sobrancelha sugestivamente.

– Amiga? Melina, só conheço os colegas de trabalho, a maioria do sexo masculino, e as poucas mulheres que lá trabalham são comprometidas, então...

– Você não tem nenhuma amiga, por aqui? – Pergunto, tentando fazer ele entender sem precisar falar o nome dela.

– Por aqui, no prédio? Não, eu quase não saio de casa...

– Então! – Gesticulo, mas a ficha dele simplesmente não cai! – Será que tem alguma mulher nessa casa que não seja eu? – Ela estreita os olhos e logo depois os arregala, quando enfim percebe.

– Você está falando da Janaína? – Ele pergunta e eu lhe envio um olhar de ‘dã, tem outra?’ – Melina, não sei se é uma boa idéia... – Ele coça o queixo.

– Porque não? Não sei se já percebeu Rodrigo, mas a Janaína é um avião! – Digo surpreendendo a mim mesma do modo que falo sobre sua beleza, e não posso evitar sorrir. – Você me entendeu. – Digo e ele concorda, ainda sem graça.

– Sim. E não descordo, a Janaína é muito bonita, mas ela tem a vida dela, não acho que aceitaria sair comigo. E eu a conheço a tempo suficiente para saber que ela recusaria, por eu ser o seu chefe. – Sorrio para mim mesma. Então ele notou isso?

– Então devia saber que ela não sabe dizer não. Convida ela, tenho certeza de que vai aceitar! – Ele me encara desconfiado.

– Não sei...

– Escuta o que estou dizendo Rodrigo, convida ela, e ponto. E, agora, mudando de assunto... – Dessa vez sou eu quem cora. – Obrigada por me dar todo aquele dinheiro. – ele sorri abertamente.

– Eu tenho é que lhe pedir desculpas. Você está no auge da idade, precisa de um cartão! – Franzo o cenho.

– Não, claro que não! – Fico mais envergonhada ainda.

– Não, nada disso. Eu já providenciei, consegui um bom limite, ele deve chegar até sexta.

– Ah Rodrigo, não precisava disso! – Ele dá um peteleco no ar.

– Pára com isso, anda. – Respiro fundo e lhe dou um grande abraço.

– Você é o melhor tio que eu poderia imaginar ter. Obrigada por... tudo! – Me esforço para não chorar, enquanto ele apenas me aperta mais. – Agora, vou tomar um banho e descansar. – Ele concorda e me dá um beijo na testa. Assim que saio de seu quarto, dou de cara com Vítor.

– Ei! Sumiu hoje. – Ele diz me olhando. Sorrio para ele.

– É, digamos que a Belinda me seqüestrou. – ele levanta a sobrancelha como se eu tivesse contando o óbvio.

– Escuta, você não quer sair um pouco? – Franzo o cenho. – Lembra do terraço? – Ele pergunta, e instantaneamente a imagem daquele lugar maravilhoso se forma em minha mente.

– Eu nunca mais fui lá. – Digo mais para mim mesma, ele então sorri e pega na minha mão, me puxando em direção a porta.

Dessa vez subimos conversando, o que me deixa mais cansada ainda. Me pergunto porque não subimos de elevador. Com as batatas doloridas, suspirei aliviada ao pisar no último degrau. Vítor empurra a porta e ali estamos novamente. Sorrio para aquela imagem, pensando em quando caí na piscina e nos encrencamos com o Rodrigo. O Rodrigo! Olho para Vítor, que depois de alguns segundos se vira para mim.

– O que foi? – Ele pergunta.

– Posso conversar com você? – Ele dá um sorriso de lado.

– Pode. – E dá de ombros. Caminho até um dos bancos e me sento, seguidas por ele, que faz o mesmo.

– Por favor, promete que vai me escutar e não vai se irritar comigo? – Ele franze o cenho e balança a cabeça em negativa, e então prossigo. – Você sabe, que o Rodrigo te ama mais que tudo, não é mesmo? – Ele revira os olhos e vira o rosto, olhando para o céu. – É sério Vítor, você é muito duro com ele!

– Melina, você não sabe de nada! – ele diz rispidamente.

– Você prometeu, Vítor! – Ele suspira de olhos fechados.

– Eu não quero discutir com você...

– Nem eu, então, por favor, fica calmo, só estou tentando ajudar! – Ele me olha como se eu fosse inocente demais. – Às vezes é preciso perdoar Vítor. Eu sei o quanto é difícil essa perda – engulo seco – mas você precisa perdoá-lo! Como você acha que ele se sente, sendo ignorado diariamente pelo único filho? – Ele foca o seu olhar no horizonte. – Dá para notar a tristeza no dele, você praticamente o ‘matou’. Não fala com ele, sequer o olha. Por favor, tente ao menos conversar com ele, esclarecer tudo...

– Não tem o que esclarecer, minha mãe morreu por culpa dele! – Ele fala tentando controlar sua raiva.

– Se você estivesse dirigindo um carro e de repente aparecesse algo na sua frente, você passaria por cima? Claro que não, é uma reação automática! – Ele cruza os braços, com uma expressão ainda irritada. – O que aconteceu com a sua mãe foi uma tragédia, e aconteceu por que era a hora dela. Tanto é que você e ele tinham tudo para ter morrido também e estão aqui, não é mesmo? – ele me olha indignado.

– A hora dela? Presta atenção no que está falando.

– Você quem precisa de atenção! – Ele começa a fuçar o cabelo. – Por favor, perdoe ele, por ele, por mim, por você! – Seu olhar então se torna pura tristeza, me atrevo a abraçá-lo. Depois de alguns minutos o solto e vejo seus olhos marejados. – Sei que deve ser difícil depois de tanto tempo voltar a falar com ele, mas... Vá devagar. – Ele me olha por bastante tempo, fazendo-me corar.

– Eu... Vou tentar. – Não consigo evitar que um gigantesco sorriso se forme em meu rosto em um impulso e cheia de empolgação lhe tasco um beijo na bochecha.

– Eu sabia, sabia! – Digo batendo palmas, e então ele gargalha. Respiramos fundo e ficamos ambos olhando para o longe.

Concentro meu olhar no longe me perco em pensamentos. Só percebo que estava totalmente desligada quando sinto Vítor me cutucar.

– Dá pra acreditar que faz tanto tempo que estamos aqui? – Franzo o cenho e ele explica. – Já são sete horas, vamos descer. Ergo a sobrancelha desacreditada.

– Por favor, vamos pelo elevador! – Ele concorda e chegamos em minutos. Seguimos para o apartamento, onde encontramos Rodrigo sentado no sofá. Ele sorri para nós e olho para Vítor, querendo que ele coloque o plano em prática agora mesmo. Ele suspira.

– Eu vou tomar um banho para jantar. – Digo e sigo rapidamente para o meu quarto, rezando para que dê tudo certo.

Tomo um banho, no chuveiro mesmo, e visto meu moletom. Penteio o cabelo em um rabo de cavalo e fico um certo tempo fazendo hora, para não correr o risco de atrapalhá-los. Olho no relógio e tiro a conclusão de que já esperei tempo suficiente, vão acabar desconfiando. Desço vagarosamente, espiando a sala, e vejo que não estão ali. Solto um palavrão mentalmente. Não acredito que tudo o que eu disse entrou por um ouvido e saiu por outro! Ainda furiosa sigo para a sala de jantar e me surpreendo ao vê-los conversando e sorrindo sobre algo. Meu sorriso certamente está de uma orelha até a outra. Eles se viram para mim e ambos coram. Eu nunca havia reparado o quanto são parecidos.

– Melina, querida. – Sento-me e ele se aproxima para cochichar. – Segui seu conselho. – Meu sorriso aumenta ainda mais, se isso é possível. – E, advinha? – Ele sorri, não só com os lábios, mas com os olhos. – Ela disse sim. – Apesar de ter dito a ele que tinha certeza que ela aceitaria, abri a boca em surpresa.

– Que bom! – Digo baixinho para que ela não ouça. E então ela aparece com o jantar e olho brava para Rodrigo.

– Janaína, senta aqui! – Digo me levantando e tomando os pratos da mão dela, que tenta me impedir em vão.

– Melina! – Ela chama minha atenção, mas sem falar muito alto.

– Anda, senta ali no meu lugar. – Todos grudam os olhos em mim. – Não é justo você sempre servir o jantar e ficarmos só olhando, e depois você comer sozinha lá na cozinha, não, isso é horrível. Você jantará conosco, vamos. – Estalo os dedos e aponto para a cadeira. – Ela olha para o Rodrigo envergonhada como se dissesse que não tem nada a ver com isso.

– Ela tem razão! – Diz Rodrigo se levantando e vindo até ela. Sente-se aqui. – Ele diz pegando sua mão e a conduzindo até ‘meu’ lugar. – Esboço uma expressão vitoriosa e coloco o jantar sobre a mesa, dizendo para todos se servirem.

– Eu posso fazer isso... – Começa Janaína, mas a interrompo.

– Ai, mas que teimosia! Cada um se serve Janaína, todos sabemos como fazer! – Ela abaixa a cabeça.

Depois de alguns minutos Janaína se acostumou em estar ali conosco, e pela primeira vez em meses, me senti em uma família. Pela primeira vez, o jantar não passou silenciosamente, tagarelamos a noite toda. Até terminarmos, e cada um seguir para o seu quarto. Antes de subir, fui atrás da Janaína.

– Naína... - Ela olha para trás com uma expressão de cansaço. – Preciso falar com você! – Ela para e me olha.

– O que foi? - Responde impaciente. Mas logo se desfaz quando sorrio ternamente para ela.

– Ah, fiquei tão feliz! – Digo sinceramente. – Já sabe qual roupa vai usar? Posso te ajudar a escolher...

– Eu já sei qual roupa vou usar, obrigada! – Dou de ombros.

– Então tá. Vou dormir, hoje o dia foi bem cheio. – Lhe dou um beijo e subo correndo para o meu quarto, onde durmo assim que deito.

Ouço um barulho que me faz acordar. Está tudo escuro, olho para o relógio e vejo que são 23:58. Coço os olhos e percorro todo o quarto, mas não vejo nada de tão escuro que está. Forço a visão, mas ainda assim, nada! Levanto cambaleando e tateando até o interruptor, mas alguém me impede disso, tento gritar, mas a pessoa tapa minha boca. Meu coração vai a mil e milhares de pensamentos vêm na minha mente, entro em desespero quando ouço uma voz conhecida cochichar em meu ouvido.

– Hei, calma! Só vim desejar feliz aniversário! – Respiro aliviada. Dou um tapa bem forte em Vítor enquanto ele acende a luz. – Poxa, quanta compreensão. – Ele fala brincando.

– Você quase me mata do coração e quer compreensão?

– Foi por uma boa causa! – Ele dá de ombros.

– Não podia esperar eu acordar? – Pergunto bocejando.

– Eu não poderia correr o risco de alguém te desejar parabéns antes de mim. – Sorrio abertamente. – Feliz aniversário, Melina! – ele diz e me abraça, ainda brincando.

– Ah, obrigada! – Fico sem graça.

– Agora, a senhorita pode voltar a dormir! – Sorrio de olhos fechados e ele me empurra para o lado. – Vá dormir logo, dorminhoca. Até amanhã. – ele diz e fecha a porta.

Ainda feliz por ele ter feito algo tão legal, volto para a cama, me embrulho da cabeça aos pés e durmo em segundos, acordando só quando o despertador toca.

– Feliz aniversário, querida! – Diz Rodrigo em meio a um apertado abraço. – Muitos e muitos anos de vida, e que você continue sendo essa pessoa incrível!

– Obrigada, de verdade! – Entramos no carro e seguimos para a escola, pelo mesmo caminho rotineiro.

Chegamos, me despeço de Rodrigo e sigo para a sala. Passo direto por Callie e me sento na última cadeira perto da parede, como nos velhos tempos. As aulas passam lentamente, deixando-me entediada, o único fato ‘interessante’ que ocorreu foi a confirmação do que a Belinda havia previsto, o anúncio do baile. Começo a rabiscar o caderno quando o último sinal toca. Guardo meus cadernos e sigo para o refeitório. Mariana sorri e acena para que me sente com ela, Belinda e Bernardo. Assim que me aproximo ela pula em meu pescoço, antes mesmo de Belinda ter chance, já que estava vindo até mim também.

– Ah Melzinha, parabéns! – Ela me aperta tão forte que me sinto sufocada. – A melhor coisa que me aconteceu esse ano foi te conhecer, te desejo tudo de bom, tudo mesmo, você é muito especial para mim, eu te amo! – Ela diz olhando nos meus olhos, que ficam marejados. Belinda amigavelmente a empurra e se abaixa para me abraçar.

– Meus parabéns, nanica! Nem sei o que te dizer, sério, você foi a melhor amiga que já encontrei, espero que jamais saia do meu lado. Sei que já cometi alguns erros, e não fui a amiga perfeita que você merece, porém, tenho um carinho muito grande por ti guria, nunca mude teu jeito maravilhoso de ser! – Esforço para não deixar que as lágrimas rolem pelo meu rosto. Ela se afasta e o Bernardo se aproxima vagarosamente.

– Parabéns, Mel! – Ele me abraça forte, me deixando totalmente confortável, apreciando seu perfume. – De todas as palavras nesse mundo, não teria uma boa o suficiente para te descrever, e mostrar o quanto foi maravilhoso te conhecer, desculpe por erros que cometi. – Ele aperta mais um pouco e então me solta. Algumas lágrimas teimosas caem.

– Oh gente... Eu nem sei o que dizer. – Sorrio emocionada. – Eu é que não tenho como agradecer a vocês! – Mordo o lábio inferior em meio a lágrimas, e abraço todos de uma vez. – Obrigada! – sussurro.

Depois desse momento de emoção, nos sentamos e eu consegui almoçar normalmente, mas sem esquecer nenhum detalhe do que eles me disseram. Depois de terminar meu sorvete me despedi de ambos, e segui com Mariana para o quarto, onde nos trocaríamos para a educação física. Visto meu uniforme em silêncio e estranho a quietude de Mariana.

– Como foi seu final de semana? – Pergunto, e corrijo logo em seguida. – Ops, seu domingo. – Ela sorri.

– Foi legal, eu sai com meu pai. Fomos para Porto Alegre visitar a minha avó, bem cedo, e voltamos apenas de noite.

– Ah, que legal! Não sabia que sua avó morava na capital. – Comento.

– É, nós costumamos visitá-la nos finais de semana. E você, o que fez nesse domingo? – Minha vontade de contar tudo com felicidade se esvai quando lembro que não a convidamos.

– Bom... – Mordo o lábio. – Eu juro que não sabia o que ia fazer, a Belinda me chamou em cima da hora e não me contou nada! – Ela franze o cenho, e eu suspiro. – Nós fomos escolher o vestido do baile. – Ela abre um imenso sorriso.

– Sério? E aí, escolheu o seu? – Fico aliviada por ela não ter ligado, ou pelo menos não ter expressado isso.

– Não ficou com raiva? – Ergo uma sobrancelha.

– Claro que não, de qualquer jeito não em encontrariam em casa. – Concordo e lhe passo os detalhes.

– O vestido é simplesmente maravilhoso, você tem que ver! – Digo empolgada.

Seguimos para a quadra, e vejo Callie assim que entramos. Com seu cabelo preso em um longo rabo-de-cavalo, ela exibe sua boa forma com o short de malha e a blusa coladíssima. Ignoro seus olhares desaprovadores em minha direção, enquanto cochicha com suas amiguinhas. Mari eu paramos perto da arquibancada, até que o professor chegue, o que não demora. Ele separa a turma em quatro times, e nos coloca para jogar basquete. Por pura sorte consigo marcar duas cestas, mas ainda assim meu time perde para o da Mari, que também vence o time da Callie, saindo vitoriosos e ‘invictos’. Voltamos para o quarto morrendo de cansaço. Ela deixa que eu tome banho primeiro, pois tenho terapia. Assim que termino visto uma calça jeans, blusa de frio fina e all star. Prendo meu cabelo em um rabo-de-cavalo, e sento na escrivaninha para terminar alguns deveres de casa. O celular desperta, e guardo os cadernos.

– Até mais tarde Mari. – Aceno e desço. Encontro Vítor, como sempre me esperando no fim da escada, a gente se cumprimenta com um toque e seguimos para a saída, quando ouço alguém chamar meu nome. Me viro, assim como Vítor e vejo Bernardo correndo em nossa direção. Quando ele se aproxima vejo suas bochechas vermelhas, de certo por ter corrido, e uma rosa vermelha nas mãos. Vítor cruza os braços enquanto Bernardo estica a mão segurando a rosa, em minha direção.

– Quer ir ao baile comigo? – Minha boca se abre de surpresa e as palavras somem. Sinto o olhar de Vítor em mim, e o De Bernardo se alternando entre nós.

– O que? – Sussurro, ainda perplexa.

– Perguntei se você, Melina, quer ir ao baile comigo, Bernardo. – ele repete totalmente desinibido. Sorrio abertamente, enquanto pego a rosa.

– Eu adoraria. – Digo. Ele me abraça, tirando-me do chão e me fazendo rodopiar. Por fim deposita um beijo em minha testa.

Observo ele ir embora, meio avoada e preciso que Vítor me puxe, dizendo que vamos nos atrasar, para cair em mim. Entramos no carro e seguimos para o consultório. Fico o caminho inteiro olhando para o além, da minha janela, com um sorriso bobo nos lábios. Novamente, é necessário que Vítor me cutuque para que eu acorde. Descemos e seguimos para o elevador, terceiro andar, quinta sala à direita. A recepcionista acena para que eu entre e prossigo, enquanto Vítor se acomoda na cadeira.

Abro a porta e o vejo lá, do mesmo jeito de sempre. Reviro os olhos e tomo o meu lugar de sempre. Mas dessa vez é diferente. Dessa vez eu estou me sentindo bem, realizada.

Ao terminar a sessão, saio e chamo Vítor, que está de cara fechada, mas não me atrevo a perguntar o porque. Ele fica silencioso em todo o caminho de volta, fico preocupada, mas sei o quanto ele é estável, não quero correr o risco de perguntar e levar uma patada. Assim que o carro estaciona ele diz um ‘tchau’ fraco e segue rapidamente para seu dormitório. Sigo para o meu. Estranho ao ver as luzes apagadas. Tateio atrás do interruptor.

– SURPRESA! – Quase caio, e meu coração falta pouco saltar pela boca. Enquanto todas sorriem e sopram incessantemente as ‘línguas de sogra’. Tapo a boca surpresa.

– O que estão fazendo aqui? – Belinda responde antes de todos.

– Dããã, te fazendo uma surpresa! Vamos lá, pessoal! Parabéns pra você... – Ela começa a cantar e todos a acompanham -...Nessa data querida, muitas felicidades muitos anos de vida, parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades muitos anos de vida. Viva a Melina! – Ela grita.

– Viva! – Todos repetem. Sorrio corando, mas morrendo de felicidade.

Agradeço e atacamos o bolo, que por sinal estava lindo, com meu nome desenhado em cima, e vários rostinhos fazendo caretas. Devoramos em segundos, ficamos ali conversando por bastante tempo, mas Bernardo tem que ir rapidamente, por ser proibido garotos nesse setor. Belinda fica horas falando sobre o baile, o baile e mais baile. Combinamos de ir novamente a loja, e escolhermos um vestido para Mariana. As nove e meia nos despedimos de Belinda, e vamos nos deitar.

Tive pesadelos a noite toda com Vítor, em todos eles ele aparentava estar totalmente abandonado, entristecido, a beira da depressão, eu tentava de todos os jeitos ajudá-lo, mas era impedida por Bernardo. Totalmente confusa me troquei rapidamente, peguei minha mochila e desci à procura dele, Vítor. Para a minha sorte ele estava sentado no refeitório, olhando para o longe com seus fones. Ele não percebe a minha presença até que eu me sente na sua frente, ele então se ajeita na cadeira e retira o fone.

– Oi. – ele diz com um leve sorriso, que logo se desfaz.

– Oi, você está bem Vítor? – Pergunto de uma vez, ele abre a boca algumas vezes, sem dizer nada, por fim a fecha e dá de ombros. – Se estiver precisando de algo, pode falar Vítor, eu estou aqui pra isso! – Ele balança a cabeça negativamente.

– Não tem nada. – Suspiro. Eu sei que tem.

– Não confia em mim? – Ele olha pra mim ofendido.

– Você sabe que confio, não diga bobagens! – Ele evita olhar em meus olhos.

– Então fala Vítor, eu sei que tem alguma coisa, mas você não quer falar, porque? – Falo numa imensa velocidade.

– Porque não vai adiantar nada você saber, Melina. Agora me deixa. – Reviro os olhos e saio da mesa, deixando ele sozinho e ignorando o café da manhã.

Sigo para a sala de aula, com a cabeça a ponto de explodir com tantos pensamentos, abro meu caderno e olha para frente, fingindo entender o que os professores falam, entrando em um ouvido e saindo em outro. E entre os pensamentos que martelam na minha cabeça estão: Eu vou ao baile com o Bernardo! e O que há de errado com o Vítor? Porque ele não quer me contar?



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Notas finais do capítulo

Gostaram? Mereço reviews? Espero que sim, FAÇAM PERGUNTAS!!!



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