Undead Revolution escrita por caarol


Capítulo 27
Labaredas


Notas iniciais do capítulo

Aeaeae, mais um capítulo!
Agora com um pouco de Hollywood e Molotov, já que o anterior focou mais na Red e na Germany.
Até porque, é lógico que os dois carinhas vão aprontar né ahahahaha
Façam um boa leitura, e nos vemos lá embaixo!
PS: A configuração de início dos parágrafos da mudanças de cena está meio bugada. Isso me dá nos nervos. -.- Peço desculpas desde já, tentarei consertar assim que possível!



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Localização: Interestadual 80 - Residência da família Cross

10 dias após o Surto.



Hollywood apoiou uma mão em um dos joelhos e a coronha da arma na terra batida, procurando recuperar seu equilíbrio e esperando sua respiração descompassada normalizar. Seus lábios entreabertos expulsavam golfadas sofridas de ar, seus pulmões queimando conforme ele arfava ruidosamente. Gotas de suor brotavam em seu cenho franzido e em suas costas retesadas, o calor piorando sua sensação de sufocamento.

Estava exausto – há tempos não se sentia tão cansado, física e mentalmente. Ele e o restante do grupo estavam acordados desde bem cedo, para ajudar Frank Cross na proteção da casa, e não pararam um minuto sequer desde então. Perdera a conta de quanto tempo já estavam lá fora, atacando zumbis. Não sabia mais se tratavam de minutos ou de horas. Aquele dia inacabável estava sendo o mais turbulento de toda a sua vida.

Apertou os olhos por alguns instantes, o suficiente para pontos brilhantes dançarem em suas pálpebras fechadas, conforme ele tentava reacordar seu cérebro para mais investidas contra mortos-vivos. Contra mortos-vivos. Esse pensamento soou tão absurdo que ele não pôde evitar um riso nasalado. Era a mais pura verdade, as dores que sentia nos tendões de suas mãos, pelo movimento repetitivo de disparar gatilhos de espingardas, e o sangue coagulado que banhava suas roupas e seus braços desnudos eram provas mais do que óbvias daquilo. Mas, ainda assim, tudo o que acontecia à sua volta ainda estava muito difícil de ser engolido. Já fazia quase duas semanas que aquilo estava acontecendo e ele ainda se via dificilmente aceitamento os fatos.

Pelo menos meia dúzia de zumbis que guinchavam e se rastejavam em sua direção adicionou mais veracidade aos acontecimentos. Não estava em um longo pesadelo, infelizmente. Aquelas pessoas desconjuntadas eram mais do que reais e estavam realmente querendo fazê-lo em pedaços.

Com a pequena pausa, suas pernas pareceram pesar ainda mais e agora ele realmente sentia que estava sufocando. Respirou fundo e voltou a empunhar a arma, empertigando-se novamente e pedindo forças para todas as divindades religiosas as quais conseguia se lembrar.

Levantou a espingarda com certa dificuldade e disparou contra os dois zumbis que estavam mais próximos. Errou dois dos cinco tiros, murmurando um xingamento para si mesmo. Não tinha mais condições de depender de armas de fogo, sua concentração estava tão debilitada quanto seu corpo; e a falta dos disparos vindos do segundo andar não só chamou sua atenção como piorou sua situação – agora realmente só estavam ele e Road Runner atacando aquela maré de pessoas mortas. Frank e Javier estavam fazendo uma falta tremenda e Germany simplesmente parara de dar cobertura aos dois, como se tivesse sumido do quarto lá de cima. Isso fez o loiro sentir-se ainda mais irritado; desesperadamente furioso, no mínimo.

A mulher zumbi do grupo que se aproximava lançou-se com velocidade de encontro ao rapaz, que respondeu com um chute direto no estômago e acertando com o cano metálico da arma em sua cabeça. A cada passo que os mortos se projetavam em sua direção, ele recuava três – e logo sentiu uma superfície sólida às suas costas. Estava encostado na parede externa da casa, encurralado, praticamente sem balas e com pelo menos mais quatro zumbis juntando-se ao grupo anterior.

Hollywood prendeu a respiração, os olhos quase saltando das órbitas e a mandíbula travada, desferindo golpes com os canos e a coronha da arma e limitando-se a chutar e espancar aqueles que esticavam os braços apodrecidos em sua direção. Vários deles já haviam chegado à extensão da parede, tentando tomar as janelas do casarão enquanto se esforçavam a se livrar das madeiras que impediam sua passagem. O rapaz sentia seu coração retumbando com tamanha força em seu peito que temeu ter um ataque cardíaco ali mesmo.

Um homem subitamente agarrou seu braço esquerdo com as mãos grandes e quase aproximou a bocarra salivante para a pele desnuda de seu antebraço. Tentando desesperadamente desvencilhar-se do zumbi, o rapaz desviava seu olhar constantemente entre este, que quase estava o mordendo, e os outros tantos que vinham em sua direção.

Então era assim que morreria? Sempre imaginou que seria em algum acidente de moto, com problemas no fígado ou até de derrame cerebral – nada muito fora do comum para a raça humana. Mas não, seria daquela maneira. Provavelmente a pior possível.

A certeza da morte se instalou em sua mente assim que a mulher que antes acertara na cabeça conseguira rastejar-se até seu corpo e agarrar-lhe um dos tornozelos.

Ele fez o que pôde, sim? Tentou proteger os amigos o máximo que conseguira e poderia afirmar que ficara orgulhoso da forma como ele e Road haviam conseguido refrear boa parte daquela horda. Logicamente com a ajuda de Frank e Javier, mas ele sabia que ele e o ruivo haviam feito um estrago muito maior. É, estava com um fio de felicidade pelo dever cumprido, fio este que tentava sobrepor seu desespero por estar prestes a morrer. Esforçara-se ao máximo, mas é lógico que ele nunca viveria para sempre, nenhum deles viveria para sempre. Era impossível a sobrevivência de todo o grupo, até porque Germany já havia lhe falado que a menina Cross estava morta - e ele visivelmente era o próximo da lista.

Não deixava de lutar contra os dois que agarravam seus membros, no entanto. Seu cérebro não admitia que se desligasse daquilo, não o deixava largar a espingarda, parar a pancadaria naqueles que se seguravam nele e simplesmente deixar que fizessem o serviço deles de uma vez. Por mais que resistir parecesse inútil, ele não ia se permitir desistir. Se era para morrer, que fosse lutando até o final.

Então, como uma rápida resposta às suas silenciosas preces, o homem que agarrava seu braço simplesmente o soltara, sendo lançado para longe com um golpe seco em sua cabeça. Num reflexo involuntário, Hollywood chutara a mulher que lhe agarrava os pés também para além de seu alcance e se vira livre de pelo menos aqueles que realmente haviam conseguido o pegar com suas mãos horrendas.

O homem que o havia agarrado, e que agora se debatia na grama tentando pôr-se novamente em pé, já estava sendo pisoteado por novos mortos que se aproximavam; mas que não ultrapassavam uma distância segura graças à garota ruiva que freneticamente tentava mantê-los longe com um taco de críquete maculado de sangue escuro.

– Hollywood!

Ouviu Red Rock chamá-lo. Dois novos zumbis se aproximavam do rapaz e ele rapidamente chutou-os para longe ao perceber suas presenças. Hollywood se permitiu um meio sorriso de nervoso e alegria. Estava salvo, ainda não chegara sua malfadada hora! Queria correr e abraçar a garota o mais forte que conseguisse em agradecimento.

– Seu machado!

Foi tudo o que ela gritou para ele antes de lançar um rápido sorriso sob o ombro e correr para se juntar ao irmão, sendo perseguida por quase todos os mortos que antes se arrastavam em direção a ela e ao loiro.

O sorriso de Hollywood se alargou, o veneno do desespero dissipando lentamente com o antídoto da esperança. Ele ainda possuía um trunfo. Trunfo que utilizara para massacrar mortos-vivos que os ameaçaram no 7-Eleven e do qual havia se esquecido completamente; a arma branca que jazia negligenciada na varanda do casarão e que seria mais útil do que aquela espingarda quase descarregada que tinha em mãos.

Com uma súbita onda de energia reavivando seu corpo e mente, impulsionada pelo alívio de ter sido salvo por Red, o rapaz desferiu mais duas coronhadas nos zumbis retardatários que continuavam a se rastejar para ele e pôs-se a correr em direção à varanda, desviando daqueles que fincavam suas mãos nas proteções de madeiras das janelas e que voltavam seus dentes para ele, ameaçando-o.

Prestes a alcançar as armas encostadas na parede baixa da varanda Hollywood ouviu um estouro característico, um ruído de vidro estilhaçado preenchendo o ar pesado. O loiro abriu um sorriso antes mesmo de voltar seu olhar para trás.

Boa parte dos mortos que caminhavam em direção aos irmãos ruivos agora ardiam em chamas. Grunhiam, raivosos, suas mãos em garras tentando agarrar o que estivesse à frente enquanto o fogo consumia seus membros já apodrecidos e destruía por completo suas roupas já desgastadas. Trombavam uns com os outros, transferindo as chamas que os assustavam para o restante dos mortos, expandindo a eficiência da arma incendiária que os atingira.

Red ficara visivelmente surpresa, estática por alguns segundos, procurando entender como surgiram aquelas labaredas que consumiam os invasores. Já Road sorrira malevolamente, feliz por Molotov ter se apressado, e terminando de desferir coronhadas em um homem corpulento que se jogara em direção à sua irmã.

O próprio Molotov, então, apareceu ao lado deles, deixando uma garrafa de vidro com o pano embebido nas mãos do ruivo – sabia que ele possuía, no bolso da calça, algum isqueiro para acender aquele coquetel quando necessário. Os dois irmãos agradeceram o rapaz com pressa, uma fraca confiança entornando de seus sorrisos idênticos.

Por fim, o moreno correu para Hollywood, desviando de alguns zumbis que se jogavam em sua direção e desferindo algumas pancadas com o galão de combustível que levava em uma das mãos. O loiro, já empunhando o machado, tratou de decepar uma mulher que esticara os braços para agarrar Molotov assim que ele parou a seu lado.

– Hollywood... eu... – o moreno arfava alto, procurando recuperar o fôlego – preciso de sua ajuda!

– Você é um colírio para os olhos, seu incendiário maldito! – Hollywood cantarolou, soltando um riso de nervosismo. Baixou os olhos para a camiseta de Molotov ao perceber como estava puída. – Cara, calma aí, eles pegaram você?! O que raios aconteceu com a sua blusa?

Molotov apenas levantou uma das garrafas, mostrando ao outro o que acontecera com os trapos arrancados de sua camiseta – estavam embebidos de gasolina, tapando a boca do vidro esverdeado. Hollywood abriu um sorriso, pegando uma das garrafas para si e analisando-a na altura dos olhos.

– Agora sim, – proferiu ele, esperançoso - vamos acabar com isso!

O moreno devolveu o sorriso cansado, logo puxando o outro pelo braço, para seguirem em direção à parte da frente da varanda, e lançando um olhar sob o ombro para onde os irmãos ruivos estavam.

O fogo que se alastrava entre os mortos já mantinha vários deles a uma boa distância de Red e Road, permitindo que eles se concentrassem nos que tentavam entrar pelas janelas da casa. A grama recentemente úmida da chuva não garantia que as chamas se espalhassem da maneira como Molotov havia previsto; mas, ainda assim, o pouco de fogo que fizera já os estava refreando o bastante. Estava confiante com seu próprio plano.

– Antes precisamos chamar a atenção deles. – Continuou ele, ainda arfante.

Deles? – Perguntou o loiro, voltando o olhar surpreso para o outro.

– Dos zumbis. – O moreno sustentou o arregalar de olhos do amigo. – Vamos levar os que não estão queimando para a cabana, e terminar o serviço com eles lá!

Se o sorriso que Molotov abriu era com intuito de encorajamento a Hollywood, apenas serviu para deixá-lo mais assustado. Atrair a atenção daquelas centenas de mortos-vivos não estava em seus planos; mas, engolindo em seco e apertando os dedos ao redor do cabo do machado, o loiro anuiu brevemente para o outro.

Molotov vira que Frank Cross se dirigia lentamente em direção à cabana, pondo abaixo os esparsos zumbis que estavam mais afastados da casa. Ele estava liberando o caminho para os dois rapazes. Javier Mirrez não estava com ele; possivelmente já estava dentro da casa, alguém o tendo colocado para deitar. Germany não estava à vista - e o rapaz sentiu um aperto no peito.

– Você tá ligado – Hollywood sussurrou para ele, os olhos cravados em três homens musculosos e de olhares coléricos que se aproximavam dos dois – que a gente vai chamar a atenção não só de zumbis, mas de zumbis pegando fogo também?

Molotov não respondeu, apenas estampando um sorriso sem dentes.

– Aqui, seus bastardos! – Começou a gritar subitamente, sobressaltando o loiro. Agitava um dos braços no ar, a outra mão segurando o galão e a garrafa restante. – Venham nos pegar, seus merdas!

Hollywood se empertigou, segurando o machado com uma das mãos e apoiando a garrafa abaixo do braço. Levou a outra mão próxima de sua boca, seus dedos tocando seus lábios de maneira que um assovio agudo logo se fez ouvir. Road, inclusive virara sua cabeça rapidamente para olhar, confuso, o que acontecia.

– Vamos indo para a cabana – murmurou Molotov, suas palavras sendo embaladas pelo assovio fino do outro – antes que eles nos apanhem aqui mesmo.

O loiro não tinha muita confiança de que realmente chamariam a atenção de muitos dos mortos-vivos. Não pareciam capazes de assimilar nem sua própria existência, quanto mais repararem em dois humanos desmiolados acenando para eles. Mas os gritos de Molotov e seus próprios silvos fizeram várias cabeças se voltarem para os dois e, logo, vários dos que estavam arranhando as madeiras, ou se aproximando dos ruivos, voltaram sua atenção para os dois rapazes, arrastando suas pernas na direção de ambos. Pelo visto, só precisavam de um empurrãozinho para repararem nas duas presas em potencial que estavam ali. Inclusive uns que tinham pequenas chamas queimando seus ombros e cotovelos também voltaram sua caminhada em direção à varanda da casa, ignorando por completo o fogo que começava a consumir suas roupas.

Alguns jaziam carbonizados no chão, empilhando-se aos corpos dos outros que já haviam morrido anteriormente; outros tinham grandes chamas queimando sua pele cinzenta de tal maneira que se debatiam em desespero e pareciam desorientados; e os que ainda estavam intactos, que não haviam sido pegos pelas chamas, ou eram postos ao chão por Red e Road ou marchavam na direção dos outros dois sobreviventes, eventualmente recebendo pequenas fagulhas em suas roupas e cabelos.

Dando vários passos para trás, Hollywood e Molotov ainda chamavam a atenção dos zumbis. Sabiam que os que haviam ficado mais atrás logo seriam atraídos pela massa cinzenta que se dirigia em direção à estrada. Moviam-se como uma onda unificada de garras, grunhidos e dentes escurecidos. Agiam movidos pelos impulsos e pela orientação gutural do restante.

Para a infelicidade dos dois, os que estavam mais próximos logo se puseram a correr. Tropeçando entre as pernas, os ombros caídos como se os braços pesassem toneladas, as mãos sempre apontadas para frente e os dedos em garras, mas se movendo com uma velocidade maior do que os rapazes poderiam imaginar que conseguiriam. Os dois responderam à investida com xingamentos e dispararam a correr em direção ao casarão, sempre se certificando que os zumbis os seguiam – feliz ou infelizmente, eles estavam em seu encalço, alguns se aproximando perigosamente rápido.




Germany chegou novamente à varanda, após ter deixado Javier deitado no sofá da sala, e tratou de empunhar sua espingarda novamente. Não possuía muitas balas, mas deveriam ser de alguma ajuda. Lembrou-se do canivete que pusera em seu bolso logo quando organizava as armas na manhã daquele dia – uma lâmina pequena como aquela não surtiria um efeito exatamente desejado em muitos zumbis, e ela teria de chegar muito próxima dos dentes famintos para matá-los, mas era melhor do que lutar contra eles com as mãos vazias.

Desceu os degraus da varanda com passos apressados, mas apenas para rapidamente estancar os pés na terra batida. Arregalando os olhos, viu à sua frente, próximo da lateral do casarão, uma coloração alaranjada preenchendo boa parte do quintal. Um laranja que ardia nos corpos de mortos-vivos irrequietos e aquecia a pele da garota mesmo àquela distância, que crepitava sutilmente e emanava um cheiro de queimado que sobrepunha qualquer outro odor daquela tarde. Fogo. Molotov estava conseguindo. Os zumbis queimavam e chiavam ao som do estalar das chamas, acendendo novamente a esperança dentro da garota também. Ela abriu um fraco sorriso, mesmo a visão sendo tenebrosa.

No entanto, aquilo não a surpreendeu mais do que ver Hollywood e Molotov correndo desenfreadamente pela pequena estradinha que se dirigia para a rodovia, sendo perseguidos por incontáveis zumbis raivosos. E pior: eles continuavam atraindo a atenção dos moribundos com gritos, assovios e gestos obscenos. A morena permaneceu estática por longos segundos, apenas observando a quantidade de zumbis que realmente estavam sendo seduzidos pelo chamar dos sobreviventes. Eram tantos que perdera a conta, tantos que se arrastavam em direção aos dois e sequer reparavam nela parada ali, com poucos metros de distância separando-a da passeata.

Red não estava mais à vista – provavelmente se juntara ao irmão em meio aos mortos e às chamas – e Frank também seguia em direção à cabana, aniquilando os poucos zumbis que se espalhavam por ali e abrindo passagem para os dois rapazes que corriam feito loucos para o casebre.

A morena pediu mentalmente por proteção para si mesma e para os outros sobreviventes – em especial aos dois filhos da mãe que estavam se arriscando de tal maneira. Respirando fundo, ela apenas deu poucos passos à frente e passou a acertar alguns dos zumbis que finalmente a percebiam ali ou que tentavam se aproximar novamente das janelas do casarão.




Enquanto corria, Hollywood jogou por cima do ombro, sem olhar, o coquetel molotov que carregava, não sabendo se conseguiria acertar os zumbis que se adiantavam em sua direção. O estilhaço da garrafa, seguido de grunhidos mais raivosos, foi o suficiente para o rapaz imaginar que conseguira incendiar um punhado deles – e que agora corriam em seu encalço cobertos por chamas.

– Porra, eles correm muito! – Arfou o loiro, lançando um olhar assustado para trás.

– O depósito tá logo ali, corre, vai! – Rebateu Molotov, adiantando-se à frente do outro, o galão de gasolina balançando em sua mão.

Chegando primeiro à pequena varanda da construção, o moreno escancarou a portinhola com um chute, sequer se importando se estava trancada ou não. Hollywood o acompanhou rapidamente para dentro da casinha, fechando a porta atrás de si com violência e recebendo pelo menos quatro pares de mãos ensanguentadas agarrando a tela da porta de madeira. Os mortos que queimavam agora se aproximavam mais lentamente, mas já passando as chamas a outros e às toras que seguravam a estrutura da varanda.

O cheiro de mofo e poeira que alçava daquele lugar, escurecido e repleto de objetos envelhecidos, logo foi se mesclando ao odor de madeira queimada e de pele apodrecida. Aquilo incomodou o olfato Hollywood de tal maneira que ele precisou cerrar os olhos com força para não ficar ainda mais nauseado.

– Caralho! Eles vão entrar, Molotov! – Berrou ele, ainda apertando os olhos e forçando a maçaneta da porta com o cabo do machado; uma tentativa que lhe pareceu completamente inútil, vendo que as unhas escurecidas rasgavam a tela e empurravam a fraca estrutura de madeira.

Cada vez mais zumbis se esbarravam e se empurravam em direção à porta. Alguns batiam os punhos nas duas pequenas janelas de vidro ao lado daquela entrada. Era questão de segundos para invadirem o casebre.

O borbulhar de um líquido sendo entornado no chão e nos móveis logo chamou a atenção do loiro – apesar de não passar de um ruído sutil perto do barulho que os mortos-vivos faziam ao lado de fora. Molotov despejava o conteúdo do galão de combustível sobre as superfícies e objetos velhos dali de dentro, tentando cobrir o máximo de área que conseguisse. O cheiro de gasolina logo se adicionou ao misto de odores repulsivos que emanava daquele salão escuro.

– Puta que pariu, eles vão dar a volta na casa! – Bramou Hollywood novamente, forçando ainda mais o cabo do machado na porta e jogando seu corpo contra as pequenas vigas de madeira que a mantinham no lugar.

Um arranhão de unhas compridas fez um vergão na tela da parte de cima da porta e ganhou um grito assustado do rapaz. Um empurrão de pelo menos meia dúzia de mortos fez a entrada quase ceder em cima do loiro e o barulho de vidro se estilhaçando condenou o sucesso de mais alguns que tentavam entrar pela janela.

Molotov jogara o galão de gasolina em qualquer canto do chão e já corria em direção à entrada principal do casebre, do outro lado do salão. Escancarou a porta e pôs-se para fora num pulo, verificando se nenhum zumbi se arriscara a dar a volta pela casa. Aparentemente eles ainda não tiveram aquela ideia, já que nenhum se encontrava daquele lado.

– Vem, Hollywood! – Chamou, apressado. – Deixa eles entrarem!

O loiro levantou os olhos assustados para o amigo.

– Vem logo, caralho! Corre! – Molotov gesticulava para ele, seus olhos se voltando a cada segundo para seus arredores.

Hollywood soltou o apoio que fazia com o cabo do machado na porta num reflexo rápido e pôs-se a correr para a outra entrada, concentrando-se para não escorregar na gasolina que embebia o chão em que pisava e que ardia em suas narinas.

A portinhola cedeu no mesmo instante, os mortos se empilhando uns sobre os outros para tentarem passar pela pequena abertura que se formara. Outros se apoiavam no batente de uma das pequenas janelas, também tentando entrar por ali. Parecia um enxame de abelhas enraivecidas, tamanho o número e a ferocidade com que invadiam a casinha em direção às suas presas. Atropelavam-se uns aos outros, os mais frenéticos tomando a dianteira rapidamente com os pés arrastando pelo piso agora úmido de combustível.

Hollywood bateu a porta da entrada principal com força para fechá-la, impedindo que as mãos que se prostravam em sua direção o pegassem. Vários zumbis já preenchiam o casebre e alguns já estavam, novamente, tentando arrombar uma porta e passar pelas aberturas de janelas – mas, desta vez, para alcançar a varanda principal e com os sobreviventes aflitos tentando impedir que eles saíssem da casinha.

Os dois rapazes se entreolharam, uma tácita troca de desesperados olhares sendo o suficiente para se entenderem.

Hollywood jogou seu peso contra a porta de madeira, mais uma vez impedindo que os zumbis a colocassem para baixo. Molotov vasculhou rapidamente os arredores de terra batida próximos da varanda e encontrou uma rocha de tamanho mediano. Correu para agarrá-la e, no segundo seguinte, já a jogava janela adentro, provocando uma chuva de pequenos cacos de vidro nos mortos que antes jogavam seus corpos contra ela.

Num movimento rápido, sacou o isqueiro do bolso e acendeu o trapo de roupa embebido em combustível, acendendo o coquetel antes que as criaturas conseguissem sair. Acenou com a cabeça para o loiro e jogou a garrafa casa adentro, pela janela quebrada. Hollywood se afastou no mesmo instante da porta, correndo em direção ao moreno e brandindo o machado à altura do peito.

As chamas da garrafa estourada provocaram um tumulto ainda maior dentro da cabana. Aqueles que já possuíam centelhas nas roupas haviam transferido as brasas para alguns pontos das casas e, após Molotov jogar o coquetel lá dentro, acertando o chão empapado em gasolina, o fogo se alastrou ainda mais e num piscar de olhos.

A cena chocou os dois rapazes mais do que poderiam imaginar. A cabana queimava de dentro para fora, os zumbis sendo devorados um por um pelas chamas ateadas. Os materiais secos e envelhecidos que estavam ali dentro contribuíram para o alastre rápido das brasas, as roupas puídas também se esturricando com facilidade. Apesar da semi-escuridão que recaía sobre o casebre mal iluminado, a luz quente que emanava do fogo permitia aos rapazes verem a intensa movimentação lá dentro - braços, mãos, cabeças, membros decepados e troncos desfigurados se debatiam de um lado para o outro, alguns cambaleando desatinados pela extensão do salão. Muitos deles, no entanto, ainda esmurravam o vidro das janelas e a madeira da porta principal; estes alheios ao fato daquela casa estar quase completamente tomada pelo fogo e de sua própria carne estar prestes a arder até a segunda morte.

Alguns eventualmente conseguiram colocar a porta de entrada abaixo, soltando gritos guturais horrendos para os dois vivos que estavam ali fora. Outros escorregavam para fora do buraco formado pelo vidro quebrado de uma janela, tentando levantar-se com dificuldade, ignorando as fagulhas que salpicavam por seus cabelos e suas roupas. Hollywood ainda empunhava seu machado com determinação, pronto para atacar quaisquer daqueles que tentassem se aproximar - no entanto, quase nenhum passou da varanda principal. Caíam no chão ali mesmo, uns por cima dos outros, todos num montante único e barulhento, uma pilha de corpos que ainda se mexiam, se debatiam, se arranhavam e que queimavam em conjunto.

Uma fumaça escura e densa subia da cabana de madeira, que a cada segundo era mais devorada pelas chamas, o crepitar das altas labaredas quase superando o ruído incessante daqueles zumbis que se carbonizavam aos poucos.

Molotov se permitiu um breve suspiro de alívio. Estava funcionando, afinal. Provavelmente não estavam todos os invasores ali dentro, ardendo com o restante como deveriam estar, mas uma boa parte já estava sendo dizimada ali mesmo graças ao fogo gerado. Aquilo lhes traria uma ótima vantagem. Os mortos-vivos não poderiam vir de encontro aos sobreviventes para sempre, a horda não podia ser infinita; então, grande parte do que havia sobrado daquela legião agora guinchava e queimava diante de seus olhos cansados.

Uma mulher zumbi subitamente surgiu da lateral do casebre, gritando e correndo desajeitadamente em direção aos dois, algumas fagulhas incendiando seus longos cabelos castanhos. Hollywood trincou os dentes e fincou o machado no tronco retalhado assim que ela se aproximou demais, livrando-se dela de vez decepando-a instantes depois. Os dois observaram o corpo acinzentado, e sem cabeça, cair inerte na grama com expressões lívidas de assombro.

Então, um grunhido diferenciado fez os rapazes levantarem as cabeças ao mesmo tempo.

Era um rosnado mais grave, mais raivoso, mais animalesco. Era diferente dos barulhos que os mortos-vivos emitiam. Os dois giraram em seus calcanhares simultaneamente apenas para encontrarem, a alguns metros de distância deles, um gigantesco cão negro e marrom; um Rottweiler,parado ao lado da varanda, com a bocarra exibindo um misto de sangue, saliva e um líquido mais escurecido, com os olhos vidrados num olhar desvairado e as orelhas coladas à cabeça, em sinal de ira. Estava coberto de feridas expostas nas patas e no pescoço, tufos de pelo faltando aqui e ali e alguns finos redemoinhos de fumaça emanando de alguns locais queimados da pelagem.

Aproximava-se com passos lentos em direção aos dois humanos, ligeiramente cambaleante, mas ainda com os enormes dentes expostos. Hollywood prendera a respiração, agarrando o machado com mais força, e Molotov deu alguns passos cautelosos para trás, aproximando-se mais do outro.

– Será que... ele...- sussurrou o moreno, o olhar cravado na figura do animal.

Hollywood não respondeu, apesar do mesmo pensamento estar latejando em sua mente. Aquele cachorro não aparentava nada bem – pelo contrário, estava em um estado deplorável. Um estado de putrefação, até arriscaria.

– Eu acho que...

Então o cachorro avançou para os dois, soltando uma espécie de latido gutural ao pular em direção a um deles.

O animal fora mais rápido do que Hollywood. O loiro girou o machado em sua direção, mas o cão já havia se lançado sobre ele, caindo em cima do corpo esguio do rapaz, as patas grossas pesando em seu peito e os dentes avançando para perto de seu rosto. O humano tentava se proteger com o cabo do machado, o cão mordendo a estrutura ao invés das mãos, mas a proximidade daquela boca repleta de dentes afiados – e contaminados – estava mais do que crítica. O odor podre que exalava do corpo e da garganta do animal apenas serviu para confirmar ainda mais o estado da criatura.

O loiro se debatia, tentando retirá-lo de cima de si, e Molotov chutava a cabeça do cachorro para também impedi-lo de abocanhar o braço de Hollywood. O moreno estava sem nenhuma arma, com apenas o canivete em seu bolso, mas sequer lembrou-se da lâmina naquele momento de desespero. Além do que, se arriscasse o canivete, ele precisaria fincar a arma de maneira à mortalmente ferir o Rottweiler de primeira; ou levaria uma bela mordida no antebraço na tentativa.

O cão não parecia disposto a ceder enquanto não fincasse os dentes brilhantes de saliva apodrecida naquele humano que se contorcia para fugir. Hollywood tentou empurrá-lo com o joelho e jogá-lo para longe usando o cabo do machado, mas o animal apenas pesava ainda mais sob seu corpo.

Um disparo, então, zuniu ao lado de Molotov, acertando o cachorro na altura da omoplata. O cão soltou um rosnado rouco, raivoso, e voltou os dentes brilhantes para o moreno, que apenas o fitava com plena surpresa e assombro. Um novo tiro acertou o animal zumbi na cabeça, espirrando um sangue escurecido para o chão batido ao lado de Hollywood e fazendo o Rottweiler fechar o focinho lentamente e revirar os olhos sob as órbitas.

O cão caiu em cima do loiro, pesado, inerte, os buracos de balas adicionando mais ferimentos – desta vez, letais - ao corpo deteriorado. O peso do animal, o contato com sua pelagem apodrecida e seu rosto desfigurado e amedrontador, mesmo que apagado, fizeram Hollywood grunhir em asco e desespero.

Empurrou aquela criatura de cima de si, tentando evitar que o sangue e baba que brotavam daquela carcaça caíssem sobre seu corpo. Com a ajuda do cabo de madeira e com um empurrão de Molotov, o corpo do animal rolou para o lado do loiro, que apenas se arrastou alguns centímetros para trás, aflito. Sentado no chão batido, empunhando o machado com força, o rapaz fincara os olhos para aquele cachorro caído à sua frente e soltara os mais diversos palavrões os quais poderia se lembrar. Estava tremendo por inteiro, o cheiro de fumaça e os gritos dos mortos-vivos não ajudando em seu lapso de sanidade.

Molotov também fitava o corpo daquela criatura com apreensão, temendo que voltasse a se mexer e a dar sinal de vida, quando levantou o olhar para seu lado. Pôde ver que, próximo da varanda, a alguns metros das chamas que consumiam o casebre e os mortos dali de dentro, estava Frank Cross. O homem exibia um semblante endurecido sob as rugas e seus olhos pequenos estavam arregalados por detrás dos óculos empoeirados. A espingarda estava levantada à altura do seu peito, com duas finas lufadas de fumaça escapando dos dois canos metálicos.




– Road, olha!

Red apontava para o alto da sutil colina que se formava entre a Interestadual 80 e o casarão da família Cross – a cabana que separava as duas queimava por inteiro em altas chamas, diversos corpos que circundavam o lugar ardendo de igual forma. Os zumbis que anteriormente ainda restavam e que haviam sobrevivido às investidas dos sobreviventes queimavam em laranja e amarelo.

Poucos haviam ficado para trás; ou ainda seguiam debilmente em direção à cabana à procura de mais carne fresca – o fato de todo aquele lugar estar sendo consumido por fogo não surpreendendo seus cérebros apagados –, ou já haviam sido postos abaixo pelos irmãos ruivos.

Aproximadamente meia dúzia ainda arranhava as vigas de madeira das janelas seladas, ainda na débil tentativa de invadir a casa mesmo em pouco número – mas a presença daqueles zumbis, ocupados com suas mãos descoordenadas, não entretinha tanto Road e Red quanto a visão de fogo garantindo a morte de todo aquele restante de mortos famintos.

A densa fumaça negra que se elevava aos céus, nebulosos de chuva, chegou a preocupar Red por alguns instantes. Com certeza seria possível vê-la de quilômetros de distância, em especial por aquela porção da estrada ser pouco sinuosa e bem plana. Se aquilo serviria apenas para atrair novos zumbis para o local, a garota não sabia – mas, pelo menos, contra aqueles que estavam ao encalço de todos eles teriam sucesso. Quanto ao aparecimento de outros no futuro, se preocupariam depois. E talvez a fumaça até ajudasse para avisar possíveis outros sobreviventes dos arredores que não estavam sozinhos e que aquela fazenda também lutava contra mortos-vivos.

– Filho da puta. – Murmurou Road após alguns instantes em silêncio, sorrindo de canto e enxugando a testa com as costas de uma das mãos.

Red levantou os olhos para ele, confusa.

– Ele conseguiu. – Respondeu o ruivo, num murmúrio, ainda sustentando o sorriso à visão da peripécia bem-sucedida de Molotov.


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Notas finais do capítulo

E finalmente estamos caminhando para o fim da jornada do grupo de jovens pela fazenda do senhor Cross. Sei que me estendi demais com essa situação da família Cross, que rendeu muitos capítulos, até mais do que eu imaginaria que renderia ahahaha Mas eu particularmente gostei da situação entre a Savannah e a Spencer, e não poderia deixar de fazer o grupo ser atacado de novo por outra horda, né ahaha De qualquer maneira, mais um capítulo e eles já botam o pé na estrada de novo.
Daí novas situações vão surgir, novos personagens, mais perigos... Tenham certeza que tem muita coisa aguardando o grupo, muahahaha!
Espero muito que tenham gostado do capítulo! Um beijo enorme para todos, e muito obrigada pelo carinho e pelo apoio! Nos vemos no próximo (;



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