Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, estou sem net. Postando graças a ajuda da Larissa Emídio.



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Novamente tive um sonho muito estranho. Ouvi a mesma voz da última vez, a luz, a escuridão, o mesmo sonho, porém agora mais realista, mais apavorante, como se tudo fosse real. Acordei suada, com o cabelo colado no rosto, e a respiração falha. Agarrei-me ao cobertor e fiquei olhando para a neve que flutuava lá fora. Fiz todos os esforços para não dormir, para não correr o risco de ter aquele sonho, porém não resisti muito tempo e caí no sono de novo. Não tive mais sonhos durante o resto da noite, e acordei animada para o dia que está por vir. Levanto e vou até o banheiro tomar um banho e tirar o suor seco de noite que se passou. Saio do Box e fico me olhando no espelho.

 Meu cabelo preto, em destaque como sempre, está sem corte, longo até a cintura. As olheiras parecem ter ido passear, pois hoje não estão rodeando meus olhos, que parecem estar mais cinzas que o comum. Suspiro. Porque meu olho não fica simplesmente azul como o da Marina? Papai tem olhos cor de mel, mamãe tem os olhos tão azuis, os quais Marina herdou, e os meus são... Cinzas. Parecem uns dias tristes, sem sol, chuva ou neve, somente apagado. Caminho até o quarto e visto minha roupa, uma calça jeans, botas próprias para usar na neve, blusa de manga, suéter, cachecol, trench coach e touca.

 Mamãe já está na cozinha acompanhada por papai, que está sentado na mesa com uma caneca com que, pelo que poso ver, está muito bom.

 - Bom dia! – Ele diz assim que me vê, e mamãe ergue os olhos de suas torradas com nutella sorrindo para mim.

 - Bom dia! – Ela também diz, logo depois de papai.

 - Bom dia! – Dou um beijo estalado na bochecha de cada um deles. – Preparados? – Pergunto me sentando ao lado do papai.

 - Nasci preparado, meu amor. – Ele sorriu, seguido por mim.

 - É, havia me esquecido desse detalhe. E você mamãe? – Virei-me para ela, que ainda passava nutella nas torradas.

 - Eu estou ótima, muito feliz com essa ideia, com nosso passeio... Com a apresentação do namorado da Marina... – Respirei um pouco mais fundo. Demorou a tocarem no nome da Marina.

 - Ela já falou sobre ele alguma vez? Por exemplo, como eles se conheceram? – Peguei uma torrada e comecei a passar nutella.

 - Não, ela está muito fechada em relação a isso... – Mamãe suspirou e enfim começou a comer as torradas. – Mas ao menos ela concordou com tudo não é mesmo? – Não respondi e coloquei chocolate quente em minha caneca.

 - Ela deveria dar mais detalhes, nós somos os pais dela. – Larguei minha torrada e olhei admirada para o papai, que pela primeira vez tinha discordado de algo que a Marina havia feito, pelo que eu me lembre. Recompus-me e voltei-me para meu café, enquanto papai se voltava para o jornal e mamãe para sua outra torrada.

 - Morning! – Disse Marina Sentando ao lado da mamãe de frente para mim. Ela usava uma roupa no mesmo estilo da minha, porém elegante e com cores mais fortes. – Nutella? Não me digam que não compraram geléia light? – Revirei os olhos. – Vocês não têm jeito, não é? Só pensam em vocês mesmos, solidariedade mandou lembranças. – Mastiguei minha torrada tentando ignorar enquanto mamãe pedia desculpas.

 - Seu namorado vai conosco? – Perguntou papai dobrando o jornal. Mamãe enviou um olhar preocupado a ele depois se virou para Marina, curiosa.

 - Ele se chama Fernando, e não. Ele vai da casa dele, a família dele é sócia do clube. – Ergui as sobrancelhas e tive de me segurar para não rir. Marina não era boba, já arrumou um jeito de ‘fisgar’ um garoto rico.

 - Bom. – Papai disse e engoliu o resto de seu chocolate. – Seria bom irmos mais cedo para aproveitarmos mais, já são... – Ele olhou para o relógio no pulso -... dez e meia.

 - Eu já estou pronta, só preciso pegar minha bolsa. – Ela deu um último gole e foi para o quarto. Termine o meu e a segui.

 Ela pegou a bolsa, se olhou no espelho mexendo em seu cabelo e se virou assim que entrei no quarto. Ela suspirou e saiu do quarto me ignorando. Peguei minha ‘mala’ e segui para o carro.

 Nossa antiga casa ficava perto do clube, já que ele se encontra na alta sociedade. Agora tínhamos de andar vinte minutos de carro. Assim que chegamos senti minha barriga congelar, não pelo frio, mas pela sensação de poder estar ali novamente, onde já tinha presenciado momentos felizes, não com pessoas que mereciam meus sorrisos, mas que ainda assim haviam sido bons. Papai dirigiu até uma das últimas vagas, pois as outras já estavam todas ocupadas. Ele tinha razão, as pessoas deveriam estar todas na pista de esqui, ou na de patinação, a verdade é que realmente estava cheio.

 Cada um pegou sua bolsa e caminhamos até onde Marina combinou de encontrar com Fernando e sua família. Entramos no setor de chalés e seguimos até um dos últimos. Marina bateu na porta que foi aberta por um garoto alto e loiro de olhos pretos e bochechas rosadas, seu rosto me pareceu familiar, mas não lembrei de ninguém. Ele olhou para todos nós um por um até Marina pendurar-se no seu pescoço.

 - Bom... Esse é o Fernando. – Ele sorriu e esticou a mão para papai.

 - Bom dia e prazer em conhecê-lo, Sr. Meester. – Papai sorriu gentilmente e apertou a mão do rapaz.

 - O prazer é meu, fico grato em nos receber em seu chalé. – Fernando fez que não com a cabeça, ainda sorrindo.

 - Não é especificamente meu, é dos meus pais, que por sinal estão lá dentro loucos para conhecerem vocês, mas ainda assim, obrigado vocês por terem aceitado o convite. Prazer Srta. Meester. – Ele disse e beijou a mão da mamãe, que corou.

 - Ah, prazer querido. – Ela sorriu desajeitada enquanto Marina a olhava sem emoção alguma no rosto.

 - E você deve ser...? – Não fiquei surpresa por Marina não ter falado de mim, então me apresentei sem rodeios.

 - Melina, irmã da Marina. – Ele ergueu as sobrancelhas e olhou para Marina, que continuava sem expressão.

 - Desculpa a minha tolice, prazer Melina, adorei os olhos. – Corei e instintivamente olhei para Marina, o que foi um erro, pois ela me fulminou. – Então, vamos entrar? – Concordamos já que estávamos a ponto de virar picolés.

 O chalé não era pequeno, pelo contrário, era grande e aconchegante, é pintado por cores claras e calmas, há uma grande lareira na sala com dois grandes sofás onde está sentado um casal. A Mulher se levantou assim que nos viu. Ela tinha o cabelo na altura das orelhas, loiro como o do filho, mas tinhas os olhos verdes. O homem, pai de Fernando, tinha cabelo e olhos bem pretos e a pele escura. Ambos tinham um sorriso gentil no rosto, a mulher foi a primeira a cumprimentar.

 - Sejam bem vindos! Sou Helena, e este é Rafael. – Ela apontou para o homem ao seu lado. Eles eram bem altos, deveriam ter mais de 1,75cm cada. Ela apontou para o sofá. – Sentem-se, por favor, está confortável aqui, enquanto a Luzia prepara um chá, vocês aceitam? – Concordamos com acenos. – Ah Marina querida, como está? - Ela cumprimentou Marina com um beijo na bochecha.

 - Bem, obrigada dona Helena. – Marina sorriu de um modo que eu nunca havia visto, parecia outra pessoa. – Esses são meus pais, Violet... – Ela puxou mamãe pelo braço -... E Nigel. – Ela puxou papai, deixando-me sobrando do outro lado. Helena sorriu e não demorou a recair o olhar sobre mim. Ouvi Marina suspirar. – Bem, e essa é Melina, minha irmã. – Ela disse rápido como se não quisesse nem ao menos perceber que disse aquilo. Helena sorriu para mim.

 - Você tem uma família linda Marina. – Ela me olhou novamente. – Vou ver se o chá já está saindo, com licença. – Ela passou por mim ainda sorrindo e seguiu para o extremo da casa.

 Nos sentamos no sofá e me senti mais excluída do que nunca. Papai conversava entretido com Rafael, mamãe com Helena, Marina trocava carícias com Fernando, e eu tinha a companhia somente do meu chá. Até Helena perceber.

 - Melina, querida, você está tão quietinha aí. – Sorri desajeitada. – Minha sobrinha está hospedada conosco, mas ela saiu dizendo que ia ver se o esqui estava muito movimentado e não voltou até agora, mas ela deve estar voltando. Tem, acredito eu, a mesma idade que você, você vai adorá-la, um anjo aquela menina. – Sorri um pouco curiosa, mas receosa. E se ela tivesse uma sobrinha ‘à la’ Callie? Suspirei e continue tomando meu chá.

 Ficou combinado que íamos todos esquia depois do almoço, que foi servido ao meio dia, em ponto. Sentamos todos a mesa, enquanto Helena preocupava-se com sua sobrinha. Passados alguns minutos a porta se abriu. Esperei por uma Callie e me surpreendi quando ouvi uma voz familiar.

 - Desculpe o atraso tia, desculpe, é que tinha um grupo fazendo uma competição e eu fiquei entretida. – Ela deu de ombros.

 - Tudo bem querida, sente-se. – Ela apontou para um lugar ao meu lado, que ela havia reservado de propósito. Os olhos castanhos caíram sobre mim seguidos por um enorme sorriso.

 - Melina? Ai meu Deus, você por aqui? – Ela apressou-se em sentar, me deu dois beijinhos nas bochechas e virou-se para o resto da mesa que estava desentendido. – Ah, eu já conhecia a Melina, sabe como é, ano que vem vamos estudar juntas. – Ela sorriu e passou o braço sobre mim, em um meio abraço. – Então, pode comer agora pessoal. – Todos sorriram e começaram a comer.

 Uma hora depois de termos terminado o almoço seguimos todos para o esqui enquanto Belinda dava as coordenadas.

 - Vamos para o lado esquerdo, tem menos pessoas, mas ainda assim tem muitas, hoje ta bem cheio aqui. – Ela andava na frente me puxando pelo braço. – Você gosta de patinação Melina? – Ela perguntou mais baixo, só para mim.

 - Gosto sim. – Disse balançando a cabeça.

 - Ah que ótimo, lá não está tão cheio, o que acha de irmos lá, e depois voltarmos para esquiar? Talvez mais tarde esteja mais vazio... Vamos? – Concordei.

 - Ótima ideia. – Ela sorriu e se virou para o restante.

 - Melina e eu vamos patinar, depois nos encontramos com vocês, até daqui a pouco. – Ela acenou e corremos para a patinação.

 Fiquei feliz em ter encontrado Belinda, se não fosse ela eu ainda estaria sobrando em meio aos casais. A companhia dela faz um bem enorme, é impossível ficar parada ou desanimada ao lado dela. Só fiquei surpresa com o fato da minha irmã namorar o primo da namorada do garoto mais legal que já conheci. Sacudi a cabeça e me concentrei em amarrar perfeitamente o cadarço dos patins.

 Belinda terminou de amarrar o seu e já foi para a pista. Terminei o meu e a segui. Ela estava deslumbrante. Usava meia calça preta e um vestido vinho, com cachecol e trench coach também pretos. O cabelo estava solto e ela usava uma boina da cor do vestido. Ela deu voltas e fez alguns passos avançados como rodopiar, saltar, até me pedir para competir em uma corrida.

 - A primeira a tocar na parede oposta ganha. – Ela disse já se preparando. – No três... Três! – Ela gritou me pegando desprevenida, ela saiu muito na minha frente e eu me esforcei tentando alcançá-la. Não só consegui alcançá-la como passei e bati primeiro na parede.

 - Você é ótima com isso! – Ela disse recuperando o fôlego. – Parabéns. – Ela ergueu a mão e eu bati nela.

 - Obrigado. Você também é ótima. – Ela deu de ombros.

 - Também deveras, cresci aqui Melina. – Ela patinou para a saída, seguida por mim, e sentou para tirar os patins. – Sabe, fiquei muito feliz de te encontrar, estava até pensando como faria para me enturmar com a namorada do Fernando já que ela é bem mais velha e pá... Eu vim, claro porque desde o dia em que nevou, eu estava louca para vir aqui, e estava morrendo de curiosidade para conhecer a ‘nova namorada’. – Ela enfatizou as últimas palavras fingindo anunciar um filme. Sorri. – E então descubro que você é irmã dela! Então de um certo modo somos quase primas. – Ela sorriu mais ainda. Ela calçou uma bota preta parecida com a minha e se levantou, esperando eu calçar a minha.

 Seguimos para o esqui enquanto ela contava histórias engraçadas de quando ela vinha aqui quando mais nova. Ela conseguiu fazer minha barriga doer de tanto sorrir. Chegamos no esqui e entramos no ‘bondinho’ que nos levaria até o topo.

 - Meliiiiiiiiiiina! – Ela disse cantarolando. – Estou doidinha para podermos estudar juntas. Andei pensando e, quando você faz aniversário?

 - Vinte de novembro. – Disse ainda sorrindo com o modo dela falar.

 - Ah, ta vendo só, é o destino, eu faço dia primeiro de dezembro, é pertinho né? Ou seja, quando forem separar as turmas, obviamente ficaremos na mesma turma. – Concordei não tendo muita certeza se isso aconteceria. – Como você é na escola? – Ela disse fazendo-me ficar séria de repente.

 -Eu... Tenho boas notas. – Disse corando pensando em como eu era excluída de tudo naquela escola, em como era humilhada, em como não tinha amigos, e todos os outros motivos que fazia da minha ‘popularidade’ muito grande.

 - Bom saber, porque eu também tenho, sou muito estudiosa, vai ser bom ter alguém responsável para estudar comigo. – Fiquei imaginando como seria bom ter alguém para fazer trabalho em dupla, para estudar junto... – Aaah, e tem mais, vamos ser alunas internas! – Ela tinha uma mania engraçada de alongar as palavras. – Será que ficamos no mesmo quarto? Disso não tenho certeza, eles devem dividir por nomes não é mesmo? – Ela ficou séria e pareceu pensativa, na mesma hora me veio Callie no pensamento. Elas tinham nomes próximos, e se elas ficarem no mesmo quarto e Callie colocar Belinda contra mim? Olhei para a garota ao meu lado e tive toda a certeza de que não. Belina não era dessas pessoas influenciáveis, tem uma mente bem formada e opinião bem própria.

 - Chegamos. – Disse levantando-me seguida por ela.

 - Ah, enfim, faz tanto tempo que não esquio... – Seus olhos brilhavam, assim como seu sorriso. – Corei percebendo o quanto ela era linda, muito mais bonita que eu e qualquer outra garoa que poderia querer ficar com Bernardo, claro que eu não queria isso. Sacudi a cabeça e a segui até o local de se trocar e pegar o material.

 Não demoramos e voltamos empacotadas com a roupa fofa e quente de esquiar. Ela toda de rosa ‘shock’ e eu de lilás. Nos preparamos e descemos lado a lado.

 Desço a toda velocidade vendo pelo canto do olho um borrão rosa, Belinda; travamos um tipo de competição para ver quem era mais rápida, e eu mais uma vez sou atingida pelo meu eu competidor e vou com toda a velocidade possível.

 Estou na frente até o momento em que algo esbarra em mim fazendo com que eu perca o controle e capote. Sinto o gosto gelado em minha boca e o ardor em meu rosto, meus músculos se contraem em quanto rolo disparado pela rampa abaixo, ouço gritos abafados e sinto mais dor a cada volta que meu corpo involuntariamente dá. Tento fazer algo para parar a descida, mas meu corpo está imobilizado, não aceita meus comandos. E então começo a me agonizar, a rampa é muito alta e eu não tinha descido nem a metade quando caí, se eu parar somente no solo plano irei morrer, ou no mínimo quebrar muitos ossos. Fecho os olhos e tento pensar em coisas boas quando me choco com algo e tudo fica escuro.


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Notas finais do capítulo

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