Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Olá meninas!!! Fico muito feliz por estarem tão conectadas com a história. Obrigado por se preocuparem comigo, estou bem melhor e prometo não deixá-las muito tempo sem novos capítulos. Como foi o natal de vocês? O meu, foi surpreendentemente bom, e estou muito melhor. Feliz natal atrasado, presentinho pra vocês. Esse é o capítulo mais revelador e emocionante de todos, ao menos para mim. Espero que gostem. Bem vinda Luana! (:



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21 She wants to go home, but nobody’s home It's where she lies, broken inside. With no place to go, no place to go to dry her eyes. Broken inside.


O segundo dia de aula passou mais devagar que o primeiro, e já estava se tornando insuportável ter que ver Callie a aula inteira. Porque justo ela? Já não bastasse tê-la na classe, tem uma suposta irmã que é minha colega de quarto, e a Marcela, que só fala no Bernardo. O que eu fiz para merecer isso? Caminho desanimada para o refeitório em busca da Mariana ou da Belinda, mas não encontro nenhuma, pego um suco de laranja e sigo para uma mesa afastada, onde me sento sozinha. Abro a agenda e passo os olhos sobre o horário. Droga! Aula de natação. O pior dessas aulas em horário contrário, é que sempre fazemos com outra turma, além de ter que suportar a minha turma tenho que suportar outra. Tomara que seja com a turma da Belinda. Percorro os olhos pelo refeitório novamente em busca dela e paro os olhos em uma mesa não muito distante da minha. Marcela e Bernardo de novo. Pelo amor de Deus, ele não tem namorada? Ah se a Giselle soubesse disso. Foco meu olhar nos dois, que conversam e sorriem a todo minuto. Fico tão concentrada neles dois que sou pega de surpresa pelo olhar de Bernardo, que se vira em minha direção. Fico ruborizada e viro a cabeça na mesma hora, a minha vontade é de cavar um buraco e me enterrar.

Folheio minha agenda tentando disfarçar e acabo parando em uma página com a data de sexta-feira, a letra não é minha, e está escrito em inglês, reviro os olhos, e então começo a ler.

Are you smarter enough to read this message? I just wanna tell you that there’s a surprise to you Friday. I hope you are exciting ‘cause I am.

Quem teve a inútil capacidade de escrever isso na minha agenda? Só vem um nome em minha mente: Callie. Ela não é a garota mais inteligente da classe, mas fala inglês fluente. Isso é bem a cara dela. Bem... Se for ela, o que quis dizer com ‘surprise’? Folheio novamente até o horário, sexta-feira tem duas aulas de biologia, uma de física, duas de português, uma de álgebra e uma de história. As 15:30 teria ‘vago’, já que a professora de ginástica estava doente, e até agora não conseguiram um substituto. Guardo minha agenda com a cabeça a mil, com tantos pensamentos ao mesmo tempo, todos relacionados aquela mensagem.

Recuso-me a olhar novamente para a mesa de Bernardo, para não correr o risco de ser pega novamente, sigo o mais rápido possível para o meu quarto. Encontro Mariana lendo um livro intitulado ‘O mundo de Sophia’ deixo a mochila ao lado da minha cama e me deito. Depois de algum tempo lembro que tenho aula de natação, corro para o banheiro para me trocar. Visto um maiô preto e um short. Despeço-me da Mari e desço o mais rápido possível. Minha perna já não dói tanto, ao menos consigo andar sem mancar, causando uma pontinha de dor, mas isso não é o pior, o pior é a marca roxa que ficou, as exatas bolinhas que provam que ela pisou na minha perna.

Entro no ginásio meio perdida, com vontade de evaporar quando percebo que não é uma turma do primeiro ano. São todos grandes, as meninas, ou devo dizer mulheres, têm corpos esculturais, sinto-me uma lagartixa ali no meio delas. Procuro por alguém conhecido, e acabo encontrando. Milena se alonga não muito longe de mim, e além de um rosto perfeito ela também é dona de um corpo bem definido. Ela começa a ajeitar o cabelo para colocar a touca quando me toco que também tenho de colocar a minha. Faço um tipo de coque e coloco, fico imaginando como seria complicado se meu cabelo ainda fosse grande, mas lembro que não era devido a ele ser bem liso.

Avisto Callie, que parece estar falando de mim, pois ri em meio a olhares que me envia de tempo em tempo. A professora chega e diz que como é a primeira aula ela quer ver como nadamos e por isso fará uma competição. Ela pergunta quem quer começar e finjo nem estar ali.

– Eu quero professora. Quero competir contra a Melina! – Ouço a voz irritante de Callie e tenho vontade de afogar ela ali mesmo. A professora olha para onde ela ponta e sorri para mim.

– Ótimo, um desafio! – Ela bate palmas, animada. – Você topa Melina? – Ela pergunta e Callie esboça um grande sorriso.

– Sim. – Digo me levantando. Essa é minha grande chance de desbancar Callie. Sempre fui boa em natação, e com a derrota dela como inspiração, claro que tenho chance de ganhar.

– Certo, posicionem-se! – A professora fala e fazemos o indicado, lado a lado.

– Vai se arrepender por me enfrentar, Meester! Mais uma humilhação pro seu caderninho. – Ela sussurra para que a professora não ouça.

– Vocês têm de bater lá e voltar, a primeira a chegar vence! – A professora indica mais uma vez. – Preparem-se... – E ela apita.

Pulo o mais longe possível, dou braçadas violentas com um único objetivo: Vencer a Callie, passar por cima dela nem que seja em uma simples competição de natação. Não consigo ver se ela está ou não a minha frente, então me concentro no meu objetivo. Dou um giro encostando os pés na beira de piscina e me impulsionando para a volta. Nado velozmente, mais algumas braçadas, mais algumas... Bati a mão na beira da piscina e emergi, olho para o lado e não a vejo olho para trás e a vejo chegando. Um enorme sorriso se forma em meu rosto. Eu venci! Ou melhor, eu venci a Callie!

– Temos uma vencedora! – A professora diz em alto e bom som, saio da piscina, não sem antes olhar para o rosto de Callie que é uma mescla de ódio e vergonha. A professora ergue meu braço direito, e todos batem palma. – Uma vencedora com uma grande diferença. Escolheu a pessoa errada para desafiar querida. – Ela diz olhando para Callie que me queima com o olhar. – Certo, pode descansar. – Ela diz mais para mim do que para Callie. – Próximos? – Ela chama.

Caminho para o banco ainda sorrindo, visto meu roupão e me sento. Callie pega o seu no outro lado do ginásio e sai batendo os pés, e levando suas amiguinhas consigo. Olho em volta, pela primeira vez com orgulho por estarem me encarando, um certo olhar me chama atenção, olho para longe, do outro lado da piscina e meu sorriso some. Vítor. Droga, a turma dele faz natação junto com a minha? Ele sorri, sem mostrar os dentes, como de costume. Prendo minha atenção nos novos competidores, me surpreendo ao ver um rapaz e Milena. A professora apita e os dois saltam, porém ela sai na frente, e continua assim durante todo o percurso. Ela bate a mão na beirada e sai da piscina no mesmo instante, ela tem o rosto sério, como se tivesse a certeza de que venceria e aquilo estivesse cansando sua beleza.

Depois de quase todos os alunos competirem em dupla, ela selecionou os melhores para competirem. Entre eles surpreendentemente estava eu. A única pessoa que eu conhecia ali além de mim era Milena. Me posicionei, a professora apitou e parti em disparada como da outra vez. Nadei o mais rápido possível, mas não foi o suficiente, não contra ela. Milena ganhou o primeiro lugar, eu o segundo e o garoto que competiu com ela o terceiro. Porém eu podia me orgulhar, ela é a melhor da turma, e eu sou a única do primeiro ano. Saio da piscina e visto meu roupão novamente, somos dispensados e caminho lentamente em direção a porta.

– Parabéns garota, você tem talento. – Diz Milena que passa por mim e caminha elegantemente para a ala do dormitório feminino. Sorrio satisfeita para mim mesma.

– E eu pensando que você poderia se afogar. – Olho para o lado e vejo Vítor.

– O que é agora? – Pergunto me alterando, e me virando para ele.

– Que isso? Fala baixo, garota. – Ele diz segurando meus braços e me levando para o canto para que os outros alunos não esbarrem em nós.

– ‘Que isso’ digo eu. Você tem algum problema, muito sério. – Digo olhando nos olhos dele.

– Eu tenho problema? – Ele diz dando um sorrisinho e cruzando os braços, como se desacreditasse no que estou falando.

– É, você mesmo. Escuta: Eu cansei! Cansei de você e do seu humor bagunçado. – Digo fazendo gestos com a mão como se ele não estivesse entendendo.

– Humor bagunçado? – Ele repete ironizando.

– É. Você sabe do que estou falando. – Viro-me para continuar meu caminho e ele me segura.

– Não, eu não sei do que você está falando. – Ele diz realmente parecendo não saber, mas não vou dizer.

– Usa um pouco esse cérebro que Deus te deu. – Digo e caminho rápido para não correr o risco dele me segurar novamente. Acabo esbarrando em Bernardo, e ele sorri abertamente para mim.

– Mel, faz tempo que não te vejo. – Puxa, será que é porque você estava ocupado paquerando a tagarela da Marcela?

– Oi Bernardo. – Não sei o que falar, além disso. Ele me olha de cima a baixo.

– Natação, que azar. – Ergo as sobrancelhas levemente.

– Azar? – Dou uma leve balançada.

– É, odeio piscinas, principalmente de escola. – Ele diz.

– Mas você foi muito bem na prova de pólo-aquático no acampamento. – Digo me arrepiando com a mais leve lembrança daquela viagem.

– Sim, eu sei nadar, mas prefiro terra firme. – Ele diz apontando para o chão. Sorrio sem saber o que dizer. Ele coloca uma mecha do meu cabelo que goteja, atrás da minha orelha.

– Eu gostava do seu cabelo grande. – Mordo o lábio e olho para baixo, ele levanta meu queixo delicadamente. – Mas você continua linda. – Fico mais ruborizada ainda, e meu coração parece que vai sair correndo do meu peito. Ele dá um passo, ficando mais próximo. Seu dedo acaricia lentamente minha bochecha, onde agora resta uma cicatriz, também causada por Callie.

– Eu tenho que ir, Bernardo. – Digo me afastando o mais rápido possível, seguindo para o meu quarto.

O Bernardo é louco. Aquilo não foi nada demais, porém se alguém visse, se a namorada dele visse, ficaria furiosa, ia querer me decepar! Ou pior, se a Marcela tivesse visto, contaria para a escola toda e me odiaria. Ai meu Deus, o pior de tudo é que me senti tão bem... O que acontece com minha mente? Porque razão eu sinto isso por Bernardo. Certo, ele é lindo, divertido, educado, inteligente, o que já são características o suficiente, mas, sou apenas uma amiga dele e da irmã dele, que afinal ficaria uma fera se soubesse que gosto do seu irmão. O que? Nossa! O que eu pensei, eu não gosto dele, eu... Gosto como amigo. ‘Amiga não chora vendo o amigo beijar outra.’ Alguma parte da minha mente sibilou. Isso é verdade, mas... Não posso. Chego na porta do meu quarto e abro, vou direto para o banheiro.

Coloco o chuveiro no máximo e o ligo, querendo esvaziar minha mente de vez. Olho a mim mesma no espelho antes de entrar, e não ajuda em nada. Meu rosto tem a aparência cansada de sempre, meus lábios estão azuis de frio, minha perna está um pouco inchada com marcas roxas. Meu cabelo embaraçado e meus olhos com a mesma cor de um dia triste. Lembro da minha mãe, do meu pai, e da Marina, meus olhos se enchem de lágrimas, e meu peito parece explodir com tanta angústia. Lembro das críticas que ela fazia freqüentemente, com toda a razão, eu sou horrível, meu rosto é horrível, meu cabelo, meu corpo, minha alma! Sou a pessoa mais ridícula que conheço. “Que garoto vai olhar para uma garota como você?”, lembro exatamente do dia em que ela disse isso, lembro o quanto sofri, continuo remoendo isso, pensei que a vida seria diferente, mas não está sendo, o corte de cabelo não fez nenhuma diferença, ainda sou repugnante. Meu peito dói enquanto minhas lágrimas saem silenciosamente, agacho-me encostada na parede, com as mãos na cabeça.

Porque eu tinha de nascer assim? Porque eu tinha de sofrer tanto? Percorro os olhos embaçados pelas lágrimas pelo banheiro, em busca da solução para isso tudo. Engatinho até o armário e abro a porta em busca de uma gilete, tenho de retirar várias coisas, sabonetes, toalhas de rosto, pacotes de absorvente, até encontrar o desejado. Abro o pacote e pego uma, olho para o meu braço esquerdo onde se encontram finas cicatrizes dos antigos cortes, faço novos riscos, sentindo prazer com aquela pequena dor. As lágrimas ainda descem deliberadamente, faço cinco cortes em cada braço, o chão branco tem respingos vermelhos, encosto-me na parede novamente e choro mais.

Depois de chorar bastante, levanto-me e tomo o meu banho quente que parece queimar minhas feridas,q eu doem, mas não tanto quanto estou dolorida por dentro. Procuro limpar toda a sujeira e me livrar da gilete, para que ninguém saiba do que fiz. Depois de limpar toda a sujeira e me recompor saio do banheiro. Mikaella está no quarto, veste uma calça legging com um topper e uma blusa grande e rosa. Ela cruza as mãos atrás de seus pés, sem dobrar os joelhos, ela está se alongando, com fones de ouvido, fico admirada com sua elasticidade, e fico boquiaberta quando ela faz abertura. Visto uma blusa de mangas com calça de moletom, e pego um livro, que finjo ler em minha cama, mas na verdade estou prestando atenção em seus movimentos, ela está dançando, ao som de uma música que desconheço, mas acabo reconhecendo a coreografia, de um clipe que vi em um dia de tédio no meu quarto, é da cantora da banda ‘The pussicat dolls’, mas solo.

Mikaella reproduz a coreografia com excelência, sem errar nenhum passo. Depois de terminar ela se alonga e começa uma nova coreografia, levo um certo tempo e descubro a coreografia de um grupo de garotas coreanas, e mais uma e ela arrasa. Se ela percebe meu olhar não liga, pois não me olha hora nenhuma, totalmente concentrada em sua dança. Milena entra no quarto e revira os olhos ao ver Mikaella. Ela tira sua sapatilha e se deita em sua cama, tapando os olhos com uma máscara. Acabo cochilando e acordo com o barulho do meu livro caindo no chão. Estou sozinha no quarto, olho para o relógio e vejo que são oito horas, troco o moletom por uma calça jeans e meu all star, e desço para o refeitório para o jantar.

...

Acordo e levo um segundo para assimilar as coisas, dou um pulo e vejo que estou sozinha no quarto. Droga! Visto o uniforme o mais rápido possível, jogo os cadernos e livros de qualquer jeito na mochila e desço correndo para a sala. A porta esta fechada, obviamente, mordo o lábio me odiando por ter perdido a hora, bato na porta com os nós dos dedos. Espero e o professor abre a porta lentamente espiando quem é. Sorrio amarela e ele bufa.

– Pode entrar, senhorita. E que isso não se repita, por favor. – Aceno positivamente e ouço as risadinhas de Callie.

Sigo para o meu lugar de sempre, onde me enterro na cadeira. No único dia que me atraso, tem que ser logo física no primeiro horário, o professor mais rígido de todos. Ele não vai esquecer esse atraso nunca mais. De tempo em tempo me envia olhares, me deixando cada vez mais constrangida. Dou graças quando o sinal toca e ele vai embora, sendo substituído pela doce professora de português. As aulas conseguem me entreter de uma maneira incrível, acabo me assustando com o sinal da última aula tocando. Recolho meu material pensando se vou ou não até o refeitório. Minha barriga decide por mim.

Caminho desatenta até lá, olho em volta e vejo uma mão balançando alto, olho um pouco mais abaixo e vejo o rosto sorridente de Belinda, sentada com duas garotas da sua altura. Aceno mas resolvo não me sentar com ela, me sirvo e vou para uma mesa vazia, coloco a bandeja na mesa enquanto vejo Vítor caminhando em minha direção. O encaro e ele para de repente, se virando e seguindo para o outro lado do refeitório, coço a sobrancelha esquerda, corada por pensar que ele estava vindo aqui. Assusto-me ao ser abraçada, viro de uma vez e praguejo ao ver Bernardo.

– Boa tarde, Mel. – Ele diz e me dá um beijo na bochecha, me soltando e se sentando na minha frente. Certo, eu devo estar parecendo um tomate, balanço a cabeça negativamente e me sento.

– Escuta Bernardo, você tem que parar de me abraçar e... Dar beijinhos. – Penso antes de falar já que essa é a primeira vez que ele me dá um beijo. Ele parece ficar sem graça, mas se recompõe logo.

– Desculpe, eu não queria te incomodar, eu... – Ele dá de ombros e me sinto mal por ter deixado ele assim. Mas isso não pode continuar.

– Você sabe como são as pessoas, elas falam mais do que devem, dizem existir o que não existe. É comum amigos se abraçarem, mas você é novo aqui, diferente de mim, portanto se te verem me abraçando, vão pensar coisas erradas, que vão chegar aos ouvidos da Giselle, que ficaria uma fera comigo, com toda a razão, já que é sua namorada, então... Isso tem que acabar. – Falo tão rápido que fico em dúvida se ele ouviu tudo perfeitamente. Ele me olha por bastante tempo. Olho para meu prato de comida para não ter que retribuir.

– Giselle e eu não somos namorados. – Ele diz serenamente.

– Namorados, ficantes, você sabe o que eu quis dizer. – Digo começando a almoçar, ignorando seu olhar que ainda estava em mim.

– Nem ficantes, não estamos mais juntos. – Olho para ele parando de mastigar, volto ao normal depois de alguns segundos, sem dizer nada.

– Porque? – Consigo dizer depois de um tempo.

– É complicado. – Vejo que ele não quer falar sobre isso, então deixo o assunto morrer, mas então ele continua. – Ela é muito... Apegada, depois do acampamento você não imagina quantas vezes ela ligou, parece chiclete, não gosto de pessoas assim. – Balanço a cabeça positivamente lentamente.

Olho ao redor e vejo Belinda olhando para a nossa mesa e sorrindo, desvio o olhar para o outro lado e sou pega pelo olhar fumegante de Marcela. Respiro fundo e continuo a comer. Fico incomodada com o olhar constante de Bernardo. Termino rapidamente, dou um gole em meu suco e digo que tenho que subir, pois há muito dever de casa, ele concorda e acena despedindo-se, suspiro aliviada por estar longe dele. Fico confusa, como posso querer ficar longe de alguém que gosto? Não sei exatamente a resposta, então desisto disso.

Sento-me na mesa de estudos com o livro de física, gramática, e aritmética. Eu realmente tinha muito dever para fazer. Quando terminei já era noite, tomei um banho, sentindo aquele conhecido ardor nos pulsos. Vesti uma blusa de manga com calça jeans e all star. Fico curiosa, aonde será que Mariana se mete o dia todo? E porque ela não me acordou hoje, puxa, o que custava? Desço vagarosamente e encontro Belinda no corredor.

– Eu devia te dar uma bronca por não ter se sentado comigo no almoço, mas não vou. – Ela diz fazendo um rabo em seus cabelos cor-de-ouro.

– E porque deveria? – Pergunto sem emoção.

– Ora, porque me abandonou. – Ela disse como se fosse a coisa mais óbvia do universo.

– Você não estava sozinha Belinda. – Digo calma e ela me olha como se eu a tivesse atingido com uma faca.

– Isso tudo é por causa da Gabi e da Lu? – Franzi o cenho, e olhei para ela.

– Eu nem sei quem são ‘Gabi e Lu’! – Começo a me sentir incomodada, não quero discutir com ela, principalmente por causa de um almoço.

– Elas são as garotas que estavam sentadas comigo, quando você me deixou, para ficar com o Bernardo! – Abri a boca, indignada. – Mas eu já disse, não vou brigar com você por isso, só porque era o Bernardo, porque se fosse aquela Marcela...

– Por favor, Belinda! Vamos jantar, vai se sentar comigo? – Ela suspira, e cruza os braços, séria. Ergo as sobrancelhas querendo uma resposta e ela sorri, liberando os braços.

– Claro que vou, né. – Nos servimos e seguimos para a mesa, onde deixamos toda a discussão boba para trás.

Depois de jantar volto para o meu quarto e encontro Mariana na escada. Pergunto por onde ela estava e ela diz que gosta de ficar na biblioteca, perdida em meio a livros. Disse que eu também apreciava muito a leitura, mas andava com a mente muito bagunçada para isso. Ela sorriu solidária, e não falamos mais nada depois disso. Coloquei o despertador no volume máximo, para não correr o risco de perder a hora novamente. Não sei o porque, mas demorei a pegar no sono.

Choro demasiadamente, na frente de toda a escola. Sinto-me aterrorizada. Olho para cima e vejo o rosto sorridente e glorioso de Marina. Mas não é só ela que sorri, todos a minha volta a acompanham, com gargalhadas maldosas, deixando-me mais desesperada. Ela pega uma faca pequena e afiada e estende a mão para que eu pegue.

– Vamos irmãzinha, faça a única coisa que você faz bem: Se corte! – Olho apavorada para ela, como ela descobriu? Sempre fui cuidadosa quanto a isso. Nego com a cabeça, mesmo querendo, já que a dor aumenta cada segundo mais. – Vamos, não precisa se acanhar mostre o seu talento, já que é o único, e agradeça por ter um. – Ela diz e sorri novamente.

– Pare, por favor! – Imploro ainda no chão, com a voz embargada.

– Para que? Para depois você ir para o seu quarto e se cortar lá? Se todos já sabem, porque não demonstra, vamos Melina, FAÇA! – Ela grita e sua expressão muda de um jeito que me amedronta. Recuso-me a pegar a faca e ela a passa pelo próprio braço com brutalidade.

– NÃO! – Grito em protesto, mas é tarde um enorme corte em seu braço goteja sangue, como uma torneira ligada – Porque fez isso? – Pergunto em pé, desesperada, retiro a faca de sua mão e ela sorri.

– Faça Melina! – Ela ordena dessa vez mais calma. Olho para seu braço sangrando, que ela parece não sentir, olho para todos em volta, levo a faca lentamente até meu pulso.

– NÃO! – Alguém gritou me paralisando, conheço a voz de algum lugar, mas não consigo me lembrar, e nem mesmo encontrá-la. – Não faça isso, Melina. – Penso em Bernardo, e sorrio por saber que ele se importa comigo, mas a voz fala novamente, e não vem dele, pois ele está sorrindo com os outros. – Se não quer parar por você, pare por mim! – Fico confusa, olhando em todo canto em busca da voz.

– Mas quem é você? – Pergunto sem fôlego.

– Sou eu...

TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMM!!!

Sento de uma vez, meu cabelo está colado em minha nuca, e alguns fios no rosto. Minha respiração está acelerada e olho em volta procurando por Marina e todos. ‘Foi apenas um sonho’, tento convencer a mim mesma. Um sonho muito estranho.

– Está tudo bem Melina? – Ouço a voz suave de Mariana e aceno positivamente. O banheiro está ocupado, mas fico feliz que só falto eu para o banho, assim não terei de disputá-lo.

Vou até o armário pegar o uniforme e me sinto meio tonta, seguro-me na porta até me estabilizar. Mariana pergunta se quero que ela me acompanhe no café, digo que não precisa se incomodar, e que ela só precisa ir se quiser. Ela diz que vai, já que a biblioteca ainda não deve estar aberta. Peço para que me espere e sigo para o banheiro.

– A biblioteca daqui é muito melhor que a do meu antigo colégio, a de lá... – Ela pára de falar e acena para o outro lado do refeitório, olho para trás e vejo Vítor também acenando.

– Vítor? – Pergunto me voltando para ela.

– Você o conhece? – Ela pergunta e eu sorrio. Não pensei que Mariana se interessasse por algum garoto, e senti uma coisa estranha ao pensar que era Vítor.

– Ele é filho do meu tio. – Digo dando uma mordida em minha saborosa torrada.

– Seu primo. – Ela diz sorrindo. Nunca tinha pensado nele como meu primo, reflito um pouco e concordo. – Que legal, mas nunca vi vocês se falando. – Balanço a cabeça e a olho.

– E tem como conversar com ele? – Digo e tomo um gole do meu suco natural de laranja, uma das melhores coisas dessa escola.

– Como assim? – Dou de ombros.

– Você o conhece, deve saber que ele é um garoto impossível. – Digo pacientemente, já que ela deveria ter entendido de uma vez.

– Impossível? O Vítor? – Confirmo como se isso fosse óbvio e ela estivesse lerdando. – Você fala do Vítor Ávila?

– Sim Mariana. – Digo me cansando. Ela franze o cenho.

– O Vítor é bem gentil, Melina. O conheço desde que entrei na Getúlio Vargas, ele foi o meu primeiro amigo, mesmo sendo mais velho, sempre me tratou de igual. – Não pude evitar meu cair de queixo. De que Vítor ela está falando? – Ele foi diferente com você? – Ela pergunta e olho para trás, corando ao encontrar o olhar dele.

– Sim. – Digo corada, morrendo de vergonha. Ela se silencia, e começa a comer, sem dizer algo mais.

Depois de terminado o café, seguimos cada uma para sua sala, continuei com uma pulga atrás da orelha, quanto ao que a Mari disse sobre o Vítor. Era totalmente o oposto do garoto que eu conheço. Chacoalho a cabeça para eliminar esses pensamentos e me concentro na aula. Fico boquiaberta quando recebo o calendário de provas na minha mesa. Mas já? No terceiro dia de aula? As provas serão daqui a duas semanas, e não teremos aulas nos dias. Bom saber, os alunos do ensino fundamental são obrigados a assistir quatro aulas antes, e os do ensino médio se safam. Ainda bem que estou no primeiro ano.

Depois de terminada a aula de biologia, e eu quase ter colocado o intestino para fora, de tanto vomitar, voltei para o meu quarto, onde fiz meus deveres, tomei um banho e dormi.

Acordei com meu estômago roncando, olhei no relógio, ainda eram 5:30. Fechei os olhos e tentei dormir, mas não consegui. Arrependi-me por não ter jantado na noite passada, mas depois de vomitar tanto, nada passava por essa garganta, seja entrando ou saindo. Esperei ansiosa para dar seis horas, e assim que olhei no relógio e eram 5:59, pulei da cama e corri para o banheiro. Tomei um banho rápido, hoje estava fazendo calor, mas minhas cicatrizes ainda estavam bem vivas, perceptíveis. Vesti a blusa comprida mais fina que tinha, recolhi minha mochila e desci.

Assim que cheguei segui para os alimentos, onde peguei torradas, queijo, geléia, suco e salada de frutas. Acho que não levei nem dois minutos para devorar tudo, olhei no relógio e ainda eram 6:54. O que houve, o tempo não está passando hoje? Fiquei sentada até o sinal tocar, assim que ele soou caminhei apressada para a sala. Como esperado, as aulas passaram lentamente. Depois almocei e segui para a biblioteca, decidida a estudar, já que não tinha nada para fazer.

A biblioteca é bem grande com longas prateleiras e mesas para estudar. De um lado tinha computadores para pesquisas e do outro a bibliotecária. Acenei timidamente e caminhei até a prateleira ‘F’ em busca de um bom livro de física, eu precisava tirar uma boa nota, para o professor esquecer do meu atraso. Recolhi seis livros, grossos e pesados, tive de segurar com as duas mãos para ter força o suficiente, e ainda assim estava difícil. Me arrependi, mas era tarde demais, agora eu tinha de encontrar uma mesa. Só restavam meus olhos atrás dos livros, andei apressada e cuidadosamente, rezando para não tropeçar em nada, gemi desapontada, já passara por três mesas ambas ocupadas, até que suspiro aliviada ao ouvir a voz de Mariana.

– Melina? Aonde vai com todos esse livros, sente-se aqui. – Segui sua voz e depositei os livros na mesa o mais rápido possível, meus braços doíam. Engulo seco ao ver Vítor sentado com ela. Ele acena e eu ignoro me virando para ela e tentando pegar os livros novamente.

– Obrigado Mari, mas você já tem companhia, e como vou estudar...

– Nós também estamos estudando. Eu estou estudando português, e Vítor, física. – Ela percorre o olhar sobre meus livros. – Como você. Vamos lá, sente aqui.

– Não acredito que consiga andar poucos passos a mais com esses livros. – Diz Vítor. Olho para ele séria, sem dizer nada.

– Tudo bem. – Digo concordando mentalmente com o que ele diz. Sento-me na cadeira do meio, já que eles estão sentados um de frente ao outro. Suspiro e começo a pesquisar o melhor livro.

Todos ficamos em silêncio e penso sentir o olhar de Vítor em mim, mas sempre que olho para ele está com a cara nos livros, ou anotando algo no caderno. Certo momento não me contive. Ele estava com o caderno bem próximo de mim, já que é canhoto, e pude ver uma equação totalmente errada. Odiei-me no mesmo instante, mas minha mania de correção falou mais alto.

– Não é assim, está tudo errado. – Disse e ele e Mari olham para mim, fazendo-me corar. Ele deu um sorrisinho e colocou o lápis sobre o meu caderno.

– Como se faz então, sabidinha? – Meu instinto competitivo se alertou, e peguei o lápis e tomei o seu caderno. Apaguei toda a conta que ele tinha feito a não ser o resultado e refiz, desta vez do modo certo, coloquei o caderno em sua frente. Com o dedo indicador apontei o resultado da minha conta, o resultado da dele e o resultado mostrado no livro. Mariana sorriu e ele olhou para mim surpreso.

– Temos uma física por aqui? – Ele perguntou e soltei um sorrisinho. – Isso é matéria de segundo ano Melina! – Gosto do jeito como ele diz meu nome, mas ele quase não o usa.

– Eu sei. – Digo e volto para minhas próprias equações, depois de alguns minutos ele solta o lápis novamente e ensaia um pouco antes de dizer:

– Preciso da sua ajuda! – Ergo as sobrancelhas, meio incrédula. Ele pedindo ajuda? Para mim? – É que não sei praticamente nada de física, sempre fico de recuperação, e o professor daqui é muito chato...

– Rígido. – Corrijo. – Eu concordo. – Anoto mais alguns números.

– E então? – Ele pergunta, ergo o olhar novamente.

– Se você colaborar, posso ajudá-lo. – Digo lembrando-me do que Janaína sempre dizia, ‘ajude-o’. Ele me olha por bastante tempo, deixando-me corada. Abaixo a cabeça para o meu caderno.

– Fechado. – Ele diz. Dou um leve sorriso que ele retribui. Mariana ergue o olhar e volto ao meu dever mais uma vez.

– A física é questão de atenção Vítor, portanto se prestar atenção nas fórmulas, e decorá-las, o que é essencial, você nunca mais terá problemas. – Ele acena positivamente e começo a explicar cálculo por cálculo.

Mariana acaba saindo antes de nós, pois a matéria é realmente longa, e enquanto parece muito fácil para mim, é bem difícil para ele. Depois de muito, ele entendeu um pouco da matéria, mas ainda restava bastante. Olhei no relógio e me assustei ao ver que já era 20:15. Ele disse que poderia cuidar do resto, mas eu sabia que não, então prometi ajudá-lo amanhã, e ele aceitou prontamente.

– Você não vai jantar? – Pergunto organizando os livros que peguei para devolvê-los a sua devida prateleira.

– Não, vou estudar mais. – Aceno positivamente e faço um grande esforço para recolher os livros novamente. Ele levanta rapidamente e pega quatro livros.

– Não precisa... – Digo tentando pegá-los novamente, mas ele se esquiva.

– Ah, não começa Sabidinha, é o único modo de retribuir sua ajuda. – Ele diz olhando em meus olhos. Com aqueles olhos tão verdes quanto a água do mar.

– Certo. – Falo recompondo-me e caminhando para a prateleira, coloco os que estão em meus braços e começo a recolher os que estão no dele, um por um.

– Engraçado uma garota tão certinha como você quebrar uma das principais regras da escola. – Olho para ele sem entender o que ele quer dizer com isso. Não quebrei regra alguma.

– Do que você está falando? – Pergunto guardando o quarto livro.

– É proibido namorar. Se o diretor te pega com seu namoradinho, não vai ser nada bom, principalmente para você, que é certinha. – Fico paralisada com o quinto livro na mão, encarando-o enquanto ele tem o rosto impassível. Volto ao normal depois de alguns segundos e guardo o livro, tomo o último bruscamente de suas mãos e coloco na prateleira.

– Caso esteja falando do Bernardo, repito mais uma vez: Nós. Não. Somos. Namorados! – Digo fazendo ‘joia’ com a mão. Ele continua sério, dá uma cocadinha na cabeça, e viro-me, a caminho do refeitório.

Coloco bastante macarronada no meu prato, e um suco natural de laranja, sento-me na primeira mesa que vejo e começo a comer, nervosa. Porque ele insiste em dizer que Bernardo e eu somos namorados? Será que parecemos namorados? O Bernardo definitivamente tem que parar de ficar me abraçando, neste ponto o Vítor tem razão, se o diretor ver isso, e imaginar o mesmo que ele... Vai me causar problemas. Termino de jantar e vou para o quarto. Mariana está no computador, mandando e-mails para a família. Mikaella já dorme, e Milena está lixando as unhas. Substituo os livros das aulas de hoje pelas de amanhã, e guardo a mochila. Escolho uma blusa de manga e a calça de moletom de sempre. Depois de tomar banho e me vestir, subo as beiradas da blusa para espiar os cortes. Estão se fechando, e logo estarão cicatrizados. Suspiro e saio do banheiro, deitando-me e dormindo logo depois.

...

Assim que entro na sala Callie sorri presunçosamente para mim, ignoro-a e sigo para o meu lugar. A aula de biologia foi mais tranqüila hoje, já que só tínhamos de coletar um pouco de saliva e examiná-las no microscópio. A aula de física me fez lembrar de Vítor, e do quanto ele me deixou nervosa ontem novamente, eu não deveria ajudá-lo hoje, mas meu lado caridoso falou mais alto, e decidi que de tarde o ajudaria. As últimas aulas voaram, e assim que terminadas segui para o refeitório, onde fiquei curiosa ao ver que praticamente todos liam um pequeno papel, estranhei de início, mas acabei esquecendo. As duas e cinqüenta e cinco, resolvo ir para a biblioteca, apanho minha mochila. Desço a escada calmamente, não vejo ninguém pelo corredor, ninguém no refeitório. Eu devia seguir meu caminho, mas minha curiosidade me trai mais uma vez. Porque não posso me contentar que todos estão em seus quartos ou aulas? Vou até a área de recreação e me espanto ao ver uma foto extremamente grande minha com minha família. Sinto uma pontada no coração, e meu nariz arde, me controlo para não começar a chorar. Toda a escola deve estar ali, pois há um grande número de pessoas.

Callie sorri para mim, de cima de uma mesa de ‘camping’ que tem ali. Ela bate palmas com o olhar preso em mim, e todos se viram em sincronia para mim. Olho para todos e acabo avistando Belinda e Bernardo do outro lado, ambos com uma expressão desentendida, mas curiosa. Cruzo os braços e olho para Callie novamente. Ela se levanta e chama a atenção de todos para si.

– Tenho uma surpresa para todos vocês. Quero apresentá-los formalmente a Melina Ávila Meester. – Ela sorri abertamente e aponta para mim. Novamente todos olham para mim, e sinto-me incomodada, não virá nada de bom dela. Os olhares voltam para ela. – Esse sobrenome não os lembra de nada? Bom, então terei de relembrá-los. Ela é filha de Nigel Campos Meester, o homem mais rico de Carmo, ou devo dizer, era o homem mais rico. – Engulo seco, eu devia sair dali, mas tenho que esperar para saber o que ela dirá. – No ano de 2011, em meados de setembro, ele perdeu toda sua riqueza, o ‘como’ ou o ‘porque’ não sei explicar, mas perdeu tudo, inclusive a empresa que todos devem conhecer, que leva o sobrenome da família, ou levava. – Ela sorri novamente. – Certamente por futilidade, afinal como se perde todo um patrimônio daqueles? Sua filha mais velha, Marina Ávila Meester, teve de parar os estudos em Londres, e trabalhar como monitora, aqui mesmo. A caçula teve de usar a pouca inteligência para conseguir uma bolsa, que acredito recebeu por pena do dono da escola. – Alguns se viram para mim, mas os outros continuam vidrados em Callie e seu show.

– Devo-lhes avisar, que Melina é uma garota invisível e inútil. Não serve para nada. Não sei como, seus pais conseguiram alguma esmola para mandá-la ao famoso acampamento ‘Heels’. Lá, ela teve o prazer de atrapalhar a diversão de todos com uma notícia: A família feliz e inútil – Ela aponta para a foto ao seu lado – se destruiu! – De repente a foto é substituída por uma em proporção maior de corpos jogados em uma BR, corpos ensangüentados e sem vida, um carro completamente amassado. Pude ver o cabelo mel de Marina vermelho de sangue, o rosto da mamãe também. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, e escuto vários ‘oh’ da ‘platéia’. Eles se viram para mim. Eu olho para Belinda e Bernardo, mas ele como os outros têm a mão tapando a boca, e estão paralisados.

Eu deveria ir até lá na frente e derrubar Callie daquela mesa com um murro. Porém a unia coisa que consigo fazer é me virar e correr. Corro o mais rápido possível sem perceber aonde vou, acabo entrando na pequena mata que rodeia a escola, tropeço em algo e caio ajoelhada. Estou longe o suficiente. Abro a mochila desesperada procurando por meu compasso. Encontro-o e começo a fazer cortes nos pulsos, quando sou surpreendida.

– Melina!




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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Espero que sim. Digam tudo o que acharam, isso é muito importante, inclusive as críticas. Beijos ;*