Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Oieeeeeeeee, estava esperando mais reviews para postar, mas não aguentei esperar, tomem mais um capítulo. Espero que gostem.



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15  Pode até parecer clichê, mas, curta cada instante ao lado de quem você ama. Ignore as desavenças, cure-as com beijos, abraço, esqueça as diferenças, isso não faz bem a ninguém. E pode acabar causando arrependimento.

- Droga, foi culpa sua Belinda!

 - Minha? Nem vem Bernardo, eu não fiz nada, eu deixei ela sã e salva!

 - Sã e salva? Se você não tivesse arrastado ela até aquele lugar, poderíamos tê-la achado bem mais rápido. E agora? Ninguém sabe porque ela desmaiou e ela não acorda, está assim há duas horas!

 - Pára! Pára de me culpar, você acha que eu queria que acontecesse algo de ruim com ela?

 - Chega garotos, desse jeito ela vai acordar, e vai acordar mal. Onde já se viu, parem de fazer barulho!

 Não queria ter que abrir os olhos, mas senti preocupação no tom de voz do Bernardo, e até mesmo na de Belinda, pisquei muitas vezes até abrir de vez os olhos. Bernardo estava com a testa na parede enquanto Belinda estava sentada com o rosto nas mãos, ambos com o corpo tenso.

 - Melina! – Emily disse agitada, e os dois se viraram para mim, pulando para o lado da minha cama, que reconheço após toda uma tarde de sono aqui. Bernardo segura minha mão e me olha ainda preocupado.

 - Você está bem? – Olho para seus olhos e minha vontade é de saltar de alegria. Tudo está de volta, tudo! Consigo me lembrar dele, e de como nos conhecemos, de como ele sempre foi bom para mim, desde o primeiro dia, e minha vontade de abraçá-lo aumenta a cada segundo.

 - Bernardo! – Tento transmitir tudo o que estou sentindo em um olhar, já que não tenho coragem o suficiente para abraçá-lo. Ele me conforta com um olhar calmo e então me viro para Belinda que tem os olhos marejados. – Ah Belinda, desculpa! – Ela dá um sorriso que mostra quase todos os seus belos dentes.

 - Eu que peço desculpas Melina, aaaaaai. – Ela se abaixa e me abraça, tão forte que fico sem ar. – Pensei que não fosse acordar, lembra que prometeu não me assustar mais? – Faço que sim e mordo o lábio.

 - Desculpa.

 - Ah meu Deus, devia se chamar ‘Dona Desculpa’, fala isso a cada segundo! – Ela faz que não com a cabeça e dá um peteleco no ar.

 - Com licença, Belinda, deixe-me falar com ela. – Emily se aproxima. – O que aconteceu Melina? – Fecho os olhos e suspiro.

 - Não sei Emily. Minha cabeça começou a doer, doer muito! E então tudo começou a girar e... – Dei de ombros.

 - Se não estiver bem, ligo para sua casa e damos um jeito...

 - Não! Eu não quero voltar, eu estou ótima, foi só uma tontura! – Balaço a cabeça negativamente.

 - Ok, certo, mas ainda assim vou comunicar seus pais, pois...

 - Posso ser eu a portadora da notícia? – A olho suplicante diante de seu olhar reprovador. – Por favor?

 - Tudo bem, mas você vai ligar assim que se sentir bem, certo? Procure-me. – Concordo e ela se vira para Bernardo que ainda me encara. – E você mocinho, já viu que ela está bem, portanto... – Ela indica a porta e Bernardo torce os lábios, fazendo-me sorrir. – Vamos, vamos. – Ela disse batendo palmas e indicando a saída, ele me deu uma última olhada seguida por um sorriso, que retribuí com vontade.

 Sobraram Belinda e eu, e segundos depois o dormitório começou a ficar movimentado, está chegando a hora do jantar, o que significa banho e troca de roupas. Callie passou por nós e se virou, jogando o cabelo assim que a olhamos. Belinda se virou para mim, deitada em sua cama.

 - Eu não deveria ter falado com você daquele jeito, mas é que fiquei muito furiosa, em como você acreditou rápido nas besteiras que ela disse. – Ela suspirou.

 - É, eu concordo. É que sempre sou fraca em relação à Callie. – ‘Em relação a todos’ seria o certo, mas preferi não falar.

 - Você não deveria Melina, o que ela tem que te intimida? – Dei de ombros, mas tinha a resposta na ponta da língua. Pessoas que a admiram, beleza, autoconfiança, entre muitas coisas. – Olha, ela é: mal educada, irritante, metida, convencida, puft! Ela só tem defeitos, cruzes. – Ela enumerou os defeitos nos dedos. - Assim que essas garotas saírem, nos trocamos e vamos para o refeitório, ou você ainda não se sente bem?

 - Estou ótima. Sério. – Acenei com a cabeça, para dar ênfase. – Belinda, o que aconteceu depois que desmaiei? – Ela apoiou a cabeça na mão, e o cotovelo na cama.

 - Bom, para falar a verdade, demoraram a sentir sua ausência. Eu estava furiosa, portanto não queria nem saber de você. Quem notou foi Bernardo, que te procurou e depois de não encontrar veio falar comigo, eu disse o último lugar que te vi, e ele correu para lá, aparecendo depois com você no colo, desacordada. Então todos iam voltar, só que eu disse para que um dos instrutores ficasse, para os outros poderem aproveitar, e então voltamos só Emily, Bernardo, você e eu. – Concordei.

 - Fico feliz por ter dado a idéia de voltarmos sós. As pessoas iam me odiar se eu estragasse o passeio. – Ela sorriu.

 - Acha que não pensei nisso? – Ela se sentou, pegou uma escova vermelha e começou a pentear o cabelo. – Que garotas enroladas. – Ela olhava para o banheiro.

 - Mulheres Belinda! – Disse ironizando e ela sorriu.

 - Não diga isso, senão vou pensar que sou homem. – Ela fez beicinho. – Não, eu não sou. – Ela balançou a cabeça negativamente e gargalhou. – Imagina se eu fosse um homem... – Ela se levantou e começou a andar toda desajeitada; arrancando várias gargalhadas, não só minhas, mas das tais gêmeas também, que penteavam o cabelo.

 Observei as duas. Eram realmente idênticas. As duas têm a pele clara, olhos azuis escuro, e cabelo curto castanho. Apesar de serem iguais, os estilos de roupa é bem diferente, uma delas está toda de preto, enquanto a outra está toda de azul.

 - Hei, vocês duas, não as conheço. – Disse Belinda, sentando-se novamente. – Sou Belinda, e vocês?

 - Eu sou Alice... – Disse a de azul.

 -...E eu Giselle. – Completou a de preto.

 - Acho que são as primeiras gêmeas que conheço que não tem o nome parecido. – Belinda sorri, acompanhada pelas gêmeas.

 - É verdade, nossa mãe foi um pouco mais criativa que as outras mães. – Disse Alice. O olhar de Giselle se direcionou a mim.

 - E você, é...? – Corei.

 - Melina. – Sorri o mais simpática que pude.

 - Que nome lindo! – Elas disseram em coro. Sorri sem graça, e agradeci. Callie passou afundando os pés no chão querendo chamar atenção, mas só ganhando um olhar enfurecido de Alice.

 - Não gosto dessa garota, você precisava ter visto ela lá na cachoeira, aprontou o maior escândalo, por que viu um ‘louva-Deus’ no tênis dela. – Ela revirou os olhos. – Ridícula.

 - Ah, você é das minhas Alice. Escuta, vocês sempre usam roupas de certa cor...?

 - Ah, sim. – Respondeu Giselle prontamente sorrindo. – Estou sempre de preto, às vezes com outras cores, mas sempre tem algo preto, e Alice sempre tem algo de azul. São nossas cores preferidas, e usamos sempre justamente para não sermos confundidas. – Ela sorriu mais ainda.

 - Vocês já...? – Belinda olhou para as duas e girou os dedos em sintonia.

 - Trocamos de lugar? – Perguntou Alice, e Belinda confirmou. – Não, já tivemos vontade, mas nunca o fizemos.

 - Porque não se sentam conosco no jantar? – Perguntei depois de uma batalha interna, por medo de elas me acharem uma esquisita.

 - Sério? – Perguntou Giselle.

 - Sim. – Confirmei, elas olharam para Belinda que também confirmou, me dando mais coragem. – Vai ser legal!

 - Adoraríamos! – As duas responderam.

 - Bom, preciso tomar banho. – Disse.

 - Eu também. – Belinda disse se levantando. – Vocês nos esperam aqui? – Elas confirmaram, e nós duas seguimos para o banheiro.

  O banheiro é bem grande, com vários compartimentos, podendo banhar cinco pessoas de uma vez. Entrei em um e Belinda em outro. Lavei bem meu cabelo e me controlei para não gemer com o ardor de meus cortes. Levei três minutos e saí, enxuguei meu corpo e vesti logo a blusa, para não correr o risco de Belinda descobrir, já que pelo que acredito, Bernardo não contou nada. Visto uma blusa de manga comprida azul escura e uma calça jeans, calçando uma havaiana preta. Penteio meu cabelo e saio do banheiro esperando Belinda com Alice e Giselle, que demonstraram ser muito educadas e divertidas.

 Aqui os dias são quentes e as noites frias, o que causa conforto. Belinda usa uma calça jeans clara, blusa regata vermelha e uma jaqueta jeans. Seguimos para o refeitório que já está cheio, e praticamente todos já estão servidos. Atendendo aos urros de meu estômago preparo meu prato em um instante e caminho para a única mesa ainda vazia, no canto oposto ao que me sentei ontem. Fico pensando o quanto já aconteceu em menos de 24 horas, definitivamente essa acampamento vai ser inesquecível. As meninas se sentam, Belinda de frente para mim, Giselle ao meu lado e Alice ao dela.

 - Escuta, Belinda, você é irmã do Bernardo, não? – Perguntou Alice depois de alguns minutos, indicando a terceira mesa depois da nossa.

 - Ãn? Ah! Sou sim. – Ela respondeu depois de olhar o indicado e continuou a mastigar despreocupada, enquanto as gêmeas soltaram risadinhas. – O que? – Perguntou Belinda tomando um gole de coca-cola, e erguendo a sobrancelha para elas.

 - É que a Giselle tem uma quedinha por ele. – Disse Alice, seguida por risadinhas e um tabefe no braço da irmã.

 - Você é a fim do Bernardo? – Ela ergueu mais ainda a sobrancelha e olhou pra mim, depois de volta a elas.

 - Bom... É. – Ela deu de ombros, ficando rosada. Meu estômago girava em alta velocidade com tudo isso; e eu tentava acalmar comendo cada vez mais depressa.

 - Espera aí! – Ela colocou a latinha na mesa e entrelaçou os dedos de uma mão com a outra. – Desde quando conhece ele? – Me virei para ela, sedenta por detalhes. Ela repousou as mãos sobre as pernas.

 - Há dois meses, mais ou menos. – Não pude evitar ficar surpresa, assim como Belinda, para minha sorte, que continuou a questionar.

 - Não acredito, você estuda no Madre Tereza? – Giselle confirmou com um aceno.

 - Sim, mas estudo de tarde, infelizmente. – Ela suspirou. – Alice estuda de manhã, já deve ter visto ela, mas como não nos viu juntas, não ligou uma coisa à outra. – Desta vez Belinda acenou.

 - E então conheceu o Bernardo através da Alice? – Minha coca desceu rasgando pela garganta, depois disse empurrei o prato e a latinha, desistindo de comer e assistir atentamente ao questionário de Belinda.

 - Não exatamente. O conheci lá na pracinha, sempre ia lá ver ele andar de skate – Ela suspirou, dessa vez apoiando o cotovelo na mesa e olhando para ele com olhos sonhadores, segui seu olhar e vi que é impossível não olhá-lo assim.

 - Ah, certo. – Belinda limpou a boca com o guardanapo e jogou seu cabelo para o lado elegantemente. – E já falou com ele? – Giselle saiu de transe e balançou a cabeça rapidamente.

 - Não, claro que não. – Belinda soltou um sorrisinho.

 - Acha que ele tem bola de cristal meu bem? Sinto lhe informar, mas apesar de parecer mágico, ele não é. Então, se quiser ter algo com ele vai ter que correr atrás. – Ela cutucou algumas cutículas.

 - Eu sei, mas é que... Não sei o que fazer, não tenho coragem de chegar nele e... Falar. – Ela corou novamente, e eu a compreendi.

 - Então perca as esperanças meu amorzinho. – Disse Belinda olhando-a nos olhos.

  - Belinda! – Disse Alice, reprovando-a. – Será que nunca gostou de nenhum garoto? – Belinda fez questão de jogar o cabelo novamente antes de sorrir e dizer:

 - Não. – Calmamente.

 - Acho que já vou me deitar, depois nos vemos garotas. – Disse Giselle, e me senti mal, mas fiquei quieta, esperando que Belinda fizesse algo, mas ele não fez.

 - Eu também já vou ‘Gi’. – Disse Alice depois de enviar um olhar raivoso a Belinda, que deu um ‘tchauzinho’ acompanhado por beijinhos.

 - Boa noite garotas. – Foi a única coisa que consegui dizer. Olhei até vê-las entrarem no dormitório e me virei para Belinda. – Credo Belinda, porque falou assim com ela?

 - Porque o Bernardo não é pro bico dela. – Ela deu de ombros. – Deve ser por isso que elas forçaram amizade, ta de olho no meu irmão, pff. – Ela balançou a cabeça.

 - Você falou com elas! – Disse apontando-a, enquanto ela mantinha a calma total.

 - Vai por mim, mesmo que ela deixasse de ser infantil e falasse com ele, levaria um fora. Isso é fato, é melhor ela ficar mais esperta antes, não acha? – Neguei.

 - Não, como pode ter tanta certeza que ele vai dispensá-la? – Minha garganta quase fecha. Ela se aproxima mais.

 - Eu tenho. – Ela sorri e acena para que eu a acompanhe. – Não vai querer sobremesa? Hoje tem mousse! – A segui e coloquei um pouco em uma tigela, enquanto reparava em Bernardo, sorrindo tranqüilamente com os amigos em sua mesa. Ele se virou e acenou para mim, fazendo-me ir do branco ao vermelho em segundos, acenei de volta para não parecer idiota e me voltei para Belinda.

 - Sabe o que faremos amanhã? – Pergunto apreciando o azedinho do maracujá que me dá um arrepio atrás da orelha.

 - Não, aqui é tudo na base do mistério! Uuuuuu. – Ela dramatizou, arrancando-me boas risadas.

 Voltamos para o quarto, onde algumas garotas já dormiam, outras conversavam, outras ainda nem voltaram; Troquei minha roupa por um moletom vermelho, e enrolei-me nas cobertas, procurando me aquecer. Durmo minutos depois.

 Abro os olhos com preguiça, olho em volta e vejo que todas ainda dormem. Paro os olhos em Callie e sorrio por ela usar ‘tapa-olho’ rosa shock. Penso em me levantar, mas talvez seja melhor ficar deitada. Depois de muito tempo deitada, e sem nenhum sinal de que alguém vai acordar, olho no relógio e vejo que são sete horas, resolvo levantar. Abro um pedacinho da cortina para ver como está o clima, e opto por short e blusa de mangas, amarela. Faço um rabo-de-cavalo, mas não gosto do resultado; estou cansada de sempre usar ele solto ou em um rabo. Depois de muitas tentativas de fazer uma trança desisto e volto para o quarto para calçar meu all star. Alice já está acordada, em frente ao seu armário, vira o rosto quando percebe minha presença.

 - Bom dia Mel! Ah, quer dizer, posso te chamar assim?

 - Bom dia, claro que sim. – Olho para seu cabelo curto e me passa uma idéia pela cabeça, não tenho muitas esperanças, mas não custa arriscar. – Alice, você sabe fazer trança?

 - Raiz? – Dou de ombros. – Meu Deus, seu cabelo vai ficar um tudo de trança raiz, ele é muito grande, vai ficar perfeito. Quer que eu faça? – Aceno positivamente e ela abandona o armário indicando para que eu me sente na cama dela.

 Ela puxa de um lado, de outro, mas suas mãos são delicadas, não sinto um puxão sequer. Alguns minutos depois, ela me pede a presilha, amarra a trança e exclama:

 - Voilá! – Levanto e sigo em direção ao banheiro na tentativa de ver, mas não consigo, como já deveria ter imaginado.

 - Ficou lindo Melina! – Olho para trás e vejo Giselle, com a cara toda amassada. – Uma verdadeira ora de arte maninha. – Alice agradece e volta para seu armário.

 - Não sei que roupa usar... Alguém sabe o que faremos hoje? – Faço que não, e Giselle também. – Melhor não usar vestido né? – Ele meche, meche, meche e acaba pegando um short jeans e uma regata azul.

 - Garotas, eu vou andando, depois nos vemos, certo? – Elas acenam positivamente. – Ah, obrigado Alice, te devo uma.

 - Que nada. – Ela dá um peteleco no ar. Sorrio e vou em direção ao refeitório.

 Caminho lentamente tentando absorver cada detalhe deste lugar. Aqui é tudo verde, tranqüilo e acolhedor, há som de pássaros a toda hora, quando não é um beija-flor pousando por aqui. Fico entretida com ele, quando sou surpreendida por mãos que tapam meus olhos.

 - Ah, como vou adivinhar? Isso é injusto... – Apalpo as mãos tentando descobrir e meu coração gela quando percebo não serem femininas. Minha respiração acelera. Só pode ser... – Bernardo? – Mordo o lábio. Se não for ele dirão que eu estava pensando nele e, vai ser uma tragédia.

 - É, você é boa com isso! – Ele destapa e me vira, segurando em meus ombros. – Bom dia. – Ele sorri e meu chão desaparece. “Acorda Melina, além de ser irmão de sua amiga, é seu amigo e tem uma ‘quase amiga’ sua gostando dele. Coloque-se em seu lugar”.

 - Bom dia, tudo bem? – Digo sorrindo.

 - Tudo ótimo! Já tomou café? – Balanço a cabeça negativamente e ele passa o braço a minha volta fazendo com que eu caminhe com ele. – Então você vai tomar comigo. – Quero desfazer este quase abraço, mas não consigo, então rezo para que Giselle não apareça.

 Ele me leva até a mesa de comidas e me solta, para que eu possa me servir. Escolho uma salada de frutas e o espero, sem saber em que mesa ele quer se sentar. Sentamos em uma bem distante das que costumo me sentar, fica em uma parte que consigo ver todo o jardim e uma parte da piscina.

 - É lindo aqui né? – Saio do meu devaneio e confirmo, segundos depois da ficha cair. – Por isso escolhi essa mesa, sabia que ia gostar. – Ergo as sobrancelhas meio que em desafio. – Sei lá. – Ele dá de ombros. – Você parece gostar de flores.

 - Acertou. – Digo e passo os olhos pelo refeitório.

 - Sabe teve um dia em que, bem, você não se lembra, mas, eu disse que seu cabelo fica lindo solto. – Não consigo evitar sorrir. – E ainda o prefiro solto, mas ficou linda essa trança, ficou meio ‘Lara Croft’. – Desta vez ambos sorrimos com a comparação.

 - Não, não. Coitada da Angelina, não faça uma comparação dessa. – Balanço a cabeça.

 - Coitada? Se ela souber que estou comparando-a com você vai morrer de inveja. – Mesmo achando graça, coro. Resolvo mudar de assunto.

 - Sabe, tem algo que não contei sobre o meu desmaio. – Ele fica com o corpo tenso e vejo preocupação em seus olhos. – Não é nada de grave, pelo contrário, eu lembrei. – Digo e abaixo os olhos não agüentando mais aquele olhar.

 - Sobre nós...? Quer dizer, sobre mim? – Ele disse um pouco exaltado, deixando-me constrangida.

 - É... – Me encolho, desejando não ter tocado nesse assunto.

 - Ah Mel, que bom! – Ele relaxa e se recosta novamente na cadeira, tomando um gole de seu suco. – Fico tão feliz com isso. – Arrisco olhá-lo novamente e me arrependo. Tenho que tirar esse garoto da minha cabeça.

 - Belinda está demorando, não? – Ignoro o erguer de suas sobrancelhas, e mastigo os últimos pedaços de fruta em minha taça.

 - Ela não costuma acordar cedo, principalmente nas férias. – Ele dá de ombros.

 - Melina? – Mordo o lábio antes de me virar e ver os olhos arregalados de Giselle. Ela usa uma bermuda jeans com bata preta florida.

 - Oi, senta aqui Giselle. – Dou leve palmada na cadeira ao lado da minha e vejo de relance que Bernardo alterna o olhar entre nós duas.

 - Não sei Melina... – Ergo as sobrancelhas e inclino a cabeça levemente para Bernardo. Ela sorri e se senta.

 - Essa é a Giselle, Bernardo. – Ele estica a mão e aperta as mãos trêmulas dela, que reprovo com um olhar.

 - Como vai Giselle? – Ele pergunta olhando-a atentamente, enquanto ela cora mais e mais.

 - Vou muito bem, obrigada. E você? – Dessa vez ela o olha atentamente, mas diferente dele, ela tem desejo no olhar.

 - Estou ótimo. – Ele olha para mim e sorri abertamente.

 Ela acaba ficando mais calma e confortável, e acabam entrando em um assunto de carros, que ambos cobiçam e eu fico boiando, e agradeço aos céus quando vejo uma esbelta loira se aproximando. De óculos, ela se senta de frente para mim e o abaixa um pouco olhando para Giselle, depois para mim, depois para Bernardo.

 - Bom dia Belinda, dormiu bem? – Pergunta Giselle com a maior educação possível, e um grande sorriso, que desaparece assim que Belinda responde.

 - O dia estava bom, mas, sei lá, cheguei aqui o clima pesou. – Ela se recosta na cadeira e eu fico de olhos arregalados, assim como Bernardo que se vira para ela nesse instante.

 - Só porque acordou de mau humor não precisa descontar nas pessoas, maninha. – Ela coloca o óculo na cabeça como uma tiara e se levanta.

 - Não acordei de mau humor maninho. – Ela caminha para a mesa de alimentos e Bernardo se vira com um rosto desentendido para mim, que dou de ombros e sigo Belinda.

 Ela coloca pão integral e queijo ‘minas’ em seu prato, na bandeja, quando me aproximo e questiono:

 - O que houve Belinda? – Um pedaço de peito de peru em cima do queijo, outro pão integral por cima.

 - Nada, porque? – Pigarreio enquanto ela pega uma maçã, suco de goiaba e acena para que eu a siga, até uma mesa bem distante da que estávamos.

 - E então? – Sento de frente para ela.

 - Aquela garota aconteceu, Melina! – Coloco uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

 - A Giselle?

 - Não a Madonna! – Ela revira os olhos. – E desde quando ela conversa com o Bernardo? Ela criou coragem depois de ontem, quis mostrar as garras? – Balanço a cabeça negativamente.

 - Porque você implicou com ela? – Ela dá um gole em seu suco.

 - Porque ela pregou na gente? – Ela diz ironicamente. Franzo o cenho e ela suspira. – Foi impressão minha ou ela e o Bernardo estavam conversando enquanto você mexia nas suas unhas? – Fico corada e desvio o olhar. – Isso que eu pensei. Olha Melina, você vai me explicar tudinho, agora.

 - ‘Tudinho’ o que? – Recosto-me na cadeira e cruzo os braços.

 - Primeiro: Quem a levou até lá? Como se desenvolveu aquela imagem de vocês três na mesa? Segundo: Porque você não estava no assunto? Quero tudo nos mínimos detalhes. – Ela morde seu sanduíche e eu suspiro.

 - Bom, certo. Primeiro: Eu estava lá com o Bernardo, estávamos conversando e ela chegou, a convidei para se sentar, eles começaram um assunto sobre carros, e eu não entendo nada disto, portanto... – Ela tem olhos bem abertos e sobrancelhas arqueadas.

 - Eu sabia! – Ela limpa a boca com o guardanapo, dá um gole em seu suco e recosta-se. – Aquela garota é enxerida! – Minha boca faz um ‘o’ enquanto ela continua. – Sério Melina, como você a convida para se sentar? Ainda mais quando vocês dois já estavam conversando, pff. Não te agüento. – Abaixo a cabeça com suas palavras. – Foi uma metáfora! A última parte, quero dizer. – Concordo com um balançar de cabeça.

 - Não tem nada demais Melina, deixa isso pra lá. – Apoio o queixo com a mão e ela descorda.

 - Deixa pra lá nada. Quero aquela menina bem longe do Bernardo, pra já. – Ela dá alguns toques no relógio. Reviro os olhos. – Eu estou falando sério, vem comigo. – Ela levanta recolhendo sua maçã e indicando para que eu novamente a siga.

 Ela me guia até a mesa onde Bernardo e Giselle ainda conversam. Ambos sorridentes.  Fico incomodada com o jeito que se olham e com o desapontamento quando nos vêem chegando.

 - Ora ora, a senhorita estresse voltou! – Ironiza Bernardo, que Belinda definitivamente ignora e senta ao lado de Giselle, para minha surpresa.

 - Sente-se Melina! – Ordena Belinda e ainda estranhando eu me sento, ao lado de Bernardo. – Então, sobre o que falavam? – Ela olha para Bernardo e Giselle, que olha atentamente para mim.

 - Sobre a escola, sabia que Giselle estuda na mesma escola que nós dois? – Diz Bernardo e Belinda faz cara de desdém.

 - Sério que falavam sobre isso? – Ela coloca o indicador na bochecha.

 - Sério! – Diz Bernardo cruzando os braços. – O que você ta querendo Belinda? – Ela dá de ombros, com um olhar sereno.

 - Estou querendo conversar com vocês!

 - Então porque está tão irônica e atrevida? – Ele ergue a sobrancelha esquerda.

 - Porque estou a fim! – Ela fica com as bochechas vermelhas, sinal de que está ficando mais nervosa.

 - Ah, é, agora está bem claro! – Giselle ainda me olha atentamente, fazendo-me corar sempre que percebo seus olhares.

 - E você Giselle? Perdeu algo na cara da Melina? – Ela olha assustada para Belinda, assim como Bernardo e eu.

 - Eu não... – Ela diz e abaixa a cabeça.

 - Bom, porque desde que chegamos nessa mesa você está encarando ela? Inveja é? Estou certa que sim...

 - Chega Belinda! – Diz Bernardo baixo, mas autoritariamente.

 - Eu vou procurar a Alice...

 - Demorou! – Exclama Belinda para Giselle que sai da mesa correndo com olhos marejados, e eu novamente não sei o que fazer.

 - Droga Belinda! – Bernardo levanta e corre atrás de Giselle, e eu fico olhando toda a cena como se alguém precisasse me beliscar para eu acreditar.

 - Argh! Garoto tapado! – Ela joga o cabelo para cima e passa a mão na testa, meio cansada.

 - O que te deu Belinda? – Pergunto com a voz meio embargada.

 - Ah! Ninguém me entende. – Ela diz e sai na direção oposta de Bernardo e Giselle.

 Continuo ali sentada por bastante tempo, sem saber o que fazer ou como reagir, pensando em tudo que acabou de acontecer. Em como estava tudo dando certo entre Bernardo e Giselle, em como ele estava mais sorridente do que nunca, em como meu coração apertou assim que vi a troca de olhares deles, e em como ele correu atrás dela quando ela saiu preste a chorar... Em como ele deve estar acalmando-a neste exato momento, e em quem foi à ajuda de tudo isso. Eu. Melina Meester. A tapada do momento. Dizendo melhor, de todos os momentos.

 Talvez tudo dê certo para eles, 90% de chances de isto acontecer. A Belinda se acerta com ela, e eles irão namorar e serem felizes. Eu? Bem, poderei ser uma amiga do casal, afinal isso que sou do Bernardo, uma amiga! Suspiro e coloco o rosto entre as mãos. Queria tantas respostas. Queria que tudo não fosse tão ruim, desastroso ou confuso para mim. Queria que uma vez as coisas dessem certas, e queria não sentir tantas dores. Pena que querer não é poder. Principalmente para mim.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Gostaria de perguntar se vocês imaginam meus personagens, como alguns atores, acham parecidos pela descrição e pá. Obrigado, beeeeijos ;*